Roberto Amaral: Que margem terá Lula para por em prática itens da agenda progressista sem pressões e apoio das grandes massas?
Tempo de leitura: 6 minLula e suas circunstâncias
Se as expectativas de hoje não forem superadas, o governo poderá nascer aprisionado por três círculos: o mercado financeiro, a ordem política e a atual hegemonia militar
Por Roberto Amaral*
O “mercado” está incomodado, ora com as declarações de Lula sobre seu programa de governo, tidas como pouco ortodoxas, ora com seu silêncio sobre as demandas da Faria Lima.
E porque o mercado anda assim nervoso, os diversos indicadores da economia – das bolsas ao câmbio – vivem sua ciclotimia artificial, que tanto alimenta a ciranda financeira e enriquece os especuladores.
O presidente, publicamente pressionado, designou o professor Haddad para falar aos banqueiros reunidos para convescote em bunker paulistano.
O auditório, porém, não gostou, principalmente porque não ouviu o que buscava, a capitulação de Lula.
Para a Folha de S. Paulo, “São preocupantes declarações recentes de Lula e de Fernando Haddad sobre o contexto econômico”, e o Estadão diz que o mercado, em nome de quem se expressa, “vê risco com a PEC e volta a elevar a inflação de 2023”.
Refletindo o amuo da Faria Lima, a bolsa caiu e o dólar, a moeda em que opera nosso capitalismo, subiu.
De outra parte, o chorume da política (que controla partidos e Congresso) tenta inviabilizar o novo governo, forçando-o desde logo a uma concordata, traficância que igualmente pleiteia a caserna, sequiosa de, mantendo os privilégios de casta, evitar a desmilitarização da república, sem o que jamais conheceremos, sequer, a plenitude da democracia liberal, experiência que o país tenta construir contra a histórica resistência dos militares e a contraofensiva da mais atrasada das classes dominantes.
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O Globo, em editorial, dita qual deve ser o perfil do futuro ministro da fazenda, e no Valor a principal colunista do sistema exige “que o Congresso crie limites às ambições do presidente eleito”, e cobra-lhe um governo submetido a rigorosa “ortodoxia fiscal”, para o que indica a necessidade de uma equipe que repita o fiscalismo de Palocci, Meirelles e Joaquim Levi, seus escolhidos.
No que depender do “mercado” e seus procuradores, pouco restará para o arbítrio do novo presidente. Herdará do antecessor um país em frangalhos – em que miseráveis se acotovelam na fila do osso –, que deverá governar segundo a cartilha dos que perderam as eleições.
Na sequência, um ex-comandante do exército, golpista de carteirinha (aquele que pôs de cócoras um STF pouco afeito ao autorrespeito, sobretudo naquele então), expele novo “comunicado” anunciando, a um mês da posse de Lula, refrescadas possibilidades de intervenção militar, enquanto oficiais comandantes estimulam badernas subversivas na porta dos quartéis.
Assim se fecha o círculo de giz caucasiano em torno do presidente: mercado, Congresso (centrão), militares. A grande imprensa é porta-voz da tormenta.
Lula herda um Orçamento que é a negação da política aprovada pelo eleitorado no dia 30 de outubro.
Precisando governar, é obrigado a negociar com um Congresso terminal, dominado pela aliança da extrema-direita com o famigerado centrão, sob o comando do inexcedível Arthur Lira, o jagunço de paletó e gravata, que na pauta da traficância colocou a garantia, de pronto obtida, de sua lamentável recondução à presidência da Câmara dos Deputados.
Presidência sem a qual nenhum governo conhece estabilidade, como nos lembrou o meliante Eduardo Cunha.
Nada obstante as concessões conhecidas, o novo governo, minoritário no Congresso, e assim dependente dos votos de seus adversários, ainda não conseguiu, a um mês de sua posse, viabilizar a PEC do Bolsa Família, e, assim prover com um mínimo de oxigênio o primeiro ano de governo de um curto mandato de quatro anos, cuja viabilidade menos dependerá da conciliação pelo alto e muito mais dependerá do apoio que o Presidente souber conservar, e aprofundar, na sociedade, no diálogo direto com as grandes massas que acabam de o eleger para um terceiro mandato.
Apoio, contudo, que poderá faltar-lhe se o preço a ser pago for sua frustração. A história registra precedentes.
Frágil politicamente (minoritário no Congresso e ainda sem o “poder da caneta”, remédio para muitas crises), ameaçada a autonomia de sua politica econômica, aquela anunciada na campanha, com as exigências de um fiscalismo austericida, apartado de nossa realidade socioeconômica, Lula se vê diante daquele que ainda é seu maior desafio, a política de defesa nacional, da qual depende a estabilidade do regime (sempre ameaçado pelos quartéis), a funcionalidade do governo e a necessidade histórica de desmilitarização da república, o que implica, embora não a encerre, a despolitização e despartidarização da caserna, a retomada da disciplina e a subordinação das forças armadas ao império da Constituição – portanto, ao poder civil oriundo da soberania popular que procuram tutelar desde o golpe de 1889.
Lula tem difícil encontro marcado com suas circunstâncias.
Nessas de hoje assumirá o terceiro mandato presidencial após um dos mais lamentáveis e nocivos períodos da história militar brasileira, quando a caserna patrocinou o mais inepto e antinacional governo republicano, associando-se e comungando com seu projeto lesa-pátria, de irresponsabilidade generalizada e genocídio.
Os militares conduziram experiência extremamente corrupta, promoveram ações antirrepublicanas e forneceram as bases para as tratativas de golpe maquinadas pelo terceiro andar do palácio do planalto, onde tomaram assento.
Foram o braço armado que deu sustentação à emergência de uma extrema-direita ensandecida, que permanece às portas dos quarteis.
O quadro de nossos dias é, sem dúvida, muito mais grave do que aquele que o presidente eleito encontrou em 2003, e, ouso mesmo admitir, ainda mais grave do que aquele que sucedeu ao Pacto de 1988, quando uma ordem militar declinante (portanto, fragilizada) prometeu o retorno aos quartéis.
Hoje, trata-se de uma caserna insubordinada, ademais de majoritariamente reacionária, ciosa dos frutos e usufruto do poder.
O ministério da defesa, nestas condições, assume, no plano estratégico, político-governamental, importância crucial.
Ao final de seu governo, Lula não poderá mais apresentar como balanço favorável o fato de haver atendido (sem ponderar relevâncias estratégicas e projeto nacional) às reivindicações orçamentárias das forças armadas.
A escolha do novo ministro da defesa, necessariamente um civil, deverá ser precedida pela decisão sobre que forças armadas o Brasil precisa e deseja ter, invertendo a distorção de nossos tempos, quando as forças armadas – atribuindo-se uma autonomia sem prescrição republicana – nos ditam que sociedade precisamos ser.
O estudo da defesa nacional, nele incluído o papel das forças armadas, tem sido descurado pela sociedade como um todo, mas particularmente pela universidade.
No Congresso é tema tabu; no máximo, as questões militares, conduzidas por lobistas profissionais, se limitam à discussão das sempre crescentes reivindicações de verbas das forças, atendidas sem qualquer visão estratégica das necessidades do país.
Por regra, carentes de reflexão acumulada, os partidos, no governo, têm demonstrado pouco familiaridade com o desafio.
Talvez essa negligência explique o fato de a política de defesa nacional – por óbvio, estratégica – ser o único tema sem o prestígio de um grupo de trabalho na comissão de transição do PT.
Talvez igualmente explique a ausência mesmo de discussão sobre o tema e a pobreza das especulações em torno do futuro titular da pasta, desprovidas de qualquer subordinação à política de defesa do futuro governo.
Anuncia-se, por exemplo, supostamente em atendimento a demanda das fileiras, a futura escolha de postos de comando por antiguidade, e não em função da fidelidade à Constituição, dos compromissos do escolhido à política de defesa da nação, o que deixa o chefe supremo submetido às regras de promoção corporativa.
Inverte-se pois a hierarquia, e aprofunda-se a deplorável autarquia militar em face do Estado e da nação.
Tudo indica que o tão ansiado e necessário terceiro governo Lula, se as expectativas de hoje não forem superadas, poderá nascer aprisionado por três círculos: 1) o mercado financeiro; 2) a ordem política e 3) a atual hegemonia militar.
Será, claro, pressionado e chantageado por cada um segundo sua natureza. Dessa forma, que margem poderá ter para implementar itens de uma agenda progressista, de centro-esquerda, sem as pressões e o apoio das grandes massas?
Incumbe às forças progressistas organizá-las. Enquanto é tempo.
*
Escárnio – Aproveitando a comoção causada por tragédias que chocaram o país, tramita na Câmara dos Deputados projeto de lei aparentemente inofensivo que “autoriza” (sic) o Poder Executivo a implementar uma política de monitoramento da violência nas escolas, visando à construção de “uma cultura de paz” – sem sequer uma linha sobre o indispensável e urgente controle das armas em circulação.
Para piorar, circula nos corredores da Casa a informação de que a relatoria caberá ao delinquente Daniel Silveira, ainda deputado, correligionário do pistoleiro Roberto Jefferson e aliado de Jair Bolsonaro.
Como a proposta deverá ser passivamente aprovada pelo colegiado, e nosso Congresso é useiro e vezeiro em absurdos inomináveis, resta imaginar a que prócer da extrema-direita caberá a relatoria da matéria no Senado: Sergio Moro? Hamilton Mourão? Façam suas apostas.
*Roberto Amaral foi presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula. Atualmente, é professor, cientista político e jornalista.
* Com a colaboração de Pedro Amaral
Leia também:
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Jair de Souza: A batalha para incluir os pobres no orçamento e os ricos no imposto de renda
Comentários
Pedro de Alcântara
Não seria demais dizer de que sociedade se está tratando. Se é da capitalista, mesmo que o Brasil possa ser considerado apenas um quarto de capitalismo, deveriam ser suas leis o ponto de partida de sustentação de uma análise que pretenda tratar de como essas leis estão se manifestando precisamente num momento em que, por toda parte, a sociedade de classes encontra-se num estado de declínio irreversível. No que se refere às instituições burguesas, o panorama é de desintegração. E esta situação está longe de ser brasileira. Sua natureza é capitalista, numa fase histórica em que o sistema capitalista perdeu a corrida para as novas forças produtivas, moduladas estas por uma tecnologia e ciência revolucionárias. É neste ponto que nos encontramos.
Zé Maria
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Senador Bolsonarista Lacaio Girão (Podemos/CE)
anuncia que os Senadores Governistas Obstruirão
de todas as maneiras a Tramitação da PEC 32/2022
que mantém o Bolsa Família de R$ 600,00 e ainda
dá o Complemento de R$ 150,00 / Filh@ até 6 anos,
conforme Proposta do Presidente Eleito LULA.
Vê-se que a Milícia Bolsonarista no Congresso não
está nem aí para a Pobreza e a Fome d@s Brasileir@s.
Esse desgoverno do Bolsolão é o Governo da Morte.
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Zé Maria
https://youtu.be/CVTsYJ8iWUM
https://legis.senado.leg.br/comissoes/reuniao?0&reuniao=11057&codcol=34
https://legis.senado.leg.br/comissoes/itempauta?reuniao=11057&codcol=34&item=81924
Zé Maria
https://twitter.com/GeorgMarques/status/1600133080827957249
Zé Maria
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Coordenadora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) é nomeada para Grupo Técnico (GT) do Gabinete de Transição de Lula
https://t.co/9lK3n5f7qq
A jornalista Juliana Cézar Nunes (https://twitter.com/jupontonunes),
da coordenação-geral do Sindicato dos Jornalistas do DF, foi nomeada
para integrar o Grupo Técnico (GT) de Comunicação Social da transição
para o novo governo do Presidente Eleito de Luiz Inácio Lula da Silva.
Juliana é trabalhadora da EBC e ainda atua em diversos movimentos sociais,
como o movimento negro, de mulheres e sindical.
O GT de Comunicação Social está elaborando um diagnóstico da comunicação
pública e da comunicação governamental e irá propor mudanças para reverter
os desmontes causados pelo atual governo.
O grande desafio será a retomada a missão pública dos veículos da EBC,
após anos de ataques e violações aos canais de comunicação pública
promovidos pelos governos Temer e Bolsonaro.
“Fortalecer a empresa, valorizar os trabalhadores e criar espaços de diálogo
e de participação da sociedade na empresa pública será fundamental
nesse momento”, diz Juliana.
Fazem parte do GT de Comunicação Social:
André Janones, Antonia Pelegrino, Flavio Silva Gonçalves, Florestan Fernandes Junior, Helena Chagas, Hélio Doyle, João Brant, Laurindo Leal Filho, Manoela D’Ávila, Otávio Costa, Tereza Cruvinel, Viviane Ferreira, Emir Simão Sader, Flávia Filipini Ferreira Borges, Flávio Luiz César, Juliana Cézar Nunes, Julimar Gonçalves, Luiza de Carvalho Sigmaringa Seixas, Osmar Bria, Rafael Angeli e Taís Ladeira de Medeiros.
https://twitter.com/sjpdf/status/1599769389162672128
https://www.sjpdf.org.br/noticias-teste/52-em-destaque/4543-coordenadora-do-sjpdf-e-nomeada-para-gt-de-transicao-do-governo-lula
.
Zé Maria
Ao menos agora os Confrontos Ideológicos são Mais Abertos ‘nos 3 Círculos’.
O Problema Maior continuam a ser os ‘Democratas’ Cínicos do “Grande Irmão”.
Por sinal, o LULA que se cuide com os Comes e Bebes nas Reuniões ‘Fraternas’.
Sandra
Consulta Publica para pressionar a aprovação da PEC do Bolsa Família. Só 34 mil votaram a favor. Mais de 70 mil já votaram contra.
https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=155248
Zé Maria
O Bolsa-Família de R$600
e o Complemento de R$150
para as Crianças até 6 Anos
devem ser inegociáveis.
Zé Maria
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/images/agenciadenoticias/estatisticas_sociais/2022_12/grafico-sis_distribuicao-brasil_final.png
O IBGE acaba de publicar o Levantamento
da Pobreza e Extrema Pobreza no País.
São Mais de 62 Milhões de Habitantes
abaixo da Linha da Pobreza (na Miséria).
E Metade das Crianças de até 14 Anos
igualmente em Condição de Miséria.
Deputados e Senadores têm de olhar
para esse Contingente de Brasileir@s
que não possuem Condições Mínimas
de Subsistência no Brasil.
Diante dessa Situação de Emergência,
R$ 200 Bilhões é até pouco para sanar
o Problema da Insegurança Alimentar
A Solução Ideal, aliás, é Revogar a EC 95.
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/35687-em-2021-pobreza-tem-aumento-recorde-e-atinge-62-5-milhoes-de-pessoas-maior-nivel-desde-2012
Zé Maria
Não deixem de ler (*) para ver a grande mentira
do ‘governo quebrou, teremos shutdown’.
O que faliu foi o Teto de Gastos.
Entendam que o governo tem um saldo
TRILIONÁRIO na Conta Única.
E que parte da imprensa hoje vive
de sensacionalismo fiscal.”
*(https://t.co/9Cm9smyXZd)
Economista MONICA DE BOLLE
https://twitter.com/bollemdb/status/1600094652744359936
.
(*) “Sobram Bilhões, mas ‘o governo quebrou’ (dizem as Manchetes)”
Por Lauro Veiga Filho, na Coluna Foco Econômico, em ‘O Hoje’
‘Estrangulado’ pela falta de recursos, consequência dos gastos excessivos realizados no período pré-eleitoral, o governo teria literalmente ‘quebrado’ neste final de ano, como dizem as manchetes e repetem analistas e economistas mais identificados com correntes mais conservadoras do pensamento econômico, que chegaram a desenvolver certa ‘tara fiscalista’ ao longo das últimas décadas, agravada aparentemente depois de 30 de outubro passado.
Pior ainda, o famigerado ‘risco fiscal’, que dizer, o risco fantasioso de o governo não honrar os pagamentos de juros e amortizações de sua dívida, levando a uma escalada do dólar e da inflação, em consequência, tenderia a comprometer as ações do governo em 2023, desestabilizando a administração que sequer tomou posse ainda.
Começando pelo começo, a primeira proposição, a tal falta de recursos, é falsa e tem sido alimentada propositadamente para que os recursos do orçamento da União continuem sendo açambarcados pelos setores de sempre, perpetuando o que a procuradora Élida Graziane Pinto, do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo [MPCESP], tem qualificado como a ‘balcanização’ do mesmo.
Segundo as manchetes, o governo federal teria apenas R$ 2,4 bilhões para bancar despesas discricionárias (quer dizer, de livre provisão pelos ordenadores federais de gastos) até o final do ano, aproximadamente um décimo dos recursos que seriam necessários.
O desgoverno ainda instalado em Brasília de fato realizou gastos ‘extraordinários’ às vésperas das eleições, com autorização (ou cumplicidade) do Congresso, contrariando veto imposto pela legislação eleitoral.
A mais recente delas, já na reta final da campanha, abriu espaço para uma despesa extra de R$ 41,2 bilhões.
Mas esses desembolsos, embora possam vir a ser qualificados como ilegais (e parecem ser), não ‘quebraram’ o Estado brasileiro.
Basta relembrar que, nas contas da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), o governo central acumulava, até outubro, um superávit de R$ 66,8 bilhões antes do pagamento de juros – às custas do achatamento de despesas e de receitas não recorrentes, que não deverão se repetir no próximo ano, é verdade.
Política de Desmonte
A grita fiscalista tem servido para ajudar a equipe do ministro dos paraísos fiscais, para onde desviou US$ 9,55 milhões de sua fortuna para não pagar impostos, a cancelar a transferência de recursos para saúde e educação principalmente, atingindo mesmo despesas já autorizadas (empenhadas), além das áreas de meio ambiente, da Justiça e da Polícia Federal, entre outros setores da administração pública, ameaçando a continuidade de suas atividades rotineiras e de projetos de maior alcance em todas as áreas do serviço público.
Na verdade, os cortes fazem parte de uma política de desmonte perseguida desde o governo Temer, quando foi instituído o moribundo ‘teto de gastos’, já detonado por sucessivos ‘estouros’ patrocinados pelo desgoverno atual, num total de R$ 794,9 bilhões apenas entre 2019 e 2022, segundo levantamento do economista Bráulio Borges, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Balanço:
– A questão é que, mesmo quando há sobra de recursos, o teto de gastos impõe um “contingenciamento” das despesas, que não podem crescer mais do que a inflação ao longo do ano.
Portanto, ainda que a arrecadação cresça muito acima do esperado, como agora, o governo não pode usar o dinheiro excedente para fazer frente a gastos, ainda que urgentes e plenamente justos, como campanhas de vacinação e compra de vacinas.
O ‘teto de gastos’ acabou se tornando uma ferramenta para achatar as despesas, contingenciando-as ainda que sobre dinheiro para sua realização.
– Em parte, o crescimento das despesas discricionárias neste ano deveu-se a desembolsos realizados na fase anterior às eleições.
Entre janeiro e outubro deste ano, a valores atualizados com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aqueles gastos somaram praticamente R$ 123,678 bilhões, correspondendo a um crescimento de 35,31% frente a pouco menos de R$ 91,401 bilhões nos mesmos 10 meses do ano passado (R$ 32,277 bilhões a mais).
– O grande avanço dos gastos discricionários, no entanto, ficou concentrado no período entre junho e agosto.
No trimestre em questão, foram realizados desembolsos ligeiramente superiores a R$ 67,599 bilhões, correspondendo a 54,66% de toda a despesa discricionária realizada em 10 meses.
Em idêntico período do ano passado, esse tipo de gasto havia somado R$ 36,089 bilhões, representando 39,48% do total acumulado até outubro de 2021.
– Comparando os dois períodos, a despesa discricionária registrou salto de 87,31% em termos reais.
Quer dizer, foram gastos R$ 31,510 bilhões a mais no trimestre encerrado em agosto deste ano.
Mais claramente, as despesas realizadas em apenas três meses explicaram 97,63% do crescimento acumulado em todo o período (janeiro a outubro deste ano frente aos mesmos meses de 2021).
– Essa escalada, na verdade, não evitou que ainda assim ‘sobrassem’ recursos naqueles 10 meses – antes do pagamento de juros, ressalte-se.
Mas o saldo primário reflete apenas parcialmente a situação fiscal.
A sobra de dinheiro é mais ampla e suficiente para assegurar a transição de governo e mais além, afastando a ameaça de um improvável ‘calote’ na dívida pública, como demonstrou recentemente em entrevista ao jornal Estado de São Paulo o economista José Roberto Afonso, considerado um dos ‘pais’ da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e que nada tem de heterodoxo.
– O Tesouro mantém no Banco Central (BC) uma ‘conta única’, que inclui sobras de caixa, recursos decorrentes da venda de títulos públicos, recursos em circulação no sistema financeiro e outras disponibilidades.
Essas ‘sobras’ devem ser utilizadas na gestão da dívida pública, quer dizer, na compra de papéis, no pagamento de juros e amortizações.
– A conta única somava pouco mais de R$ 1,595 TRILHÃO em outubro deste ano.
Além desses valores, o dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) na rede bancária chegava a R$ 366,415 bilhões.
Na soma entre as duas contas, o governo tinha a sua disposição nada menos do que R$ 1,962 TRILHÃO, em números arredondados, algo como 20,35% do Produto Interno Bruto (PIB) e praticamente 27% de toda a dívida pública do governo geral (que inclui a União, os governos regionais e suas estatais).
https://twitter.com/Elida_Graziane/status/1600087194395643904
https://ohoje.com/coluna/sobram-bilhoes-mas-o-governo-quebrou-dizem-as-manchetes/
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Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1600118162745221121
“Dinheiro tem, não tem é margem fiscal nesse teto iníquo”
“O teto precisa ser revogado imediatamente!”
ÉLIDA GRAZIANE
https://twitter.com/Elida_Graziane/status/1600118162745221121
Doutora em Direito Administrativo (UFMG)
Pós-Doutorado em Administração (FGV/RJ).
Procuradora do Ministério Público de Contas
do Estado de São Paulo (MPC-ESP)
https://eaesp.fgv.br/pessoa/elida-graziane-pinto
https://www.jota.info/autor/elidagrazianepinto
https://www.escavador.com/sobre/6126912/elida-graziane-pinto
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