Pedro Augusto Pinho: A perda do poder financeiro no século 20

Tempo de leitura: 4 min
Ilustração: Carlos Lopes

Da Redação

A partir desta segunda-feira, 08/08, o administrador Pedro Augusto Pinho, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), publica aqui no Viomundo uma série de quatro artigos exclusivos sobre o sistema financeiro no século 21.

“Não é apenas a história de fatos e pessoas, é a história do poder”, frisa.

— E quem é poder?

“É aquele que está por trás dos governos, dos Estados, da construção de seu pensamento, pelo que denominamos “pedagogia colônia”, expõe.

Em resumo: é aquele que efetivamente manda.

— Mas isso é teoria da conspiração! — rebaterá um incrédulo.

Pedro Augusto Pinho responde com a fina ironia de um grande amigo, o jornalista Beto Almeida: “eu só conheço a prática, não a teoria da conspiração”.

— Por quê?

Porque a história do poder, diz ele, é a história de disputa que prefere não se identificar.

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Os poderes usam máscaras, fantasias, assumem diferentes ideais para que não sejam identificados. Só o tempo os deixa mais vulneráveis.

Um exemplo disso é o poder do cristianismo na Idade Média.

O Papa era seu mais alto dignitário. O Papa é que coroava os reis e, assim, lhes dava autoridade para dirigir a sociedade. A Igreja combatia os que disputavam com ela esta força, chamando-os de hereges, infiéis, renegados, até, a suprema injúria, ateus.

Pedro Augusto Pinho antecipa:

1. Caro leitor, o artigo que se segue apresenta a história como uma aventura, a luta dos poderes, aqueles que estavam em combate do fim do século 19 até o fim do século 20, e o que nos sucedeu depois, neste início do século 21

2. Esta aventura lhes demonstrará o sentido das guerras, os verdadeiros vencedores e a astúcia dos derrotados, as máscaras e fantasias do poder. Fatos desconexos passarão a ter sentido.

3. Nosso principal personagem é o sistema financeiro, que irá também se transformando ao longo do tempo.

O que chamávamos de a banca na Inglaterra do século 20, hoje é um sistema apátrida e seus agentes são os “gestores de ativos”, que captam suas suadas poupanças para lhes impor o desemprego, a miséria, a doença e a morte.

Segue o artigo número 1. A cada dois dias, será publicado um novo.

SÉRIE “AS FINANÇAS NO SÉCULO 21”

A perda do poder financeiro no século 20

Por Pedro Augusto Pinho*, especial para o Viomundo

O mundo que existia na passagem do século 19 para o século 20 era multipolar, ainda que o financismo do Império Colonial Britânico tivesse predominância, mas, na Europa, encontrávamos os Impérios da França, da Holanda, da Dinamarca, da Alemanha, da Itália, de Portugal, da Espanha, parte do Império Otomano e, fora da Europa, o Império Japonês e a expansão fora das fronteiras dos Estados Unidos da América (EUA).

Países independentes, ou seja, fora desses impérios subordinavam-se ao poder de algum deles.

O Brasil se curvava aos banqueiros ingleses, donos da dívida contraída desde a Independência, em 1822. Estimava-se que, em 1900, a população mundial tinha 1.633 milhões habitantes.

Nos primeiros 20 anos do século 20 houve enorme transformação provocada pela disputa colonial europeia, conhecida como I Grande Guerra, e o surgimento do socialismo dentro da Europa, com a Revolução na Rússia, em 1918, e a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

O poder detido pelas finanças, que desde o século 17 dominava a Inglaterra, e se espalhava por boa parte do mundo, perde força para o poder industrial, que impulsionava um novo imperialismo, começando a formar o mundo bipolar, que se acentuará com o fim da II Grande Guerra, em 1945, e dominará quase todo restante do século 20

Data marcante para o processo que hoje prejudica toda população ocidental ocorreu em 1919, com a derrota financista da I Grande Guerra e o triunfo socialista marxista no Império Russo; a reunião no Hotel Majestique, em Paris, de banqueiros, empresários, economistas, entre eles Maynard Keynes, e jornalistas especializados, no que ficou conhecida como Round Table Group, uma referência à Távola Redonda do Rei Arthur.

Desta reunião, saíram duas organizações básicas para convencer os intelectuais, os governantes e políticos de todo mundo da indispensabilidade da globalização financeira e da necessária redução das ações dos Estados Nacionais: o Council on Foreign Relations, nos USA, e o Royal Institute of International Affair, no Reino Unido.

Coronel Nandel House, amigo íntimo de Woodrow Wilson, que coordenou o encontro do Round Table Group, se expressou como transcrito: “Há um poder oculto tão organizado, tão sutil, tão atento, tão fechado em torno de si próprio, tão completo, tão corruptor que não se pode elevar a voz quando se desejar criticá-lo”.

E esse poder, que se defende com a ironia das teorias da conspiração, estabelece os paradigmas para o que seja Liberdade e Democracia, duas cínicas mentiras do capitalismo global.

Globalização que John Galbraith não considerava um conceito sério. “É um artifício que nós, norte-americanos, montamos para controlar o mercado dos outros países”.

Este artigo inicia uma sequência de análises que objetivam demonstrar o quanto o Brasil e os brasileiros estão longe de agir em seu proveito, isto é, na defesa da autonomia decisória da Nação, que chamamos Soberania, e na defesa do povo brasileiro, que denominamos construção da Cidadania, pois é um processo permanente.

Acabemos com a mentalidade colonial, já identificada num dos primeiros historiadores brasileiros, Capistrano de Abreu, e que está sempre sendo reforçada pela pedagogia colonial, facilmente encontrada nas mídias hegemônicas no Brasil.

Galbraith chamava a atenção para as pessoas que se enrolam em ideologias, em vagos conceitos como direita e esquerda, e deixam com isso de ter o claro conhecimento da realidade que, ao fim, se imporá sempre.

A pedagogia colonial sempre aposta na desinformação, como ocultar o caráter nacional das forças produtivas, da geração de energia, que entra em contradição com sistemas transnacionais, como o das finanças.

Não é por acaso que o poder financeiro que se instalou nos anos 1990 prega o estado mínimo. Estado apenas para a repressão aos miseráveis que, com seu poder, se multiplicam.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

Leia também:

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Comentários

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Pedro de Alcântara

Considerando o que postula Hilferding sobre o capital financeiro em 1909 e o que de fato ocorre com o capitalismo a partir da II guerra mundial, cujo registro é feito por Seymour Melmann em seu livro Profit without Production, me parece que o que passamos a viver a partir de 1983, data de publicação dessa obra, é uma virada definitiva de um modo de produção que passa a contrariar sua natureza ao se voltar contra a produção. Este “lucro sem produção” dá o que pensar. Em primeiro lugar, seu nome exato não é lucro, pois esta categoria econômica tem tudo a ver e nasce precisamente da atividade produtiva do capital. Onde não há produção, ipso facto não pode haver lucro. Mas tem coisa aí. Que coisa que tem? Tem exatamente um dos meios de produção que sob a forma de dinheiro recusa seu retorno à produção. Exatamente esse dinheiro vagabundo, que tem pavor de sua relação com o trabalho, navega em águas turvas. Seu montante cresce exponencialmente a cada dia que passa. Seu lugar preferido passa a ser o cemitério também chamado de paraíso fiscal. Os trilhões de dólares lá sepultados tem seu antepassado no capital que se reproduzia precisamente a partir de sua relação com o trabalho. Tinha razão Tomás A. Gonzaga quando afirmava, século dezoito, que O Dinheiro não Frutifica Naturalmente, mas o Dinheiro Frutifica Civilmente. Esse que é enterrado dessa forma é precisamente subtraído à produção, portanto não lhe cabe a denominação de Capital Financeiro, o qual recebeu essa denominação por seu caráter produtivo e que veio a ser a força que passou a ser o personagem principal da produção capitalista a partir de um determinado momento no início do séc. vinte. Ele existia essencialmente como ponto de partida da produção. O dinheiro de agora, uma cordilheira de dinheiro inútil, tem muito a ver com a queda da taxa de lucro que resulta precisamente do desenvolvimento capitalista, o qual anuncia, por isso mesmo, sua incapacidade de enfrentar a liberdade que as forças produtivas atuais estão a exigir.

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