Terra, que previu 100 vezes menos mortes por covid e disse que a pandemia acabaria oito meses atrás, apoiou o anúncio pró-cloroquina

Tempo de leitura: 6 min
Agência Brasil

Da Redação

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) vai tentar instalar a CPI da Cloroquina.

O Ministério Público Federal no Amazonas decidiu avaliar se a ênfase na distribuição de cloroquina fez com que agentes públicos deixassem de priorizar o oxigênio, cuja falta causou a morte de mais de 50 pessoas no Estado:

Cabe apurar, desse modo, se mesmo diante da perspectiva de grave falta de oxigênio, houve opção de agentes públicos por recomendar tratamento de eficácia questionada em vez de envidar esforços imediatos para, com a urgência necessária, abastecer as unidades hospitalares com o insumo ou coordenar os esforços logísticos para transferir a outros estados pacientes então hospitalizados no Amazonas.

A notícia-crime apresentada pelo PDT contra o presidente Jair Bolsonaro foi enviada pela ministra Rosa Weber, do STF, ao procurador-geral da Justiça. O partido alega que foi um desperdício a produção de 3,2 milhões de comprimidos da droga:

Todos os estudos apontaram que o remédio [cloroquina] não interfere no quadro do paciente com o vírus nem reduz chances de contágio. Mesmo diante disso, o presidente da República e o Ministério da Saúde lançaram campanha para a utilização de tratamento precoce contra a covid-19, especificamente com a criação do aplicativo TrateCov, em que se recomendava o uso da cloroquina.

Os bolsonaristas, no entanto, continuam disseminando o falso tratamento preventivo.

Recentemente, publicaram um informe publicitário em jornais disseminando a desinformação.

Um dos apoiadores do grupo é o ex-deputado federal e ex-ministro Osmar Terra, que é médico e errou todas as previsões que fez sobre a pandemia até agora.

Uma das mais famosas é a de que a epidemia terminaria em junho de 2020, ou seja, oito meses atrás.

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Terra também disse que o número de mortos na pandemia seria menor do que no caso da H1N1, entre 2009 e 2010, que matou 2.100.

Agora, o Brasil atinge 250 mil mortes.

Questionado pelo colunista Tales Faria, do UOL, em abril de 2020, quando sua previsão já se mostrava errada, ele respondeu:

Mantenho tudo que disse. Inclusive que estamos no pico da epidemia e que deveremos assistir, a partir de agora, uma diminuição de internações hospitalares de casos do Covid, como podes ver na curva que faz a coluna azul no gráfico anexo, que é do Ministério da Saúde.

Em relacão ao número de óbitos, realmente é um cálculo difícil de fazer com muita antecedência, em qualquer epidemia. Fiz essa estimativa muito para mostrar que as previsões catastróficas do virologista Átila Iamarino —de mais de 1 milhão de mortes no Brasil, e que foi amplamente divulgada, inclusive em entrevista no Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo — assim como a previsão publicada no Intercept Brasil, que morreriam exatos 432.000 pessoas, eram absurdas.

Certamente a minha margem de erro será muito menor que as deles. Curioso é que vejo cobrança só do que eu disse, talvez por serem previsões menos assustadoras. Ninguém cobra (aqui não estou falando de ti, mas de vários catastrofistas que me cobram na rede a exatidão dos números) o pânico que eles causam com os números extrapolados!

Quanto a Terra, hoje já sabemos que ele subestimou em mais de 100 vezes o número de óbitos… e contando.

Quem está por trás do “informe publicitário” negacionista e pró-cloroquina em jornais

Associação Médicos Pela Vida, que assina publicação, reúne ex-alunos de Olavo de Carvalho e pessoas próximas ao governo

Brasil de Fato | São Paulo (SP)

A Associação Médicos Pela Vida, com sede em Recife (PE), assinou a publicação de um anúncio pró-cloroquina, de teor negacionista e anticientífico sobre a pandemia de covid-19, em jornais de grande circulação na última terça-feira (23).

A veiculação do conteúdo na seção de informes publicitários por veículos como Folha de S. Paulo e O Globo foi alvo de uma carta de repúdio assinada por artistas e comunicadores como Caetano Veloso, Bel Coelho e Astrid Fontenelle nesta quarta [confira ao final da matéria].

O CNPJ apresentado no pé do anúncio conduz à Associação Dignidade Médica de Pernambuco (ADM/PE), inaugurada em dezembro de 2013. O presidente é Antonio Jordão de Oliveira Neto, conhecido por liderar a publicação, em maio, de um tratamento “pré-hospitalar” contra a covid-19, contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O protocolo tem 39 páginas, e as palavras cloroquina e hidroxicloroquina aparecem 46 vezes no documento.

Medicamentos à base dessas substâncias não têm eficácia comprovada contra o novo coronavírus e não devem ser usados em nenhuma etapa do tratamento devido aos possíveis efeitos colaterais.

O grupo, que geralmente aparece ao público sob o nome Médicos Pela Vida, reuniu-se com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em setembro de 2020, sem a presença de Eduardo Pazuello, ministro da Saúde.

O ex-deputado federal e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS) intermediou o encontro e falou como membro da associação em defesa da hidroxicloroquina.

Em entrevista à jornalista Leda Nagle, a anestesiologista Luciana Cruz afirmou à epoca que o “movimento” teria “próximo de 10 mil médicos”.

O site da associação não informa o número total de filiados, mas apresenta uma lista de 70 membros que ofereceriam “tratamento precoce” contra a covid – expressão incorreta e de uso inadequado.

Perfis

Entre os 70 profissionais que constam no site da associação, estão alunos do “guru” do bolsonarismo Olavo de Carvalho, como o médico Carlos Eduardo Nazareth Nigro, de Taubaté (SP).

Durante a pandemia, ele se tornou conhecido no Facebook e em grupos conservadores no Whatsapp por fazer postagens contra o isolamento social e a vacinação.

Nigro é citado como referência em uma das notícias falsas mais difundidas sobre a covid, publicada pelo site Estudos Nacionais.

O texto afirma que o uso de máscaras é prejudicial à saúde, não reduz o risco de contágio e tem como único objetivo instaurar o pânico.

A informação não procede.

O negacionismo sobre as medidas de biossegurança na pandemia e o uso frequente das redes sociais são características comuns a quase todos os nomes da lista.

Wilse Segamarchi, outra integrante da associação, assina textos com informações já desmentidas pelas principais revistas científicas do mundo e se refere ao Sars-CoV-2 como “vírus chinês”.

A OMS não tem comprovação de que a pandemia começou em Wuhan, na China.

Derrotados

Osmar Terra não é a única pessoa próxima ao governo Bolsonaro que integra o grupo.

O médico defensor da cloroquina Luciano Dias Azevedo, que consta na lista da associação, foi nomeado por Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, para o Conselho Superior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em junho do ano passado.

Annelise Meneguesso, que também faz parte do Médicos pela Vida, foi candidata a vice-prefeita de Campina Grande (PB) pelo PSL em 2020.

A chapa em que ela concorreu ficou em quarto lugar no pleito.

A associação reúne outros candidatos derrotados nas eleições 2020, como o médico Gustavo Rosas (PROS), que concorria como vice de Jorge Federal (PSL) em Olinda (PE) e também ficou em quarto.

Jandir de Oliveira Loureiro Junior (PROS), um dos membros da associação mais ativos nas redes sociais, recebeu apenas 27 votos e não foi eleito vereador em 2020 no município de Rio Bonito (RJ).

Suas últimas postagens no Facebook são em defesa do deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PSL), preso este mês por atentar contra a democracia.

A lista também inclui médicos que levaram “puxões de orelha” de autoridades locais por propagarem informações falsas durante a pandemia.

É o caso de Blancard Torres. Em 9 de setembro de 2020, o Conselho Estadual de Saúde de Pernambuco (CES/PE) fez uma nota de repúdio à participação do profissional em evento com Bolsonaro e disse ver “com muita preocupação a defesa do médico sobre a profilaxia em pacientes contaminados pelo novo coronavírus, pois não há até agora, nenhuma evidência científica atestando a eficiência desta droga na cura desta doença.”

Repúdio à veiculação

Artistas publicaram na manhã desta quarta-feira (24) uma carta em repúdio à publicação do anúncio com informações falsas sobre a pandemia que já matou mais de 248 mil brasileiros.

Confira:

O coletivo 342Artes repudia os “informes publicitários” de conteúdo negacionista, recentemente publicados nos jornais @folha (SP), @JornalOGlobo (RJ), @jc_pe (PE), @em_com (MG), @correio (DF), @correio24horas (BA), @opovoonline (CE), @gzhdigital (RS). A sociedade civil brasileira sofre com um governo sem qualquer planejamento para a pandemia e suas consequências sanitárias, sociais e econômicas são catastróficas.

O anúncio, que prega o negacionismo, foi pago pela Associação Médicos pela Vida e enaltece o uso antecipado de medicamentos como a cloroquina para curar pacientes infectados pela Covid-19.

Esta indicação contraria a orientação da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI ) que está alinhada com as recomendações de sociedades médicas científicas e outros organismos sanitários nacionais e internacionais, como a Sociedade de Infectologia dos EUA (IDSA) e a da Europa (ESCMID), Centros Norte-Americanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Agência Nacional de Vigilância do Ministério da Saúde do Brasil (ANVISA).

É um descalabro que veículos de imprensa em um período tão grave como passa o Brasil, vejam o lucro acima de tudo. Como disse Maria Bethânia precisamos de: vacina, respeito, verdade e misericórdia.

Edição: Rogério Jordão

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