Movimento de luta contra a Aids retorna às ruas para denunciar cortes no orçamento da saúde pelo governo Bolsonaro; manifesto
Tempo de leitura: 5 minPor Conceição Lemes
Na quarta-feira, 19-10, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), reunido em Brasília, repudiou os cortes drásticos na área da saúde feitos pelo governo Bolsonaro para 2023.
“Representam uma perda de R$ 22,7 bilhões frente ao orçamento de 2022”, informou na reunião Francisco Funcia, consultor do CNS
“A redução orçamentária é verificada em todas as secretarias e unidades do Ministério da Saúde”, salientou.
“É a intensificação do projeto de morte do governo federal em curso nesse país”, denunciou Fernando Pigatto, presidente do CNS.
Só nas áreas de prevenção, controle e tratamento de HIV/Aids, hepatites virais e infecções sexualmente transmissíveis estão previstos cortes de R$ 407 milhões.
Na sexta-feira, 21-10, pacientes com HIV/Aids e ativistas de São Paulo deram a sua primeira resposta a esse descalabro.
Cerca de 300 pessoas protestaram em frente ao Theatro Municipal, no centro da capital paulista.
A manifestação foi liderada pelo Fórum de ONGs/Aids de São Paulo, o Movimento Paulistano de Luta Contra Aids (Mopaids), a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+) e o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP).
Durante o evento foi lido o Manifesto em Defesa das Políticas de Aids no Brasil (na íntegra, mais abaixo), assinado por essas quatro ONGs, que avisam desde já:
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Faremos o enfrentamento destes cortes. Não vamos ficar sem prevenção e adoecer calados!
O movimento brasileiro de luta contra a Aids ocupou as ruas em diferentes momentos nos últimos 40 anos.
Agora, voltamos às ruas para denunciar os riscos que a política de Aids e de várias outras políticas de saúde correm neste desgoverno.
Recomendo fortemente que leiam o manifesto na íntegra.
Explica claramente o que está acontecendo com a área de HIV/Aids no País.
Confesso que a manifestação em São Paulo me deu um calorzinho no coração.
Foi bom rever, ainda que por fotos, algumas pessoas que participaram ativamente da construção da política brasileira de enfrentamento ao HIV/Aids.
Um ativismo de verdade e não de ocasião, de fachada, como às vezes se vê hoje.
Um ativismo que fez história e foi fundamental para o Brasil ter sido lá atrás considerado como exemplo para o
Pelas fotos, deu para notar que essas pessoas continuam firmes e fortes. Felizmente.
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MANIFESTO EM DEFESA DA POLÍTICA DE AIDS NO BRASIL
A política de Aids no Brasil está em risco: o governo federal acabou de sinalizar um corte de R$407 milhões para prevenção, controle e tratamento de HIV/Aids, infecções sexualmente transmissíveis e hepatites virais.
Mas também haverá cortes em vários outros programas, incluindo a Farmácia Popular!
Pessoas com hipertensão, diabetes e asma terão que pagar muito mais pelo acesso aos seus remédios, que necessitam usar diariamente. Isto afeta diretamente o SUS (Sistema Único de Saúde), que foi estabelecido pela democracia em 1988.
E nós, pessoas vivendo com HIV/Aids, corremos o risco de ter o nosso tratamento descontinuado, resultando na perda de saúde. Já existe um medicamento antirretroviral amplamente utilizado com acesso reduzido no país, como é o caso da lamivudina.
Por este e outros motivos a luta da sociedade civil em defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV/Aids, a favor da vida, da democracia, dos direitos humanos e da saúde pública se faz ainda mais necessária neste momento tenebroso do Brasil.
A resposta brasileira à epidemia de HIV vem sofrendo retrocessos crescentes nos últimos anos.
Além do desmonte nas políticas públicas, aspectos financeiros e sociais também comprometem a luta contra a Aids por aqui. Somos 1 milhão de pessoas vivendo com HIV/aids e dizemos não ao retrocesso e a essa política de morte proposta pelo atual governo.
A Aids continua sendo um grave problema de saúde pública.
A cada hora, 5 pessoas foram infectadas pelo HIV no Brasil em 2021, segundo dados do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids). A epidemia afeta desproporcionalmente pessoas negras, homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas e mulheres trans.
Segundo estimativa da ONU, ao longo do ano passado o Brasil teve 13 mil mortes em decorrência da doença.
Segundo o Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde tivemos 37 mil novos casos de AIDS e 43 mil novos casos de infecção pelo HIV.
Corremos sérios riscos do aumento da epidemia no país por conta dos progressivos sucateamentos do Sistema Único de Saúde (SUS) e da política específica para HIV.
A assistência às pessoas vivendo com HIV/aids, ainda é uma das principais demandas do Brasil, mas isto afeta também a prevenção. Com efeito, os cortes afetarão o acesso à Profilaxia Pré-Exposição e a Profilaxia Pós-Exposição. A PrEP precisa se expandir, dada sua eficácia, mas esta medida aponta para uma redução.
Sem verbas, até as ações consolidadas de prevenção estão em risco. Mas o risco não fica só com o tratamento e prevenção para HIV/Aids; ele inclui as pessoas com Hepatites B e C também.
Vale ressaltar que a qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV/aids e com hepatites, está ligada ao diagnóstico precoce e ao acesso aos medicamentos.
Ou seja, a distribuição de medicamentos impacta diretamente no bem- estar físico e social de quem deles precisa.
Mas faremos o enfrentamento destes cortes. Não vamos ficar sem prevenção e adoecer calados! Podem esquecer!
O movimento brasileiro de luta contra a Aids ocupou as ruas em diferentes momentos nos últimos 40 anos.
Agora, voltamos às ruas para denunciar os riscos que a política de Aids e de várias outras políticas de saúde correm neste desgoverno.
É momento de resgate da resposta brasileira à saúde, do SUS, e da política de Aids e Hepatites virais.
Assinam o documento:
Fórum de ONGs/Aids do Estado de São Paulo
Movimento Paulistano de Luta Contra Aids
AHF Brasil
Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas
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