Jeferson Miola: Lula, a questão militar e as medidas urgentes e necessárias

Tempo de leitura: 3 min
Charge: Renato Aroeira (@arocartum)

Lula e a questão militar

Por Jeferson Miola

Os atentados terroristas de 8 de janeiro afetaram irremediavelmente a confiança do presidente Lula nas Forças Armadas. E sedimentaram nele a convicção sobre o protagonismo central das cúpulas militares na guerra fascista de destruição da democracia e da República.

O marco significativo desta inflexão foi a decisão de decretar intervenção na segurança do DF ao invés de convocar os militares para a operação de Garantia da Lei e da Ordem [GLO] proposta a Lula pelo ministro da Defesa José Múcio Monteiro.

A decisão pegou de surpresa o Alto Comando do Exército.

Mesmo sem requisição prévia do presidente da República, o Exército já tinha colocado de prontidão uma impressionante tropa de 2.500 soldados para intervir no caos e na desordem que eles próprios arquitetaram.

A presteza para “governarem” o país via GLO contrasta com a lentidão na desmontagem dos acampamentos ilegais e antidemocráticos nas áreas dos quartéis.

Lula não deixou dúvidas sobre a opção pela intervenção civil: “Se eu tivesse feito a GLO […], aí sim estaria acontecendo o golpe que as pessoas queriam. O Lula deixa de ser governo para que algum general assuma o governo. As Forças Armadas não são poder moderador como pensam que são”.

Há uma convergência inédita no debate público brasileiro sobre a centralidade da questão militar para a sobrevivência da democracia.

Os militares ficaram nus! Até mesmo quem nos últimos anos classificava as denúncias e alertas sobre os militares como paranóia ou teoria da conspiração acabou se rendendo às evidências da realidade.

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Existem indícios e provas em abundância sobre a inteligência estratégica das Forças Armadas com recursos de guerra híbrida por trás da eleição do Bolsonaro em 2018 e da profusão do ambiente de caos, violência, ódio e terror instalado no país.

O 8 de janeiro foi o mais terrorista e mais violento capítulo desta dinâmica desestabilizadora permanente e metodicamente orquestrada pelas cúpulas fardadas.

Lula deixou claro que sabe exatamente o que é preciso fazer na questão militar, mas ainda não está claro com qual amplitude e em que momento.

A seu favor, Lula conta com a comoção causada pelos atentados do 8 de janeiro e a potente coesão institucional formada entre os poderes da República.

O encontro com governadores, presidentes da Câmara, Senado, STF e altas autoridades de Estado cimentou o compromisso do poder civil com a defesa da democracia e com a preservação do Estado de Direito.

A imagem das lideranças políticas e autoridades civis descendo a rampa do Planalto simboliza a unidade ampla na resistência antifascista e na coesão institucional que Lula magistralmente conseguiu sedimentar.

A solidariedade internacional, manifestada em tempo real por líderes de vários países do mundo e, inclusive, em telefonema do presidente Joe Biden ao presidente Lula, deixou a extrema-direita fascista isolada e desmoralizada internamente e no mundo.

A democracia sobreviveu mais uma vez, e diante do mais terrível ataque à República e à institucionalidade democrática. No entanto, os riscos contra a democracia continuarão muito vívidos enquanto a questão militar não for enfrentada eficazmente pelo poder civil.

É fundamental que sejam postas em prática medidas urgentes, como as substituições do ministro da Defesa e do comandante do Exército, a transferência de militares conspiradores e antiprofissionais para a reserva e a apuração dos militares implicados nos atos criminosos e antidemocráticos.

Lula é a última trincheira democrático-popular de resistência e defesa da democracia contra a escalada fascista-militar.

Se os militares não forem contidos, não hesitarão em renovar o arsenal de armas ainda mais truculentas para derrubar esta poderosa trincheira que atravanca o caminho deles e do projeto de poder que acalentam.

Neste momento Lula possui enorme capital político e conta com solidariedade institucional e respaldo popular para processar na plenitude as mudanças necessárias não só para garantir a governabilidade do seu governo, mas para assegurar a sobrevivência da democracia e do poder civil.

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Comentários

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Alexandre Ferreira

Se Lula não agir agora, hoje, em relação aos militares e seu envolvimento na tentativa de golpe, além da contaminação fascista dos quartéis, é bem provável que não chegue ao fim de seu mandato. E, se chegar, chegará ao fim dos próximos 4 anos claudicante a ponto de enterrar de vez o que nos restará da tão sofrida “democracia”.

Luiz Mattos

CADÊ A COMUNICAÇÃO? ONDE ANDA A SECOM? UM AMADORISMO INCOMPREENSÌVEL!
Áh o governo só tem 15 dias…. daqui a um mês Áh o governo só tem um mês. NADA JUSTIFICA ESSE AMADORISMO INCLUSIVE NO GSI ,isso deu armas ao inmigo ,hoje acusam de facilitação
Esse balaio de gatos só tinha de dar muito problema ainda hoje existem nomeações de cargos
Uma esquerda acritica prejudica mais que o pior bolsonarista

Sandra

Ao punir os envolvidos no golpe é preciso lembrar que eles estão bolsonarizados fanatizados, e mudar isso passa também pelo controle das redes sociais e plataformas digitais, pois são elas que mantêm o discurso do ódio e as fakenews. Só punir os militares, os mandantes, os financiadores e a massa que invadiu os Três Poderes não mudará nada.
https://youtu.be/GrqOljBGz70

Zé Maria

Outra Cabeça da Hydra

“A Lava Jato é indissociável da ascensão da extrema direita e da violência política. O protagonismo político de integrantes do MPF, como Deltan Dallagnol, foi desastroso para a democracia brasileira. E é preciso estar atento, a Lava Jato continua hegemônica no MPF.”

“Dallagnol, Santos Lima e Castor de Mattos etc. não foram punidos no âmbito do MPF pelo estrago que causaram. Insisto em um ponto: Deltan faria “nada” sozinho, é preciso conhecer a “organização”, não insulada e que não se confunde com o voluntarismo dos procuradores.”

“Destaco sempre a dimensão corporativa da Lava Jato, esta uma materialização (face mais visível) de verdadeiro projeto de poder que não pode ser entendido sem passar pela luta de uma elite organizada, por mais poder burocrático, por mais privilégios, mas também poder político.”

“A conversão do poder burocrático em poder político pelas lideranças MPF é possível pela instrumentalização de mecanismos institucionais, p. ex., a partir das posições superiores dessa burocracia (CSMPF, CCRs, Corregedoria, politicamente relevantes).”

Rafael Viegas
Cientista político
https://twitter.com/Rafael_RViegas/status/1614934336427499525

Maria Carvalho

O delírio deles ficou demonstrado no documento: Projeto de nação: o Brasil em 2035.

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