Milly Lacombe: Mídia deve assumir seu papel de naturalização da extrema-direita e dos seus escândalos no Brasil
Tempo de leitura: 6 minMídia deve assumir seu papel de naturalização da extrema-direita no Brasil
Mensalão e Petrolão são escândalos de corrupção fincados na cabeça dos brasileiros. São, também, diretamente associados ao PT.
Foram revelados durante administrações petistas e nós da imprensa demos a eles seus devidos tamanhos.
É inaceitável que dinheiro público seja desviado, especialmente se houver uma organização criminosa para fazê-lo.
Apenas para que o tema não passe sem ser esmiuçado, precisamos lembrar que em 1989 o jornalista Ricardo Boechat ganhou um prêmio Esso com uma reportagem sobre a corrupção na Petrobras.
Em 1993, uma CPI foi instaurada para investigar o esquema em que um cartel de empreiteiras desviava verbas do orçamento da União corrompendo políticos. Tudo isso deu apenas em um processo, contra o jornalista Paulo Francis. Ou seja, não deu em nada.
O PT, ao assumir o poder, removeu boa parte das ferramentas que impediam que as investigações se aprofundassem (eu estou listando fatos apenas) e posso explicar o que fez o PT para desbloquear o represamento das investigações.
FHC, em 1995, nomeou Geraldo Brindeiro como procurador geral da república e renovou por três vezes o seu mandato. Dos 626 inquéritos que chegaram às mãos de Brindeiro na PGR apenas 60 denúncias foram encaminhadas. Por isso ele ficou conhecido como engavetador geral da republica.
Diante dessa indecência promovida por FHC, em 2001 membros do Ministério Publico exigiram que FHC respeitasse a lista tríplice de nomes. FHC ignorou e renomeou Brindeiro.
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Lula, ao assumir, fez uso da lista tríplice e nomeou o nome mais votado pelos membros do MP sem questionar.
Entre 2003 e 2009, com Lula portanto, o número de operações realizadas pela polícia civil foi de 18 para 236. A PF passou a se concentrar em crimes contra os cofres públicos.
Em 2007 foram 183 operações e 2800 pessoas presas. Não tinha Lava Jato, não tinha manchetes diárias, não tinha eco na mídia. Por que, você deve se perguntar.
A PF foi reformada durante as administrações de Lula. Autonomia, melhores salários e operações de combate à corrupção. Outra vez: estou apenas listando fatos.
O PT atuou para que escândalos de corrupção viessem à tona. Coisa que nem Sarney, nem FHC fizeram – muito pelo contrário.
Esses dados nos indicam que o PT não foi o partido que inventou a corrupção, nem mesmo o partido que a organizou no Brasil. Não se trata de tirar sua responsabilidade, mas de colocá-la em seu devido lugar dando a ela seu real tamanho. Jornalismo é contexto.
Mas mesmo quem entende que nada disso foi montado nas administrações petistas confere ao PT a exigência do desmantelamento – que não foi feito.
Por que quem veio antes de Lula nunca foi responsabilizado? Por que os atuais escândalos de corrupção não ganham nomes populares, manchetes diárias?
Os nomes escolhidos para nomear os esquemas de corrupção desvendados durante as administrações petistas são ótimos.
Eles comunicam a grandeza dos desvios. A imprensa pegou esses nomes e cravou no noticiário sem cessar por anos.
Uma ida ao Manchetômetro da UERJ, e tudo pode ser comprovado.O Manchetômetro, aliás, é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP) que não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.
Mas voltemos ao fio do pensamento.
Diante de todos os prejuízos do Mensalão, é de se imaginar que, havendo qualquer coisa parecida, o peso que nós da imprensa daríamos a isso seria o mesmo.
Vejamos o orçamento secreto, que, para Simone Tebet, pode ser o maior escândalo de corrupção do Planeta (vídeo abaixo).
Os números do orçamento secreto deixam, desde já, o Mensalão como brincadeira de criança.
Falemos do nome: orçamento secreto.
O que ele comunica? Nada.
Orçamento é uma palavra aborrecida e secreto não tem muita rejeição.
Mesmo com esse nome tedioso, a pergunta é: o escândalo está nas manchetes? Não. Deveria? Sim. Com enorme destaque. Todos os dias.
Na mesma medida do que foi feito com o Mensalão. Ou talvez até mais porque estamos diante de uma eleição que pode acabar com o que resta de democracia.
E essa aspecto também deveria ser ressaltado diariamente pela imprensa: Bolsonaro fala em golpe, ameaça o golpe, acha que adversário político deve ser exterminado e é risco real e imediato às nossas vidas.
Mas falemos da corrupção.
Há pelo menos 26 casos de corrupção associados ao governo Bolsonaro: funcionários fantasmas no gabinete do presidente e dos filhos, apoio aberto a milícias no Rio, os repasses para a conta de Michelle, o advogado de Bolsonaro escondendo Queiroz em sua casa, obras feitas pelo ministério da saúde sem licitação, esquema de contrabando de madeira ilegal no ministério do meio ambiente, vacina sendo negociada pelo ministério da saúde pelo triplo do preço, pedido de propina de um dólar por cada dose comprada da vacina AstraZeneca.
Seguir usando nomenclatura tediosa para comunicar cada um deles não faz a informação chegar à população com a força que deveria chegar.
Para o orçamento secreto, por exemplo, nomes como “O Mensalão de Bolsonaro” seriam mais honestos.
É o que é: o Mensalão de Bolsonaro.
Por que não estamos comunicando dessa forma?
E as rachadinhas? O que são as rachadinhas?
São o crime organizado institucionalizado. Há três décadas.
A escolha do nome, no diminutivo e usando um verbo que comunica solidariedade (o que é rachar?) não ajuda na divulgação e compreensão do tamanho da roubalheira.
Esquema de corrupção, crime organizado, extorsão? Um pouco de criatividade nos faria encontrar um nome que pudesse comunicar todo o horror do que é esse esquema institucionalizado por Bolsonaro e seus filhos (leiam o livro de Juliana Del Piva, “O negócio do Jair”).
Ninguém mais pode questionar o fato de que Lula e sua frente ampla são os únicos atores capazes de nos livrar da ameaça de um segundo mandato de Jair Bolsonaro – um mandato que como ensina o livro “Como as democracias morrem” sacramentaria o golpe, o fim da Amazônia, das instituições, dos direitos humanos etc.
Por que o noticiário ainda se refere a essa frente como “Lula” ou “O PT” apenas? Por que não chamar de Frente ampla democrática?
Comunicar é repetir. Temos a obrigação de repetir, de nomear as coisas corretamente, de não nos omitir.
Esse é o papel da imprensa em tempos de paz, mas é ainda mais em tempos de guerra.
Existe apenas uma força mobilizando o campo fascista nessas eleições, e ela se chama anti-petismo. O anti-petismo é uma paranoia delirante que foi incansavelmente promovida pela imprensa.
O já igualmente histórico e infame editorial do Estadão do “Uma escolha muito difícil” fez coisa demais pela naturalização da extrema-direita nesse país.
A cada absurdo não confrontado dito diante das câmeras por Bolsonaro estamos naturalizando a extrema-direita.
A cada mentira não verificada dita em debate, idem.
Não são mentiras sobre o número de escolas abertas em seu mandato. São mentiras que visam instalar paranoia, medo, bloqueio da imaginação e depressão. Não combatê-las é, proposital ou acidentalmente, naturalizar o fascismo que pulsa em Bolsonaro e em seus métodos.
Não bastaram 13 anos de governos democráticos para que o PT fosse aceito. A esquerda segue sendo demonizada, enquanto a extrema-direita é naturalizada pela mídia.
Nós da imprensa precisamos assumir nosso papel na legitimidade da extrema-direita no Brasil.
Aceitar sem questionar que nomes como Paulo Guedes (colunista de O Globo por dez anos), Kim Kataguiri, Helio Beltrão, Meval Pereira, Augusto Nunes, Alexandre Garcia etc sejam vozes normalizadas e centrais nos maiores veículos e que não encontram contra-argumentação nos trouxe até aqui.
Quando Guilherme Boulos foi contratado como colunista da Folha, os mesmos que sempre aceitaram os nomes acima – que hoje vão sendo desmascarados como sendo de extrema direita – berraram em revolta e indignação. Boulos não!
Por que Boulos não? Kataguiri pode, Beltrão pode, Nunes mas Boulos não? Merval pode mas Boulos não?
Essa semana, o governador Romeu Zema foi entrevistado na Globonews e disse que Bolsonaro não representa ameaça à democracia. Não foi questionado. Sua palavra ficou como a palavra final.
Silenciar diante de uma declaração mentirosa como essa é compactuar.
Não estamos aqui falando de achismos ou de desejos Estamos falando de fatos.
Em dois minutos podemos listar vinte motivos para contra-argumentar Zema. Não foi feito.
Todo mundo pode não gostar de Lula, do PT, do petismo, da esquerda.
Democracia comporta conflitos e disputas.
Direita e esquerda são campos válidos. Mas seria preciso começar a dizer em alto e bom som que a esquerda que o PT representa nunca pregou o extermínio do campo adversário.
E a extrema-direita que Bolsonaro representa prega isso todos os dias há quatro anos.
Não estamos falando de simetrias. É hora de a imprensa assumir um lado nessa história.
Agora mais do que nunca precisamos nos agarrar aos fatos e não a crendices e preconceitos porque a ameaça de colocarmos os dois pés num regime fascista está no horizonte.
Derrotar Jair Bolsonaro e seus métodos milicianos de gestão e de institucionalização de assédios é a missão de qualquer pessoa que acredite em democracia. E é a da imprensa.
Não é preciso muita coisa. Basta as palavras certas, manchetar os escândalos de corrupção, confrontar as mentiras ao vivo e repetir, repetir, repetir.
No dia 2 de janeiro de 2023 poderemos voltar a fazer oposição justa, coerente e honesta ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva com a certeza de que nossas vidas não serão submetidas a nenhum tipo de assédio ou de extermínio institucional.
Preciso ressaltar que se por um lado a imprensa tem papel decisivo na naturalização da extrema-direita, ela também tem papel decisivo em abrir as frestas para que os escândalos de corrupção sejam trazidos à luz do dia.
Foi assim no Mensalão, no Petrolão, no esquema de distribuição de fake-news de Bolsonaro em 2018 por Patricia Campos Melo e agora, com Juliana del Piva, com sua investigação de quatro anos sobre quem é Jair Bolsonaro e sobre seus métodos de atuação.
Reforço a recomendação para que leiam o livro ” O Negócio do Jair” enquanto é tempo.
*Milly Lacombe, 53, é jornalista, roteirista e escritora. Cronista com coluna nas revistas Trip e Tpm, é autora de cinco livros, entre eles o romance O Ano em Que Morri em Nova York. Acredita em Proust, Machado, Eça, Clarice, Baldwin, Lorde e em longos cafés-da-manhã. Como Nelson Rodrigues acha que o sábado é uma ilusão e, como Camus, que o futebol ensina quase tudo sobre a vida.
Comentários
Zé Maria
Entrevista Coletiva: Senª SIMONE e LULA
“Fica aqui, a partir de agora, o Compromisso não apenas do Meu Voto,
mas do Meu Total Apoio à sua Campanha e ao seu Governo.
Vamos Juntos até 30 de Outubro andar as Ruas e as Praças do Brasil,
para mostrar que o Brasil que Nós Queremos só pode ser Feito
e Construído pelas Mãos do Presidente Lula e de Geraldo Alckmin”.
SIMONE TEBET ao PRESIDENTE LULA
https://youtu.be/qR1nNJm71B4
Zé Maria
.
SENADORA SIMONE TEBET SELA PACTO
DE GOVERNO COM LULA PRESIDENTE
https://youtu.be/aVTQFK_2Fn0
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Zé Maria
.
A Imprensa-Empresa ‘Tradicional’ (Mídia Venal)
não contesta as Barbaridades dos Bolsonaristas,
simplesmente porque a Extrema-Direita Fascista
está Associada ao Neoliberalismo, Sistema Cruel
que é defendido pelos Empresários de Mídia, os
quais são os Propagandistas do Partido ‘NOVO’,
do BolsoZema, desgovernador de Minas Gerais,
que, aliás nunca foi contestado quando beneficiou
as Mineradoras que causaram os Desastres Ambientais
em Mariana e Brumadinho, assim como pretende
liberar a Devastação Ecológica na Serra do Curral.
https://www.almg.gov.br/acompanhe/noticias/arquivos/2022/05/27_administracao_publica_visita_serra_curral_mineracao_tamisa
Zé Maria
Adendo
Os Veículos de Comunicação do Cartel GAFE (Globo, Abril, Folha, Estadão)
e todo o resto dos Grupos Fasci-Paulistas de Mídia, jamais apoiarão aberta
e publicamente nem LULA nem HADDAD, Candidatos de Centro-Esquerda,
por uma razão estritamente Político-Econômica Ideológica.
Como dito, os Neoliberais encontraram seus Defensores mais ferrenhos
e intransigentes na Extrema-Direita Fascista, hoje representada no braZil
pelo Bolsonarismo Religioso-Militar Fanático e Violento.
Ora, os e as Jornalistas dessas Redes Empresariais de Comunicação somente
pincelam algumas críticas pontuais sobre questões Identitárias Isoladas, mas
não se aprofundam em contestar o Sistema Econômico Perverso Vigente.
Podem até falar que já há 33 Milhões de Pessoas Fomintas no País, porém
nunca relacionam a Fome e o Desemprego como consequências diretas do Neoliberalismo posto em prática pelo [des]Governo de Jair Bolsonaro.
Na realidade, pôr o Ultraliberal Paulo Guedes no Ministério da Economia foi e
é a Maior Blindagem que os Criadores do Mito encontraram para que o atual
Presidente da República não sofresse uma Condenação por Crime Comum
ou de Responsabilidade que o levaria à Cadeia, ou ao Impeachment, ou Ambos.
A Articulista Milly Lacombe é uma das Raras Exceções no Jornalismo Brasileiro
e, apesar do seu Talentoso Didatismo, encontrará Dificuldades Enormes em
convencer seus e suas Colegas Jornalistas, quando tratar de Economia Política.
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Zé Maria
Detalhe
Note-se que, além não haver a devida desaprovação à
Nomeação de Aras à Procuradoria-Geral da Répública,
também não houve críticas contundentes ao fato de
o Presidente da Câmara dos Deputados não receber
os Pedidos de Impeachment do atual Presidente, nem
a Maia nem a Lira, isto é, todas as Autoridades às quais
competia e compete decidir, preliminarmente, por dar
Andamento a um Processo de Afastamento de Bolsonaro
ficaram intocadas (ou entocadas) pela Mídia Venal.
.
Zé Maria
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Além do mais, o Mensalão, termo inventado pelo Corrupto Roberto Jefferson
numa entrevista a um Jornal Fasci-Paulista, foi a Primeira Tentativa de derrubar
Lula, e a Segunda Tentativa foi a Midiática Lava-Jato que, para tanto, derrubou a
Presidente Dilma Rousseff e destruiu o Sistema Petrobras; por conseguinte,
desestruturou o Projeto de Desenvolvimento Econômico do Brasil que havia
sido Alavancado pelos Governos Petistas.
Depois, todos presenciaram a Derrocada Político-Econômica e Sócio-Cultural
do País, causada, precisamente, pela (re)implantação do Neoliberalismo no
(des)gerenciamento do Estado Nacional, inicialmente com Temer, o Cínico,
e continuando com essas tralha que estão aí.
Essa Sequência de Fatos Históricos a Imprensa não vai admitir, pois é Cúmplice.
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