Marcus Figueiredo: Em busca do denominador comum

Tempo de leitura: 4 min

As bases sociais do voto de Dilma e Serra

Considerando a natureza do jogo eleitoral, de soma zero, o apelo de Serra para a união das classes, aponta para prospectos de políticas de “denominador comum” o que não combina com ele. Em algum momento ele terá que fazer uma opção ariscada: avançar sobre o eleitorado das classes médias-baixas, com políticas condizentes, o que, por sua vez, contraria as demandas de seu eleitorado típico. Neste particular Dilma está confortável, pois o seu projeto é o quanto ela precisa para continuar ameaçando Serra, e em trajetória ascendente. A análise é de Marcus Figueiredo, do Iuperj.

Marcus Figueiredo – Iuperj, na Carta Maior

Análise da pesquisa Sensus – SINTRAPAV, 05 a 09 de Abril de 2010

As bases sociais do voto são sempre uma questão importante porque refletem a natureza das expectativas dos eleitores. Os candidatos em geral têm sempre os olhos voltados para a maioria, para garantir a eleição. Entretanto cada candidato não pode negligenciar as suas respectivas bases, sob pena de perdê-las. Este é um jogo de soma zero. Ao tentar avançar sobre uma classe de eleitores o candidato corre o risco de perder votos em uma classe concorrente. Definido então as diversas classes, categorias ou grupos sociais eles sempre terão demandas e interesses em disputas. É por esta razão que os candidatos tendem para a posição mediana entre os interesses conflitantes.

Esta convergência para a mediana produz discursos e propostas cujos resultados representam um denominador comum, com risco mínimo em desagradar as maiorias das posições conflitantes. Esta estratégia do denominador comum, por sua vez, tem como contrapartida o aumento do risco de alta dubiedade, beirando a falta de posicionamento, posição mortal quando a taxa de conflito é muito alta. Exemplo claro está na disputa sobre o livre direito ao aborto. Nessas situações os candidatos preferem fugir do assunto. Este problema não existe nas eleições proporcionais dado que há espaço na disputa para posições conflitantes.

Tendo por referência a última pesquisa do instituto Sensus, vejamos as bases dos principais candidatos, Dilma e Serra.

Gênero
Hoje temos uma pequena maioria de mulheres frente aos homens. Esta categoria social passou a ser cobiçada pelos candidatos. Existem várias “teorias” sobre o comportamento eleitoral dos homens e das mulheres. As mais destacadas são as seguintes:

1. As mulheres são mais conservadoras do que os homens;
2. Hoje, se aceita que são as mulheres quem guiam o voto no seu lar, ao contrário do que ocorria no passado;
3. As mulheres que trabalham fora de casa comportam-se como os homens;
4. Mulher não vota em mulher;
5. A mulher, por ser “naturalmente” altruísta vota pensando mais no bem de seus filhos e de seus maridos.
6. As mulheres são mais cautelosas para decidir o seu voto;

Estas são afirmações tiradas de pesquisas qualitativas, difundidas entre políticos e assessores, cujas veracidades são duvidosas, quando não desconhecidas.

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Neste quesito, Dilma leva vantagem entre os homens e tem igual perda entre as mulheres.

Gênero

Área de moradia
Considerando as áreas de moradia, Dilma ganha de Serra na área rural. Entretanto esta área representa apenas 15% do eleitorado. Esta presença na área rural certamente vem dos ganhos das políticas sociais.

Área de Modaria

Região
Nas regiões do país, Dilma leva vantagem em todas exceto no Sudeste. O destaque é para o Nordeste, região que mais se beneficiou com o programa Bolsa Família.

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Esta divisão territorial das intenções de voto reflete uma divisão política que floresceu na última eleição, quando Lula perdeu para o Alckmin nas chamadas áreas do agronegócio e de fronteira que sobem do interior de São Paulo e do Sul pelo Centro-Oeste e Norte. Nessas regiões os ganhos de Dilma são modestos.

Educação e Renda
Considerando a educação, observamos um relativo equilíbrio entre Dilma e Serra nas posições baixas e médias. Na posição superior Serra tem ganho significativo. Entretanto, no indicador de renda observa-se uma divisão no eleitorado. A classe baixa, até 1 salário mínino, Dilma está levando vantagem sobre Serra. Este, por sua vez, está ganhando no ponto mais alto da pirâmide social, acima de 20 salários mínimos mensais. Nas posições intermediárias, de 1 a 20 SM há uma crescente vantagem de Serra.

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A comparação das bases sociais desses dois candidatos aponta para um horizonte de alta competição sobre políticas sociais entre Dilma e Serra. Nos indicadores de educação e renda, o apoio para Serra segue uma trajetória social de baixo para cima, Serra cresce segundo a posição social do eleitor. Dilma, ao contrário, decresce na escala social.

Esta situação aponta para as linhas ideológicas das duas candidaturas. Dilma, como sucessora de Lula, tem enfatizado a continuidade do projeto PT-lulista que se concentra em políticas sociais de ascensão social, o que em nada agrada as classes médias-altas. Serra, como disse no discurso de lançamento de sua candidatura, acenou para o não-confronto de classe, pregando a união de todos. Entretanto o seu eleitorado quer a volta de políticas mais liberais, cujo retorno é perda para as classes mais baixas na competição social.

Considerando a natureza do jogo eleitoral, de soma zero, o apelo de Serra para a união das classes, aponta para prospectos de políticas de “denominador comum” o que não combina com ele. Em algum momento ele terá que fazer uma opção arriscada: avançar sobre o eleitorado das classes médias-baixas, com políticas condizentes, o que, por sua vez, contraria as demandas de seu eleitorado típico.

Neste particular Dilma está confortável, pois o seu projeto PT-lulista é o quanto ela precisa para continuar ameaçando Serra, e em trajetória ascendente.

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Comentários

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helio silva

Sinceramente, não dá pra entender como a classe média rejeita o modo de governar do PT. Pois graças ao governo Lula, a "gurizada" pode contar com universidades públicas e de qualidade. Vale lembrar que o projeto dos tucanos é privatizá-las. Entretanto, Lula preferiu investir nelas sem a necessidade de privatizá-las. Também não podemos deixar de registrar que no governo Lula, centenas de concusos públicos e contratações de novos servidores foram realizados pela União, dispensando as tragédias das terceirizações. O Brasil não quebrou porque aumentou os gastos correntes como pregaram os tucanos.
Afinal de contas, não tem lógica e nem possibilidade trabalhador classe média achar que pode fazer as mesmas coisas que um membro da burguesia comercial, financeira, industrial etc, faz.. Dentro do conceito classe média há colossais diferenças de rendimentos.

Carlos

"Serra, como disse no discurso de lançamento de sua candidatura, acenou para o não-confronto de classe, pregando a união de todos."
Tanto é assim, que impediu, através do diálogo, o confronto entre policiais militares e civis, o que aconteceu também nas manifestações professores…
Diálogo e cumprimento de acordos, aliás, é política permanente entre os tucanos, basta ver a greve dos petroleiros em 1995…

francisco.latorre

ou seja…

serra não ganha nem com reza brava.

..

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