O povo permanece, o povo é imortal
Por Maurício Korenchendler
Existe uma prática corriqueira de se identificar a maioria da população como apoiadora de Bolsonaro e outras figuras abertamente reacionárias descambando para um lamento perante uma suposta característica imanente, ainda que tal imanência só tenha surgido após o golpe de 2016.
Os ressentidos com o golpe e a derrota nas urnas em 2018 são os principais propagadores dessa lamúria.
A imanência reacionária da sociedade brasileira passa a ser uma questão para tais grupos, principalmente em 2018, quando se reconhece que a sociedade brasileira tem um vezo autoritário e conservador.
Tal vezo não parecia ser notadamente reconhecido entre os anos de 2002 e 2016.
A atribuição de uma naturalidade reacionária ou conservadora à sociedade brasileira, imperiosa, predominantemente em 2018, a quem auscultar com o devido cuidado, parecerá a-histórica, já que, ainda que se reconheça a sua existência por séculos, alcança ares de imutabilidade.
Assim como os partidos políticos eleitoreiros progressistas, isto é, liberais de esquerda, disputam votos numa sociedade conservadora, também nós, comunistas, buscamos sua transformação no mesmo contexto.
A diferença está na rendição perante o oportunismo, que aqui deve ser lido da forma como Lenin a descreveu em ‘O radical russo tem espírito lento’.
O oportunista não pratica uma traição intencional de seu partido, pelo contrário, “continua a servi-lo com sinceridade e zelo. O seu traço típico e característico é a maleabilidade instantânea do seu temperamento, a sua incapacidade para resistir à moda”, enfim, “o sacrifício dos interesses de longa data e essenciais do partido aos seus interesses momentâneos, transitórios e secundários”.
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Assim, sob a autora argumentativa da melhor das intenções, há a rendição perante os interesses do capital, como, por exemplo, a contribuição à privatização e precarização do ensino pois ou é o menos ruim ou se não se atender às exigências do capital novos ataques virão.
Ora, e quando não vieram represálias e agressões?
Cada degrau que o capital sobe é uma dupla derrota: a conquista de interesses e a colocação da esquerda cada vez mais refém da lógica e do sistema burguês.
Qualquer votação da classe trabalhadora nos partidos de esquerda eleitoral já tem como pressuposta a lógica do ‘menos pior’.
Ocorre que o menos pior vem sempre se reatualizando.
Se antes era o PT sob a égide do neoliberalismo de cooptação (ou neoliberalismo progressista), hoje se recicla em figuras como Eduardo Paes, Rodrigo Maia, Baleia Rossi.
É a descaracterização (e confusão) total da chamada esquerda liberal eleitoreira, infelizmente, a predominante aos olhos nus.
Os ressentidos dessa esquerda hegemônica são os principais adeptos dessa figura sui generis de uma imutabilidade nascida tão de repente e brevemente, que explicam fenômenos como Bolsonaro e Trump com um desabrochar a-histórico.
Incapazes de compreender o movimento dialético materialista da luta de classes, ignoram que tais “fenômenos” são fruto da exploração das contradições sociais.
Forças presentes que se reorganizaram, aglutinaram e atualizaram seus repertórios.
A sociedade brasileira é conservadora e por isso que Bolsonaro venceu em 2018, reconhecem.
Essa sociedade não era conservadora quando os presidentes petistas foram eleitos?
Não foi dessa sociedade que conseguiram os votos para suas eleições e reeleições?
Agora ela é conservadora?
É evidente que as forças conservadoras e reacionárias se empoderaram com a ascensão dos governos petistas, diante da obviedade do inimigo comum.
Este adversário comum, nos discursos mais reacionários, absorvem também a própria direita que classicamente representou a burguesia no Brasil, em um movimento similar reconhecido em o 18 de Brumário de Luis Bonaparte, quando, chamando liberais de socialistas, a burguesia francesa “compreendeu que todas as assim chamadas liberdades civis e todos os órgãos progressistas atacavam e ameaçavam a sua dominação classista a um só tempo na base social e no topo político, ou seja, que haviam se tornado ‘socialistas’ […] Assim, ao tachar de heresia ‘socialista’ aquilo que antes enaltecera como ‘liberal’, a burguesia confessa que o seu próprio interesse demanda que ela seja afastada do perigo de governar a si própria”.
As características dos “fenômenos” (sic) trumpista e bolsonarista, a despeito de suas particularidades, não são novidades, são atualizações de movimentos históricos a partir de contextos distintos que guardam algumas semelhanças gerais, como, por exemplo, a existência de uma crise de hegemonia.
Trump, Bolsonaro, Boris Johnson são lideranças de extrema direita que surgem na falência da burguesia em esconder e evitar as contradições sociais.
Crescem e se desenvolvem aproveitando o contexto de crise, da construção de um inimigo imaginário, constituindo assim, uma espécie de resguardo para o momento em que o modelo social de garantia da hegemonia da burguesia falha.
A sociedade escolhe tais figuras por acreditar nos vaticínios de mudança, na suposta integridade perante um sistema altamente corrompido e assim por diante.
Nos idos da segunda guerra mundial, quando se discutia os caminhos da Alemanha após o término do conflito, Stálin, com lucidez, reconhece que líderes vão e vem, Hitlers são passageiros, “mas o povo permanece. Apenas o povo é imortal”.
Aqui é bom lembrarmos que a Revolução russa se fez vitoriosa com uma população conservadora, machista, antissemita, e a URSS colheu seus frutos, como a precursora no enfrentamento ao antissemitismo, na participação das mulheres e no combate à discriminação contra as minorias.
Aos ressentidos, essa sociedade conservadora só lhe serve quando frutífera em pleitos eleitorais.
Na derrota, não.
É conservadora e não há nada que possamos fazer para mudar isso.
Mais uma vez estamos diante da impregnação liberal do ‘fim da história’.
Vivemos em uma sociedade altamente conservadora, é verdade.
Nela, os ressentidos, sempre esperançosos nas eleições, buscam votos e é no seio dela que travamos a luta para sua efetiva transformação.
Afinal, como certificou José Martí, “os déspotas ignoram que o povo, a massa dolorida, é o verdadeiro chefe das revoluções”.
Comentários
jose luiz da silveira ballock
Parte do planeta Terra se limita ao menos, quanto menos melhor, sendo que o Pocesso Historico força a ir para frente, prosperar. O Brasil nao fica de fora estamos no rol dos paises consumidores de tecnologia e nao produz nenhum tipo de Ciencia e Tecnologia. E estamos cheio de religiosos, misticos de todas as as matizes, desde um mago simples a um capa preta grau 33. O ideal seria fazer como a URSS fez, fechou tudo e começou a construir varios paises, modernos, Esta na hora destes notaveis do Brasil
verem com olhos e construir um Brasil com o maximo, com o mais; Parabéns pelo redator deta reflexão. É isso ai, chega de memos pior, merecemos mais, muito mais
Zé Maria
https://youtu.be/5j6rHuG676w
https://www.facebook.com/327154778065531/videos/546027649395129/
s afinidades entre o sionismo e o projeto bolsonarista na raiz aparecem
no surgimento cada vez mais frequente de bandeiras de Israel nos atos
pró-governo.
Além disso, a aproximação de Bolsonaro com a comunidade judaica
traz a necessidade de entender a raiz dessa aliança.
O que os judeus [e os Neopentecostais Bolsonaristas] têm a ver com isso?
Quais são as semelhanças entre os projetos autoritários defendidos
por Bolsonaro e o premiê israelense Benjamin Netanyahu?
https://www.facebook.com/operamundi.br/videos/aovivo-especial-bolsonaro-abra%C3%A7a-o-sionismo-o-que-os-judeus-t%C3%AAm-a-ver-com-isso/253876302705554/
“As Américas na Pandemia”
https://www.facebook.com/operamundi.br/photos/a.10150831797479120/10158426663239120/?type=3&theater
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