Leda Paulani: Bolsonaro poderia usar PIB na campanha, mas hoje comparação é ruim: “Ainda estamos abaixo de 2014!”

Tempo de leitura: 2 min

Da Redação

No seu discurso à Nação na noite de 2 de junho, o presidente Jair Bolsonaro tentou articular a ideia de que o PIB brasileiro cresceu graças às suas ações para impedir o fechamento da economia por prefeitos e governadores.

Mas o PIB anualizado ainda está 3,8% negativo, informa a economista Leda Maria Paulani, professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e ex-Secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura de São Paulo, no governo de Fernando Haddad.

Diferentemente do que sugeriu Bolsonaro, o crescimento de 1% no primeiro trimestre de 2021, em relação ao mesmo período de 2020, não teve relação com qualquer ação governamental, mas foi causado pelo novo boom de commodities puxado pela recuperação da China — e que deve durar por causa da recuperação da economia dos Estados Unidos.

Para ela, a palavra que domina o pensamento dos agentes que podem de fato impulsionar a economia brasileira é “incerteza”.

Incerteza sobre o futuro da pandemia no Brasil e a destruição ambiental causada pelas ações do governo Bolsonaro.

Leda Paulani lembra que os setores que mais cresceram foram os do agronegócio e da mineração, puxados pelos recordes na exportação.

Seria um incentivo para Bolsonaro insistir nas pautas que, na argumentação do governo, “desamarram” os dois setores?

Paulani acha que não é isso o que pensam os grandes investidores internacionais — a revista Economist, porta-voz deles, acaba de publicar uma edição com um especial sobre o Brasil afirmando que a primeira tarefa para a recuperação brasileira é se livrar de Bolsonaro.

Paulani também lembra que existem cerca de 15 milhões de brasileiros desempregados, uma enormidade — e não vê nos números do IBGE sinais de melhoria, a não ser na construção civil.

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O setor que realmente emprega com carteira assinada, o da indústria de transformação, está praticamente estagnado, assim como o de serviços, responsável por 2/3 do PIB.

Além disso, o consumo das famílias continua caindo e os gastos do governo também, dois dos principais indicadores sobre o futuro da economia.

O Brasil terá ou não uma terceira onda de covid no inverno? Quando a vacinação terá efeito real na taxa de novos casos, que está em um patamar de 60 mil diários? Quantos óbitos o Brasil terá até setembro de 2022? Será o primeiro colocado no mundo?

São perguntas sem resposta certeira.

Se depender da economia, pelo que diz Leda Paulani na entrevista (ver acima), Bolsonaro poderá argumentar que o copo está enchendo, mas os milhões de desempregados e suas famílias poderão argumentar que não é bem assim.

“Ainda estamos abaixo do primeiro trimestre de 2014”, lembra Paulani — e sete anos já se passaram!

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