Jair de Souza: Interesses dos EUA em ser o único fornecedor de gás e petróleo à Europa dificultam a paz na Ucrânia; vídeo

Tempo de leitura: 2 min

Interesses dos EUA na Europa se impõem sobre os desejos de paz

Por Jair de Souza*

Pelo visto, o conflito armado deflagrado com a incursão de forças russas em território da Ucrânia deve se estender ao longo do tempo.

Mas, como explicar isto sabendo que as consequências desta guerra estão sendo catastróficas para o povo ucraniano, para o povo russo e para todos os povos europeus?

Se não se chega a um acordo no sentido de possibilitar o cessar das hostilidades bélicas, é preciso indagar o que está por trás das mesmas, visto que nenhum dos povos da região onde se desenrola o confronto parece estar sendo beneficiado por ele. Muito pelo contrário.

A primeira dúvida surge a partir da análise da situação existente antes do início dos choques armados. Se tudo poderia ter sido evitado com a simples concordância do governo da Ucrânia de não se somar à aliança guerreirista da OTAN em sua estratégia de cercar a Rússia, por que os dirigentes ucranianos se recusaram a tomar tal decisão?

Em segundo lugar, cabe-nos perguntar quais as razões que levam o governo da Ucrânia e seu presidente a, um dia, dar indicações de concordância com alguma das propostas russas para uma solução negociada dos problemas, para, no dia seguinte, fazer declarações em sentido completamente oposto?

Logicamente, esta constatação é um claro indício de que existem forças interessadas em que a situação de guerra perdure por um bom tempo. Que forças poderiam ser essas? É o que este curto vídeo do link indicado ao final vai tratar de esclarecer.

Podemos adiantar que boa parte do problema está relacionado com um velho desejo dos Estados Unidos de impedir que a Rússia (antes, a União Soviética) desenvolva laços de relacionamento normal com seus vizinhos europeus.

Neste sentido, há muito tempo, os coordenadores da política estadunidense identificaram no fornecimento de hidrocarburantes russos aos países da Europa um dos principais entraves para que os Estados Unidos pudessem manter a totalidade da Europa sob sua inteira submissão.

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Por isso, os planos para impedir que a Rússia atue como fornecedora de energia para a Europa e que seja substituída nessa função pelos Estados Unidos já vêm de longa data.

A eclosão do atual conflito na Ucrânia é tão somente uma nova oportunidade surgida para que os Estados Unidos ponham em ação sua antiga pretensão de permanecer como a única potência em condições de exercer influência determinante sobre os países europeus.

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Comentários

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Nelson

Uma constatação tirada do vídeo, aberrante ao extremo, é o nível de corrupção a que desceram os mandatários e parlamentos europeus do ocidente nas últimas décadas. O que mais explicaria a postura dessa gente diante dos ditames dos EUA?

Outra constatação é a baixíssima qualidade da democracia em países sempre enaltecidos por serem democráticos. Quantos mandatários e parlamentares conseguiram, efetivamente, escapar aos subornos propostos pelo império?

Zé Maria

Há outro Detalhe, também muito importante, em relação
à Dívida da Ucrânia e aos Gasodutos que levam Gás Natural
da Rússia para a Alemanha:

Até agora, mesmo em conflito, a Rússia paga
2 Bilhões de Dólares, por ano, à Ucrânia pela
utilização dos Gasodutos que passam pelo
Território Ucraniano e vão até a Alemanha.
Concomitantemente, os Ucranianos importam
o Gás produzido na Rússia. Por conseqüência,
a Gazprom, Petroleira Estatal Russa, é Credora
da Ucrânia.

Já o Gasoduto “Nord Stream 2” – que está em Construção –
levará Gás Natural da Rússia diretamente [!] para a Alemanha,
através do Mar Báltico, sem passar [!] pelo território da Ucrânia.

Portanto, com a conclusão do “Nord Stream 2”, a Ucrânia
perderá uma Receita equivalente a cerca de R$ 10 Bilhões
e a Rússia economizará igual quantia, obviamente, e ainda
poderá dobrar a quantidade de Gás Natural transportado
aos demais Países da Europa.

(https://br.financas.yahoo.com/news/mesmo-em-guerra-russia-paga-ucrania-pelos-direitos-de-usar-gasodutos-222118349.html)

Além disso, a Ucrânia está Inadimplente no Pagamento
de sua “Dívida, que totalizou 94,7 bilhões de dólares no
final de 2021, incluindo empréstimos de instituições
multilaterais como o FMI e credores bilaterais, privados
e domésticos”.
.
“Ucrânia utiliza maior parte de alocação de reservas
do FMI, aumentando pressões da dívida”

[Reportagem: Andrea Shalal | Reuters | 03/03/2022]

WASHINGTON (Reuters) – A Ucrânia acessou quase o total
–com a exceção de 80 milhões de dólares– dos 2,7 bilhões
de dólares em novas reservas de emergência do Fundo
Monetário Internacional que recebeu em agosto, mostram
dados do FMI, e especialistas dizem que o país provavelmente
precisará de um alívio urgente da dívida neste ano.

Nações ocidentais estão enviando bilhões de dólares
em apoio financeiro e armas para ajudar a Ucrânia,
enquanto impõem sanções abrangentes destinadas a
pressionar a Rússia a interromper o ataque [SIC].

A diretoria do Banco Mundial deve aprovar na sexta-feira
350 milhões de dólares em fundos de apoio orçamentário
iniciais como parte de um pacote mais amplo de 3 bilhões
de dólares, enquanto o FMI espera aprovar o desembolso
de grande parte dos 2,2 bilhões de dólares restantes num
acordo “stand-by” com a Ucrânia na semana que vem.

A Reuters informou no mês passado que a Ucrânia está
trabalhando com os Estados Unidos e outras nações
ocidentais para desenvolver uma nova ferramenta que
permitiria aos países mais ricos transferir seus direitos
especiais de saque (SDRs, na sigla em inglês) do FMI para
Kiev.

Para complicar ainda mais a crise, há o pesado fardo da
dívida da Ucrânia, que totalizou 94,7 bilhões de dólares no
final de 2021, incluindo empréstimos de instituições
multilaterais como o FMI e credores bilaterais, privados e
domésticos.

Mas o Departamento do Tesouro dos EUA e o FMI podem
tomar várias medidas para aliviar a dívida da Ucrânia e
evitar uma crise de pagamentos, disse Eric LeCompte,
diretor executivo da Jubilee USA Network, à Reuters.

O Tesouro pode buscar autorização do Congresso para
congelar os 2 milhões de dólares em pagamentos que a
Ucrânia deve aos Estados Unidos neste ano como parte de
sua dívida bilateral de 790 milhões de dólares, disse ele.

O presidente norte-americano, Joe Biden, também pode
emitir um decreto adiando o pagamento de dívidas a
credores privados localizados nos Estados Unidos, disse ele,
citando uma medida semelhante adotada pelo ex-
presidente George W. Bush durante a guerra do Iraque,
em 2004-2005.

Os títulos ucranianos denominados em dólares, que foram
emitidos como parte de uma reestruturação da dívida de
2015, estão sendo negociados em território
profundamente estressado de cerca de 25 centavos de
dólar.
.
Saldo do Golpe de 2014:
.
21/12/2015
Carta Maior

O FMI perdoou a dívida da Ucrânia com a Rússia

Por Michael Hudson

No dia 8 de Dezembro o porta-voz chefe do FMI, Gerry Rice, enviou uma nota a dizer:

“O Conselho de Administração do FMI reuniu-se hoje e concordou em mudar a atual política de não tolerância de pagamentos atrasados (arrears) a credores oficiais. Apresentaremos pormenores sobre o âmbito e lógica desta mudança política nos próximos dias”.

Desde 1947, quando realmente começou a operar, o Banco Mundial tem atuado como uma ramo do Departamento da Defesa dos EUA, desde o seu primeiro presidente John J. McCloy até Robert McNamara, Robert Zoellick e o neocon Paul Wolfowitz. Desde o início ele promoveu exportações dos EUA – especialmente exportações agrícolas – ao orientar países do Terceiro Mundo a produzirem plantios extensivos ao invés de alimentarem suas próprias populações (eles devem importar cereais dos EUA). Mas ele sentiu-se obrigado a envolver sua promoção de exportações estadunidenses e seu apoio à área dólar numa retórica ostensivamente internacionalista, como se o que é bom para os Estados Unidos fosse bom para o mundo.

O FMI foi agora arrastado para a órbita da Guerra Fria estadunidense. Na quinta-feira ele tomou a decisão radical de desmantelar a condição que havia integrado o sistema financeiro global durante o último meio século. No passado, ele fora capaz de assumir o comando na organização de pacotes salvamentos (bailouts) a governos ao conseguir que outros países credores – encabeçados pelos Estados Unidos, Alemanha e Japão – participassem. A alavancagem de credor que o FMI utilizava é que se um país está com atrasados financeiros a qualquer governo ele não pode qualificar-se para um empréstimo do FMI – e portanto para pacotes que envolvam outros governos.

Este tem sido o sistema pelo qual o dolarizado sistema financeiro global funcionou durante meio século. Os beneficiários têm sido credores em dólares.

Mas na terça-feira o FMI aderiu à Nova Guerra Fria. Ele tem emprestado dinheiro à Ucrânia apesar das regras do Fundo proibirem empréstimos a países sem possibilidade visível de pagar (a regra “No More Argentinas” a partir de 2001). Sob a chefia de Christine Lagarde o FMI fez o último empréstimo à Ucrânia na Primavera e ela manifestou a esperança de que haveria paz. Mas o presidente Porochenko anunciou de imediato que utilizaria as receitas para intensificar a guerra civil do país com a população do Leste que fala russo, o Donbass.

Aquela é a região que faz a maior parte das exportações, principalmente para a Rússia. Este mercado agora e no futuro previsível está perdido. Pode ser por muito tempo, porque o país é dirigido pela junta apoiada pelos EUA colocada no governo após o golpe de extrema direita do Inverno de 2014. A Ucrânia recusou-se a pagar não só os possuidores de títulos do sectores privado como também o governo russo.

Isto deveria ter impedido a Ucrânia de receber nova ajuda do FMI. A recusa a pagar pela beligerância militar ucraniana na sua Nova Guerra Fria contra a Rússia teria sido um grande passo para forçar a paz e forçar também uma limpeza à corrupção endêmica do país.

Ao invés disso, o FMI está a apoiar a política ucraniana, a sua cleptocracia e o seu Right Sector que efetuou os ataques que recentemente cortariam o fornecimento de eletricidade à Crimeia. A única condição em que o FMI insiste é a austeridade contínua. A divisa da Ucrânia, o hryvnia, caiu em um terço nestes anos, pensões têm sido cortadas (em grande medida devido à inflação), enquanto a corrupção continua constante.

Apesar disto o FMI anunciou a sua intenção de conceder novos empréstimos para financiar a dependência da Ucrânia e subornos aos oligarcas que controlam o seu parlamento e departamentos de justiça a fim de impedir qualquer limpeza real da corrupção.

Durante mais de seis meses houve uma discussão semi-pública com conselheiros do Departamento do Tesouro dos EUA e Guerreiros Frios acerca de como imobilizar a Rússia quanto aos US$3 bilhões devidos pela Ucrânia ao Fundo de Riqueza Soberana da Rússia. Houve alguma conversa sobre declarar isto como “dívida odiosa”, mas foi decidido que esta trama poderia reverter contra ditaduras apoiadas pelos EUA.

No fim, o FMI simplesmente emprestou o dinheiro à Ucrânia.

Ao assim fazer, ele anunciou a sua nova política. “Nós só exigimos dívidas em US dólares a aliados dos EUA”. Isto significa que o que estava a ferver em fogo branco como uma Guerra Fria contra a Rússia transformou-se agora numa completa divisão do mundo dentro do Bloco do Dólar (com o seus satélite Euro e outras divisas pró estado-unidenses) e os BRICS ou outros países não na órbita financeira e militar dos EUA.

O que é que a Rússia deveria fazer? Aliás, o que deveriam a China e outros países BRICS fazer? O FMI e os neocons estadunidenses enviaram uma mensagem ao mundo: você não tem de honrar suas dívidas para com países fora da área do dólar e dos seus satélites.

Por que então deveriam estes países não dolarizados permanecerem no FMI – ou no Banco Mundial, por falar nisso? O movimento do FMI efetivamente racha o sistema global pela metade, entre os BRICS e o sistema financeiro neoliberalizado EUA-Europa.

Deveria a Rússia retirar-se do FMI? Deveriam os demais países?

A resposta reflexa seria o novo Banco de Desenvolvimento Asiático anunciar que países que aderiram à área rublo-yuan não teriam de pagar dívidas denominadas em US dólar ou em Euro. É a isto implicitamente que a ruptura do FMI está a levar. 09/Dezembro/2015

(O original encontra-se em thesaker.is/the-imf-forgives-ukraines-loan-to-russia)

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/O-FMI-perdoou-a-divida-da-Ucrania-com-a-Russia-/6/35217
.
Leia também:

31/10/2014
El País Br

Rússia e Ucrânia selam acordo
para encerrar a guerra do gás
Moscou garante a Kiev o fornecimento
de combustível ao menos até março

A União Europeia, Rússia e Ucrânia encerraram, na última
hora desta quinta-feira, a guerra do gás iniciada em junho.

Depois de várias rodadas de complexas negociações – com
as duas últimas jornadas de intenso diálogo em Bruxelas –
as três partes firmaram um acordo que permitirá reatar o
abastecimento a Kiev, interrompido há quatro meses, e
mantê-lo ao menos até março do ano que vem.

O pacto, pelo qual a Ucrânia promete pagar 3,1 bilhões
de euros (equivalente a 9 bilhões de reais) por dívidas
acumuladas entre os meses de novembro do ano passado
e junho deste ano, evita uma situação como a de 2009,
quando, diante à escassez de energia por discrepâncias
entre a Rússia e a Ucrânia, Kiev subtraiu [SIC] parte do gás
que transitava por seus gasodutos a caminho da UE
e provocou uma redução do abastecimento em alguns
Estados europeus.

O contrato firmado contempla o pagamento de 378 dólares
(911 reais) por cada 1.000 metros cúbicos de gás
consumidos até dezembro e 365 dólares (880 reais)
entre janeiro e março, diante dos 485 (1.169 reais)
que a Ucrânia pagava até então.
Somando esses pagamentos à dívida que está se
acordando a pagar, os pactos alcançam um volume
de 4,6 bilhões de dólares (11,9 bilhões de reais).

As letras miúdas outorgam às autoridades ucranianas
três dias para pagar 1,4 bilhão de dólares (3,4 bilhões de
reais) e até o 31 de dezembro para pagar o 1,6 bilhão
(3,9 bilhões de reais) restante.

As três partes anunciaram que o Fundo Monetário Internacional (FMI) —que pressionava para fechar
o acordo— participará do financiamento.

O fornecimento se retomará assim que a Ucrânia começar
a pagar os atrasos.

Há cinco anos, o corte do fornecimento russo deixou
17 Estados membros —entre eles as três maiores economias do euro: Alemanha, França e Itália—
com uma diminuição importante no fornecimento.
Uma situação similar já tinha ocorrido em 2006.

Por esse motivo, as três partes pareciam ‘condenadas’
a pactuar.
À UE não podia ser permitido pôr em risco o fornecimento
a seus Estados com o inverno se aproximando;
a Ucrânia devia garantir aos seus cidadãos gás suficiente
para resistir às baixas temperaturas (nesta quinta-feira
Kiev ultrapassou zero grau)
e a Rússia tinha que assegurar uma parte significativa
dos rendimentos de sua principal indústria.

Íntegra:

https://brasil.elpais.com/brasil/2014/10/30/internacional/1414701076_728776.html

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