Jeferson Miola: Bolsonaro “sobra” como a principal cartada das elites contra Lula
Tempo de leitura: 2 minBolsonaro ainda é a principal cartada anti-Lula das elites
Por Jeferson Miola, em seu blog
Bolsonaro ainda é, hoje, a principal cartada anti-Lula no carteado das elites.
Mesmo com apenas cerca de 27% de votos válidos [Ipec, 23/9], ele continua sendo a opção mais forte do bloco dominante para enfrentar Lula nas urnas
Todas as demais 8 candidaturas que integram a mal apelidada “3ª via” [nome de fantasia do anti-Lula] e que estão sendo testadas desde o ano passado no laboratório do establishment, não decolam. Alcançam, somadas, no máximo ao redor de 21% dos votos válidos.
Numa eleição que poderá ser decidida logo no 1º turno com a vitória do Lula, Bolsonaro ainda representa, portanto, o principal arsenal eleitoral das oligarquias, embora tenha menos da metade das intenções de votos do ex-presidente, que varia entre 53% e 56% dos votos válidos.
Até o Jornal Nacional da Globo reconheceu que Lula deverá vencer em 2022 já no 1º turno.
O establishment não consegue – e dificilmente conseguirá – emplacar alguma candidatura capaz de derrotar Lula, e por isso vê ameaçada a continuidade das políticas bolsonaristas ultraliberais que unificam todas suas frações no pacto de repartição do butim da guerra de saqueio do país.
Apesar de ser “zero” a chance eleitoral do Bolsonaro, como sustenta o diretor do Vox Populi Marcos Coimbra, a possibilidade de instalação do processo de impeachment fica enfraquecida diante da inviabilidade de todas candidaturas de proveta.
Para as elites, é arriscado descartar seu principal trunfo eleitoral. Por isso dão sobrevida ao criminoso que causa repulsa ao mundo e que representa uma temível ameaça ao pouco que resta de democracia no país.
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Além da pulverização dos potenciais votos do Bolsonaro em caso de perda de direitos políticos [e provável prisão], o próprio Lula poderia se beneficiar com o deslocamento de segmentos do eleitorado, ampliando ainda mais a já folgada vantagem atual.
Somente nas hipóteses de farsa grosseira, ruptura institucional ou atentado à vida do Lula ele não retornará à presidência do Brasil em 1º de janeiro de 2023.\
Neste sentido, a opção de salvar Bolsonaro do impeachment ou do julgamento e condenação dele no Supremo pelos vários crimes cometidos, traduz a escolha das classes dominantes pelo caminho do caos, da violência política e da ruptura institucional. Tudo em nome da obsessão anti-Lula.
Dando vida a Bolsonaro, as elites alimentam o motor da máquina de guerra dele e dos militares contra o Estado de Direito.
Estas oligarquias racistas não defendem um projeto de nação justa, soberana e democrática, apenas têm um plano de apropriação e acumulação obscena. Antes de serem a favor do Brasil, são visceralmente anti-Lula, contra a esquerda e contra a perspectiva do povo brasileiro viver com dignidade e decência.
Comentários
Darcy Brasil Rodrigues da Silva
Primeiro, está correta a observação da Rosa Maria de que Frei Beto não disse o que eu interpretei que ele teria dito em relação à tática de “sangrar” Bolsonaro. Meu equívoco se deveu a uma passagem ambígua do texto citado combinada com a minha leitura apressada (minha única possibilidade de ler no momento). Porém, fora isso, meus argumentos, os sustento a todos, pois são meus e não de Frei Beto. Afirmo categoricamente: os coordenadores do movimento “Lula 2022″ não têm interesse no impeachment de Bolsonaro, pois contam poder disputar com o fascista o 2° turno e sabem (ou temem) que uma disputa de 2° turno contra outro nome diferente de Bolsonaro seria duríssima, sobretudo se esse nome vier a ser Ciro Gomes”. Segundo, trata-se de uma análise e não de uma apologia da candidatura de Ciro Gomes, como petistas sectários sempre tendem a considerar. Sou contra lançamentos de candidaturas nesse momento, e deixo isso claro no meu primeiro comentário. Não empresto à democracia burguesa o peso que os socialdemocratas a ela dão. Para mim, Lula ou Ciro ou ainda Fábio Dino, compririam o mesmo papel que reservo à luta institucional. Minha esperança, deposito na luta dos trabalhadores e do povo fora das instituições burguesas. Valorizo muito mais o esforço que partidos como a UP/PCR fazem para mobilizar, conscientizar e organizar os trabalhadores e o povo do que o esforço que partidos socialdemocratas e/ou reformistas fazem para eleger um Presidente da República. Jamais concedi aos governos do PT (ou de Getúlio) o valor que a narrativa socialdemocrata/trabalhista/reformista a a estes governos atribuem. Porém, faria, fiz e farei campanha para governos desse tipo, pois produzem melhores condições para o desenvolvimento da luta de classe fora das instituições burguesas (alguém ainda tem dúvida de que um governo de Ciro Gomes, o único nome que poderia derrotar Bolsonaro em 2018, teria sido muito mais favorável aos interesses da luta dos trabalhadores e do povo que o governo do miliciano, Jair Bolsonaro?). Esse é o ponto de vista de quem acredita que a luta pelas reformas somente é consequente se estiver subordinada à luta pela revolução. Um partido revolucionário pode apoiar a eleição de um governo socialdemocrata/ trabalhista. Porém, não pode se deixar ir a reboque da socialdemocracia, olhando, aceitando passivamente a sua hegemonia.
Zé Maria
Marcos Coimbra lança a Frase mais definidora da
Estratégia de Campanha de G.A.F.E.* contra Lula:
“inviabilidade de todas candidaturas de proveta.”
* Globo, Abril, Folha, Estadão
Na falta de um Candidato Neoliberal Anti-Lula,
vai o SK/Corno/Sociopata/Genocida mesmo.
Darcy Brasil Rodrigues da Silva
A análise de Miola contrasta com a de Frei Beto, que descreve o interesse do PT em “sangrar” Bolsonaro, mantendo a polarização forçada entre Lula e o miliciano-presidente. Os analistas petistas, como Miola, insistem em querer nos fazer acreditar na morte da Ciência Política. Para eles, que se apresentam como exímios leitores de bolas de cristal (apesar do vexame que deram quando palpitaram a vitória de Haddad em 2018), as eleições de 2022 serão mera formalidade para Lula liquidar Bolsonaro, ou quem quer que venha figurar como “terceira via”. As alianças políticas, as ações politicas concretas decorrentes dessas alianças, a capacidade de exercer influência sobre os diversos segmentos em que se divide a sociedade, a campanha eleitoral concreta, com militantes nas redes sociais, nas ruas, nos bairros, nos locais de trabalho, nas igrejas etc., as diversas facetas da luta de classes, portanto, tudo isso será inútil, pois, segundo as cartomantes do PT, Lula vai dar um passeio nas eleições presidenciais do ano que vem, e é melhor que todos aceitem e escolham, desde já, o lado para ficar à sombra: do já mais que vitorioso Lula ou daquele que conhecerá uma derrota humilhante, Bolsonaro.
Em seu artigo “Bolsonaro e o Golpe” https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Bolsonaro-e-o-golpe/4/51693 ,
Frei Beto responsabiliza os apoiadores de Lula pelo pouco empenho do PT na luta pelo impeachment de Bolsonaro. Isso, de fato, é verdade. A meu ver, o PT é, hoje, uma caricatura de si mesmo, quando cotejado com o PT que se fundou e atuou nas décadas de 1980 e 1990. Converteu-se em um partido da ordem burguesa, que só tem funcionalidade para fazer vereadores, deputados, senadores, prefeitos, alguns governadores e, enquanto Lula estiver vivo, talvez, eleger um Presidente da República. O projeto de poder do PT é, portanto, no fundo, um projeto estritamente eleitoral de alternância no governo com um partido de direita, como se viu e se vê na Europa, sobretudo, após a Segunda Guerra Mundial. A palavra de ordem do PT é, assim, “Lula 2022”.
Frei Beto, ao se referir à “terceira via”, afirma que se trata de uma opção da direita tradicional. Essa imagem também integra a tática politica eleitoral do PT, que, por tabela, estigmatiza como “direita” ou “divisionista”, ou “inviável”, qualquer alternativa a Lula pela esquerda. Na prática, o PT inviabiliza a Frente Ampla pelo ‘Fora, Bolsonaro” porque não deseja o impeachment de Bolsonaro, pois isso implicaria ter que disputar as eleições com um nome da direita tradicional ou com Ciro Gomes, que é (o PT deveria desconfiar disso , com razão) uma alternativa com grande potencial para correr por fora e fazer “dobradinha” com Lula ao cruzar a linha de chegada para o segundo turno (se essa possibilidade é real com Bolsonaro na disputa, sem o miliciano, as chances de Ciro Gomes aumentariam ainda mais. Vale lembrar que Bolsonaro tinha em dezembro de 2017 intenções de voto inferiores aos 8% de Ciro, não sendo o miliciano àquela época citado como candidato viável). No discurso, o PT afirma ser a favor da Frente Ampla pelo impeachment de Bolsonaro, porém, o faz como cálculo eleitoral, como quem projeta transformar a referida Frente em apoio partidário institucional à candidatura de Lula, sendo, assim, apenas uma maneira de subordinar os interesses da Frente Ampla ao projeto exclusivista do PT. Os trabalhadores e o povo não têm ou não deveriam ter grandes esperanças em relação às eleições na democracia burguesa. Mensagens de grandes mudanças a partir dessas eleições são ilusões que não deveriam ser difundidas por partidos que desejam de fato lutar pelos direitos dos trabalhadores e do povo. As eleições somente interessam aos trabalhadores e ao povo como parte de um processo histórico que tem como objetivo organizá-los, mobilizá-los e conscientizá-los para tomar o poder, para enfrentar e vencer, de fato, o bolsonarismo como permanente ameaça de golpe, de violência politica organizada, à serviço da plutocracia financeira que, certamente, a ele recorrerá, no futuro, se um um governo supostamente de esquerda sair dos limites concedidos pelo jogo da conciliação dos interesses de classe que Lula e o PT jogou em todos os anos que governou o Brasil. Derrotar Bolsonaro eleitoralmente é possível, mas isso não é o mesmo que derrotar o bolsonarismo, a violência politica (organizada paramilitarmente ou nos aparatos de repressão do Estado) que ele representa potencialmente, violência que comparecerá ao cenário político nacional com freqüência cada vez maior, antes e depois das eleições de 2022. Aquele PT que governou o Brasil de 2003 a 2016, com seus métodos, sua concepção de luta política, sua vocação para neutralizar os polos contrários da luta de classes, não têm condições de fazer esse enfrentamento, pois essa luta se trava fora das instituições, no dia a dia, nas organizações de base, nas ruas, nos bairros da periferia, nos locais de trabalho, através de um movimento de massas que o PT não tem mais condições de liderar. A Frente Ampla é um instrumento essencial para organizar, principalmente fora das instituições da democracia burguesa, a luta contra o fascismo; essa luta não se esgota nem perde intensidade com uma vitória eleitoral sobre Bolsonaro, e levará o tempo que for necessário para deflagrar um movimento de massas em defesa dos direitos democráticos do povo. As forças antifascistas são heterogêneas; o PT não tem vocação para ir à frente delas, poderá somente ir ao lado destas, sem desejos de hegemonia artificiais. A luta de hoje não deveria antecipar disputas eleitorais, mas esforços suprapartidários de mobilização e organização da sociedade civil em defesa das liberdades democráticas com o propósito de anular e desbaratar a organização fascista que se estruturou em nosso país.
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