Luiz Carlos Bolzan: Sem dúvida, projeto genocida verde e amarelo está em curso; o ‘brasileiro opressor’ tem que ser parado

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A PANDEMIA COMO OPORTUNIDADE. GENOCIDIO EM VERDE E AMARELO

Por Luiz Carlos Bolzan*, especial para o Viomundo

Quando Raphael Lemkin cunhou o termo genocídio para descrever o que havia ocorrido com povo judeu sob a opressão do III Reich de Hitler, ele não buscava apenas uma palavra que significasse assassinato em massa.

Para além das mortes em larga escala, Lemkin buscava significar um plano concatenado incluindo diferentes e múltiplas ações visando destruir as condições básicas e essências de vida de grupos populacionais.

Segundo Samantha Power, na obra “Genocídio: a retórica americana em questão”:

“Os genocidas tentavam destruir as instituições políticas e sociais, a cultura, a língua, os sentimentos nacionais, a religião e a existência econômica de grupos nacionais. Desejavam erradicar a segurança pessoal, a liberdade, a saúde, a dignidade e as vidas de indivíduos de determinado grupo…

…Não era necessário que um grupo fosse fisicamente exterminado para sofrer genocídio. Seus membros podiam ser destituídos de todas as características culturais de sua identidade”. (2004).

O genocídio é portanto, um plano coordenado e colocado em marcha pelo opressor sobre grupo ou grupos oprimidos.

Brasileiropressor é um endereço eletrônico utilizado por grupo de extrema direita, que inclui, entre outros, membros da família presidencial brasileira.

Quem usa esta denominação, o faz como quem se vangloria de sua força e superioridade, sua capacidade de oprimir pessoas e grupos.

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Opressão é uma marca presente na organização social mundial e brasileira, muito caraterística do modo de produção capitalista onde a exploração é sua essência, e não é sinal exclusivo de um período.

Porém, indubitavelmente, períodos se caracterizam por serem mais ou menos opressores, podendo ter ações lançadas de forma organizada, como num plano e em volume maciço.

Nestes períodos de maior opressão está o III Reich e sua opressão obsessiva contra grupos específicos, como judeus, eslavos, ciganos, esquerdistas, testemunhas de Jeová, negros, demonstrando a ditadura racial, religiosa e político-ideológica que foi o regime nazista, sempre, claro, de mãos dadas, com o grande capital, visto que, como afirmou Hitler, ele não era louco para atacar as grandes empresas alemãs, segundo Otto Strasser em seu livro “Hitler and I”.

Hitler demonstrou de forma inequívoca sua preocupação com os lucros de seus financiadores na forma de mão de obra escrava oferecida pelo regime com fornecimento inesgotável dos campos de concentração e extermínio.

O III Reich tinha um plano articulado com múltiplas e diferentes ações visando destituir grupos de suas bases essenciais de sustentação e vida, com fins de exterminação total.

Em tempos atuais não são raros planos genocidas, ao contrário do que possa imaginar.

Podem ser vistos em execução contra palestinos, muçulmanos na Índia,  grupos étnicos na África. E em diferentes planos de extermínio contra comunidades indígenas nas américas, em especial no Brasil.

Os ataques aos povos indígenas no Brasil seguem curso histórico com períodos de maior volume e avidez e outros com certo recuo.

O momento atual marca forte avanço de ataques institucionais aos direitos, cultura, meio ambiente e vida dos povos indígenas no Brasil.

Desde a permissividade com invasores de terras indígenas, e mesmo estimulação de invasaões com ampla destruição ambiental, passando pela negação da forma de vida e cultura dessas comunidades

Os invasores as vêem como “atrasadas”, explicitando que não serão feitas demarcações de terras indígenas e as riquezas contidas nelas têm que ser exploradas por empresas estrangeiras ou nacionais, chegando ao ponto de desproteger essas comunidades tradicionais em tempos de pandemia.

Outra opressão genocida é constatada a olhos nus quando se trata da violência contra pessoas negras.

A violência institucional contra população negra é uma marca inapagável da civilização ocidental.

Exemplos:  as ditaduras raciais da África do Sul com o apartheid; e a ditadura racial segregacionista dos Estados Unidos, que,apesar de conquistas na luta pelos direitos civis na década de 1960,  segue dando mostras reiteradas de virulência, como se viu ao longo de 2020.

Mas a ditadura racial não é exclusividade do exterior.

Ela é muito presente no Brasil que, por décadas, se auto intitulou democracia racial, buscando esconder o óbvio: o racismo institucional e estrutural mantido vivo no país.

Mais do que nunca a opressão racial institucional e estrutural está presente no Brasil com as sucessivas execuções de pessoas negras, com triste destaque para crianças recorrentemente assassinadas.

Apesar de ser fato ao longo da história nacional, o momento atual marca o recrudescimento do racismo institucional pela sua negação  pelo governo federal.

Com isso, está-se retomando a farsa da democracia racial, reforçada por projetos de lei enviados pelo Executivo ao Congresso visando à  impunidade de policiais executores, sobre a alegação de “forte emoção”.

O projeto foi idealizado pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e chancelado pelo presidente Bolsonaro.

O racismo está estreita e indissoluvelmente vinculado ao modo de produção capitalista que se fundamenta na exploração alheia, na desumanização do outro, fazendo da população negra apenas mais uma força de trabalho a ser explorada, com menor custo e rápida reposição.

Mascarado em certos momentos, está sempre presente em períodos de regimes de extrema direita, em sua versão fascista.

Em meio a este histórico, a pandemia da COVID-19 surge como mais uma oportunidade de “passar a boiada” genocida.

Como no capitalismo, onde crises são oportunidades, a lógica genocida (também intimamente ligada aos interesses do modo de produção capitalista) faz da pandemia sua maior oportunidade para acelerar ataques a políticas públicas  há muito estabelecidas e exitosas,  que visam proteger vidas.

Com cerca de 178 mil mortes (apesar da subnotificação e escandalosas e reiteradas tentativas de suprimir informações), o governo Bolsonaro ataca política ligada a doenças transmissíveis, como HIV/AIDS e hepatites, deixando de testar para essas doenças contagiosas e letais.

No campo da saúde mental, o ataque não é menos intenso.  O objetivo é desarticular toda Rede de Atenção Psicossocial – RAPS garantidora de assistência à população, principalmente da desinstitucionalizada.

A destruição da política de saúde mental visa ao fortalecimento das comunidades terapêuticas, invariavelmente ligadas a instituições religiosas e/ou a políticos.

Com agravantes. Elas nem sempre primam pela excelência técnica e pelo respeito aos direitos humanos.

E ainda privilegiam a retomada de práticas de tortura, a exemplo de eletrochoques em instituições manicomiais, por essência ambientes que afrontam os direitos humanos.

Não bastasse isto, o governo federal, que aparelhou o Ministério da Saúde e ANVISA com militares,  deixou vencer  a validade de quase sete milhões de testes para COVID-19 em seu depósito, sem repassar aos municípios.

Assim, impossibilitando detecção de casos, num movimento reforçador da subnotificação já existente, criando imagem de casos em menor número do que realmente existem.

Mais do que isso. Sem testagem em massa não é possível saber a real extensão e caminhos percorridos pelo vírus. Consequentemente, fragilizam-se todas as possibilidades de controle da transmissão e proteção da população.

Tudo ainda fica pior quando se observa a postura contrária do governo à imunização da população, desacreditando vacinas, atacando a tudo e a todos que dele discordem, sem sequer, até o momento, apresentar um plano minimamente elaborado que indique um caminho seguro para superação da crise sanitária.

Pelo contrário. Vacinas são ideologicamente vetadas, COVID-19 é referida como “gripezinha” ou “resfriadinho”, uso de máscaras é desestimulado, bem como medidas de isolamento social, tendo o presidente da República como maior antagonista de medidas protetoras.

Tudo isso com a chancela do Congresso Nacional, que se negou a proteger população diante de inúmeras demonstrações do governo federal de desprezo pela segurança sanitária do povo brasileiro.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), está sentado sobre  mais de 50 pedidos de impeachment numa clara defesa do projeto em curso.

A desfaçatez e falta de escrúpulos são tamanhas que o governo federal defende e prescreve a cloroquina como eficiente e segura, mesmo Bolsonaro reconhecendo não ter base científica para tratar COVID-19.

Ao mesmo tempo, exige para a vacina contra COVI-19 todas as medidas e critérios técnicos de segurança.

É óbvio que têm de ser seguidos em se tratando da vacina, assim como deveriam ser observados no caso da cloroquina.

Ou. em outro caso, dizer que, por respeitar a liberdade individual, a vacina não será obrigatória, quando o próprio Bolsonaro assinou a lei federal 13.979, de fevereiro de 2020, dizendo o contrário.

Liberdade individual, na lógica genocida, somente importa quando é para evitar vacina, jamais quando é para proteger população de pandemia.

Sequer a defesa da retomada do crescimento econômico é usada para acelerar processo de vacinação, denotando maior interesse em que a pandemia se estenda e siga matando pessoas.

Diante do anúncio do governo de São Paulo, que, sem articulação com demais estados, informou data de 25/01/21 para início da vacinação estadual, dizendo que está aberta a pessoas de outros estados, o governador João Doria demonstrou menos atenção com segurança sanitária e mais preocupação com o oportunismo político.

Doria, afoita e desacreditadamente, correu para dizer que todos que quiserem serão vacinados, apesar de o Ministério da Saúde informar que avaliação da ANVISA para registro de vacina pode levar mais de 60 dias.

Sobre a paralisia dos demais poderes, eu cito um exemplo.

Em manifestação enviada por mim, via OuvidorSUS, ao governo do Rio Grande do Sul, perguntei: a gestão estadual tomaria alguma medida para vacinar a população diante da falta de um plano nacional?

Às 16h12, de 25/11/2020, fui informado por e-mail:

“NÃO HÁ PREVISÃO DE PRODUÇÃO OU AQUISIÇÃO DE VACINAS DE COVID-19 DIRETAMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL”.

Apesar disso, em 08/12/20, o governador gaúcho Eduardo Leite disse na imprensa que é “responsável por 11,5 milhões” de gaúchos e fez contato com Instituto Butantã para comprar vacinas.

Seja por real compromisso com população ou puro instinto de sobrevivência política, alguns gestores estaduais e municipais fizeram sinalização em direção à vacinação, apesar de o fazerem com enorme atraso que custará vidas.

Depois de tudo isso, se ainda havia quem resistisse a acreditar em projeto genocida em curso, tal postura não tem mais como se sustentar.

O diversionismo negacionista pró-genocídio mostrou sua face mais cruel, a do “brasileiro opressor”, que se orgulha de sua obra e legado de centenas de milhares de mortes.

A palavra cunhada por Lemkin para designar o plano nazista se encaixa com perfeição à atualidade brasileira.

O golpe de 2016 para suprimir direitos sociais e aumentar ainda mais a concentração de renda está garantido com a complacência do Congresso Nacional, mesmo diante do genocídio verde amarelo promovido pelo “brasileiropressor”.

Se nada for feito e as “instituições democráticas” seguirem dando cobertura para o genocídio em detrimento da segurança da população, a pandemia negacionista seguirá sua colheita de mortes.

O ‘brasileiropressor” tem que ser parado. Impeachment já!

Referências Bibliográficas:

POWER, Samantha. Genocídio: a retórica americana em questão. São Paulo: Companhia das Letras, 2004;

STRASSER, Otto. Hitler and I. Houhton Mifflin Company: Boston, 1940.

*Luís Carlos Bolzan é psicólogo .

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