Em vídeo, 30 médicos de SP pedem basta ao descaso dos governos com a população e os profissionais de saúde no combate à pandemia: “Deu! Já chega!”

Tempo de leitura: 3 min

Por Conceição Lemes

A catástrofe da covid-19 só se agiganta no Brasil.

Já temos 14.441.563 de casos confirmados e 395.022 mortes, segundo os dessa terça-feira, 27 de abril, do painel do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o Painel Conass Covid-19.

Apenas nas últimas 24 h, 3.086 brasileiros morreram e 72.140 tiveram diagnóstico comprovado de infecção pelo novo coranavírus.

O mais cruel e criminoso: dos 400 mil já óbitos registrados, 75% — ou seja, 300 mil — poderiam ter sido evitados, mostra estudo pioneiro do epidemiologista Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador da pesquisa Epicovid.

Até o início de julho atingiremos a trágica marca de 500 mil mortes.

A previsão, feita pela primeira vez no início de março, é do médico e professor Miguel Nicolelis, que desde então alerta para a necessidade de “coordenar, isolar, bloquear e vacinar, pra ontem; única receita para tentar escapar do cataclisma que nos espera se nada for feito”.

“Basta!”, clama direto Nicolelis.

Pois é com um sonoro “Nós, médicos, viemos aqui pedir um basta. Deu! Já chega!”, que começa o vídeo lançado pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), nessa terça-feira, 27/04.

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Mesmo dia em que foram abertos os trabalhos da CPI do Genocídio, no Senado.

No vídeo, 30 médicos e médicas mostram a sua indignação pela falta de ações governamentais suficientes suficientes para o enfrentamento à pandemia em âmbito federal, estadual e municipal.

Eles contam que estão exaustos e precisam ser ouvidos.

“Somos nós e os demais profissionais da saúde que lidamos com a dor das famílias e com a nossa também. Como acha que é a sensação de saber que alguém vai morrer por falta de leito? Como acha que trabalhamos à exaustão com os pés latejando sabendo que vacinas não foram compradas?”, questionam.

Além disso, abordam as dificuldades enfrentadas pela população no pior momento da pandemia:

“Enquanto isso, o povo não consegue mais fazer compras no mercado. O povo está sem emprego e sem auxílio digno. Não existem políticas governamentais para garantir o isolamento”.

O vídeo é emocionante. Um alento.

Dois dos participantes têm mais de 40 anos e continuam firmes na luta en defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), da qualidade na assistência à saúde e de melhores condições para os profissionais.

A maioria está na faixa dos 30 anos.

São todos médicos de uma categoria conservadora, em um estado conservador.

Em 2018, a maior parte dela votou em Jair Bolsonaro para presidente, João Doria Jr, para governador. E em 2020, renovou o voto em Bruno Covas, para prefeito da cidade de São Paulo.

Não bastasse tudo isso, com conselhos Regional (Cremesp) e Federal de Medicina (CFM), que, por razões político-ideológicas, ignoraram a ciência e a medicina baseadas em evidência, ao longo da pandemia.

Silenciaram diante das barbaridades divulgadas diuturnamente pelo governo genocida.

O CFM, particularmente, foi além: ao autorizar o tratamento ineficaz defendido pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, deu álibi ele incluí-lo no protocolo do SUS e atochar milhões de brasileiros com remédios que não funcionam contra a covid e ainda podem provocar graves efeitos colaterais.

“OU LUTAMOS AGORA OU NÃO SOBRARÁ NADA NO FUTURO”

“Depois de um ano pandemia, a gente vê que não é só amadorismo”, observa a médica ginecologista Daniela Menezes em entrevista a esta repórter.

“É um plano programado de desconstrução do SUS, da saúde pública, de genocídio”, afirma.

Daniela é diretora do Simesp e uma das participantes do vídeo.

“Ao longo de toda a pandemia, nós testemunhamos o descaso dos governos federal, estadual e municipal com a população, assim como com nós, trabalhadores de saúde”, prossegue.

Daniela reitera denúncias que temos feito aqui.

“No estado de São Paulo e na capital estamos vendo, em plena pandemia, serviços sendo fechados e leitos desativados”, diz, indignada.

Em consequência, a assistência à saúde da população só piora.

Junto se agrava a situação dos profissionais de saúde. A precarização reina.

“Os serviços públicos estão sendo entregues cada vez mais às OSs [Organizações Sociais de Saúde], que contratam os médicos como pessoas jurídicas, sem direito a nenhum trabalhista”, revela.

Segundo a médica, nos serviços que estão sendo abertos é onde se nota mais o avanço da precarização.

“Nós tivemos unidades abertas para tratar covid sem a contratação de médicos”, denuncia.

“Por isso, nós, chegamos à seguinte conclusão: ou lutamos agora ou não sobrará nada no futuro”, conclui a doutora.

PARABÉNS, DOUTORES E DOUTORAS!

O roteiro e a edição do vídeo são da jornalista Nicolli Oliveira.

Participam os seguintes médicos e médicas:

Ana Luíza Hirsu, emergencista

Andressa Fragoso, generalista

Antonio de Souza, generalista

Caio Esper, psiquiatra

Carlos Alexandre Hattori, pediatra

Carlos Eduardo Pierangelo, pediatra

Carolina Castiñeira, fisiatra

Daniela Menezes, ginecologista

Eder Gatti, infectologista

Eduardo Vasconcellos, residente

Elaine Damásio, ortopedista

Eline Ethel, médica de família

Felipe Ramos, residente

Gabriela Rodrigues, médica de família

Gabriela Takamitsu, generalista

Ingrid Woerle, residente

Jéssica Ferreira, generalista

Juliana Salles, infectologista

Kasys Meira, residente

Larissa Rybka, sanitarista

Lívia Vieira, psiquiatra

Lorenza Silvério, reumatologista

Mariana Panizza, residente

Miriane Marques, ginecologista

Rafael Romero, anestesiologista

Thaís Tubero, pediatra

Veronica Araújo, sanitarista

Victor Dourado, anestesiologista

Yuri Barnabé, generalista

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Comentários

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ARlindo Matoso

Infelizmente o Brasil é isso.
A vida da gente nao vale uma moeda enferrujada.

Bonard

Se forem embusteiristas e bundasujistas, bem feito!

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