Jeferson Miola: Se de fato existissem generais legalistas no Alto Comando do Exército, esses já teriam renunciado

Tempo de leitura: 3 min
Reunião do Alto Comando do Exército realizada no final de novembro de 2021

Se de fato existissem generais legalistas no Alto Comando do Exército, esses já teriam renunciado

Por Jeferson Miola, em seu blog

O colunista do grupo Globo Valdo Cruz noticiou que generais do Alto Comando do Exército supostamente “insatisfeitos com o [general] ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, entraram em contato com ministros do STF para informar que não endossam as tentativas de desacreditar as urnas eletrônicas” [20/7].

O jornalista deduz, a partir dessa versão plantada, que “o presidente da República pode acabar ficando isolado em sua estratégia política, restando a ele se apoiar no restrito grupo de apoiadores de primeira hora e nos militares da reserva que levou para dentro do governo”.

Ora, é sabido que o governo Bolsonaro, que é um governo militar dirigido pelas cúpulas militares, está colonizado por milhares de militares que se lambuzam nos mais altos cargos da Administração federal. E militares da ativa, não somente da reserva, como sugere a notícia.

Aliás, recentemente a Corregedoria-Geral da União apontou que foram encontrados “indícios de irregularidades na situação de mais de 2,3 mil militares que ocupam cargos no governo federal” – salários duplex e extra-teto, falta de amparo legal para o exercício de funções de natureza civil etc e etc.

Mas o problema central na matéria do colunista do Globo, no entanto, é a suposição de que existem “generais insatisfeitos”, que supostamente “não endossam as tentativas de desacreditar as urnas eletrônicas”.

Assim como Bolsonaro, há muito tempo generais repetem em público que “sem voto impresso não haverá eleição”.

Nesse período todo de ataques à eleição e de ameaças de intervenção militar, não se escutou uma única voz dissonante no interior das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas e/ou do Alto Comando do Exército.

Não porque haja disciplina, que de fato não há, como evidenciou a grave indisciplina do general da ativa Eduardo Pazuello – que participou de comício eleitoral e ficou impune –, mas porque há coesão na caserna em torno do plano conspirativo e da escalada fascista-militar.

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Experientes pesquisadores e especialistas em assuntos militares não conseguem enxergar, no presente, sinais de rupturas, divergências de fundo ou crises no interior dos estamentos militares.

A suposta “insatisfação” militar, portanto, não é demonstrável na vida real de um agrupamento coeso e unificado em torno de um projeto próprio de poder militar.

Assim como o experiente colunista do grupo Globo, jornalistas e analistas de outros veículos de comunicação reproduzem, até mesmo com boa fé, abordagens, mentiras e “narrativas” fabricadas pelos militares.

A imprensa funciona como uma lavoura fecunda, na qual os militares plantam versões diversionistas para distrair a sociedade, promovem operações psicológicas e criam a falsa e irreal ideia de antagonismo entre “militares bons e legalistas” versus “militares maus e golpistas”.

Aplicam esta estratégia para conservar a interferência e a tutela deles na política.

General jamais deveria “entrar em contato com ministros do STF” para informar o que quer que seja, quanto menos para dizer que “não endossa” crimes cometidos por colegas ou pelo presidente da República.

Não se “discorda” de crime, porque todo crime deve ser denunciado.

Fossem eles verdadeiramente legalistas e profissionais, esses generais do Alto Comando do Exército não ficariam opinando politicamente e falando em off com jornalistas – alguns de estimação – para plantar versões visando os objetivos diversionistas já mencionados.

Se existissem, de verdade, generais profissionais e legalistas no Alto Comando do Exército brasileiro, esses já teriam renunciado diante dos crimes e atentados que Bolsonaro e o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, perpetram contra a democracia, o STF e o TSE.

As cúpulas militares, subordinadas ideologicamente às Forças Armadas estadunidenses, bem que poderiam pelo menos se inspirar na postura profissional, legalista e constitucional de Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos.

No contexto do golpe concebido por Trump para ser executado por sua matilha fascista, o general Milley discutiu com colegas um plano para renunciar aos cargos, “um por um, em vez de cumprir ordens de Trump que consideravam ilegais, perigosas ou imprudentes”, como relatam em livro os repórteres do The Washington Post Carol Leonnig e Philip Rucker.

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Comentários

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Zé Maria

“Silêncio na Desordem”

​O gênio que sugeriu a exibição de Bolsonaro a representantes do mundo
merece o reconhecimento dos democratas.
A ele se deve a inversão simultânea que emudeceu os generais e coronéis,
de farda e de pijama, contrários à segurança das urnas eleitorais e, de quebra,
soltou as vozes antigolpe que nem se esperava mais ouvir.

Foram apontadas várias ilegalidades no ato de Bolsonaro, mas está mais do que
provada a falta de disposição para fazê-lo responder pelos crimes de responsabilidade,
de instigação contra as instituições democráticas e, além de outros, abusos de
poder.

E como tudo dá em nada, eis um vão acréscimo: no Palácio da Alvorada,
como dependência da União, a lei proíbe qualquer situação com algum
sentido eleitoral.

Foi, porém, com o objetivo de propagar e defender seu plano de candidato,
contra o sistema eleitoral e pela intromissão aí dos militares, que Bolsonaro
confessou ao mundo o seu golpismo trumpista.

A ausência dos comandantes militares na plateia não indicou qualquer restrição
deles, mas só cautela com a proibição de militares da ativa em ato político.

A reação internacional a Bolsonaro atinge todos militares e, com precisão,
o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira.

Para a presunçosa autoimagem militar, a reação interna é descartável.
Mas a internacional soaria como um chamado à racionalidade,
no entanto improvável por inexistir o pretendido pelo chamado.
Jornalista Janio de Freitas
Em 23/7/2022, na FSP

Íntegra:
https://aw-journal.com/silence-in-the-disorder-07-23-2022-janio-de-freitas/

Ibsen Marques

Os militares estadunidenses são nacionalistas. O problema é que os estadunidenses consideram o planeta terra como sendo sua nação.

Zé Maria

Ao contrário, os “Generais Legalistas” – se é que os há – devem permanecer
para se somarem à Resistência ao Golpe, se tiverem Coragem e Dignidade.

Zé Maria

Mais uma Matança praticada pela Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro.
Desta vez, nas Comunidades do Morro do Alemão, deixando 18 Mortos.
Balanças, Armas e Drogas Plantadas pra justificar Assassinatos. E o STF?

Weiller

Não há um link nos textos para compartilhar os artigos.
Porquê?

henrique de oliveira

O exército não é uma milicia.

João de Paiva

Excluindo os dois últimos parágrafos – com desnecessária e errônea “rasgação de seda” para milicos dos EEUU, país que invade outros, derruba governos, promove guerras o tempo todo, massacra populações, lança ataques químicos e nucleares contra civis, matando milhões deles – subscrevo o restante da análise, chamando a atenção para o fato de que o stf e o tse são golpistas e as urnas eletrônicas inauditáveis.

Zé Maria

Essa Milicada toda é uma Cambada de Imorais
Cìnicos Autoproclamados defensores da moral,
.

Ibsen Marques

Os comandantes das 3 armas estavam presentes enquanto o ministro da defesa atacava o sistema eleitoral em pleno congresso.

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