Comissão Arns repudia exaltação de Mourão a Ustra: ”Ao reverenciar o carrasco, fere o decoro do cargo; tortura é crime inafiançável”
Tempo de leitura: 2 minNota Pública # 27 – Em repúdio à manifestação de Mourão exaltando Ustra
Em nota pública, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns manifesta seu mais veemente repúdio à declaração do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em entrevista para uma rede alemã Deutsche Welle, de que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi “um homem de honra, que respeitou os direitos humanos dos seus subordinados”.
As palavras do vice-presidente, que é um reformado geral do Exército, não apenas desonram as Forças Armadas, como agridem a dignidade dos que padeceram nas mãos desse torturador já condenado pela Justiça.
Não é de hoje que autoridades do atual governo exaltam a figura macabra do ex-chefe do DOI-Codi do 2º Exército, em São Paulo, de porões emergiram inesquecíveis relatos de terror e sadismo contra cidadãos brasileiros.
Para se ter ideia da barbárie autorizada como política do Estado, entre 1970 e 1974, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, liderada por Dom Paulo Evaristo Arns, patrono da Comissão Arns, reuniu mais de 500 denúncias de tortura no DOI -Codi comandado por Ustra.
Passaram-se mais de 30 anos para que, finalmente em 2008, Ustra fosse reconhecido como autor de sequestro e tortura, em ação declaratória movida pela família Telles, membros puderam sobreviver para testemunhar como crueldades perpetradas por esse militar e seus “subordinados”, nos porões da ditadura.
Hoje e sempre, serão inaceitáveis homenagens a esse violador da Carta Constitucional de 1967/9, do Código Penal Militar de 1969 e das Convenções de Genebra de 1949, como documentado no Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Ao proferir tais elogios, Hamilton Mourão conspurca, de saída, uma honra dos militares brasileiros.
Ao fazê-lo na condição de vice-presidente, constrange a Nação e desrespeita a memória dos que tombaram sob Ustra.
Apoie o VIOMUNDO
E, ao insistir em reverenciar o carrasco, fere mais uma vez o decoro do cargo em que foi investido sob juramento de conformidade constitucional.
É ela que nos ensina: “Tortura é crime inafiançável, insuscetível de graça ou anistia”.
São Paulo, 9 de outubro de 2020
Margarida Genevois , presidente de honra da Comissão Arns
José Carlos Dias , presidente da Comissão Arns, ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade
Paulo Sérgio Pinheiro , ex-presidente e membro da Comissão Arns, ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade
Ailton Krenak, líder indígena e ambientalista
André Singer, cientista político e jornalista
Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado, ex – presidente da OAB-SP
Belisário dos Santos Jr., advogado, membro da Comissão Internacional de Juristas
Cláudia Costin, professora universitária, ex-ministra da Administração
Dalmo de Abreu Dalari, advogado, professor emérito e ex-diretor da Faculdade de Direito da USP
Fábio Konder Comparato, advogado, doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra, professor titular da Faculdade de Direito da USP
José Gregori, advogado, ex-ministro da Justiça
Laura Greenhalgh, jornalista
Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista, ex-ministro da Fazenda, da Administração e da Reforma do Estado
Luiz Felipe de Alencastro, historiador, professor da Escola de Economia da FGV-SP e professor emérito da Sorbonne Université
Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, professora da USP e da Universidade de Chicago, ex-presidente da Ass. Bras. De Antropologia
Maria Hermínia Tavares de Almeida, cientista de política, professora titular da Universidade de São Paulo
Maria Victoria Benevides, socióloga e cientista política, professora titular da Faculdade de Educação da USP
Oscar Vilhena Vieira, jurista, professor da Faculdade de Direito da FGV-SP
Paulo Vannuchi, jornalista, cientista político, ex-ministro de Direitos Humanos
Sueli Carneiro, filósofa, feminista, ativista antirracista e diretora do Geledés
Comentários
Jose Gomes dA sIVA
Os militares se tornaram uma das maiores vergonhas do Brasil, junto com o “Pátria queimada, Brasil”, ou seja, o genocida, chege da milícia e “presidente” do Brasil, digo, EUA.
Schell
Quem defende crimes hediondos e os criminosos idem, tão criminosos hediondamente são. Portanto, esse tal mourão-de-banhado é tão ou mais criminoso do que os opacos ustras. Além do que, defender criminosos hediondos, em si, é crime elencado pela legislação. E o MPF, hein, nem nem? Bando é muito pouco: batalhão.
Zé Maria
https://comissaoarns.blogosfera.uol.com.br/2020/10/09/nota-publica-27-em-repudio-a-manifestacao-de-mourao-exaltando-ustra/
Zé Maria
Excerto:
“Ao proferir tais elogios [Brilhante Ustra],
Hamilton Mourão CONSPURCA, de saída,
a honra dos militares brasileiros.
Ao fazê-lo na condição de vice-presidente,
CONSTRANGE a Nação e DESREIPEITA
a memória dos que tombaram sob Ustra.
E, ao insistir em reverenciar o carrasco,
fere mais uma vez o decoro do cargo
em que foi investido sob juramento
de respeitar a Constituição.
É ela que nos ensina:
“Tortura é crime inafiançável,
insuscetível de graça ou anistia”.
Zé Maria
No penúltimo parágrafo, no texto original
está escrito “constrange a Nação”, não ‘constrói’.
Até porque esse desgoverno de milicos
é de Constrangimento e de Destruição.
https://comissaoarns.blogosfera.uol.com.br/2020/10/09/nota-publica-27-em-repudio-a-manifestacao-de-mourao-exaltando-ustra/
Deixe seu comentário