Sob investigação, briga de militares por propina coloca Exército no centro da CPI

Tempo de leitura: 3 min
Foto: Marcos Corrêa/PR

Da Redação

A decisão polêmica do presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM) de mandar prender o sargento reformado da Aeronáutica, Roberto Dias, ex-diretor no Ministério da Saúde, pode ter por trás algo relevante.

Juristas criticaram Aziz por reservar ao sargento uma decisão política, que já poderia ter sido tomada em relação a outros depoentes.

A alegação do presidente da CPI é de que ele estava “cansado” de mentiras, o que não é exatamente base jurídica para mandar prender alguém. Tudo indica quer Dias será libertado brevemente sob fiança.

Um dos motivos que poderia ter precipitado a prisão é o fato de que Dias, depois de ser demitido do Ministério da Saúde, teria organizado um dossiê contra o governo Bolsonaro e despachado para uma cidade europeia.

A notícia foi bancada pela coluna Radar, da revista Veja.

Prender o depoente poderia ser uma forma de fazê-lo “cantar” sobre o intestino do Ministério da Saúde onde, segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, duas quadrilhas disputavam propinas para comprar vacinas.

Uma seria comandada pelo próprio Dias e outra por Élcio Franco, coronel da reserva do Exército, braço direito do ministro general do Exército Eduardo Pazuello, demitido em março.

Hoje, em seu depoimento, Dias disse que nem foi consultado quando Elcio indicou outros dois militares para cargos importantes na pasta:  o tenente-coronel Marcelo Batista Costa para a Coordenação Financeira e o tenente-coronel Alex Lial Marinho para a Coordenação de Logística.

Dias também disse que foi Elcio quem indicou o coronel Marcelo Blanco para assessorá-lo no Departamento de Logística.

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Em outubro do ano passado, Elcio Franco pediu a Pazuello a demissão do rival e em janeiro todas as compras de vacina foram concentradas na Secretaria-Executiva do Ministério, que Franco comandava.

Elcio Franco foi exonerado no dia 26 de março e Roberto Dias só perdeu oficialmente o cargo em 29 de junho.

Funcionário de carreira do Ministério, Luís Ricardo Fernandes Miranda, irmão do deputado Luís Miranda (DEM-DF), em seu depoimento acusou Elcio Franco e o tenente-coronel Alex Lial Marinho de pressioná-lo para dar aval à compra de vacinas Covaxin, um negócio que envolveria o adiantamento de U$ 45 milhões a uma empresa baseada em paraíso fiscal, a Madison.

O adiantamento não estava previsto no contrato. Curiosamente, meses antes o ex-ministro da Saúde Ricardo Barros, líder de Bolsonaro na Câmara, incluiu numa MP originária do Planalto uma emenda que previa o adiantamento e, pasmem, não puniria a empresa vendedora caso ela não entregasse todas as doses prometidas no contrato.

Em tese, feito o adiantamento, os indianos da Bharat Biotech, ligados à Madison, poderiam simplesmente falir, com U$ 45 milhões depositados em uma terceira empresa que, dadas as regras do paraíso fiscal de Cingapura, poderiam distribuí-los pelo planeta sem rastreamento.

No depoimento de hoje, Dias negou ter pedido 1 dólar de propina por dose ao cabo da PM de Minas Gerais Luis Paulo Dominghetti na compra nunca fechada de 400 milhões de doses da AstraZeneca.

Ele disse que encontrou Dominghetti casualmente no happy hour de um restaurante de Brasília. O PM teria sido levado pelo assessor Blanco e o encontro, “casual”.

Porém, o depoimento de Dias parece altamente inverossímil em função das mensagens que foram apreendidas no celular de Dominghetti.

Numa das mensagens de áudio, falando a um certo Rafael, o cabo da PM narra que tinha encontro marcado com Dias no dia 25 de fevereiro.

“Rafael, tudo bem? A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática. Em off, pra você saber, quem vai assinar é o Dias mesmo, tá? Caiu no colo do Dias… e a gente já se falou, né? E quinta-feira a gente tem uma reunião para finalizar com o Ministério”, disse Dominghetti na gravação.

A quinta-feira a que ele se refere é o dia do happy hour, 25 de fevereiro, no restaurante Vasto, em Brasília.

Élcio Franco é o homem que, famosamente, apareceu em uma entrevista coletiva ao lado do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, acusando o deputado Luís Miranda e seu irmão de usarem um documento forjado para fazer acusações ao governo.

Inconsistências no documento que ambos apresentaram, no entanto, sugerem que ambos podem ter usado um invoice adulterado na acusação aos irmãos Miranda.

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Comentários

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Paulo Gilberto

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Francisco de Assis

Roberto Dias não “coronel do Exército da reserva”. Ele é sargento reformado (parece que da Aeronáútica).

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