Janio de Freitas: A conduta de Bolsonaro, na balbúrdia da vacina, basta para justificar o seu impeachment
Tempo de leitura: 3 minA conduta na balbúrdia da vacina basta para justificar impeachment de Bolsonaro
Por Janio de Freitas, na Folha, sugestão de Mário Lobato
É impossível imaginar o que falta ainda para a única providência que salve vidas —quantas, senão muitos milhares?— da sanha mortífera de Jair Bolsonaro. Mas não é preciso imaginar a indecência da combinação de “elites” e políticos, para ver o que e quem concede liberdade homicida em troca de ganhos.
Pessoas com autoridade formal para o conceito que têm emitido, além de suas respeitabilidades, como o jurista Oscar Vilhena Vieira, o ex-ministro da Justiça e criminalista José Carlos Dias e o médico Celso Ferreira Ramos Filho, presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, entre outros altos quilates, têm qualificado com clareza e destemor a anti-ação de Bolsonaro e seus militares na mortalidade pandêmica.
Crime, criminoso(s), organização familiar criminosa, homicidas, desumanidade —são algumas das palavras e expressões aplicadas ao que é feito contra a vida. Contra o próprio país, portanto.
A conduta da Presidência e de seus auxiliares na Saúde, na balbúrdia da vacina, basta para justificar o processo de interdição ou de impeachment, sem precisar dos anteriores crimes de responsabilidade e outros cometidos por Bolsonaro e pelo relapso general Eduardo Pazuello.
Nem se sabe mais o número de requerimentos para processo de impeachment apresentados à Câmara.
Sobre eles, Rodrigo Maia, presidente da casa, lançou uma sentença sucinta: “Não há agora exame de impeachment nem vai haver depois”.
Nítido abuso de poder, nessa recusa a priori. É dever do presidente da Câmara o exame de tais requerimentos, daí resultando o envio justificado para arquivamento ou para discussão em comissões técnicas.
Rodrigo Maia jamais explicou sua atitude. Daí se deduz que não lhe convém fazê-lo, com duas hipóteses preliminares: repele a possível entrega da Presidência ao vice Mourão ou considera a iniciativa inconveniente a eventual candidatura sua a presidente em 2022.
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Seja como for, Rodrigo Maia macula sua condução da Câmara, bastante digna em outros aspectos, e se associa à continuidade do desmando igualado ao crime de índole medieval.
Os constituintes construíram um percurso difícil e longo para o processo de impeachment, e que assim desestimulasse sua frequência. Mas deixaram com um só político o poder de consentir ou não na abertura do processo.
Fácil via para o abuso do poder. E sem alternativa para o restante do país, mesmo na dupla calamidade de uma pandemia letal e um governo que a propaga.
Há denúncias protocolares da situação por entidades, não muitas, e por um número também baixo de pessoas tocadas, de algum modo, pelo senso de responsabilidade, a inquietação, a dor.
Movimento para que os genocidas vocacionais sejam enfrentados, nenhum. As camadas sociais que continuam tranquilas com seus rendimentos são, entende-se, as que podem manipular os ânimos públicos.
São também as que têm mais noção do que se passa, mas sem que isso atenue o seu egoísmo e desprezo pelas camadas abaixo. Assim, não há reação ao duplo ataque. Diante de todos os desastres que o corroem, o Brasil parece morto.
Mas nem com esse aspecto, ou essa realidade, precisaria descer tão baixo na imoralidade. Sobrassem alguns resquícios de decência nas classes que, a rigor, são o poder no Brasil, a descoberta de que a Abin, a abjeta Agência Nacional de Informação, foi mobilizada para ajudar Flávio Bolsonaro no processo criminal da “rachadinha” criaria alguma indignação.
E levaria ao pronto afastamento de todos os beneficiários e comprometidos com esse crime contra a Constituição, as instituições, os trâmites da Justiça e a população em geral.
O general Augusto Heleno Pereira negou a revelação da revista Época. É um velho mentiroso.
Isso está provado desde os anos 90, quando me escreveu uma carta negando sua suspeita ligação com Nicolau dos Santos Neto, o juiz da alta corrução no TRT paulista.
Tive provas documentais para desmenti-lo. Estava então no Planalto de Fernando Henrique.
Com Bolsonaro, além de desviar a Abin em comum com Alexandre Ramagem, que a dirige, Augusto Heleno já esteve em reuniões com os advogados de Flávio, que é agora quem o desmente.
Ramagem, por sua vez, é o delegado que Bolsonaro quis na direção da Polícia Federal, causando a saída de Sergio Moro do governo.
Fica demonstrado, portanto, pelas figuras de Augusto Heleno e Ramagem no desvio de finalidade da Abin, que Bolsonaro tentou controlar a PF para usá-la na defesa de Flávio, de si mesmo, de Carlos, de Michelle, de Fabrício Queiroz e sua mulher Márcia e demais componentes do grupo.
Se nem essa corrupção institucional levar à retirada de toda a corja, será forçoso reconhecer um finalzinho. Não da pandemia, como disse Bolsonaro. Do Brasil, mesmo.
Comentários
Valdeci Elias
Eu não estranho , o grupo que Bolsonaro faz parte , não se incomodar com os mortos da Covid-19 . Uma pessoa, que ao mesmo tempo, reduz o salário e os benefícios do trabalhador, aumenta a despesa querendo que o trabalhador assuma os gasto com a saúde e educação de sua família . Bolsonaro e seu grupo nunca vão se importar com as pessoas que morrerem sem atendimento médico. Porque no seu governo, já está definido que gente vai morrer sem atendimento. No fundo a covid-19 é um tapa na cara de Guedes. Se Guedes usar os impostos, pra construir hospitais, contratar médicos e enfermeiros e comprar medicamentos, vai estar reconhecendo que tudo oque disse era errado. Que o Estado é importante para o pobre e a sociedade .
Zé Maria
E, pra arrematar, o Guedes aproveita pra torrar as Reservas Cambiais do Brasil.
https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/reservasinternacionais
Henrique Martins
https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2020/12/4894671-especialistas-que-atuaram-em-plano-nao-tem-qualquer-poder-de-decisao-diz-saude.html
E o senhor tem poder de decisão, por acaso?
Nelson
Sou obrigado a discordar do grande Jânio de Freitas. Não consigo ver dignidade alguma de Maia na condução da Câmara dos Deputados. Não vejo dignidade em ajudar, decisivamente, a acabar com os direitos dos trabalhadores e do povo em geral em benefício do grande capital.
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Por outro lado, Jânio está certíssimo quando chama o general Heleno de “velho mentiroso”.
Jotage
Jânio nomina a quadrilha que tomou conta do executivo e legislativo, mas se esquece do Judiciário. Um lugar onde tem-se a impressão que o lema é: “Tem constituição? Somos contra”.
Vide decisões sobre Lula, afastamento da Dilma, venda dos ativos da Petrobras, e por aí vai.
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