Orgulho Gay ou Orgulho LGBT+? Impasses e perspectivas
Por Adriana Beatriz Batista e Armando Januário dos Santos
Era para ser uma madrugada de sábado como qualquer outra no 53 Christopher, endereço de um conhecido bar em Nova Iorque, frequentado pela diversidade sexual e de gênero, naquele 28 de julho de 1969.
A polícia rotineiramente realizava patrulhas naquele local, contudo, segundo o historiador David Carter, os proprietários do bar, membros da máfia Família Genovese, pagavam propina para que os policiais não interditassem o espaço.
O dinheiro desse pagamento, em terras brasileiras, conhecido como “arrego”, era obtido através de chantagem dos mafiosos contra a clientela rica que frequentava aquele espaço – esses clientes pagavam para não ter a sexualidade divulgada publicamente – especialmente trabalhadores do Distrito Financeiro.
Por alguma razão, a propina não foi paga e a polícia decidiu pelo fechamento do bar, em uma ação envolvendo quatro policiais infiltrados e o Esquadrão das Morais Públicas aguardando, na rua Christopher, o sinal para invadir – sim, não era apenas no Brasil que existia uma divisão policial especializada em garantir “a moral e os bons costumes”.
Por volta de 1 hora e 20 minutos, o detetive Charles Smythe, o inspetor-adjunto Seymour Pine e alguns policiais à paisana adentraram ao bar, anunciando a invasão, diante de 205 pessoas.
Houve um desconforto geral, especialmente por conta dos abusos na abordagem policial.
A gota d’água viria logo em seguida, quando uma mulher, ao ser algemada, furiosa, aos berros, perguntou por que não havia nenhuma reação. A polícia agrediu várias pessoas, mas, algumas delas, já no camburão, conseguiram sair e formaram uma multidão que conteve o avanço dos agentes de segurança.
Acabava ali o silêncio de uma parcela da população estadunidense considerada queer – termo ofensivo que significa estranho.
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A noite seguinte foi ainda mais intensa: a polícia, rechaçada no primeiro embate, agora se deparava com milhares de pessoas que bloqueavam o acesso à Christopher, se espalhando pelos arredores.
Não havia mais como conter os protestos: liderada por travestis, como a afro-estadunidense Marsha P. Johnson e a filha de um casal de latinos, Sylvia Rivera, a Rebelião de Stonewall se espalhou pelas ruas dos Estados Unidos, resultando na formação de alianças na luta por igualdade de direitos e usufruto da plena cidadania. Enfim, travestis, transexuais, gays, lésbicas, bissexuais e pessoas cis-hétero aliadas, se reuniam em torno do ideal de uma sociedade equitativa.
Tudo isso com a cobertura de jornais como The New York Times, New York Post e Daily News.
Mais de meio século depois, um duelo de narrativas ocorre, haja vista homens cisgêneros, gays, brancos e de classe média alta liderarem diversas frentes do ativismo LGBT+ no Brasil, reduzindo a luta plural de vários segmentos a um dia para celebrar a resistência gay.
Obviamente, gays, lésbicas e bissexuais enfrentam diariamente violências contra as suas orientações sexuais, perpetradas por uma sociedade compulsoriamente heterossexual; logo, a luta contra todas as perseguições a esses grupos é legítima e deve seguir.
Contudo, não foram elxs que iniciaram essa luta. Foram as travestis, como Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, que encabeçaram o levante no bar Stonewall Inn, e, carismáticas, prosseguiram ativamente nos anos seguintes. Marsha, inclusive, foi encontrada morta no rio Hudson, na Parada do Orgulho LGBT+ em 1992; sua morte não foi esclarecida até hoje.
Em vida, Marsha foi considerada a Rosa Parks do Movimento LGBT+: assim como Parks se destacou na luta contra a discriminação racial em ônibus nos Estados Unidos, Johnson foi uma figura mítica na luta pela igualdade das pessoas LGBT+. Os últimos 13 anos trazem o Brasil como líder mundial de assassinatos contra pessoas trans e travestis.
Conforme o Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020 – publicado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) e pelo Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE) – 78% delas eram negras.
Há denúncias de transfobia, inclusive no interior do próprio Movimento LGBT+.
Esse cenário de guerra – exponencializado por um governo federal fascista – torna a vida de travestis e transexuais uma luta diária. Luta por direitos básicos, como o respeito por quem são, reconhecimento da sua própria existência, haja vista serem consideradas não-pessoas e não-vidas pela sociedade cisnormativa. Mesmo assim, a cada dia, pessoas T ocupam espaços na sociedade e continuarão ocupando, por mais estressante que seja para elas provar a todo momento, o quanto possuem competência, capacidade e valor.
Às travestis e mulheres transexuais, nada menos que o respeito por sua intrínseca mulheridade, baseada não em corpos, mas na própria essência.
A sociedade cisnormativa – tão fútil e superficial, a ponto de definir uma mulher pelo seu corpo, e pelo que tem entre as pernas – continuará a ser pressionada e implodida até compreender que ser mulher é muito mais que um corpo físico, é uma identidade construída ao longo do tempo, identidade essa que zomba das injunções sociais.
No Brasil, travestis e transexuais têm pautas que não podem esperar e precisam ser melhor defendidas: essas reivindicações se tornam mais visíveis, a partir de eventos como a Quarta Marcha do Orgulho Trans da Cidade de São Paulo, ocorrida nos dias 4, 11, 18 e 25 de junho desse ano, contando com presenças importantes, como Erika Hilton, vereadora mais votada no Brasil em 2020 e Presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de São Paulo, além de Erica Malunguinho, deputada estadual e educadora.
Mais de 90% das travestis e transexuais sobrevivem da prostituição, expostas ao estupro, a violência física, moral e psicológica.
E para quem não sabe o que é estupro, dizemos que a maioria das mulheres – transexuais, travestis e cisgêneras – prefeririam estar mortas a ter que conviver o resto da vida com a dor desse trauma.
A população trans e travesti é alvo de um genocídio diário que se arrasta no Brasil por mais de uma década, impondo a elas uma expectativa de vida de 35 anos, contra 76 anos da população cisgênera.
Não há emprego formal para esse grupo: apenas 4% se encontram no mercado formal de trabalho.
Apontadas nas ruas, são chamadas de “homens de saia”, em um total desrespeito a sua identidade de gênero.
Também por isso, apontamos para a emergência das pautas de travestis e transexuais, porquanto, em uma só vida, elas morrem múltiplas vezes, para muito além da extinção física.
O direito a desfrutar de relações amorosas assumidas publicamente é uma das formas desse assassinato diário.
A objetificação e exotificação dos seus corpos são outros exemplos.
Portanto, a luta não pode se restringir a um grupo historicamente estigmatizado, antes, ela deve se estender a todos os grupos, priorizando travestis e transexuais, dado o verdadeiro estado de emergência social em que vivem.
Stonewall completa 52 anos nessa segunda-feira, 28 de julho de 2021.
Quantos anos mais serão necessários para o Brasil abandonar a triste liderança em assassinatos, baixa escolaridade e toda forma de iniquidades praticadas cotidianamente contra travestis e transexuais?
Comentários
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/D-JaXr7W4AAzKZj?format=jpg
“O Beira-Rio é a casa do povo. Nosso estádio é um templo,
aberto a todas as bandeiras
-menos à da intolerância”
https://twitter.com/SCInternacional/status/1409481712141168651
Sergio Paulo
Temos que ser campeões em alguma coisa.
Filho Jr
Gay é gente e a gente tem que tratar gente como gente. Não como bicho. “bicha”.
Vejam como Jesus tratou a samaritana. Em particular.
https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/eclesiastico/38/
Qdo a ciência médica se esgota não nos resta outra coisa senao apelar a Deus mesmo. E até ateu na hora da morte vai tentar orar. Quem não quer viver ? O professor mais foderoso da universidade não vai resolver seu problema. Pq ele não sabe tudo. Ninguém de nós sabe.
Jackson Ribeiro.
Tem gente que não tem a menor aptidão para ser psicólogo.
Não é a especialidade dela certos problemas, então, não vai saber resolver e ainda vai fazer um estrago grande na sua vida.
CUIDADO !
Hugo Jr
Muitos dos namorados dos gays é gente hetero, ou seja, que não saiu ou não pode sair do armário devido a sua profissão.
Um polícia gay não daria certo num quartel.
Enfim, com certeza a posição mais sensata é a do papa atual que os aceita e não os critica. Embora os cardeais queiram demitir o papa.
Não tem outro caminho a não ser vivermos em harmonia.
As vezes, as pessoas propõem coisas que todo mundo sabe que eles não seguem, mas querem que os outros sigam.
Todo mundo aguenta carregar um saco de cimento de 50 kg, não ! Claro que não. Mas tem gente que não aguenta, sabe disso, mas quer que o outro carregue o peso pq ele NAO gosta do outro.
Então, é bom ficar esperto com isso.
E tem gente que fala pq isso dá cartaz na hierarquia da sua empresa. Vem cargo bom pra ele.
Não tem outro jeito a não ser aceitar o outro.
Sempre achei uma idiotice esse tipo de preconceito. Nunca gostei de dono de bar jogar água em bêbado ou os caras ficar zoando gay.
Eu não tô nem aí se o cara ou a menina é gay. Tenho mais o que fazer. A vida e curta demais para a gente perder tempo se ocupando com a vida alheia.
O mesmo vale para as religiões afros.
Quem toca corações é Deus e ele não precisa de mim para nada. ELE usa até bebê de colo para “falar” com ‘a gente’. Muitas vezes a gente só atrapalha Deus abrindo a nossa boca.
No entanto, o respeito é bom do outro lado tb. Ridicularizar Jesus é ridículo. Perde o apoio de todo mundo.
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