Julián Macías Tovar: Com fake news à vontade, ação na internet contra Cuba tem digitais da que acompanhou golpe na Bolívia
Tempo de leitura: 5 minDa Redação
O analista de dados espanhol Julián Macías Tovar, que se dedica a combater fake news nas redes sociais, fez uma ampla análise da campanha contra Cuba nas redes sociais nos últimos dias, pedindo um “corredor humanitário” por causa das mortes por covid na ilha caribenha:
O que está acontecendo em Cuba?
Por Julián Macías Tovar, no twitter
Analisei mais de dois milhões de tuítes que usaram a hashtag #SOSCuba, que começou pedindo ajuda humanitária por conta das mortes por COVID na ilha — com a participação de artistas, milhares de contas recém-criadas e robôs — e terminou com protestos nas ruas de Cuba.
A tag foi usada a partir de 5 de julho junto com outra, #SOSMatanzas, por conta do colapso do hospital em Matanzas, continuou no dia 10 com o recorde de mortes por COVID no país — quando centenas de milhares de mensagens com as duas tags foram disparadas — e persistiu no dia 11, terminando com manifestações nas ruas de Cuba.
A primeira conta que usou a tag relacionada à COVID trouxe um vídeo do hospital de Matanzas. Tem uma bandeira da Espanha em sua bio, postou mais de mil tuites nos dias 10 e 11, e automatizou retuítes, publicando mais de 5 por segundo.
Nos dias 9 e 10 foram centenas de milhares de mensagens com a tag, citando o aumento consecutivo de óbitos por COVID em Cuba, batendo recordes durante 3 dias seguidos. Uma das principais contas impulsionadoras foi a de Antonneti, da Fundación Libertad de Argentina.
O curioso é que entre as contas que receberam maior número de retuítes estão canais de desinformação e robôs. No caso de Antonneti, a conta participou de campanhas (algumas negacionistas) em vários paises, difundindo mentiras e recebendo apoio de robôs.
Apesar dos recordes negativos em Cuba, os números da COVID na ilha estão muito abaixo dos de qualquer país da Europa e das Américas. Segundo a conta que fiscaliza as estatísticas do governo, foram 31 mortes por COVID no dia 10.
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Se compararmos com o dado da Bélgica, o país europeu com população mais parecida à de Cuba (11 milhões) o número é 15 vezes mais baixo em óbitos, [proporcionalmente] parecido com os do Equador e Estados Unidos e 40 vezes menor que o das mortes no Peru.
Apesar do bloqueio imposto pelos Estados Unidos, graças à produção de vacina própria, Cuba tem números de vacinação superiores às dos paises de seu entorno, com aplicação de 60 doses por 100 habitantes [Nota do Viomundo: Primeira de três doses].
Ainda assim, com estas informações foi feita uma campanha para que artistas participassem do #SOSCuba, alegando as mortes por COVID e a falta de recursos médicos. A ação mais importante foi de um tuíte com mais de 1.100 respostas, pedindo que internautas mencionassem contas de artistas internacionais junto com a tag.
Analisamos as contas que responderam a este tuíte mencionando artistas e celebridades e pudemos ver que quase todas eram contas recém-criadas, ou de antiguidade máxima de um ano.
Se analisarmos as contas participantes da campanha com a tag, vemos um número elevadíssimo de contas criadas em 10 e 11 de julho. Mais de 1.500.
Muitos artistas com milhões de seguidores participaram, a maioria apenas com a hashtag #SOSCuba, sem nenhum texto. Mas a maioria dos meios de comunicação falaram que os famosos pediam um “corredor humanitário”.
De fato, milhares de contas com pouca atividade enviaram a todas as contas relevantes da rede mensagens com #SOSCuba, em muitas ocasiões usando a mesma imagem utilizada por dissidentes cubanos e por gente da ultradireita, como o Centro Democrático da Colômbia e VOX.
Uma das primeiras contas conhecidas a difundir a tag foi a de Mia Kalifa, a ex-atriz pornô que fez vídeos e tuites contra o presidente cubano e usou a tag para dizer que não encontrava nenhum lugar para ajudar os cubanos.
O governo cubano aceitou a solidariedade internacional, mas rechaçou o corredor humanitário, denunciando publicamente a campanha de desinformação, seguramente se lembrando da tentativa de golpe na Venezuela com a desculpa de um corredor humanitário [Nota do Viomundo: Trama da qual participou o autointitulado presidente Juan Guaidó, com ampla cobertura internacional, na fronteira entre Colômbia/Venezuela].
Ainda que os dados da COVID sejam melhores em Cuba do que em outros paises, a situação do país não é boa e quem mais sofre é o povo. Embora não seja a única causa, acabar com o bloqueio econômico contra Cuba seria de grande ajuda. Somente Estados Unidos e Israel votaram a favor do bloqueio nas Nações Unidas, na mais recente votação.
O bloqueio não afetou apenas a economia e a importação de alimentos, remédios e equipamentos, mas também material médico, uma das maiores demandas da campanha na internet. Um exemplo foi a doação do CEO da Alibaba [que não pode entrar em Cuba por causa do bloqueio].
Voltando à #SOSCuba, no dia 11 de julho centenas de milhares de tuites e a participação de muitas contas de artistas levaram a mensagem a ser tendência mundial, no momento em que aconteceu a primeira manifestação em San Antobio de Los Baños, divulgada pela conta Yusnaby com milhares de retuítes.
Curiosamente, Yusnaby (US Navy) é a conta que mais aparece em meus tópicos, porque é um dos donos de contas falsas automatizadas que difundem mentiras e campanhas de ódio.
Uma das curiosidades da #SOSCuba foi a repetição exata de mensagens, muitas vezes por contas automatizadas, que disparam centenas de milhares de tuítes e têm número similar de seguidos e seguidores.
Várias contas automatizadas lançaram o mesmo tuíte, inclusive com a mesma menção a quem postou o texto original e incluindo o vídeo que queriam promover. Todas as contas são seguidas por Yusnaby.
Nesta mesma linha apareceram dezenas de contas que participam em todas as campanhas orquestradas e aparentemente automatizadas, com centenas de milhares de mensagens.
Outro dos elementos muito visíveis nesta tag #SOSCuba é o uso massivo de contas vistas habitualmente em outras campanhas internacionais ou no golpe de estado da Bolívia, por exemplo @alejand+8x ou clássicos como Tertsch, Cabal, Tuto Quiroga, etc.
Para dar exemplo, vejam, as contas criadas durante o golpe de Estado na Bolívia (mais de 100 mil em duas semanas).
Outro clássico deste tipo de campanha é a distribuição de imagens e vídeos manipulados, que inundam a tag, confundindo verdade com mentira — que chegam a ser tratados como informação pelos meios de comunicação tradicionais, como no programa do apresentador Risto [na Espanha].
Risto se supera a cada dia: “O que está acontecendo em Cuba? Se você entrar na tag #SOSCuba conhecerás uma realidade que a mídia não te conta”.
Em seguida, ele reproduziu dois vídeos falsos em seu programa de TV. Um, da celebração da vitória da Argentina na Copa América, em Buenos Aires, e outro de uma manifestação pró-governo cubano, como se ambas fossem protestos contra o governo.
Os principais meios de alguns paises, como o La Nación, da Argentina, fizeram o mesmo que Risto.
Pudemos ver algumas publicações em diferentes redes com o vídeo da celebração pela vitória da Argentina no Obelisco como se fosse de cubanos se manifestando contra o governo (o mesmo vídeo usado por Risto). Numa mensagem específica, foram 3 mil retuítes e mil compartilhamentos no Facebook.
Outra imagem muito repetida foi de manifestação no Egito como se fosse no Malecón de Havana.
Supostos cubanos rezando nas ruas eram, na verdade, nicaraguenses.
Outra mentira é de que Raúl Castro teria fugido para a Venezuela em um avião privado e secreto. Esta mensagem teve 2 mil retuítes, uma entre centenas. A imagem na verdade é da viagem de Castro à Cúpula da Alba, faz 4 anos.
O método se repete, a estratégia sinérgica das redes, mídia e mobilizações. Para saber como acaba, é ver as recomendações do responsável pela VOX na América Latina, que apoiou o golpe na Bolívia.
Intervenção militar dos Estados Unidos. Nem COVID, nem humanitária.
PS do Viomundo: No dia 10 de julho, o Brasil registrou 1.172 mortes por COVID, contra 31 óbitos em Cuba.
Comentários
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/E42RNGDWQAImuAc?format=jpg
– Olha a Miséria nas ruas de Havana, capital cubana
– Não é Havana, cara, é São Paulo …
– Dãããã …
https://twitter.com/VIOMUNDO/status/1415124628696076289
Zé Maria
Esses Dissidentes Fascistas de Máiâmi
são Muito Toscos e Sem-Vergonhas …
https://twitter.com/ChalecosAmarill/status/1414984202458648580
Lulinha do Bo
É agora que a turma que acha Bolsonaro imprestável defende uma gang de fascinaras sanguinários
Lúcio
O bozo é o facínora sanguinário.
Zé Maria
“Cuba teve recorde de mortos por covid: 31 num dia.
Foi um reboliço.
Brasil teve 1.172 mortes no mesmo dia.
Nem uma tagzinha #SOSBrasil.
De ontem para hoje foram 1.605 mortos.
Nada da @ + miakhalifa nos ajudar!!!”
https://twitter.com/VIOMUNDO/status/1415093268623339524
Pois é.
Cadê a tag SOS do @ + Yusnaby (US Navy) pedindo ajuda
para o Brasil que é atacado pelo Miliciano-Mor Genocida?
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1414875096712421376
“Cuba es un país prohibido”.
Eduardo Galeano
https://twitter.com/JonathanMartinz/status/1414875096712421376
Não dúvida de que, neste Milênio, a Internet
– cuja Maioria dos Servidores-Raiz encontra-se
nos EUA à Disposição da NSA – é o Instrumento
Tecnológico Mais Eficiente para aplicar Golpes
de Estado, em todo o Mundo.
Zé Maria
Aliás, o Direito à Liberdade de Expressão não inclui
o uso da Mentira e da Manipulação da Informação
para atacar a Soberania dos Povos e Países.
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