Ameaça de morte a Carol Dartora derruba tese de Greca sobre racismo estrutural; Coletivo critica fala do presidente da OAB-PR; vídeos
Tempo de leitura: 4 minDa Redação
Se alguém ainda tinha mínima dúvida sobre a força do racismo estrutural no Paraná, o que aconteceu com Carol Dartora no último final de semana liquidou essa falsa ilusão.
Feminista, doutoranda em Educação, militante das causas populares, é a primeira vereadora (PT) negra da cidade de Curitiba (PR).
Elegeu-se com 8.874 mil votos.
No sábado passado, 05/12, o prefeito reeleito Rafael Greca (DEM) comentou a eleição de Carol em entrevista à jornalista Andréia Sadi, no programa Em Foco, da GloboNews.
Greca disse que discorda da afirmação da vereadora de que existe racismo estrutural na capital do Paraná.
No twitter, @caroldartora13 comentou:
Como ele explica Curitiba ter eleito uma mulher negra apenas em 2020? Considera isso normal!? Não tinha expectativas muito altas em relação à sua recondução ao mandato, porém exijo respeito!
Greca disse que não existe racismo estrutural e que até conviveu com Enedina Alves (veja PS do Viomundo).
É um absurdo o prefeito de uma capital tão desigual, que revela sua segregação racial tão nitidamente, promover esse discurso que invisibiliza nossa luta. #ExisteRacismoEmCuritibaSim
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Depois dessa fala do Greca, estou me perguntando se realmente nasci em Curitiba ou perto da linha do equador.
Tudo uma questão de determinismo geográfico!
No domingo, 06/12, menos de 24 horas após a entrevista, Carol Dartora foi às redes sociais denunciar:
URGENTE
Acabo de receber ameaças de morte [abaixo, a íntegra da mensagem].
As autoridades ja foram contatadas e todas as providências estão sendo tomadas para que seja garantida minha segurança e da minha equipe.
Combinaram de nos matar, mas nós combinamos de ocupar todos os espaços, inclusive a Câmara Municipal de Curitiba!
Estarei lutando firme e forte ao lado da população curitibana que depositou em nosso mandato toda a esperança de uma cidade mais igualitária, sem ódio e violência. pic.twitter.com/SLqOm3ax67
— Carol Dartora (@caroldartora13) December 6, 2020
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil — seção Paraná (OAB-PR), Cássio Teles, se manifestou a respeito.
Em entrevista ao Meio Dia Paraná, da RPC, classificou a ameaça de morte sofrida por Carol Dartora, como “manifestação inoportuna e inconveniente que está na contramão de tudo aquilo que a sociedade brasileira vem buscando que é a igualdade e a não discriminação”.
Confira no vídeo abaixo:
A OAB-PR publicou também em seu portal uma nota (veja abaixo).
Na verdade, foi a manifestação que presidente Cássio Teles leu no Meio Dia Paraná.
Em nota, o Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD) condenou a relativização do crime de racismo, contida na declaração do presidente da OAB/PR:
Como advogado que é, e, mais importante, na representação estadual de todas as advogadas e advogados do Paraná, o Presidente Cássio Telles tem o dever de saber que, o que ele chama de “manifestação inoportuna e inconveniente” é, na verdade, uma somatória de crimes tipificados em Lei.
Abaixo, a íntegra da nota pública do CAAD.
POR UMA POSTURA FIRME CONTRA O TERRORISMO NAZIFASCISTA
Nota Pública do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia
O Presidente da OAB/PR, Cássio Teles, em entrevista ao jornal Meio Dia Paraná, da RPC, classificou a ameaça de morte sofrida pela primeira vereadora negra eleita em Curitiba, Carol Dartora, como “manifestação inoportuna e inconveniente que está na contramão de tudo aquilo que a sociedade brasileira vem buscando que é a igualdade e a não discriminação.”
Como advogado que é, e, mais importante, na representação estadual de todas as advogadas e advogados do Paraná, o Presidente Cássio Telles tem o dever de saber que, o que ele chama de “manifestação inoportuna e inconveniente” é, na verdade, uma somatória de crimes tipificados em Lei.
O Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia vem a público manifestar sua contrariedade à relativização do crime de racismo, contida na declaração do Presidente da OAB/PR.
Além disso, as ameaças racistas e de ódio, recebidas pela vereadora eleita Carol Dartora, são as mesmas recebidas pelas também vereadoras eleitas Ana Lucia Martins, de Joinville, Duda Salabert (mulher trans), de Belo Horizonte, e pela prefeita eleita de Bauru, Suellen Rosim.
Já é sabido, também, que o modo de operar, inclusive imputando terceira pessoa, também alvo de crime de ódio, como subscritora das ameaças, é o mesmo da quadrilha do Dogolachan, da qual a Professora da UFC Lola Aronovich já foi vítima, em caso que teve vários desdobramentos.
Conclui-se, portanto, diante das recorrentes ameaças perpetradas, tratar-se de uma ação orquestrada por grupos nazifascistas, que, para além dos crimes pontuais, empreendem tentativas de desestabilização da frágil democracia brasileira.
Por tais razões, o CAAD expressa apoio e solidariedade as parlamentares Carol Dartora, Ana Lucia Martins, Duda Salabert e Suellen Rosim, manifestando profunda preocupação com a tibieza da OAB/PR diante de fatos tão graves, que colocam em perigo a incolumidade física das parlamentares eleitas e dissemina o medo e o terror junto à sociedade.
Brasil, 07/11/2020.
Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia.
PS do Viomundo: Enedina Alves Marques (1913-1981) foi a primeira mulher a se formar em engenharia no estado do Paraná e a primeira engenheira negra do Brasil. Filha de um casal de negros provenientes do êxodo rural após a abolição da escravatura em 1888, Enedina formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná, em 1945.
Comentários
Hudson
Oi, Conceição.
A Lola Aronovich tem informações importantes sobre a suposta autoria dessas ameaças:
https://escrevalolaescreva.blogspot.com/2020/12/as-ameacas-vereadoras-negras-e-trans.html
Zé Maria
Seguidamente os Racistas Enrustidos recorrem ao advérbio “até”
para dizerem que não são Racistas.
“Greca disse que não existe racismo estrutural
e que até [SIC] conviveu com Enedina Alves
(veja PS do Viomundo)”.
“PS do Viomundo: Enedina Alves Marques (1913-1981) foi
a primeira mulher a se formar em engenharia no estado do Paraná
e a primeira engenheira negra do Brasil.
Filha de um casal de negros provenientes do êxodo rural após a
abolição da escravatura em 1888, Enedina formou-se em Engenharia
Civil pela Universidade Federal do Paraná, em 1945.”
O Prefeito Branco de Curitiba “até” conviveu com a Engenheira Negra,
quiçá, só porque era formada em Engenharia, profissão da EliteBranca.
E o Advogado Branco, cuja profissão ainda hoje é quase exclusiva da EliteBranca, qualificou uma “Ameaça de Morte” de “triste episódio”
e “manifestação inoportuna e inconveniente”. Certamente porque a
pessoa ameaçada era Negra, com a agravante: “do petê”;
pois se a vítima fosse uma branca e o autor um negro, estaria berrando:
‘Prisão Perpétua com Trabalho Forçado’! Ou ‘Pena de Morte!’.
.
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Confira a nota de apoio do Coletivo de Mulheres do MST-PR
à Carol Dartora, primeira mulher negra eleita vereadora
em Curitiba (PR)
Nota de Repúdio ao Racismo e em Solidariedade à Carol Dartora, de Curitiba (PR)
Pela primeira vez na história de Curitiba, foi eleita vereadora uma mulher negra, fato que nos demonstra no mínimo duas questões:
como o racismo, aliado às desigualdades de gênero e classe, dificultam o acesso de mulheres negras a espaços de decisão como a câmara de vereadores;
e como aos poucos vamos rompendo com as opressões que nos impediam de ocupar lugares antes inacessíveis.
Mas há quem tenha coragem de negar as diversas expressões da opressão, como racismo, mesmo quando mulheres negras são ameaçadas e mortas pelo fato de enfrentarem o domínio capitalista, machista e racista.
Nós mulheres, Sem Terra do Paraná, repudiamos veementemente as ofensas e a ameaça de morte direcionadas à vereadora Carol Dartora, de forma anônima e criminosa por um covarde repugnante. Assim como todas as ameaças e violências efetuadas a outras mulheres negras, principalmente as que tiveram a coragem de se candidatar a um cargo para nos representar.
Prestamos toda a nossa solidariedade a esta grande mulher e companheira de luta e a todas as mulheres negras que seguem sofrendo diversas formas de violência.
Racistas, machistas não passarão!!
Mulheres Sem Terra, contra os vírus e as violências!
Carol Dartora, estamos juntas!!
8 de dezembro de 2020.
Coletivo de Mulheres do MST-PR
https://mst.org.br/2020/12/08/nota-de-repudio-ao-racismo-e-em-solidariedade-a-carol-dartora-de-curitiba-pr/
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