Pedro Pomar: O inacreditável perdão de Jaques Wagner ao general Villas Bôas

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Coube a Jaques Wagner, então ministro da Defesa do governo Dilma, a escolha do general Villas Bôas para ser comandante do Exército, em janeiro de 2015

O inacreditável perdão de Jaques Wagner ao general Villas Bôas

Por Pedro Estevam da Rocha Pomar*, em Página 13

O tuíte do general Villas Bôas, então comandante do Exército, contra o Supremo Tribunal Federal (STF) em 2018, com a finalidade de evitar que fosse concedido habeas corpus a Lula, “foi um episódio pontual”. O general “sempre foi uma pessoa muito boa no trato comigo, foi um chefe muito competente, sempre teve liderança sobre a tropa”.

O “leito natural” das Forças Armadas é sua “missão constitucional”. Quem tirou o Exército desse “leito” não foi Villas Bôas, mas Bolsonaro. O antagonismo entre os militares e Lula é obra mais da “lavagem cerebral” promovida pela Operação Lava Jato do que de qualquer questão ideológica, porque “o grosso das Forças é classe média e tem na honestidade um valor”.

O autor dessas frases (e das considerações parafraseadas pelo autor deste artigo) é o senador Jaques Wagner (PT-BA), que concedeu entrevista à Folha de S. Paulo, publicada em 8/2 (Lavagem cerebral da Lava Jato alimentou resistência a Lula entre militares), na qual abordou, entre outros temas, a questão do comportamento político dos militares brasileiros.

Líder do governo no Senado Federal, Wagner foi governador duas vezes (2007 a 2014) e ministro da Casa Civil e da Defesa no governo Dilma Rousseff.

Portanto, não pode ser acusado de inexperiente ou ingênuo, razão pela qual algumas de suas declarações surpreendem e impressionam.

Será que Wagner não leu o livro autobiográfico de Villas Bôas, Conversa com o Comandante?

Será que Wagner não leu livros sobre a República e desconhece que em momento algum da nossa história os militares se submeteram às determinações da Constituição?

Wagner parece rivalizar com o atual ministro da Defesa, José Múcio, no papel de apóstolo das supostas virtudes democráticas das Forças Armadas.

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Na avaliação do líder do governo no Senado, foi Bolsonaro quem “tentou politizar as Forças Armadas, ideologizar as Forças Armadas”. A seu ver, os “atuais chefes militares têm essa compreensão de que é preciso voltar ao leito natural”.

Portanto, Wagner, ex-ministro da Defesa, ainda não sabe o que milhares e milhares de pessoas já sabem: que a candidatura Bolsonaro à Presidência da República, em 2018, nasceu de um projeto de poder do Alto Comando do Exército.

E diz desconhecer o papel destacado do general Villas Bôas nesse projeto (ao contrário do próprio Bolsonaro, para quem o general “é um dos responsáveis por eu estar aqui”, ou seja: na Presidência).

Wagner ainda acrescenta: “Não quero fazer julgamento”. Mas deveria: afinal de contas, como lembra a Folha de S. Paulo, foi dele, Wagner, quem partiu a indicação de Villas Bôas, em janeiro de 2015.

Surpreende ainda sua insistência, na entrevista, em atribuir a Múcio uma decisão que sabidamente não foi Múcio quem tomou, mas o presidente Lula: demitir o general Júlio César Arruda do cargo de comandante do Exército.

Quando ministro da Defesa, Wagner autorizou que o Exército realizasse com pompas oficiais o funeral do general Leônidas Pires Gonçalves, ex-ministro do Exército (governo Sarney), falecido em junho de 2015.

Isso muito embora a Comissão Nacional da Verdade (CNV) tivesse incluído o nome de Leônidas na lista de torturadores a serviço da Ditadura Militar (1964-1985), um dos principais itens do relatório final entregue à presidenta Dilma Rousseff em dezembro de 2014.

Na entrevista, há dois momentos em que o senador assume postura mais crítica em relação às Forças Armadas: quando afirma que os militares “não são tutores da democracia brasileira” e quando classifica o acampamento bolsonarista montado em frente ao QG do Exército em Brasília como “anomalia”. Mas não vai além disso.

Por fim, as declarações de Wagner merecem um registro adicional no tocante a outro tema, quando o senador responde a uma pergunta dos repórteres sobre que atitude ele espera de três partidos: PP, Republicanos e PL e se é possível conversar com eles (na condição de líder do governo). “Eles se declaram oposição. Mas eu também era oposição no governo que se encerrou [Bolsonaro] e não quer dizer que a gente não negociou”. Interessante!

Na sequência, Wagner emenda: “Quando chegarem, por exemplo, a reforma tributária e o novo marco fiscal, não tem torcida organizada. Todo mundo acha que o Brasil tem que ter um arcabouço fiscal diferenciado”.

Trata-se de um comentário que beira o surreal, porque, na verdade, a reforma tributária tende a ser uma verdadeira guerra no parlamento e fora dele.

Os setores mais ricos da sociedade brasileira, representados pelo PSDB, PL, DEM e por outros partidos da direita e da extrema-direita, certamente financiarão algumas “torcidas organizadas” contra mudanças na tributação que lhes façam pagar mais impostos.

Que significa, por sinal, a expressão “arcabouço fiscal diferenciado”? Cartas ao gabinete do senador. Ou à redação.

*Pedro Estevam da Rocha Pomar é jornalista, pesquisador acadêmico e militante do PT. O autor agradece a Marcos Jakoby por suas contribuições ao texto.

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