Denise Romano: Os argumentos do governo Zema de que era seguro reabrir as escolas foram infelizmente demolidos pelos corpos; vídeo

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Denise Romano, coordenadora-geral do Sind-UTE/MG: “Infelizmente, nós perdemos uma professora de 34 anos [Talita Soares], mãe de três crianças menores de 10 anos; ela se contaminou no trabalho, não tinha nenhuma comorbidade e morreu”. Fotos: Reprodução de vídeo e álbum de família

Por Conceição Lemes

Denise Romano é professora e coordenadora-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE/MG).

Nas últimas semanas, à medida que vai chegando o final da tarde, a atenção dela, onde quer que esteja, está ligada no  Painel Conass Covid-19, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde.

“Daqui a pouco sai o boletim do Conass”, diz a esta repórter.

Ele é publicado diariamente, às 18h.

“Os dados são assustadores”, emenda.

O Brasil já contabiliza 13.599.994 casos confirmados e 358.425 óbitos, informou ontem (12/04) o Conass.

Minas Gerais é o terceiro estado com maior número de mortes por covid-19. São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, o primeiro e o segundo.

Desde o início da pandemia, 28.152 mineiros já morreram; 1.235.972 têm ou tiveram a infecção pelo novo coronavírus.

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Na quarta-feira passada (07/04), foram 508 óbitos num só dia.

“As notícias falam de recorde em 24 horas. Mas, é o recorde de óbitos durante toda a pandemia. Nunca tivemos isso aqui”, observa a coordenadora-geral do Sind-UTE-MG.

Em 1º de janeiro de 2021, Minas tinha 546.884 casos confirmados e 12.001 óbitos.

Em 7 de abril, havia 1.182.847 casos confirmados e 26.303 óbitos.

“Mais do que dobrou em relação a janeiro”, atenta Denise. “Minas Gerais é um retrato muito fiel da explosão de casos no país”.

Na verdade, desde o início da pandemia, os trabalhadores em Educação de Minas enfrentam três inimigos ao mesmo tempo: o próprio coronavírus, o governador Romeu Zema (Novo-MG) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido/RJ).

Ao longo da nossa entrevista  com Denise Romano (vídeo no topo), você vai entender por quê.

Destacamos alguns pontos abaixo.

TRABALHO REMOTO

Há um ano o Sind-UTE/MG está numa batalha tremenda para manter os trabalhadores em Educação atuando de forma remota e, assim, não facilitar maior exposição ao vírus, o que agravaria ainda mais situação de Minas Gerais.

Para uma parte da categoria – os educadores — isso tem sido possível, graças às ações do Sind-UTE/MG na Justiça contra as sucessivas decisões do governo Zema para retomar as aulas presenciais.

“Nós já temos mais de 100 trabalhadores mortos na pandemia por covid, mas esse número não reflete a totalidade da situação”, diz Denise.

Minas Gerais tem 853 municípios e 14 macrorregiões. O sindicato ainda não tem os números de todas elas.

VACINAÇÃO A CONTA-GOTAS

Como bem observa Denise Romano, o processo de entrega de vacina pelo Ministério da Saúde é alvo de crítica em todo o País por não disponibilizar a quantidade necessária para conter a expansão do coronavírus.

Em Minas Gerais, tem um agravante. O processo de aplicação está sendo feito a conta-gotas.

“Até 1º de abril Minas Gerais só aplicou 46% das vacinas que recebeu”.

SOFRIMENTO E NEGAÇÃO

Todo esse processo, relata Denise, é muito difícil, sofrido, desesperador.

Há evidente colapso em todas as regiões do estado.

Além do negacionismo do presidente Bolsonaro que sabotou a vacina, o uso de máscaras, distanciamento social, entre outras medidas preventivas efetivas, os mineiros tiveram que enfrentar o processo de negação do governador Zema.

“No ano passado, o governador disse que vírus precisava viajar. E, de fato, o vírus viajou e se interiorizou aqui no estado, como no restante do Brasil, por força do processo negacionista de sabotagem, boicote, a qualquer tipo de prevenção,  vacina, propaganda de remédio sem eficácia comprovada”.

ZEMA NÃO INVESTIU NEM OS 12% OBRIGATÓRIOS

Para piorar, houve falta de investimento.

Em 2020, Minas Gerais não investiu nem os 12% em saúde que é obrigado por lei, apesar da pandemia.

Todas as medidas tomadas pelo estado foram criadas e/ou financiadas por terceiros.

Por exemplo, uma federação de indústrias disponibilizou uma quantidade de respiradores.

INTERNET DO PRÓPRIO BOLSO

Desde o início da pandemia, as aulas são não presenciais.

Só que o estado não tomou nenhuma medida de acesso de democratização do acesso à internet.

Foi a categoria que custeou do próprio bolso o acesso à internet, assim como o conserto ou a compra do notebook ou do computador.

Tudo isso com os vencimentos vergonhosos praticados em Minas Gerais.

O salário inicial de uma professora de educação básica, 24 horas de jornada semanal, é exatamente R$ 1982,54 e alguns centavos.

“Um salário de miséria, inferior ao piso nacional”, afirma Denise.

Temos que lembrar que uma professora tem que comer, pagar a luz, comprar gás, cujos preços estão nas alturas, entre outras coisas…

Ou seja, há um ano a categoria tem se esforçado bastante para garantir o processo de educação não presencial, enquanto o governo Zema nada fez nesse sentido. Muito pelo contrário.

“Eles aperfeiçoaram os mecanismos de controle da nossa jornada, da nossa vida, dentro da nossa casa!”, critica Denise.

para e nós temos aqui uma questão mais grave nenhuma transparência. Uma nenhuma.

40 MIL DESEMPREGADOS E TRANSPARÊNCIA ZERO

Para Denise Romano, há uma questão ainda mais grave: 40 mil trabalhadores em educação desempregados pelo governo Zema em plena pandemia.

“O governo estadual está se escondendo atrás da pandemia, tomando medidas que, em tempos normais, não teria essa ousadia, como os 40 mil cargos a menos este ano”, diz Denise.

O que se vê em Minas Gerais é o sucateamento geral da escola e da educação pública.

Agora, o governo Zema está oferecendo aos municípios que assumam (com contrapartidas) o ensino fundamental do 1º ao 9º ano e o estado fique responsável apenas pelo ensino médio.

“Uma grande liquidação da Educação, como tem feito com as empresas públicas do estado, como Cemig e Copasa, que são patrimônio do povo de Minas Gerais”, alerta Denise.

A MORTE DA PROFESSORA TALITA EM BRUMADINHO

Há pouco mais de um mês esta repórter conversou com a coordenadora-geral do Sind-UTE/MG sobre a decisão do governo de Minas de reabrir as escolas presencialmente de forma híbrida.

Em entrevista coletiva, os secretários estaduais da Educação e da Saúde garantiram que o retorno das aulas presenciais era seguro. Antes, o governador Zema já havia assegurado o mesmo.

Já o  Sind-UTE  denunciou a falta de condições, o que, aliás, vem fazendo desde o ano passado.

“Os argumentos do governo de que era seguro reabrir as escolas foram demolidos pelos corpos dos mortos pela covid”,

Não dá para esconder de ninguém a fila na porta do cartório, para fazer atestado de óbito nem o número de sepultamentos nos cemitérios.

Em Minas, a pandemia tem levado famílias inteiras, como tem acontecido em todas as regiões do Brasil.

Como no restante do País, há situações muito chocantes.

Uma delas aconteceu em Brumadinho, na região metropolitana de BH.

A mesma Brumadinho, onde a barragem da Vale criminosa se rompeu, matando 270 pessoas.

A Prefeitura de Brumadinho retornou com as aulas presenciais em 22 de fevereiro de 2021, logo após o carnaval.

O Sind-UTE/MG denunciou a medida. A subsede lá também. O Ministério Público procurou a Prefeitura para demovê-la da decisão.

O prefeito de Brumadinho, Nenen da Asa (PV), não desistiu.

Manteve as escolas funcionando até 17 de março, quando foi instituída em Minas Gerais a onda roxa.

“Infelizmente, nós perdemos uma professora de 34 anos [Talita Soares], mãe de três crianças menores de 10 anos; ela se contaminou no trabalho, não tinha nenhuma comorbidade e morreu”, lamenta Denise.

SEM VACINA, TURMA DA NEGAÇÃO E FORA BOLSONARO

Até o momento não há um cronograma para vacinação dos educadores mineiros.

Em compensação, têm que enfrentar a turma da negação, integrada por pais e mães fazem campanha pelo retorno das aulas presenciais.

De repente, constata Denise, eles descobriram agora que a escola é importante e tem que ser reaberta a qualquer custo, não lhes interessando o número de vítimas.

“É a mesma turma, o mesmo grupo político, que não queria o Fundeb, votou pela Emenda Constitucional 95 [congelou os gastos em educação e saúde], defende a militarização de escolas públicas e a pauta do homeschooling [ensino doméstico ou domiciliar]”, esclarece Denise.

No finalzinho da nossa entrevista, ela fala como cidadã e professora contra o governo Bolsonaro:

“Nós precisamos de um paradeiro a essa situação. Não podemos esperar 2022. Não vai sobrar nada!”

“A gente precisa de vacina para ganhar as ruas para denunciar, protestar e desestabilizar esse governo pelo o que ele tem feito com os pobres, as mulheres, os LGBTQ, com todo o povo brasileiro. Inclusive aqueles que acham que ele está fazendo alguma coisa. Eu não acredito que o Brasil tenha 57 milhões de pessoas fascistas, que querem a morte do outro”.

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