José do Vale: Nas mesas do Amarelinho, na Cinelândia, a história viva

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Foto: Reprodução de imagem da TV Globo

No bar Amarelinho, Cinelândia, Rio de Janeiro, a integridade da história

Por José do Vale Pinheiro Feitosa*

Quando nesse domingo, 30 de outubro, a apuração do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrou a virada dos votos de Lula sobre Bolsonaro, a comeoração explodiu na zona sul do Rio de Janeiro, do Leblon a Copacabana, e da Gávea ao Flamengo.

O lugar simbólico da comemoração continua sendo a Cinelândia. Especialmente nas imediações do Bar Amarelinho, vizinho da Câmara de Vereadores, em frente à Biblioteca Nacional e na lateral do Theatro Municipal e da Escola de Belas Artes.

No vazio, entre o Amarelinho e a Câmara de Vereadores, um grupo de velhos militantes do antigo PTB de Getúlio Vargas junto com Brizola criaram nesse lugar a Brizolândia.

A Brizolândia era mais que um espaço fixo. Era os corpos e a mente politizada da aguerrida militância popular em busca de vencer o cipoal de contradições da história brasileira.

Tentaram fincar aquilo que nestas eleições de 2022 foi um dos símbolos mais fortes da campanha eleitoral de Lula: a ESPERANÇA.

Isso é importante, porque a ruptura de contradições históricas, em que classes privilegiadas, com o controle do Estado, dos meios econômicos e da violência força a miséria popular, criando um caldo fervente de revolta e crimes, cuja saída sempre é sua superação.

A ruptura se resolve quando o vetor da violência se dirige para estas mesmas classes privilegiadas.

Acho que, ainda, não qualifiquei a defesa da esperança como um método político de validade histórica na superação de grandes contradições sociais, econômicas e políticas.

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Não é incomum a esperança, especialmente entre setores de vanguarda da luta popular, ser vista como algo alienado, especialmente pela mensagem cristã quando a solução de paz só aconteceria após a morte.

E retornando à esperança de Lula e da velha Brizolândia, na Cinelândia, com sua banquinha, transportada todos os dias para ser guardada na sede do PDT.

Aqui uma especificidade do Brasil, com seus 215 milhões habitantes: num território que é metade da América do Sul, rico e estratégico para todas as nações, a Esperança venceu.

Qual acepção da Esperança?

Os caminhos possíveis para superar as desigualdades sociais e econômicas, romper as contradições de classe, instalar uma ordem popular soberana consoante às próprias movimentações transformadoras da vida objetiva no planeta terra e da sociedade humana.

Na Brizolândia este caminho defendia a educação universal de qualidade porque entendia que o lema “Povo Unido Jamais Será Vencido” é uma consequência da consciência da realidade objetiva do Brasil.

A verdade que salva o povo é mais do que apenas palavras vãs, ou preceitos fixos, a verdade é a observação clara das transformações da história e da realidade material do planeta com suas influências cósmicas de ondas e choques físicos.

Quando Lula é vencedor com a maior votação numérica que um presidente eleito já teve, acontece quando o voto separa o momento em duas vertentes políticas. A questão que nos resta é se tal separação é definitiva ou não.

Na resposta a isso é preciso considerar as eleições de 2014 quando se verificou a mesma separação.

Observar o quanto figuras públicas, até então jogando nas marcas do jogo político, passaram a se aproveitar desta separação, como fez Aécio Neves, ao estimular a radicalização de posições de força a partir do racha nacional.

Dois anos depois, essa força desorganizadora nacional passou a radicalizar setores da sociedade, como a classe média urbana, setores do agronegócio, militares das Forças Armadas e polícias estaduais, algumas denominações das igrejas evangélicas, uma súcia de oportunistas de vários matizes e finalidades, inclusive de garimpar em terras indígenas, além do armamento promovido pelo governo Bolsonaro em clubes de tiros que passam a se constituir em forças radicalizadas armadas.

No meio disso tudo, a ideologia fascista com entranhas neoliberais, em que setores das elites financeiras se aproveitaram para arrochar a renda popular e ampliar seus ganhos em esferas especulativas e de queima do patrimônio público brasileiro.

Por certo os que estavam no Amarelinho pela vitória do Lula sabem que setores radicalizados — à semelhança dos militares da aeronáutica da chamada República do Galeão, que se insurgiram contra a eleição e posse de Juscelino Kubitschek, e dos setores ruralistas que se armaram contra a reformas de base — irão atuar para atacar a esperança.

A consciência clara do momento histórico é fundamental para que a esperança se realize com dado da realidade objetiva do povo brasileiro.

No domingo, como nas tantas vezes em que estive na Cinelândia, abraçando gente amiga nas mesas do Amarelinho, vi rostos novos, faces jovens, gerações após a minha, mostrando que o lastro da Esperança Brasil vai além de radicais alienados da realidade, e muito além da própria história de Lula.

Como ele disse: tentaram, politicamente, me enterrar vivo e estou aqui. E a ressurreição é múltiplo de unidade, é muito mais que um corpo.

Hoje já é outro dia.

*José do Vale Pinheiro Feitosa é médico sanitarista.

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