Roberto Amaral: O governo do presidente Lula enfrenta seu Rubicão
Tempo de leitura: 6 minA caminhada que fizemos ontem, ao lado de representantes de todos os estados e dos Poderes da República, mostra que democracia brasileira segue firme. Vamos recuperar o país do ódio e da desunião.
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— Lula (@LulaOficial) January 10, 2023
Lula e o seu Rubicão
Por Roberto Amaral*
“Creio que este seja um momento decisivo de nossa história: a tirania foi derrotada. A alegria é imensa. Contudo, ainda resta muita coisa por fazer. Não nos enganemos acreditando que daqui em diante tudo será fácil; talvez daqui em diante tudo seja mais difícil.” Fidel Castro Ruz (Havana, 8 de janeiro de 1959)
Como é sabido, os últimos quatro anos da vida nacional foram pontuados por tentativas golpistas planejadas, coordenadas e operadas a partir do terceiro andar do palácio do planalto, com o ostensivo apoio da coorte de fardados e similares desafeitos às leis, aos regimentos militares e à democracia.
Foram, na sequência dos idos de 2013, do golpe de 2016 e do mandato-tampão de Temer, quatro longos anos de proselitismo e ação protofascista, consolidando o avanço da extrema-direita brasileira como movimento político-ideológico, que, pela primeira vez na república, associava à tradicional aliança do grande capital com seu braço armado (os militares) o apoio de ponderáveis segmentos populares, persistente até aqui.
O conservadorismo larvar, de base tanto social quanto religiosa, organizado, conquistara pela primeira vez mediante eleições livres a presidência da república, e passara a valer-se da posse do governo como instrumento de um projeto inédito de extrema-direita, reacionário no discurso e na ação, que seu líder anunciou como de desconstrução nacional.
Pari passu, na tradição do fascismo, foi estimulada a ideologia da divisão interna, do conflito permanente (no qual se alimenta a extrema-direita), permeando toda a sociedade.
Seu desdobramento foi a institucionalização da violência social, mediante criminosa política de armamentismo civil, consagrador do poder das milícias e do crime organizado.
Hoje, o exército, que transitou da omissão para a cumplicidade, não sabe dizer quantas e quais armas e munições estão espalhadas pelo país. Descartou-se do dever legal de seu controle.
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Desde o primeiro dia de mandato, a horda eleita em 2018 deixou claro que seu projeto de poder olhava para além dos quatro anos constitucionais.
Os fatos e as evidências, contudo, não eram suficientes para vencer o bovarismo político: assustados com o que nos podia dizer a decifração da realidade, nossa elite pensante (agora com a responsabilidade de Estado) teimava em não ver a mudança de qualidade do fenômeno político.
Parecia mais cômodo reduzir o processo que se consagrara em 2018 como um mero episódio eleitoral, e ver o governo que aí se instalava e que chegou até ontem como um fato que se encerrava em si.
Nada obstante as advertências do processo político e as ignoradas lições da História, miramos o governo como fato parado, para não ver o fenômeno desafiador que era a organização da extrema-direita golpista, que ameaça ter vida própria, para além de seu líder e principalmente para além do processo eleitoral e das regras da institucionalidade democrática.
É o que vemos hoje. Nem os tolos de todos os gêneros podem alegar surpresa.
As tentativas de golpe dirigidas diretamente por Bolsonaro e os fardados, como o 7 de setembro de 2021, seu 18 brumário frustrado, as reiteradas ameaças de quarteladas e a tentativa de desmoralização do processo eleitoral prepararam o terreno para a fracassada intentona do dia 08/01/2022, que começou a ser montada com a ocupação dos quartéis do exército por súcias de vândalos, cresceu com a recusa dos militares de passar a seus sucessores os comandos da defesa e das três forças, e foi para as ruas com as arruaças consentidas do dia da diplomação de Lula (12/12/2022), além da tentativa de explosão de um caminhão carregado de combustível junto à rede de eletricidade no aeroporto de Brasília, no Natal.
Nada, porém, que chamasse a atenção para a ameaça crescente. Lula havia sido eleito, finalmente tomava posse, e tudo o mais se transformava em passado.
Os fatos de domingo se esvaziaram, mas a peçonha golpista não foi esmagada e pode sobreviver em outras iniciativas de terrorismo, como atentados de toda espécie e sabotagens que não podemos prever, mas que delas os serviços de segurança e inteligência nos deveriam precatar, se não estivessem comprometidos com a resistência ao mandato do presidente Lula. De que certamente seu GSI já tem ciência.
O governo precisa aparelhar-se politicamente e os partidos progressistas devem rever os respectivos projetos em face do desafio permanente que é a organização popular, a partir do embate ideológico abandonado pela esquerda.
Quando os novos teóricos do poder entenderão que a sucessão em processo nada tem de familiar com a sucessão de 2003, e que o quadro militar daquele então nada guarda de compatível com a realidade de nossos dias?
Jamais a república cobrou, como cobra agora, o braço forte de um presidente: o título de comandante-chefe das forças armadas deixa de ser uma de suas competências constitucionais, apenas, para elevar-se como dever cívico, uma necessidade histórica da qual não pode declinar.
As movimentações da turbamulta no último domingo, que amanhã com diversa intensidade podem repetir-se em qualquer parte do país, foram anunciadas há mais de uma semana, e desde a posse de Lula estava nas redes sociais o chamamento de caravanas para Brasília, com o manifesto propósito de provocar o caos, como sinal para a intervenção militar sonhada pelo bolsonarismo e apregoada em casernas de todos os naipes.
O que pretendiam já fôra ensaiado nas arruaças de 12 de dezembro em Brasília, arruaças não apuradas, arruaceiros e financiadores não identificados e salvos de qualquer sorte de repressão, mesmo após atentarem contra o patrimônio público e investirem contra o suntuoso complexo da Polícia Federal.
Espera-se que a facilidade de pescar cabeças de bagre não relaxe a prisão dos principais criminosos, os aliciadores ideológicos (o capo de todos homiziado em Miami) e os financiadores das caravanas.
Para o dia 8 eram previstos mais de 200 ônibus chegando a Brasília desde a véspera, e vindos de várias partes do país.
Não vimos isso, porque pareceu mais cômodo não ver, como se a ignorância do fato o tornasse irreal.
Nenhum segredo os golpistas guardaram de suas maquinações.
Mas, igualmente, nenhuma ação se viu de quem deveria defender a institucionalidade democrática que nos parecera tão festejada na liturgia cívica do primeiro de janeiro, momento de afirmação republicana que devemos resgatar para preservar, ilustrando esperanças que precisamos manter vivas.
Os trumpistas tropicais encontraram o seu Capitólio entregue às baratas, o campo livre para depredarem os edifícios-símbolo dos poderes da república, a saber, o STF, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, onde chegaram ao terceiro andar e às portas do gabinete do presidente da república.
Caminharam, livremente, de um plano a outro da esplanada dos ministérios, sem conhecer empecilhos.
Os repórteres de televisão chegaram com suas câmeras, e estiveram, para o acaso do registro histórico, presentes em todas as cenas.
Mas não chegaram, senão com grande atraso e após a intervenção federal no sistema de segurança do DF, os aparatos de defesa das instituições, que lá deveriam estar numa ação preventiva, conforme rotina há muito conhecida, e familiar aos habitantes da capital.
Como antes, não haviam funcionado nem os sistemas de informação federais, civis e militares (onde estava o batalhão dos Dragões da Independência, encarregado da defesa do palácio do planalto?), nem os serviços de informação do Distrito Federal, uns notoriamente incompetentes, outros notoriamente comprometidos com mais uma tentativa de golpe.
Vai ficar por isso mesmo?
Desta feita, é impossível, mesmos aos néscios, desvincular o papel desempenhado pelo governador do Distrito Federal, ora afastado, como é impossível negar a presença de uma inteligência coordenadora.
O ex-secretário de segurança do DF, até outro dia Ministro da Justiça, foi descansar em Orlando, na companhia de seu chefe efetivo, na expectativa, dos dois, de verem de longe e comemorarem o incêndio de Roma.
Não há por que confiar em qualquer sorte de lealdade das corporações de inteligência e segurança das forças armadas do Estado brasileiro. Mas o novo governo se entregou de mãos e pés atados a essa ficção.
A história da corporação militar a vincula ao desrespeito continuado ao poder civil, às instituições democráticas e à ordem constitucional.
Mas qual papel era justo esperar dos serviços de informação da polícia federal, agora sob o comando do ministro Flávio Dino?
A Polícia Rodoviária Federal não viu a movimentação atípica dos ônibus?
Sinal de relaxamento político, o novo ministro da defesa nos dizia que as aglomerações na frente dos quartéis do exército (de onde saíram as bananas de dinamite e o terrorista que tentou explodir um caminhão de combustível no aeroporto de Brasília) eram atos normais da vida democrática, e chegou mesmo a dar como testemunho o fato de amigos e parentes seus, em Recife e em Brasília, integrarem esses grupelhos de apóstolos do atraso.
A literatura grafou a expressão bovarismo (derivada da personalidade desvairada de Madame Bovary, de Gustave Flaubert) para significar o desvio psicológico de pessoas que se recusam a conviver com a realidade.
Tomam o sonho como real; mas se assim evitam, ainda que momentaneamente, o mal-estar representado pelo presente desagradável, não se livram da chegada do desastre.
Sabe-se, com Marx, que a história não se repete, senão ora como tragédia, ora como farsa.
Os tempos presentes ainda estão por serem definidos, pela ação dos indivíduos, e o governo do presidente Lula enfrenta seu Rubicão. É a hora de sua escolha, talvez definitiva, que há de ser, também, a hora de sua afirmação.
Confio que avançará. Os fatos lhe oferecem a oportunidade de assumir o protagonismo que as circunstâncias históricas construíram, independentemente de sua vontade, mas que até agora vem sendo exercido pelo poder judiciário e por um ministro audaz.
A tessitura do processo social, contrariando os áulicos da conciliação pela conciliação, aprofundou o conflito social posto em números do 30 de outubro do ano passado, mas desta vez os pólos se apresentam largamente assimétricos porque a grande maioria da sociedade – incluindo liberais, o centro e a “direita civilizada”–, assustada, optou pela democracia e entregou a Lula o bastão de sua defesa.
Cabe-lhe assumir plenamente a tarefa, como chefe de Estado e comandante supremo da forças armadas, mas principalmente como o maior líder popular do país, sem se deixar intimidar, sem se dobrar a chantagens e sem receio de rever decisões já tomadas na montagem do governo que apenas se inicia.
A sorte está lançada.
*Roberto Amaral foi presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula. Atualmente, é professor, cientista político e jornalista.
* Com a colaboração de Pedro Amaral.
Comentários
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/FmSy5o3WAAEwqPg?format=jpg
ESQUEMA JURÍDICO DO GOLPE DE ESTADO 2022
Em Cumprimento a Mandado de Busca e Apreensão Expedido pelo Supremo Tribunal Federal, Polícia Federal,
foi Apreendido Documento na Casa de Anderson Torres,
ex-Ministro da Justiça do Governo de Jair Bolsonaro:
“Decreto de Estado de Defesa para intervir no TSE,
depois da Declaração da Vitória de LULA em 30/10,
com a Finalidade de reverter o Resultado da Eleição?”
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https://br.noticias.yahoo.com/pf-acha-documento-para-bolsonaro-fraudar-resultado-da-eleicao-na-casa-de-torres-185304746.html
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Zé Maria
https://twitter.com/AndersongTorres/status/1613632981519798272
https://twitter.com/LeSarturiP/status/1613642300151795713
Zé Maria
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CÓDIGO PENAL
(Decreto-Lei nº 2.848)
Parte Especial
TÍTULO XII
DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
CAPÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça,
abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo
o exercício dos poderes constitucionais:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos,
além da pena correspondente à violência.
Golpe de Estado
Art. 359-M. Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça,
o governo legitimamente constituído:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos,
além da pena correspondente à violência.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14197.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848compilado.htm
Zé Maria
“Nota da cúpula do Poder Judiciário sobre
a violência contra os Três Poderes”
“O Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral,
o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior do Trabalho
e o Superior Tribunal Militar vêm a público manifestar sua indignação
ante os graves acontecimentos ocorridos neste domingo, 8 de janeiro,
com atos de violência contra os Três Poderes da República
e destruição do patrimônio público.
Ao tempo em que expressam solidariedade às autoridades
legitimamente constituídas e que são alvo dessa absurda agressão,
reiteram à Nação brasileira o compromisso de que o Poder Judiciário
seguirá firme em seu papel de garantir os direitos fundamentais
e o Estado Democrático de Direito, assegurando o império da lei
e a responsabilização integral dos que contra ele atentem.
Brasília, 8 de janeiro de 2023.
Ministra Rosa Maria Weber,
presidente do Supremo Tribunal Federal
Ministro Alexandre de Moraes,
presidente do Tribunal Superior Eleitoral
Ministra Maria Thereza de Assis Moura,
presidente do Superior Tribunal de Justiça
Ministro Lelio Bentes Corrêa,
presidente do Tribunal Superior do Trabalho
Ministro General de Exército Lúcio Mário de Barros Góes,
presidente do Superior Tribunal Militar
https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2023/Janeiro/nota-da-cupula-do-poder-judiciario-sobre-a-violencia-contra-os-tres-poderes-neste-domingo
Veremos.
.
Zé Maria
.
Decreto Golpista saiu do Armário: https://bit.ly/3IKqd2r
“Se um dia alguém me entregar um documento
dessa natureza, na condição de Ministro da Justiça,
será preso em flagrante, por que se cuida de uma ideia
criminosa contra o Estado Democrático de Direito.”
Flávio Dino
Ministro da Justiça
Governo LULA (2023-2026)
.
marcio gaúcho
No Império Romano, o rio Rubicon era o limite traçado para conter as tropas romanas, a fim de evitar que algum general de tropas da época se aventurasse em invadir e tomar o poder de Roma. Aqui, o limite foi transposto pelos generais golpistas, fascistas e anti-povo. Querem repetir 1964 na marra. Terão muitos problemas pela frente se assim continuarem a agir. Os militares de pijama do Clube Militar de Brasília são os maiores responsáveis pela ideologia nazifascista das FFAAs do Brasil.
Zé Maria
“Mais de 50 PMs do Distrito Federal que trabalharam [pelo Golpe]
no dia dos atos terroristas, e NITIDAMENTE PREVARICARAM,
estão sendo presos e seus celulares apreendidos pela PF.
Que os culpados sejam demitidos!”
https://twitter.com/LeonelRadde/status/1613214012166270980
Alguma Ligação com Milícias Bolsonaristas ?
.
Zé Maria
O Bolsonarismo Golpista não foi Superado.
Seria razoável se aprofundar na Enquete Atlas
sobre a Tentativa de Golpe do Domingo Dia 8.
https://t.co/OchONUcrsH
https://twitter.com/RolimMarcos/status/1612910570830954498
Zé Maria
O Interventor do DF está brincando com Fogo.
Zé Maria
#NotíciaSTF
“O ministro Alexandre de Moraes atendeu pedido da AGU
e determinou que autoridades de todo o país,
especialmente as de segurança pública, tomem medidas
em relação à mobilização intitulada ‘Mega Manifestação Nacional
– Pela Retomada do Poder’, convocada para hoje.” 1/3
“Entre as medidas estão o impedimento de ocupação de vias públicas,
proibição de restringir a liberdade de tráfego, autorização para prisão
em flagrante de pessoas que ocupem vias ou invadam prédios públicos
e identificação dos veículos que venham a ser utilizados.” 2/3
“O ministro também determinou que a plataforma Telegram
bloqueie grupos e perfis que realizam a convocação para
os atos antidemocráticos.” 3/3
https://twitter.com/STF_oficial/status/1613181491273400322
https://twitter.com/STF_oficial/status/1613181493127385098
Zé Maria
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O Ministro Alexandre de Moraes também determinou a
Prisão do ex-Comandante-Geral da Polícia Militar do DF,
Coronel Fabio Augusto Vieira, que estava no Comando
da Corporação no Dia dos Ataques Golpistas a Prédios
da Praça dos Três Poderes.
O Comandante já havia sido Afastado pelo Interventor
Federal Nomeado pelo Presidente da República e tinha
sido nomeado pelo ex-Secretário de Segurança Pública
do DF, Anderson Torres, já Exonerado, contra quem há
também Prisão Decretada, e encontra-se Foragido no
Estado da Flórida, nos EUA.
.
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