Jeferson Miola: Mídia, Zelensky e ONU propagam fake news sobre ataque russo à maternidade
Tempo de leitura: 5 minNotícia sobre ataque russo à maternidade teve encenação com modelo fotográfica
Por Jeferson Miola, em seu blog
Do teatro da guerra na Ucrânia surgiu a notícia de ataque russo a um hospital materno-infantil na cidade de Mariupol, no sul do país. O ataque, ocorrido na 4ª feira, 9/3, teria deixado pelo menos 17 pessoas feridas, informou o noticiário.
Este episódio é um excelente roteiro sobre como se produzem, se encenam e se propagam notícias falsas que, num passe de mágica cibernética, alcançam instantaneamente todos os lugares habitados do globo terrestre.
E este episódio farsesco também confirma o ditado de autoria desconhecida que diz que numa guerra, a verdade é a primeira vítima.
A produção da notícia falsa
Logo após o bombardeio, o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky denunciou no twitter:
“Mariupol. Ataque direto de tropas russas na maternidade. Pessoas, crianças estão sob os destroços. Atrocidade! Por quanto tempo mais o mundo será um cúmplice ignorando o terror? Feche o céu agora mesmo! Pare com os assassinatos! Você tem poder, mas parece estar perdendo a humanidade”.
A postagem de Zelensky estava acompanhada de um vídeo de 1:19 minutos com cenas dos enormes danos causados pelos bombardeios no interior do hospital.
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Após Zelensky, o Secretário-Geral da ONU António Guterres publicou no twitter que
“O ataque de hoje a um hospital em Mariupol, na Ucrânia, onde estão localizadas as maternidades e as alas infantis, é horrível. Os civis estão pagando o preço mais alto por uma guerra que não tem nada a ver com eles. Essa violência sem sentido deve parar. Acabe com o derramamento de sangue agora”.
Em seguida, e também por twitter, o vice-embaixador da Rússia na ONU Dmitry Polyanskiy escreveu:
“Assim nasce fake news. Advertimos em nossa declaração de 7 de março (russiaun.ru/en/news/070322n) que este hospital foi transformado em objeto militar por radicais. É muito perturbador que a ONU espalhe essa informação sem verificação”.
A propagação da notícia falsa
Imagens e cenas televisivas rapidamente dominaram o noticiário online em todas as partes do mundo. A imagem de uma gestante carregada na maca foi replicada ad nauseam.
Na Globo News,, por exemplo, a apresentadora Maria Beltrão mostrava cenas e narrava o que via e, pior, o que desconhecia totalmente: “olha só gente, mulher grávida saindo da maternidade. Tínhamos informações de que eram muitas mulheres em trabalho de parto. Pelo amor de deus, pelo amor de deus”, ela exclamou.
Mídia russofóbica ignorou esclarecimento oficial da Rússia
Àquela altura, já corria pelo mundo o esclarecimento oficial do governo russo de que a maternidade já não funcionava naquele prédio atingido, porque foi transformado em base militar de milícias nazistas ucranianas.
Mas a mídia russofóbica ignorou solenemente o esclarecimento russo e não observou o básico do jornalismo, o contraponto.
O hospital não funciona desde o início da ofensiva russa, há duas semanas, porque pacientes e equipes técnicas tinham sido dispersadas dali pelas forças milicianas do Batalhão neonazista Azov.
Os milicianos do Batalhão Azov estrategicamente montam trincheiras de combate em hospitais, maternidades, escolas e em edifícios residenciais.
No momento do bombardeio ao prédio, portanto, não havia nenhuma mulher gestante, menos ainda em trabalho de parto, como informou a apresentadora da Globo News, Zelensky e o dirigente da ONU. Tampouco haviam crianças internadas.
De acordo com o site Anti-Spiegel, a imagem da mulher grávida na maca foi uma encenação com uma modelo fotográfica como se fosse uma sobrevivente do bombardeio.
A “atriz” da encenação se chama Marianna Podgurskaya, que possui um blog de beleza e divulga seu trabalho através da conta gixie_beauty no Instagram.
O Anti-Speigel avalia, ainda, que não se trata de vídeo amador, feito com aparelho celular, porque a qualidade técnica e a estabilidade das imagens indicam que deve ter sido produzido com uma câmera profissional com estabilizador.
A reportagem do site anota a participação da modelo Marianna em várias cenas do vídeo e também compara com fotografias em que ela aparece caminhando ou representando outros papéis [aqui]
Não existem corpos de pessoas mortas nos vídeos e fotografias
Se o prédio do hospital estivesse, de fato, ocupado, um bombardeio que causou tamanha destruição e dano material causaria, também, muitas mortes humanas.
Apesar de todo estardalhaço da mídia e da suposição de que havia muitas pessoas feridas, crianças sob os destroços, vários mortos e outros tantos desaparecidos, o curioso é que não se vê nenhuma pessoa morta nos vídeos e fotografias publicadas. E tampouco paredes e pisos ensanguentados, como seria esperável.
Notícia falsa é destaque de capa nos jornais de todo o mundo
Neste dia 10/3, apesar da informação verdadeira e correta estar disponível e acessível aos veículos de comunicação para apuração da realidade, os jornais de grande circulação em todo o planeta mostraram, entretanto, a fotografia da modelo fotográfica Marianna carregada na maca e alardearam a atrocidade do ataque russo ao hospital materno-infantil.
No Brasil o comportamento da mídia hegemônica não foi diferente. Os maiores jornais deram destaque do assunto na capa. Usando a mesma fotografia originada na mesma fonte de propagação da notícia falsa.
Jornalismo de guerra na guerra
Numa guerra acontecem muitas guerras simultaneamente – guerra informacional, psicológica, de narrativas, econômica, ideológica; guerra jornalística e contra a liberdade de expressão e de opinião etc.
A mídia hegemônica tem sido escandalosamente posicionada na cobertura do conflito na Ucrânia.
Não só não apura os fatos e não certifica a veracidade das informações para evitar reproduzir notícias falsas como esta do ataque ao hospital materno-infantil, como também promove um jornalismo de guerra, sem contraponto, sem escuta de todas as partes implicadas.
Com este jornalismo de guerra, a mídia se converte numa arma muito destrutiva e devastadora.
Comentários
Nelson
A mídia hegemônica tem sido escandalosamente posicionada na “cobertura do conflito na Ucrânia.”
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A mídia hegemônica e seus comentaristas, supostos especialistas em tudo, são apenas reincidentes em seus crimes de manipular, desinformar e mentir deslavadamente.
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No bombardeio do Iraque, em 1991, já foi assim. Os EUA eram o mocinho a salvar o povo kuwaitiano do demônio Sadam Hussein.
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No bombardeio da Iugoslávia, em 1999, já foi assim. Slobodan Milosevic era o demônio da vez. Os EUA e a Otan eram os mocinhos a nos salvarem do ditador.
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Na invasão, bombardeio e destruição do Iraque, em 2003, já foi assim. Sadam Hussein era o demônio e os EUA o mocinho a salvar o povo kuwaitiano.
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Na invasão, bombardeio e destruição do Afeganistão, em 2001, fizeram o mesmo. O mocinho, EUA, precisava nos salvar do demônio Osama Bin Laden que havia se aliado a outros demônios, do Taliban.
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No bombardeio e destruição da Líbia, em 2011, já foi assim. O demônio Kadafi teria distribuído caixinhas de Viagra para que seus soldados pudessem ter tesão sempre pronto a fim de poderem estuprar o maior número possível de mulheres conterrâneas. Era preciso eliminar esse demônio e o mocinho, EUA, enviou seus auxiliares para realizarem o serviço.
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No bombardeio da Síria também foi assim. Era preciso eliminar o demônio Assad que estaria matando indiscriminadamente seu povo. Trabalho para o Super Homem, digo, mocinho Estados Unidos.
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A diferença em relação aos episódios que citei, e outros anteriores, creio que fica por conta da intensidade. Me parece que na questão Rússia x Ucrânia a mídia hegemônica e seus comentaristas estão bem mais fanatizados em sua gana de mentir e enganar a população.
Roberto
Que bom saber que o Viomundo não se alinhou com o império! Boa parte da esquerda brasileira passou para o lado do Biden.
Quem apoia Lula tem que apoiar a Rússia e a China contra o Império!
Zé Maria
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Confirmando-se as Previsões do Profeta Orwel, em “1984”,
os Estados Unidos da América (EUA) conseguiram instalar,
no “Ocidente Judaico-Cristão” um “Regime Totalitário”, de
“Pensamento Único”, “Supremacista”, “Etnofóbico”, “Belicista”,
– economicamente “Neoliberal” e politicamente “NaziFascista” –
implementado ideologicamente por meio de Humanóides
operando Instrumentos Tecnológicos de Manipulação da
Informação, por intermédio dos Veículos de Comunicação,
à Distância, a partir dos quais se dissemina nas Sociedades,
formando um Senso-Comum [Auto-]Multiplicador.
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Zé Maria
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De acordo com MARILENA CHAUÍ, em “Convite à Filosofia”
(SP; Ática, 2000; Unidade 4, Capítulo 7, Páginas 210 220)* :
[Segundo a Teoria Psicanalítica do Neurologista Austríaco,
Sigmund Freud (1856-1939);], chamado ‘o Pai da Psicanálise’],
“A Vida Psíquica é constituída por três instâncias, duas delas inconscientes, o ‘id’ (ou o ‘isso’) e o ‘superego’ (ou o ‘supereu’),
e apenas uma consciente, o ego (ou o ‘eu’).
O ‘id’ é formado por Instintos, Impulsos Orgânicos e Desejos Inconscientes, ou seja, pelo que Freud – que também era
Psiquiatra – designou como ‘Pulsões’.
Segundo o Pscicanalista Austriaco, estas ‘Pulsões’ são regidas
pelo Princípio do Prazer que exige Satisfação Imediata.
O ‘id’ é, portanto, a Energia dos Instintos e dos Desejos em
busca da Realização desse Princípio do Prazer Imediato.
É a libido.
[…]
O superego, também inconsciente, seria a Censura das Pulsões
que a Sociedade e a Cultura impõem ao id, impedindo-o de satisfazer plenamente seus instintos e desejos.
É a Repressão, particularmente a Repressão Sexual.
Manifesta-se à Consciência indiretamente, sob a forma da Moral,
como um Conjunto de Interdições e de Deveres, e por meio da Educação, pela produção da imagem do ‘Eu Ideal’, isto é, da
‘Pessoa Moral’, ‘Boa’ e ‘Virtuosa’.
O superego ou censura desenvolve-se num período que Freud designou como ‘Período de Latência’, situado entre os seis ou
sete anos e o início da puberdade ou adolescência.
Nesse período, forma-se nossa personalidade moral e social,
de maneira que, quando a sexualidade genital ressurgir,
estará obrigada a seguir o caminho traçado pelo superego.
O ‘Ego’ ou o ‘Eu’ é a Consciência, pequena parte da Vida Psíquica submetida aos Desejos do ‘id’ e à Repressão do superego.
O Eu Consciente (Ego) obedece ao princípio da realidade, ou seja,
à necessidade de encontrar no mundo real objetos [ou imagens]
que possam satisfazer ao id, sem entretanto transgredir as exigências
do superego.
O ‘Ego’, diz Freud, é ‘um Pobre Coitado’, espremido entre 3 Escravidões: os Desejos Insaciáveis do ‘id’, a severidade repressiva do ‘superego’ e os Perigos do Mundo Exterior.
Por tal Motivo, a Forma Fundamental da Existência, para o Ego,
é a Angústia.
Se se submeter ao ‘id’, torna-se imoral e destrutivo;
se se submeter ao ‘superego’, enlouquece de Desespero,
pois viverá numa Insatisfação Insuportável;
se não se submeter à Realidade do Mundo, será Destruído por ele.
Cabe ao ‘Ego’ encontrar caminhos para [neutralizar ou atenuar]
a Angústia Existencial.
Estamos Divididos entre o Princípio do Prazer (que não conhece
limites) e o Princípio da Realidade (que nos impõe limites externos
e internos).
Ao Ego-Eu, ou seja, à Consciência, é dada, portanto, uma Função Dupla:
ao mesmo tempo recalcar o ‘id’, satisfazendo o ‘superego’, e satisfazer
o ‘id, limitando o poderio do ‘superego’.
A Vida Consciente ‘Normal’ é assim o Equilíbrio encontrado pela Consciência
para realizar sua Dupla Função.
Por outro lado, a Loucura (Neuroses e Psicoses) é a Incapacidade
do Ego para realizar essa Dupla Função, seja porque o ‘id’ ou o ‘superego’ é excessivamente Forte, seja porque o Ego
é excessivamente Fraco.
O Inconsciente, em suas duas formas [‘id’ e ‘superego’], está impedido
de manifestar-se diretamente à Consciência, mas consegue fazê-lo
indiretamente.
A maneira mais eficaz para a manifestação é a ‘Substituição’, isto é,
o Inconsciente oferece à Consciência um ‘Substituto Aceitável’ por ela
e por meio do qual ela pode satisfazer o ‘id’ ou o ‘superego’.
Os ‘Substitutos’ são Imagens (isto é, Representações Analógicas dos
Objetos do Desejo) e formam o Imaginário Psíquico, que, ao ocultar
e dissimular o ‘Verdadeiro Desejo’, o satisfaz indiretamente por meio
de ‘Fetiches’ ou ‘Objetos Reais Substitutos’.
E além desses substitutos reais, o Imaginário Inconsciente também
oferece Outros Substitutos, os mais freqüentes sendo os ‘Sonhos’,
os ‘Lapsos’ e os ‘Atos Falhos’.
Neles, segundo Freud, realizamos Desejos Inconscientes, de Natureza
Sexual. São a Satisfação Imaginária do Desejo.
Essa dimensão imaginária de nossa vida psíquica – substituições, sonhos, lapsos, atos falhos, prazer e desprazer com objetos e pessoas – indica que os recursos inconscientes para surgir indiretamente à consciência possuem 2 níveis: 1) o Nível do Conteúdo Latente,
que é o Conteúdo Inconsciente propriamente dito, Real e Oculto
[o Impulso Vital do Desejo Mais Profundo, a Energia Sexual, a Pulsão
do Prazer, a Libido], e 2) o Nível do Conteúdo Manifesto (nos Sonhos,
nos Lapsos e nos Atos Falhos; ou Simpatias e Antipatias por Coisas
e Pessoas).
Nossa Vida ‘Normal’ se passa no Plano dos Conteúdos Manifestos e,
portanto, no Imaginário.
Além dos Recursos Individuais Cotidianos que nosso Inconsciente
usa para manifestar-se, e além dos Recursos Extremos e Dolorosos usados na Loucura (nela, os Recursos são os Sintomas), existe um
outro recurso, de enorme importância para a Vida Cultural e Social,
isto é, para a Existência Coletiva.
Trata-se do que Freud designa com o nome de ‘Sublimação’.
[Conforme o Psicanalista, na Sublimação, os Desejos Inconscientes
são Transformados em Ações Humanas expressando-se pela Criação
Intelectual e Cultural, nas Atividades Artísticas, Científicas, Filosóficas, Religiosas, nas Instituições Sociais, em geral].
Porém, assim como a Loucura é a Impossibilidade do Eu Consciente [Ego] para realizar sua própria Função, também a Sublimação pode
não ser alcançada e, em seu lugar, surgir uma Perversão Social ou Coletiva, uma Loucura Social ou Coletiva.
O Nazismo é um exemplo de Perversão Social ou Coletiva, em vez
de Sublimação. [!!!]
A Propaganda, que induz em nós Falsos Desejos pela Multiplicação
das Imagens de Prazer [Fetichismo de Consumo], é um outro exemplo de Perversão ou de Incapacidade para a Sublimação.
O inconsciente, diz Freud, não é o subconsciente.
Este é aquele grau de consciência como consciência passiva e
consciência vivida não-reflexiva, podendo tornar-se plenamente
consciente.
O inconsciente, ao contrário, jamais será consciente diretamente,
podendo ser captado apenas indiretamente e por meio de técnicas especiais de interpretação desenvolvidas pela psicanálise.
A psicanálise descobriu, assim, uma poderosa limitação às pretensões da consciência para dominar e controlar a realidade e o conhecimento.
Paradoxalmente, porém, nos revelou a capacidade fantástica da razão e
do pensamento para ousar atravessar proibições e repressões e buscar
a verdade, ainda que para isso seja preciso desmontar a bela imagem
que os seres humanos têm de si mesmos.
Longe de desvalorizar a teoria do conhecimento, a psicanálise exige
do Pensamento que não faça Concessões às Idéias Estabelecidas,
à Moral Vigente, aos Preconceitos e às Opiniões de nossa Sociedade, mas que as enfrente em nome da própria Razão e do Pensamento.
A Consciência é Frágil, mas é ela que decide e aceita correr o Risco
da Angústia e o Risco de desvendar e decifrar o Inconsciente.
Aceita e decide enfrentar a Angústia para chegar ao Conhecimento:
somos um ‘Caniço Pensante’.
A Alienação Social
[“Homo Sum: Humani Nihil a me Alienum Puto”]
[“Homem Sou: Nada de Humano me Reputo Estranho”]
Heautontimoroumenos, 77
Publius Terentius Afer
Dramaturgo Africano Cartaginês
Em latim, o termo ‘Alienus’ significa ‘Outro’, ‘Estranho ao Eu’.
O Filósofo Alemão Ludwig Feuerbach investigou o modo como os
Seres Humanos sentem Necessidade de oferecer uma Explicação
para a Origem e a Finalidade do Mundo.
Na busca em saber ‘de onde vim e para onde vou’, os homens se alienam, e Feuerbach designou esse fato com o nome de ‘Alienação’.
A Alienação é o Fenômeno pelo qual os Homens criam ou produzem
alguma coisa, dão Independência a essa Criatura, como se ela existisse
por si mesma e em si mesma, deixam-se governar, por ela como se ela
tivesse Poder em si e por si mesma, não se reconhecem na Obra que criaram, fazendo-a um ‘Ser-Outro’, Separado dos Homens, Superior a eles e com Poder sobre eles [por exemplo: o Relógio].
Podemos falar em Três Grandes Formas de Alienação
existentes nas Sociedades Modernas ou Capitalistas:
1. A ‘Alienação Social’, na qual os humanos não se reconhecem
como Produtores das Instituições Sócio-Políticas e oscilam
entre Duas Atitudes:
[1ª] ou aceitam passivamente tudo o que existe, por ser tido como natural, divino ou racional,
[2ª] ou se rebelam individualmente, julgando que, por sua própria
Vontade e Inteligência, podem mais do que a Realidade que os
condiciona.
Nos dois casos, a Sociedade é ‘o Outro’ (Alienus), algo Externo a nós,
separado de nós, diferente de nós e com Poder Total ou Nenhum
Poder sobre nós.
2. A Alienação Econômica, na qual os Produtores não se reconhecem
como Produtores, nem se reconhecem nos Objetos Produzidos por seu próprio Trabalho.
Em nossas Sociedades Modernas, a Alienação Econômica é Dupla:
Em Primeiro Lugar, os Trabalhadores, como Classe Social, vendem
sua Força de Trabalho aos Proprietários do Capital (Donos das Terras, das Indústrias, do Comércio, dos Bancos, de Frotas de Ônibus, Aviões,
Automóveis, Máquinas e Equipamentos, em suma, dos Meios Privados de Produção).
Vendendo sua Força de Trabalho no Mercado de Compra e Venda
de Trabalho, os Trabalhadores são Mercadorias e, como toda
mercadoria, recebem um Preço [pela Força Física e Intelectual
aplicada e o Tempo de Vida dispendida para Execução do Trabalho], isto é, o Salário.
Entretanto, os Trabalhadores não percebem que foram Reduzidos
à Condição de Coisas que produzem Coisas; não percebem que
foram Desumanizados e Coisificados.
Em Segundo Lugar, os Trabalhos produzem Alimentos (no Cultivo
da terra e Criação dos animais), Objetos de Consumo (na indústria), Instrumentos para a Produção de Outros Trabalhos (máquinas) e Condições para a Realização de Outros Trabalhos (Transporte de Matérias-Primas, de Produtos e de Trabalhadores).
A Mercadoria-Trabalhador[a] produz Mercadorias.
Estas, ao deixarem as Fazendas, as Usinas, as Fábricas, os Escritórios
e entrarem nas Lojas, nas Feiras, nos Supermercados, nos Shoppings Centers parecem ali estar porque lá foram colocadas (não pensamos no Trabalho Humano que nelas está Cristalizado e não pensamos no Trabalho Humano Realizado para que chegassem até nós) e, como
o[a] trabalhador[a], elas [as Mercadorias] também recebem um Preço.
O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada do que está exposto no comércio, mas não lhe passa pela cabeça que foi ele(a) [como Classe a que pertence], não enquanto Indivíduo
mas sim como Classe Social, quem produziu tudo aquilo com seu
Trabalho e que não pode ter os Produtos porque o Preço deles é
Muito Mais Alto do que o dele mesmo, trabalhador(a), isto é, o de
seu Salário.
Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho, mostrar aos outros
as coisas que ele fabrica, ou, se comerciário, que ele vende, aceitando
não possuí-las, como se isso fosse muito justo e natural.
As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho
e passam a ser vistas como bens em si e por si mesmas (como a
propaganda as mostra e oferece).
Na Primeira Forma da Alienação Econômica, o(a) Trabalhador(a) está
Separado de seu Trabalho – este é alguma coisa que tem um Preço (o Salário); é ‘um outro’ (‘alienus’), que não o(a) trabalhador(a).
Na Segunda Forma da Alienação Econômica, as Mercadorias
não permitem que o(a) Trabalhador(a) se reconheça nelas.
Estão separadas dele, são exteriores a ele e podem mais do que ele.
As Mercadorias são igualmente ‘um outro’, que não o(a) Trabalhador(a).
3. A Alienação Intelectual [incluam-se aqui os(as)Jornalistas], resultante
da Separação Social entre Trabalho Material (que produz Mercadorias)
e Trabalho Intelectual (que produz idéias).
A Divisão Social entre as duas Modalidades de Trabalho leva a crer
equivocadamente que o Trabalho Material é uma Tarefa que não exige
‘Conhecimentos’, mas apenas Habilidades Manuais, enquanto o
Trabalho Intelectual é Responsável ‘exclusivo’ pelos ‘Conhecimentos’.
Vivendo numa Sociedade Alienada, os Intelectuais também se alienam.
Sua Alienação é tripla:
Primeiro, esquecem ou ignoram que suas Idéias estão Ligadas
às Opiniões e Pontos de Vista da Classe a que pertencem, isto é,
a Classe Dominante, e imaginam, ao contrário, que são Idéias
Universais, Válidas para todos, em todos os Tempos e Lugares.
Segundo, esquecem ou ignoram que as Idéias são Produzidas
por eles para explicar a Realidade e passam a crer que elas
se encontram Gravadas na própria Realidade e que eles apenas
as descobrem e descrevem sob a forma de Teorias Gerais.
Terceiro, esquecem ou ignoram a Origem Social das Idéias
e seu próprio Trabalho para criá-las; acreditam que as Idéias
existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam,
dirigem ou dominam.
Pouco a pouco, passam a acreditar que as Idéias se produzem
umas às outras, são Causas e Efeitos umas das outras e que
somos apenas Receptáculos delas ou Instrumentos delas.
Assim, as Idéias se tornam Separadas de seus Autores, Externas
a eles, Transcendentes a eles: tornam-se ‘um Outro’ [Alienus].
As Três Grandes Formas da Alienação (Social, Econômica e Intelectual)
são a Causa do Surgimento, da Implantação e do Fortalecimento da
‘Ideologia’.
A Alienação se exprime numa ‘Teoria’ do Conhecimento Espontânea,
formando o Senso Comum da Sociedade.
Por seu intermédio, são imaginadas Explicações e Justificativas para
a Realidade tal como é diretamente Percebida e Vivida.
Um exemplo desse Senso Comum aparece no Caso da ‘Explicação’ da Pobreza, em que ‘o Pobre é Pobre por sua própria Culpa (preguiça, ignorância)’ ou ‘por vontade divina’ ou ‘por inferioridade natural’.
Esse Senso Comum Social, na verdade, é o Resultado de uma
Elaboração Intelectual sobre a Realidade, feita pelos Pensadores
ou Intelectuais da Sociedade – Sacerdotes, Filósofos, Cientistas,
Professores, Escritores, Artistas, Jornalistas, -, que descrevem
e explicam o mundo a partir do ponto de vista da Classe
a que pertencem e que é a Classe Dominante de uma Sociedade.
Essa Elaboração Intelectual incorporada pelo Senso Comum Social
é a Ideologia.
Por meio dela, o ponto de vista, as Opiniões e as Idéias de uma das
Classes Sociais – a Dominante e Dirigente – tornam-se o ponto de
vista e a Opinião de Todas as Classes e de Toda a Sociedade.
A Função Principal da Ideologia é ocultar e dissimular as Divisões
Sociais e Políticas, dar-lhes a Aparência de ‘Indivisão’ e de ‘Diferenças Naturais’ entre os Seres Humanos.
(Indivisão: apesar da Divisão Social das C, somos levados a crer que
somos todos iguais porque participamos da Idéia de ‘humanidade’
[ou de ‘Ocidente’ e ‘Oriente’], ou da Idéia de ‘nação’ e ‘pátria’,
ou da Idéia de ‘raça’…
Diferenças Naturais [Mérito]: somos levados a crer que as Desigualdades Sociais, Econômicas e Políticas não são produzidas
pela Divisão Social das Classes, mas por Diferenças Individuais dos
Talentos e das Capacidades, da Inteligência, da Força de Vontade maior ou menor, etc.
A ‘Produção Ideológica’ da ‘Ilusão Social’ tem como Finalidade fazer
com que todas as Classes Sociais aceitem as Condições em que vivem,
julgando-as ‘Naturais’, ‘Normais’, ‘Corretas’, ‘Justas’, sem pretender
transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta
que há uma Contradição Profunda entre as Condições Reais
em que vivemos e as Idéias.
Por exemplo, a Ideologia [Dominante] afirma que somos todos Cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos Direitos Sociais, Econômicos, Políticos e Culturais.
No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as Crianças
de Rua não têm direitos; os Idosos não têm direitos;
os direitos Culturais das Crianças nas Escolas Públicas
são Inferiores aos das Crianças que estão em Escolas Particulares,
pois o Ensino não é de Mesma Qualidade em Ambas;
os Negros e Índios são Discriminados como Inferiores;
os Homossexuais são Perseguidos como Pervertidos, etc.
A Maioria, porém, acredita que o fato de ser Eleitor,
pagar as dívidas e contribuir com os Impostos
já nos faz Cidadãos, sem considerar as Condições
Concretas que fazem Alguns serem Mais Cidadãos
do que Outros.
A Função da Ideologia é impedir-nos de pensar
nessas coisas.
(*) Íntegra do Livro:
https://home.ufam.edu.br/andersonlfc/Economia_Etica/Convite%20%20Filosofia%20-%20Marilena%20Chaui.pdf
Alvaro Tadeu Silva
Não são jornalistas. São torcedores dos Estados Unidos. Quando eu tinha catorze, torcia pelos EUA na Guerra do Vietnam, que na verdade era mais uma guerra do Tio Sam, desta vez no Vietnam. Eu lia sobre os confrontos entre a “Democracia” e o Comunismo, onde sempre morriam milhares de vietcongs e umas poucas dezenas de estadounidenses. Já adulto, guerra terminada com a fuga desorganizada da maior potência nuclear do mundo, li um trabalho de uma jornalista italiana. Ela contou que toda a população do Vietnam do Norte teria morrido, se os números fossem verdadeiros, publicados nas imprensas britânica e norte-americana. E em vez dos 50 mil mortos, teriam morrido menos de 1.500 soldados norte-americanos. Fake Press…
antonio de azevedo
Caramba! Excelente reflexão. “Na guerra, a primeira vítima é a verdade.” Desconhecido
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