Em carta, Tarso sugere a Doria que lidere campanha de impeachment contra Bolsonaro; íntegra

Tempo de leitura: 4 min
Fotos: Agência Brasil

Carta a João Doria

Bolsonaro não pode continuar governando, o Estado está se deteriorando e a aposta dele no “quanto pior melhor” só favorece os assaltantes do caos

Por Tarso Genro, no site A terra é redonda

Prezado Governador João Doria:

Escrevo-lhe abrigado em três acontecimentos políticos, que me autorizam pensar que esta carta é oportuna.

Não tenho evidentemente credenciais políticas para lhe propor qualquer aliança política e nem esta é a minha intenção, com esta mensagem que torno pública.

Aliança dignas desse nome se fazem em torno de programas e não creio que isso fosse factível entre nós, de uma parte porque tenho pouco poder convocatório, de outra porque pensamos de modo diferente sobre muitas coisas essenciais, exceto – provavelmente – a respeito dos males de todos os tipos, que o Presidente Bolsonaro tem proporcionado à Federação e a todo nosso povo.

A política negacionista do Presidente, suas posições ideológicas medievais e a sua lassidão – como gestor e governante – cujo apetite principal só está expresso na loucura das incomensuráveis asneiras que diz todos os dias e nas agressões que promove todas as horas do dia, tanto ao bom senso como à própria dignidade republicana do país.

O primeiro acontecimento político a que me referi no início desta carta foi a sua manifestação – praticamente em conjunto com o Presidente Lula – que a união na luta contra a Pandemia precede todas as demais questões políticas na conjuntura; o segundo acontecimento é o ódio exalado pelos dementes da base fascista do Presidente, que tem sido direcionado ao Senhor de uma maneira sordidamente especial; o terceiro é a gravação de um vídeo, pelo Presidente Bolsonaro – largamente difundido nas redes – onde ele comete no mínimo três delitos, ao reportar-se ao Senhor: difamação, o primeiro; ameaça (contra a sua pessoa) o segundo; e chamamento à organização de Milícias (formação de quadrilhas politizadas), o terceiro, que configura ameaça direta ao Estado de Direito Democrático.

O conjunto destas manifestações, já “naturalizadas” no país, conforma mais um crime de responsabilidade do Presidente da República, cuja inaptidão para o cargo já extravasou todos os limites.

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A “putrefação do Estado”, Sr. Governador, pode ocorrer quando as partes conflitantes, em um dado momento da história, não têm forças suficientes para levar a termo o controle do poder – democraticamente ou não – e o “empate” permanente entre as forças políticas leva os organismos do Estado a uma lenta desagregação, até que a crise seja solucionada pelo caos, que provém da inércia.

Esta é a situação do país, não só pela divisão entre as forças que formaram blocos distintos, depois da deposição ilegal da Presidenta Dilma, bem como entre a totalidade daquelas forças – antes unidas – e a oposição social e política formada pela esquerda e a centro-esquerda.

Nenhuma destas forças tem a possibilidade de comandar, no momento, a derrubada constitucional do Governo, pelo impedimento do Presidente: a inércia se consolida e o Estado adoece gravemente.

Churchill dizia que o pessimista vê dificuldade em toda a oportunidade e o otimista vê oportunidade em toda a dificuldade e, mais ainda: que um demagogo se move pensando nas próximas eleições e um estadista o faz pensando nas próximas gerações.

Nesta situação complexa que vive o país precisamos de um grande gesto que, se não partir do bloco que derrubou a Presidente da Dilma – da parte que está em estranhamento com o fascismo emergente – poderá chegar tarde demais, quando a oposição reunir forças para sermos sujeitos iniciantes deste processo.

Pela sua condição de Governador do Estado mais importante do país, no qual suas classes dominantes têm exercido uma tutela quase plena, há muitos anos, o Sr. detém hoje a legitimidade necessária para – através dos devidos processos legais – desequilibrar o jogo contra Bolsonaro.

Pode reunir em torno de si um apoio significativo do empresariado mais privilegiado e rico do país, para defender seu Estado da barbárie negacionista e – por tabela – também ajudar o país: Bolsonaro não pode continuar governando, o Estado está se deteriorando e a aposta dele no “quanto pior melhor” só favorece os assaltantes do caos.

Conhecendo a História do seu pai, Deputado João Doria do Partido Democrata Cristão dos idos de 64 (que pouco tem a ver com uma boa parte dos ditos cristãos atuais) penso que ele se orgulharia de uma atitude como a que lhe sugiro, digna de um Chefe de Estado: iniciar um “impeachment” em defesa da nação.

Seu pai, como o meu, foi cassado nos primeiros dias do Golpe de 64, e nós – como seus descendentes morais e de “sangue” – tomamos caminhos diferentes.

Um à esquerda, outro à direita, mas nada impede que falemos para – pelo menos por carta – compormos um momento unitário de redução de danos, visando livrar o país do seu verdadeiro Satanás, como disse o Governador Flávio Dino, referindo-se ao atual Presidente da República.

Centenas de organizações políticas em rede do país buscam os caminhos da unidade, em um território desarmado da sua dignidade republicana, no qual traçam os difíceis caminhos para a regeneração política e econômica da nação.

Dia 18, começaremos – Instituto Novos Paradigmas, Instituto Declatra (Defesa da Classe Trabalhadora) e DDF (Democracia e Direitos Fundamentais) mais um destes debates entre grandes lideranças de esquerda e centro-esquerda no país.

É para buscarmos um caminho comum, que não será composto sem a derrubada constitucional do Satã em compota que nos assola: reúna sua turma, Governador, e responda – como Chefe de Estado – as ofensas que ele lhe assacou.

Por São Paulo e pelo Brasil.

Respeitosamente. Tarso Genro.

*Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.

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Comentários

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Milton Macêdo

Qualquer manifestação com mais efetividade deveria começar pela Câmara, escolhendo um presidente que não estivesse comprometido com a permanência do ex-capetão bolsonaro.
Depois todos os governadores que entendessem esse total desmantelo do bolsonaro, que vem escancarando diariamente, sem nenhuma aptidão ao cargo maior da administração pública.
Nesse momento não cabe “partdos” mas lideranças constituídas, ficando de fora o Lula, o Ciro, o Boulos, o Haddad, o Hulk, esses que estão na mídia na pretensão ao cargo de PR da república.
É até uma temeridade aguardar uma reação natural de um povo já quase impaciente com tantas aberrações, tantas corrupções pipocando à cada e ninguém vê a palavra do judiciário. Se o povo for pras ruas, vai ser muito difícil conter as animosidades.
Com fome e sem emprego e todo mundo assistindo os crimes do Dallagnol e do Moro e o líder maior Lula sendo injustiçado, é gravíssimo.

Marcio P

Gesto nobre de Tarso Genro.
Mas será que teremos outras lideranças mais a porem a cara à tapa e buscarem esta união contra o satã, neste momento tão desagregado das instituições nesse país?
Teremos outros grandes nomes conclamando as instituições para que acordem e respondam à altura os desmandos de seu chefe de estado? Quem irá pressionar o Congresso para dar uma resposta? E o que esperar de nosso judiciário ambíguo? Como enfrentar o eterno fisiologismo de todos os níveis?
Aguentar 2 anos já não foi demais?
E esperar, logo de um ser tão aparente como Doria, uma atitude efetiva?
Esperar… Esperar….
Viva o brazzziill zz z

José Carlos Neves de Andrade

Indubitavelmente, é inegável a necessidade da união das lideranças políticas que se destacam por externarem compromissos com a Nação, através de condutas condignas e comprometidas com anseios da população; a exemplo, também, do Senador Roberto Requião! Imprescindivel que se agilizaem os trâmites em torno do processo de afastamento do ocupante inoportuno da Presidência do nossso País! Impeachment Já!

Marlene Carval

Os outros estados só tem condicoes de apoiar O rotagonismo de SP, caso decida por Satan pra correr a PR.

Henrique Martins

Independentemente do Doria levar em consideração os termos dessa carta, posso dizer ao Tarso Genro que será de São Paulo mesmo que virá a reação democrática que derrubará Bolsonaro. Ele cairá em total desonra. Quem dera a ele ser apeado como Dilma. Dilma foi apeada do poder, mais desde então sempre andou com a cabeça erguida. Com ele não vai ser assim não. Dilma não é genocida.
Quer queiramos ou não, São Paulo é o farol do Brasil.
Esse farol será chamado a brilhar pela providência divina para libertar o país. E ele vai brilhar muito com a ajuda dela.
Digo que a reação que destruirá Bolsonaro não será uma missão apenas do Doria. Ele poderá ser partícipe sim desse processo reunindo o empresariado e a elite paulista que se forem inteligentes se juntarão às forças pro-democracia –
imediatamente – ao sentir a movimentação e o menor cheiro delas. Isso se não estiverem dando guarida à elas desde o início da reação.
A ver.

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