Luis Carlos Bolzan: No bicentenário da Independência, imbrochável só a corrupção com sigilo de 100 anos

Tempo de leitura: 5 min

Por Luís Carlos Bolzan*, especial para o Viomundo

Nem o roteirista mais criativo seria capaz de escrever o texto do bicentenário da Independência brasileira, pois não foram poucos e pequenos os absurdos e escândalos com os quais o presidente da República Jair Bolsonaro marcou a data para toda a história. Senão vejamos:

— Bolsonaro transformou a data e os festejos em seu ato de campanha pessoal.

Usou despudoradamente a máquina pública para fazer desbragados comícios de campanha, o que é vedado pela legislação eleitoral. Por muito menos, candidaturas foram cassadas. Candidatos a prefeitos já tiveram seus registros cassados por simplesmente participarem de atos de inauguração de unidades de saúde, sem terem sequer direito a fala, sendo cassados pelo simples fato de estarem presentes na atividade.

— Bolsonaro não apenas se fez presente, como fez uso da palavra sem fazer nenhuma alusão ao bicentenário da independência. Pelo contrário. Fez discurso de campanha à reeleição explicitamente.

— Usou servidores públicos para se promover, indo desde as forças armadas e seus integrantes, a servidores de Ministérios. Não se vexou em usar equipamentos e estruturas como veículos e a TV estatal para transmitir todo o ato de sua campanha política.

Usou recursos do erário público sem nenhum pudor. Ou sua viagem de Brasília para o Rio de Janeiro foi não foi em voo com aeronave pública?

— Bolsonaro chegou a tirar a faixa presidencial após fim do desfile para subir em carro de som na Esplanada dos Ministérios e discursar. Ao fazer isso, Bolsonaro parece imitar Clark Kent ao tirar os óculos para se transformar no Superman, ou seja, como se fosse outra pessoa ao tirar a faixa presidencial e ninguém percebesse o crime eleitoral
escandaloso transmitido para todo o país.

— Para além do uso aberto da máquina pública em seu favor, desequilibrando de forma indisfarçável a disputa eleitoral, Bolsonaro deu mostras, novamente, de seu desprezo pelos povos indígenas ao não incluir nos desfiles nenhum ponto sequer sobre o papel histórico desses povos na construção do Brasil.

Fez o mesmo com o segmento preto da população brasileira. Apesar disso, demonstrou sua predileção pelo agronegócio incluindo tratores no desfile, o mesmo ocorrendo com o segmento cristão, em detrimento de todos demais segmentos religiosos, absolutamente desprestigiados pelo ato de campanha bolsonarista.

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— O descaso por todas demais religiões e seus fiéis também surgiu no discurso de campanha no carro de som no DF e no RJ, quando disse que o Brasil é “majoritariamente cristão” ou ao dizer que país é laico mas que ele é cristão.

Mais uma vez, Bolsonaro desfia seu desprezo por toda cultura religiosa e fé da população brasileira, impondo  autoritariamente sua preferência à Nação.

— Bolsonaro, novamente, atacou e desafiou o Supremo Tribunal Federal. De forma velada mas perceptível em seu discurso, usou seu público de fanáticos para vaiar o STF, em recado aos ministros da corte.

Não satisfeito, Bolsonaro recorreu à analogia futebolística, para dizer que vai enquadrar nas quatro linhas, que estiver jogando fora delas (de acordo com concepção dele do que é jogar fora das quatro linhas) se reeleito.

Mas como afronta maior, Bolsonaro manteve ao seu lado o empresário investigado pela Polícia Federal e já alvo de decisões do STF, Luciano Hang, demonstrando inequivocamente, seu desafio ao Supremo.

— Bolsonaro ataca suposta corrupção de outros, no caso Lula que foi inocentado em 26 processos, após decidir ficar no país e não fugir para exterior, e lutar por sua inocência.

Os ataques são claramente, para fugir de sua obrigação como presidente da República em explicar a origem do dinheiro vivo usado para comprar 51 imóveis por ele mesmo e seus familiares, em valores que corrigidos chegam à soma de R$26 milhões. Quantidade de malas que colocam no chinelo Rocha Loures.

— Mas Bolsonaro usa em seus ataques à Lula, inequívoca linguagem de extermínio, ao citar a necessidade de “extirpar essa gente” em discurso de campanha no RJ.

Como antes, quando disse que iria “metralhar a petralhada” ou ainda ao usar expressão “ponta da praia” para se referir aos inimigos em clara alusão a manifestação de assassinatos e desova de corpos, Bolsonaro, mais uma vez, manifesta seu ódio autoritário com inconfundível fim de extermínio físico.

— Por fim, mas não menos importante, Bolsonaro se autoexaltou como macho potente e viril, ao se declarar “imbrochável”.

Como toda autopromoção, essa também é suspeita, e aponta justamente para seus medos, fraquezas e possíveis insuficiências.

O presidente dos factoides e fake news parece recorrer a mitos sobre sua própria virilidade sexual para enaltecer publicamente o que talvez não seja de todo um sucesso intimamente.

Mas esse seria um problema do autoproclamado “imbrochável” e seu psicoterapeuta, não fosse ele o Presidente da República que no bicentenário da independência transformado em ato de campanha pessoal, resolve falar sobre sua sexualidade.

Achando pouco, Bolsonaro ainda impôs às mulheres, segmento da população por quem nutre indisfarçável desdém, o papel de “princesas”, que como num conto de fadas devem esperar a escolha do macho alfa “imbrochável”.

E se impor às mulheres papel de princesa não fosse suficiente, Bolsonaro ainda recorre ao artifício de forçar comparações e disputas entre sua mulher (Bolsonaro não refere à Michelle como sua esposa mas como sua mulher) e outras “primeiras damas”.

Me pergunto como se sentiram as mulheres com comparações desse tipo?

Ou não seria essa mais uma demonstração de machismo de Bolsonaro, numa clara sucessão de atos machistas no bicentenário da Independência travestido de campanha bolsonarista?

O machismo é, por si só, construção histórica abjeta. Piora ainda mais quando na boca de machistas empedernidos que se autoproclamam o que não são, para esconder o que de fato são e sentem.

Bolsonaro tem medo. Bolsonaro é um homem amedrontado pela permanente necessidade de se mostrar como não é.

Pelo terror incessante de falhar naquilo que para ele é essencial, ou seja, se mostrar forte, capaz, viril, decisivo, potente.

Daí suas recorrentes falas de que não aguenta mais a pressão, de que é muito difícil ser presidente, os relatos de pessoas que foram suas aliadas de que ele chora por não suportar a pressão, suas exibições de virilidade duvidosa ou ainda defesas de ditaduras, ditadores, que usam seus superpoderes totalitários para esconder suas fraquezas e medos, e de torturadores, os mais covardes dentre os covardes.

Bolsonaro se revelou nesse bicentenário como ele realmente é: fraco, com medo e incapaz de lidar com seus limites, e com a sombra cada vez maior do fracasso.

Ou será que Bolsonaro, ao ser derrotado na disputa presidencial, fará como Lula e ficará no país para se defender e lutar por sua inocência?

Muitos crimes foram cometidos por esse governo. Alguns que já sabemos e outros que talvez só saberemos quando trocar o governo.

Talvez aí seja a oportunidade para esclarecer casos que até agora não foram devidamente esclarecidos.

Por exemplo:

*o caso de Adriano da Nóbrega e seu envolvimento com a família Bolsonaro;

*as ”rachadinhas” de integrantes do clã Bolsonaro;

*a origem do dinheiro usado para compra de 51 imóveis por Bolsonaro e familiares;

*o caso da propina da vacina contra a covid-19;

*o caso do tráfico de madeira da Amazônia em que delegado da PF acusou ex-ministro da Saúde Ricardo Salles de  envolvimento;

*o caso dos pastores do MEC;

*o caso do carregamento de cocaína no avião presidencial de Bolsonaro; ou ainda,

*o caso do assassino da vereadora Mariela Franco e Anderson Gomes.

Talvez a insegurança do “imbrochável” tenha origem em ações do passado que ainda são desconhecidas da população brasileira.

Do que sabemos, é que o bicentenário da Independência foi criminoso ato de campanha política com uso da máquina pública e abuso de poder político.

Daí que imbrochável, mesmo, só a corrupção desse governo de cem anos de sigilo.

*Luís Carlos Bolzan é psicólogo. Autor do livro “A Pandemia da Ignorância é a Ignorância da Pandemia”, lançado pela editora Lutas Anti Capital.

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Geraldo Moreira

Dentre os esclarecimentos faltou a estranha morte do Bebiano.

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