Jair de Souza: O grande capital e os 51 imóveis comprados pela família Bolsonaro com dinheiro vivo
Tempo de leitura: 4 minO grande capital e a corrupção bolsonarista
Por Jair de Souza*
Qualquer pessoa com algum conhecimento sobre a vida política brasileira já sabia de longa data, bem antes das eleições de 2018, que Bolsonaro e sua família jamais poderiam servir de paradigma de honestidade para ninguém.
Por isso, não há nada a estranhar nas recentes revelações que trazem ao conhecimento público as mais de uma centena de transações imobiliárias realizadas pelo ex-capitão e sua família nos últimos anos.
É espantoso saber que cinquenta e uma dessas negociatas foram realizadas com pagamento em dinheiro vivo, em espécie.
Em sã consciência, alguém poderia considerar como normal e acima de suspeita que uma compra de um imóvel valorado em milhões de reais seja efetuada com o uso direto de papel moeda?
Bem, quem sabe, talvez, em uma situação excepcional, poderia ser. Mas, neste caso, estamos falando de cinquenta e uma operações. É um pouquinho diferente. Concordam?
Fazendo uma comparação com o ocorrido com o ex-presidente Lula, já tem gente dizendo que Bolsonaro está se mostrando como o presidente mais corrupto de toda nossa história republicana.
Como Lula foi condenado e mantido em prisão por 580 dias em função de um apartamento no Guarujá cujo valor de venda não superava os 2,2 milhões de reais, e as transações imobiliárias suspeitas da família bolsonarista ultrapassam em mais de dez vezes esse valor, até que esta argumentação que sustenta que estamos diante do maior corrupto da nação não está tão fora de propósito.
Além do mais, está inteiramente provado legalmente que o badalado tríplex que serviu para a condenação de Lula não era de sua propriedade.
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E, por sua vez, a intensa varredura feita em todas as contas de Lula e sua família, no Brasil e no exterior, não conseguiu descobrir um centavo sequer que pudesse ser caracterizado como fruto de atividades ilícitas.
Em vista disto, todos os processos e acusações que tinham sido abertos contra Lula foram anulados e desconsiderados pelo STF. Como William Bonner se viu forçado a reconhecer: Lula não tem nenhuma pendência com a Justiça.
No entanto, o principal propósito deste texto não é ressaltar o elevadíssimo nível de corrupção pessoal de Bolsonaro e sua família.
Mesmo que isto seja um fato que vai se tornando mais e mais visível para todos a cada dia, quero demonstrar que os mais angustiantes problemas do país se encontram muito além da questão da moralidade ou ética pessoal do governante de turno.
Em um artigo publicado aqui em Viomundo em junho do ano passado, eu busquei deixar claro que o tema da corrupção pessoal dos governantes quase nunca pode ser tido como a razão principal para explicar os descalabros sociais de um país como o Brasil.
O que eu procurei mostrar naquele momento é que, em sociedades de classes antagônicas como a nossa, a verdadeira corrupção se consuma naqueles mecanismos que permitem que a transferência de renda de uns setores sociais a outros seja executada da maneira mais eficaz possível.
Isto que acabei de mencionar é importante para que não venha a predominar a conclusão de que, se conseguíssemos eliminar os vícios de corrupção pessoal presentes em Bolsonaro e sua família, poderíamos resolver os problemas da nação sem necessidade de alterar as regras de funcionamento atualmente em vigor.
No caso brasileiro, bastaria substituir a figura asquerosa e desonesta de Bolsonaro por outra mais limpinha e de bons modos, como a de Simone Tebet, por exemplo, para que o país entrasse nos eixos de um bom rumo.
Porém, como já tentei explicar no texto anterior, a distribuição da renda produzida em uma determinada sociedade vai depender da correlação de forças existente entre as diferentes classes que a disputam.
A troca de nomes no comando com a manutenção das condições vigentes na atualidade significa que a parcela que vinha sendo apropriada pela família bolsonarista, simplesmente, iria ser adicionada ao bolo correspondente ao grupo daqueles que se beneficiam com as políticas que o governo do miliciano vem levando a cabo.
Por exemplo, a mera retirada de Bolsonaro e sua família da repartição do botim não vai implicar que a renda gerada pela Petrobrás passará a atender as necessidades do povo em seu conjunto.
O mais provável é que isso até contribua para elevar o montante relativo a juros e dividendos que vai para o pequeno grupo de pessoas que detêm a maioria das ações privadas da Petrobrás, em detrimento dos interesses do restante da população.
Portanto, sem alterar as bases de funcionamento de nossa empresa petroleira e sua política de preços, não vai fazer muita diferença para o povo em termos concretos que o presidente da nação seja uma pessoa honesta e menos desbocada. Vai ser preciso trazer a empresa de volta à sintonia com os interesses nacionais.
Como é sabido, o ministro Paulo Guedes ganhou centenas de milhões de reais ao se aproveitar dos ganhos que sua empresa offshore pôde auferir em razão de medidas tomadas por ele mesmo em sua função de ministro.
E, é bom ressaltar, os ganhos desse ministro não são, de modo algum, os mais expressivos nessa modalidade.
Assim que, não há nenhuma probabilidade de que este tipo de problema seja eliminado tão somente com a substituição da figura deplorável que hoje ocupa o cargo presidencial por outra algo mais palatável em termos pessoais.
De igual maneira, de nada vai adiantar para as maiorias se o novo chefe de governo for comedido, honesto e respeitador das leis, mas não se empenhar em mudar o atual modelo de taxação que isenta de pagamento os grandes capitalistas agroexportadores, os rentistas que ganham de seus dividendos, e que continue privilegiando a arrecadação de impostos pela taxação dos bens de consumo e não pelo nível de renda.
Portanto, embora seja muito válido denunciar com veemência toda a podridão que as práticas criminosas e corruptas da família bolsonarista representam, é preciso apontar para mudanças que não se limitem a uma substituição pura e simples de figuras de aspecto repugnante por outras de melhor aparência.
Sem que se altere a essência do sistema que sustenta o quadro de apropriação de renda prevalecente no momento, o nível de desigualdade social, a pobreza aguda e a fome não vão desaparecer.
*Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ
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Comentários
José Espare
E estamos sabendo dessas coisas apesar dos sigilos de 100 anos que vêm sendo decretados sobre todos os processos que se relacionam com a famiglia. Já imaginaram se fossem fazer uma varredura geral igual a que fizeram com Lula e seus familiares? Mas, de qualquer maneira, o texto enfatiza a ideia de que a grande corrupção não é essa, e sim aquela que o grande capital põe em prática, muitas vezes, amparado na leis que eles conseguem impor à nação.
marcio gaúcho
Para amparar o conceito de ladrões imposto à família Bolsonaro, basta verificar a devolução de favores que vem sendo observada nas contribuições CPF de sua campanha. Nelson Piquet é apenas um dos que estão quitando as gentilezas obtidas com subsídios ou empréstimos em condições favoráveis, junto aos órgãos do Governo Federal. E a indústria da nota fria está em efervescência. Será por esse motivo que o PIB subiu???
João de Paiva
Além de concordar integralmente com a análise de Jair de Souza, parabenizo-o pela coragem, pela clareza e pela competência em resumir em poucos parágrafos o que muitos prolixos cientistas sociais e políticos não conseguem fazer em centenas de páginas ecritas ou em horas de entrevistas.
Nelson
Fosse a família de Leonel Brizola, de Lula, de Dilma ou de Boulos que tivesse feito tais negócios, os órgãos da mídia hegemônica estariam divulgando o fato 100 vezes por dia durante semanas, meses, mesmo anos.
–
Porém, como é coisa de um governante que está a governar exclusivamente para atender aos interesses do grande capital – dos já ricos, mi e bilionários – essa mídia divulga uma ou duas vezes apenas, até para não ser acusada de esconder o fato, e, rapidinho, se “esquece” do mesmo.
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CONTEÚDO E TOM
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Em uma de suas tantas frases, o genial Millôr Fernandes dizia: “Discussão não se ganha pelo conteúdo, mas pelo tom”. Vamos, então, fazer uma analogia da frase do Millôr com a postura da mídia.
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Denúncias que envolvam personagens da política que demonstram algum compromisso com as demandas populares, a midia hegemônica divulga no mesmo tom do rugido de um leão de 250 kg. E, à maneira de Goebbels as repete vezes sem conta.
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Denúncias que envolvam personagens da política que demonstram compromisso apenas com o grande capital, a mesma mídia divulga no tom do miado de um esmirrado gatinho e, mais que depressa, “fecha o bico”.
Zé Maria
Aí, Pessoal!
A partir deste momento da Campanha Eleitoral,
há 30 Dias do Pleito do Primeiro Turno, é preciso
perceber que as Enquetes Eleitorais não serão
mais definidoras de voto quanto o corpo a corpo.
É hora de bater de porta em porta para eleger
o máximo de candidatos da Esquerda, para
todos os Cargos, inclusive sugerindo Números
dos Postulantes, principalmente a Mandatos
Parlamentares (Deputados Estaduais e Federais
e Senadores).
https://pt.org.br/time-do-lula-conheca-os-candidatos-do-pt-em-todo-o-pais/
Zé Maria
Detalhe
Atente-se para o fato de que todas as Pesquisas Eleitorais são pagas por Empresas ou Bancos.
Zé Maria
Dito e feito!
O Datafolha “encomendada” pelos Grupos Globo e Folha já
começou a desidratar os Candidatos do PT Lula e Haddad,
para eliminar a Expectativa de Vitória no Primeiro Turno.
Tava Demorando!
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/FblzM0_WYAEVr_6?format=jpg
“Ministro ANDRÉ MENDONÇA, do STF, foi sorteado Relator do Inquérito
que apura a Compra de Imóveis com Dinheiro Vivo pelo Clã Bolsonaro.
Quer dizer, ele terá a ‘Dificílima’ Tarefa de arquivar as Investigações
quando o ARAS pedir.”
https://twitter.com/ArmandoCostaJr/status/1565379256833679361
Muito SUSPEITO!
https://twitter.com/Iran_Palma/status/1565409013029896192
Olha só como tá o Clã Miliciano:
https://twitter.com/i/status/1565378517138870273
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