Vivaldo Barbosa: Quem nasceu para capitão Bolsonaro nunca será o general e estadista Napoleão
Tempo de leitura: 3 minGOVERNO NÃO PODE CRIAR CAOS
Por Vivaldo Barbosa*
Ao longo da história dos povos e dos Estados, observa-se que os governos procuram manter a ordem interna e a estabilidade para evitar caos, que pode levar à erosão da sua própria autoridade.
Em momentos, é feito por meio do funcionamento das instituições, em outros até pela força bruta.
Não há exemplos nem situações de os próprios governos procurarem criar o caos. Seria o sumo da insensatez.
As grandes revoluções, sim, podem ser geradas em meio ao caos que muitas vezes as alimentam para atingir as transformações que pretendem.
No Brasil de hoje, o governo de Bolsonaro e seus filhos fabrica caos a todo momento.
Noticiou-se que Bolsonaro viu, de madrugada, uma manifestação insensata de alguém contra a vacina chinesa por ser chinesa, seria uma vacina comunista.
No dia seguinte, Bolsonaro decreta que não vai comprar a vacina chinesa.
Transforma a manifestação de um insano em política pública, em decisão de governo. Isso depois de o seu ministro da Saúde tê-lo avisado que acabara de ordenar a compra de milhões dessa vacina.
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E o povo brasileiro aguardando ansioso, como todo mundo, a salvação pela vacina, vê seu presidente tomar atitude dessa natureza.
Bolsonaro ataca governadores e prefeitos a toda hora, gerando desencontros e ausência de entrosamento administrativo.
Nem no momento que o Brasil e o povo brasileiro mais precisavam de entrosamento entre todas as esferas administrativas diante da eclosão do coronavírus, o presidente procurou articular uma política nacional de enfrentamento da pandemia.
Ao contrário, ele e seus filhos ficaram dando cotoveladas a toda hora até em ministros.
Os próprios ministros vivem trocando cotoveladas.
Dois ministros da Saúde foram defenestrados. E, agora, para culminar, o general ministro da Saúde, de tantas estrelas, disse que não conhecia o SUS.
Um general dizer que não conhece a Constituição brasileira, pois o SUS está lá, é estarrecedor!
Sempre foi da formação do oficialato brasileiro o estudo do País, do povo, da nossa cultura, do nosso território, nossas riquezas, nossos interesses, das nossas instituições.
Com a conquista do poder político e administrativo, com o golpe em 1964, passaram a se interessar mais por cargos e nomeações.
Outro dia, um general chefe foi flagrado tentando nomear a filha para alto cargo em Brasília.
É preciso reconhecer que em mais de treze anos de governos de esquerda, não se procurou retomar a orientação nacional das nossas Forças Armadas.
É impressionante verificar que os generais que estão no Palácio e no comando de tanta coisa aceitem que o capitão presidente seja o maior criador de caos no País.
O capitão foi jogado pra fora cedo, não pôde fazer os estudos necessários, mas os generais de muitas estrelas deveriam ter estudado as questões fundamentais da sobrevivência dos Estados e do funcionamento dos seus governos.
Outro dia o general que já foi porta-voz e hoje é crítico disse que deveriam ser menos bajuladores e conhecer as lições das batalhas, como das Guerras Púnicas de Roma contra Cartago, lembrou.
Vale a pena relembrar outro exemplo de um dos maiores generais de todos os tempos, quando feito governante, estadista: Napoleão Bonaparte.
Todos os generais certamente estudaram muito Napoleão, ou deveriam.
Napoleão, feito cônsul após o 18 Brumário, procurou pacificar as correntes internas que vinham em atritos desde a Revolução de 1789, para evitar conflitos e tensões.
Das primeiras medidas foi pacificar as relações com a Igreja Católica, que tivera terras expropriadas e distribuídas pela Revolução, igrejas fechadas, bispos e padres submissos ao Estado.
Procurou o Papa de então (o anterior havia sido preso pelas forças de Napoleão e morto na prisão) e celebrou com ele uma Concordata.
E fez entendimentos até com grupos monarquistas, procurou se acertar com áreas mais radicais.
Como general, Napoleão havia combatido batalhas.
Como estadista, governante, sabia que precisava governar, fazer a administração pública funcionar para atender às necessidades do povo. Sabia que não podia criar caos.
Ao contrário, o governante deve procurar propiciar estabilidade. Os generais do Palácio deveriam saber disto.
Nossas aflições ficam maiores quando vemos os presidentes da Câmara e do Senado concentrados em procurar contornar as regras proibitivas de suas reeleições e em aprovar as medidas neoliberais de desmonte do Estado, retirada de direitos e desnacionalização da nossa economia.
Anularam o Congresso Nacional, sem plenário, sem comissões, sem debates.
Ambos do DEM, partido que apoiou a ditadura e, juntamente com o PSDB, constituem o mais forte grupo político neoliberal. E boa parte dos ministros do STF transformados em atores nos meios de comunicação a dar respaldo aos acontecimentos.
Nossas instituições de contenção não desempenham seu papel.
Faltam só dois anos. Ainda bem.
* Vivaldo Barbosa é advogado, professor e coordenador do Movimento O Trabalhismo. Brizolista e trabalhista histórico, foi deputado federal constituinte pelo PDT e secretário da Justiça de Brizola.
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