Maister da Silva: Luto pela raça, luto pela cor…Por nós, por amor…; vídeo

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Uma publicação compartilhada por Seu Jorge (@seujorge)

Da Redação

Na última sexta-feira, 14-10, Seu Jorge foi alvo ataques racistas no encerramento de seu show em um clube de Porto Alegre (RS). 

Manifestações racistas ocorreram após o cantor apresentar membro da sua banda, um adolescente de 15 anos, e falar que o Brasil não deveria discutir a redução da maioridade penal, e sim oportunidades aos jovens.

Parte do público começou então a vaiar, a fazer sons imitando macacos, gritar palavras como “negro vagabundo” e “mito, mito”, em referência a Jair Bolsonaro.

Na segunda-feira, 17-10, Seu Jorge se manifestou pela primeira vez sobre os atos racistas no show em Porto Alegre. 

“Eu não reconheci a cidade que eu aprendi a amar. Não era a cidade que eu conhecia”, afirmou no vídeo (veja acima) postado em  seu perfil de rede social. 

“Na verdade, o que eu presenciei foi muito ódio gratuito e muita grosseria racista”, observou. 

No vídeo, ele relata tudo o que aconteceu e conclama a “nação afrobrasileira” a participar de movimentos sociais que lutam pelos direitos da população negra no combate ao racismo e às violações de seus direitos.

 O gaúcho Maister F. da Silva concorda.

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“Como afirmou Seu Jorge, vamos vencer essa guerra contra o inimigo exposto, ocupar as ruas, denunciar publicamente, usar todos os meios possíveis para expor os indivíduos e intuições racistas”, conta Maister, no texto abaixo.

Luto pela raça, luto pela cor…

Por Maister F. da Silva*

Com toda a clareza intelectual que fez de Seu Jorge um dos músicos mais completos da atualidade, ele quebra o silêncio e expõe a face racista e colonial da elite gaúcha, que agora busca transferir aos tribunais a decisão de julgar se seus atos covardes e mesquinhos são racismo ou não.

Ora, a elite acostumou-se às leis, a ter as leis a seu favor, não acostuma-se ao julgamento da sociedade, especialmente ao julgamento do povo negro, ao julgamento das mulheres e dos brancos antirracistas que vem liderando um conjunto sólido de transformações que tem se transformado na busca constante de/e ocupação de espaços de poder que a branquitude racista detinha para si e seus filhos.

O vídeo breve publicado pelo cantor (assista-o no topo) faz lembrar o livro clássico de Florestan Fernandes “O negro no mundo dos brancos”.

Tomando a história do Brasil desde a abolição da escravatura o povo negro luta de forma persistente para redefinir a condição social de ex-escravo e afirmar-se como trabalhador livre e como cidadão, por “igualdade perante a lei”.

A luta nos tribunais é sempre desigual, a justiça é política e controlada por tribunais em sua maioria brancos.

Desde sempre o povo negro lutou e continua a lutar contra toda sorte de manifestações de desigualdade racial, no emprego, na escola com a educação eurocêntrica, no acesso a moradia e ao próprio direito de viver.

É retórico, mas infelizmente é atual. A juventude negra é a que mais morre por mortes violentas no país.

Octávio Ianni dizia que a malfadada “democracia racial brasileira” foi uma técnica social desenvolvida pelos brancos, pela qual os mesmos segundo as exigências de sua classe social procuram estabelecer as condições e o alcance da atividade e da mobilidade social do negro, como pessoas e como grupos sociais.

O caso de racismo sofrido por Seu Jorge e as ações jurídicas movidas contra Djonga pela frase “fogo nos racistas” proferida por ele em seus shows são a face nua do conceito criado por Ianni. O branco não suporta que o negro fale o que pensa ou que faça o que fale, lhes dói, fere o privilégio branco.

Seu Jorge terminou seu comunicado com um chamado à ação e organização, nem todas as guerras são travadas com armas. Essas nossos antepassados já empunharam, quando não lhes restou alternativa.

Todavia, quando nos tentam subjugar é nessa seara que o enfrentamento é posto, e, como afirmou Seu Jorge, vamos vencer essa guerra contra o inimigo exposto, ocupar as ruas, denunciar publicamente, usar todos os meios possíveis para expor os indivíduos e intuições racistas. Por nós, por amor…

*Maister F. da Silva é militante do Movimento dos Pequenos Agricultores e membro do FRONT – Instituto de Estudos Contemporâneos.

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