Juarez Cruz: O silêncio do indecente

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Silêncio do Indecente

Por Juarez Cruz*

Estamos passando por um período político atípico e perigoso para nossa democracia.

Às 20h40 do dia 30 de outubro de 2022 o Supremo Tribunal Eleitoral (TSE) proclamou o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como vencedor do pleito de 2022.

Só cerca de 44 horas após a divulgação deste resultado foi que o presidente Jair Messias Bolsonaro(PL) saiu da toca reconhecendo a vitória de seu adversário.

Muito embora o título em epígrafe nos remeta ao título do filme “Silêncio dos Inocentes”, originário do livro escrito por Thomas Harris, que foi exibido em 1991, que aborda a caça a um psicopata acusado de canibalismo.

O silêncio ensurdecedor do presidente preocupou e foi típico de um psicopata que estava esperando ver uma possibilidade para melar as eleições, mostrando que não respeitaria o resultado das urnas, das instituições e muito menos do grande número de eleitores que foram às urnas de forma ordeira e democrática escolher o presidente de sua preferência.

Vale ressaltar que episódio semelhante aconteceu quando o candidato José Serra (PSDB), no dia 31 de outubro de 2010, perdeu a eleição para Dilma Rousseff (PT) e levou cerca de 3h30 para reconhecer publicamente sua derrota, até que resolveu parabenizar sua adversária.

Encastelado no Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro ficou sem se manifestar durante todo esse tempo sobre o resultado eleitoral, e muito menos sobre os bloqueios dos caminhoneiros nas estradas estaduais e federais, que paralisaram setores econômicos como das indústrias, aduaneiros, aeroportos, equipamentos hospitalares e insumos, abastecimento de alimentos, combustíveis e bebidas e a população que precisa se deslocar entre cidades.

Com este silêncio indecente, conivente e irresponsável, ele sinalizou sua concordância com as paralisações e tornou-se mentor da baderna que continua país a fora mesmo depois de sua aparição.

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Talvez o motivo real da demora em reconhecer o resultado das urnas era esperar o mesmo que aconteceu com o golpe de 64, quando grupos conservadores organizaram grandes manifestações, como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que, em 19 de março, reuniu cerca de 500 mil pessoas.

Reivindicavam a intervenção dos militares na política brasileira contra o presidente João Goulart, movimento este apoiado pela grande imprensa, empresários, Ipes (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais), Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e EUA.

Ao contrário do que parece estar acontecendo hoje, em 64 os EUA financiaram ativamente grupos e políticos conservadores no Brasil, em especial dois conhecidos como “Complexo Ipes-Ibad”.

O Ibad, inclusive, foi alvo de uma CPI em 1962. Foi acusado de receber milhões de dólares do governo americano para financiar a campanha de mais de 800 políticos durante as eleições daquele ano, com o objetivo de criar uma frente parlamentar que barrasse o governo de João Goulart de todas as formas.

Felizmente, no momento atual, os apoiadores de Bolsonaro não estão sendo financiados pelos EUA.

Parece que são  apoiados por caminhoneiros, família Bolsonaro, alguns deputados e jornalistas e conservadores bolsonaristas, que querem que os militares saiam da caserna para dar o golpe fatal na democracia.

Enfim, esperamos quase dois dias vendo até onde iriam a burrice (burrice que redundou em sua derrota) e teimosia de Bolsonaro para se manifestar e reconhecer a vitória do adversário, que foi vítima de um grande processo judicial que vai manchar para sempre a história política do Brasil.

*Juarez Cruz é escritor de Salvador (BA)

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