Pimenta: Se deseja escapar do naufrágio, Judiciário brasileiro deve julgamento decente a Lula e reparação política a Dilma
Tempo de leitura: 3 minUm judiciário náufrago?
por Paulo Pimenta*
Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de Estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano. Dilma Rousseff, 2016
Passados quatro anos desde que a Constituição de 1988 foi violada por um Golpe de Estado parlamentar, chancelado pelo Judiciário e apoiado pela grande mídia, o país mergulhou numa conjugação de crises.
Rompida a soberania popular com o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, eleita em 2014, abriram-se as portas para a construção da chamada “Ponte para o Futuro” anunciada pelo vice-presidente conspirador, o golpista Michel Temer.
O país colheu desde então uma sucessão de catástrofes:
— o atropelo dos diretos trabalhistas com a abolição da CLT;
— a demolição da previdência pública e a entrega dos idosos à sua própria sorte, com a reforma do sistema de previdência social;
— o desemprego em massa e a precarização selvagem das relações de trabalho como regra para aqueles que ainda conseguem manter seu posto na indústria, na agricultura ou nos serviços;
— a recessão econômica com o pibinho de 1,5% em 2019 e a anunciada queda 9,7% no segundo trimestre de 2020.
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Governo genocida
E mais:
— a degradação social, a criminalização da política, a guerra cultural como tática de governo;
— a matança sem tréguas dos jovens negros e pobres na periferia das cidades brasileiras;
— a devastação ambiental apoiada ostensivamente pelo ministro do Meio Ambiente.
Esse processo sinistro foi coroado desde março último pela maior calamidade sanitária da história do País: a pandemia de Covid-19, menosprezada pelo presidente da República como uma “gripezinha” e que contabiliza nestes dias o espantoso e inaceitável número de mais de 120 mil mortos.
O Brasil ficou mais submisso, mais pobre e mais desigual.
O ímpeto autoritário de Bolsonaro obedece a uma concepção que busca reduzir os instrumentos do Estado ao serviço das necessidades do clã e sua proteção contra inimigos reais ou potenciais.
Plutocracia e golpe
O ex-juiz que virou político Sérgio Moro caiu do pedestal onde fora exibido pela mídia corporativa, durante o período de preparação do golpe.
Caiu com algum ruído.
Afinal, não se pode, nem se deve, esconder um ex-juiz e ex-superministro com larga folha de serviços prestados tanto aos golpistas de 2016 quanto ao seu resultado imediato: a fraude eleitoral de 2018 que elegeu Bolsonaro.
Não custa lançar alguma luz sobre essa figura medíocre que se afasta para cultivar na sombra um eventual retorno como candidato a presidente da República. Assim se move a plutocracia brasileira.
O procurador Deltan Dallagnol procura sair de fininho… quanto menos ruído melhor, como antes dele, o procurador Carlos Fernando Santos Lima, um pioneiro em sair pela porta lateral… Um homem de visão… Escapou quando tudo ainda andava bem.
A Operação Lava Jato, a superprodução hollywoodiana vai, assim, perdendo pedaços… e deixando atrás de si um legado: uma subcultura de ação arbitrária dentro do Ministério Público.
Um órgão que deveria se ocupar da defesa dos interesses da sociedade, mas dedica a maior parte do seu tempo e recursos, em conluio com órgãos de inteligência estrangeiros, a mover ações contra adversários políticos e contra os interesses do Brasil.
Judiciário politizado
Assim funciona a Cosa Nostra. Seja no Ministério Público, seja no Judiciário: trabalha para proteger os seus, para que sigam a vida a salvo dos desconfortos de prestar contas pelos eventuais crimes que cometeram contra a sociedade e contra o país.
As absolvições ou anulações recentes de sentenças proferidas contra dirigentes do Partido dos Trabalhadores, em Tribunais de Recursos e Tribunais Superiores só confirmam o pântano em que a ação politizada do Judiciário, particularmente nos casos da Lava Jato, mergulhou o sistema de justiça do país.
O tempo se encarrega de desnudar a condução eivada de parcialidade de segmentos do Judiciário na condução daqueles processos.
Julgamento decente para Lula
Quinze anos depois do linchamento público e das condenações impostas, José Genoíno e Delúbio Soares foram absolvidos nos Tribunais de Recursos.
A judicialização da política, ainda que cometa atropelos como no caso do afastamento do governador do Estado do Rio, na última semana, foi levada a sentar-se no banco dos réus.
Na tarde de terça-feira última, o TRF- 1 absolveu o ex-presidente Lula de mais uma das ações que tramitavam contra ele.
O Judiciário brasileiro, se deseja se salvar do naufrágio e recuperar alguma credibilidade diante das sociedades civilizadas, deve um julgamento decente a este homem, encarcerado e impedido arbitrariamente de disputar, como favorito, a eleição de 2018, e também uma reparação pública àquela mulher, afastada de um mandato legítimo, sem ter cometido crime de responsabilidade.
E a frase de Rui Barbosa: “A justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta”, nunca foi tão oportuna e atual…
* Paulo Pimenta é deputado federal e presidente do PT/RS.
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Comentários
Alexandre Santos da Silveira
Não deve haver julgamento nenhum para Lula, a denúncia da lava jato é débil e um novo julgamento, além de não fazer sentido nenhum, joga água no moinho da perseguição política ao Presidente.
Zé Maria
“O maior Escândalo é não se escandalizar com o Escândalo”
“O Capitalismo e a Moral Burguesa nasceram juntos,
e, desde então, tentam se ajustar, trocando hipocrisias.”
Luis Fernando Veríssimo
http://paxprofundis.org/livros/cclfverissimo/lfverissimo.htm
.
.
“Com Supremo Com Tudo”
O Diálogo Conspiratório*, ocorrido antes do Golpe, entre o
Fazendeiro Sergio Machado e o Minerador Romero Jucá,
então Senadores do PMDB – cujo Processo relacionado foi
Arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)** – relata
os interesses do PSDB de Aécio, do PMDB de Temer e dos
políticos partidários do Centrão, liderados por Eduardo Cunha,
para derrubar a Presidente da República Dilma Rousseff
e ao mesmo tempo “delimitar” o objeto das investigações
com o intuito de “estancar a sangria”, ainda que – sabe-se hoje –
a Força-Tarefa de Patifes da Lava-Jato do Paraná, sob o
comando do DD e do juiz Moro em Curitiba, também vinha tramando, de forma ilegal, retirar o PT do Governo Federal.
Excertos:
MACHADO [PMDB] – É aquilo que você diz, o Aécio
não ganha porra nenhuma…
[Profeta] JUCÁ [PMDB] – Não, esquece. Nenhum político,
desse tradicional, ganha eleição, não.
MACHADO – O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição,
a gente sabe disso. Quem que não sabe?
Quem não conhece o esquema do Aécio?
Eu, que participei de campanha do PSDB…
JUCÁ – É, a gente viveu tudo.
[Ambos já haviam sido filiados ao PSDB]
[…]
JUCÁ – … Tem que resolver essa porra … Tem que mudar
o governo pra poder estancar essa sangria.
[…]
MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
JUCÁ – Só o Renan que está contra essa porra.
‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’ …
MACHADO – É um acordo, botar o Michel,
num grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.
JUCÁ – Conversei ontem com alguns ministros do Supremo.
Os caras dizem ‘ó, só tem condições de … sem ela’ [Dilma].
Enquanto ela [a Presidente Eleita] estiver ali, a imprensa,
os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu?
Então… Estou conversando com os generais, comandantes
militares.
Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir.
Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
*(https://www.cut.org.br/system/uploads/ck/files/juca.pdf)
**(http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=358621)
https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2017/07/para-pf-conversa-sobre-grande-acordo-nacional-e-estancar-a-sangria-nao-e-crime/
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