Balanço de 4 anos de golpe: “Eu esperava um desastre, mas aconteceu uma tragédia”, diz Dilma Rousseff
Tempo de leitura: 4 minBolsonaro é a pior consequência do impeachment de Dilma, diz Gleisi
Em live pelos 4 anos da aprovação do impeachment de Dilma pelo Senado, convidados analisam as transformações do país após o golpe contra a democracia
São Paulo – Em debate promovido pela Associação Brasileira de Juízes pela Democracia (ABJD) para marcar os quatro anos do golpe do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (31), a deputada federal do Paraná Gleisi Hoffmann, presidenta do PT, destacou a “escalada autoritária” do governo Bolsonaro.
Para a parlamentar, esta é a mais grave consequência da deposição de Dilma.
Ela lembrou que Bolsonaro “tem como seu grande ídolo um homem que praticou a tortura, inclusive contra Dilma”.
Ela se referia a Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais notórios torturadores da ditadura instaurada em 1964 no país.
O impeachment de Dilma, disse Gleisi, foi “uma das coisas mais vergonhosas pelas quais o Brasil passou no período democrático”.
“Não foi impeachment, foi golpe mesmo. As pedaladas fiscais (“crime” que motivou o processo) nada mais eram do que a administração corriqueira do caixa da União.”
Ela reafirmou que os direitos civis e sociais previstos na Constituição foram “jogados na lata de lixo” a partir do golpe parlamentar cometido em 2016.
Apoie o VIOMUNDO
Mais cedo, o aniversário do impeachment foi debatido em live promovida pelo Comitê Volta Dilma-RJ, no contexto do #DiaDilma, que contou com programação durante toda esta segunda-feira.
Lutar e resistir
“O momento é de luta e de resistência. Falar de tudo o que aconteceu é importante não só porque não podemos deixar a história ser contada como uma mentira, mas também porque o mandato de Dilma tem muitas questões inspiradoras para o mundo todo”, comentou a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2011/2016) Tereza Campello.
“O Brasil tinha um projeto de desenvolvimento com inclusão”, continuou Tereza.
Ela mencionou o discurso de Dilma dois dias antes da derrota política na Câmara, o qual a primeira presidente mulher da história brasileira denunciou que, por trás da sua derrubada, havia um projeto de país conservador, “a misoginia, o racismo, a homofobia e a perspectiva de vender a Amazônia, o pré-sal, destruir o patrimônio público e nossas empresas”.
Segundo a ex-ministra, o clima de teoria da conspiração – da qual a esquerda era acusada – em torno dos interesses por trás do impeachment foi desmentido pelo processo que se sucedeu e culminou com a eleição de Bolsonaro para a Presidência.
Projetos sociais eliminados
Para Tereza Campello, depois da Vaza Jato e das denúncias de que o consultor político Steve Bannon, que trabalhou para eleger o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estava por trás do método de disseminar fake news em grande escala, consolidou-se a convicção de que “houve um golpe no Brasil (vindo de) fora do Brasil”.
Bannon foi preso no último dia 20.
O projeto de Dilma na área de assistência social e segurança alimentar, por exemplo, destacou a ex-ministra, foi eliminado do processo de discussão no país.
Segundo ela, é um “escândalo” o corte de 40% da verba da assistência social, o que torna a população pobre desassistida.
“Isso está sendo desconsiderado por esse governo fascista de Bolsonaro”, disse Tereza.
“Os governos Bolsonaro e Temer atuam à revelia” das necessidades dos municípios, destacou.
De acordo com a ex-ministra do Desenvolvimento de Dilma, a então presidenta da República implementou inúmeros projetos nos quais superou em muito as metas previstas.
Ela citou, por exemplo, a instalação de cisternas – o governo Lula fez 325 mil dessas cisternas.
Tereza contou que, ao assumir, Dilma propôs fazer outras 750 mil unidades, mais do que dobrar, em quatro anos, o que havia sido feito em oito anos por Lula. “Fizemos mais de 800 mil, 105% da meta.”
Ela atribui projetos bem-sucedidos como esse à pressão e participação dos movimentos sociais, que na época eram ouvidos pelo governo, além da ação conjunta com os municípios. “Isso foi extinto”, lamentou.
Pontos centrais
Para o geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, a operação Lava Jato, desencadeada em março de 2014, último ano do primeiro mandato de Dilma, atentou contra a soberania nacional e fazia parte do projeto de tornar os países da América Latina submissos aos interesses norte-americanos.
A participação direta do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ) e agências norte-americanas na construção dos objetivos da Lava Jato está comprovada, observou.
Estrella elencou uma série de pontos centrais em que a força-tarefa atentou contra princípios como a cidadania brasileira, a soberania nacional, a independência do país, a dignidade humana e outros.
Contra a cidadania brasileira, porque “a Justiça deve proteger o cidadão e, para isso, existem as leis para que os brasileiros se sintam seguros no seu dia a dia”, disse.
“A proteção da cidadania é fundamental em qualquer país.”
O atentado contra a dignidade humana se materializou porque a Lava Jato agiu “fora da lei”, promovendo invasão de domicílios e atos violentos, “manchando indevidamente o nome das pessoas”.
Ele lembrou que, este ano, tribunais estão anulando as decisões condenatórias da operação sediada em Curitiba.
O processo foi fundamente para a eleição de Jair Bolsonaro, destacou o ex-dirigente da Petrobras.
“Foi eleita uma pessoa desqualificada, como o mundo está vendo, e dá-se início à conclusão do projeto de submissão do Brasil. Começou com a “Ponte para o Futuro (com Michel Temer) e está sendo concluído rapidamente pelo governo eleito sem legitimidade”.
Para ele, “o Estado está acabando e a República, sendo destruída”.
Petrobras, a joia da coroa
“A Petrobras foi muito valorizada pelo pré-sal, tinha que ser atingida e assim foi. Com o golpe, começam os ataques à companhia. Neste governo, isso se aprofunda e a Petrobras perde sua razão de ser”, disse Estrella.
“A Petrobras que tem aí hoje não é a Petrobras, a da origem, com sua missão essencial. Isso acabou, ela acabou como empresa. É um fundo de investimento transnacional que não tem nada a ver com o Brasil”, lamentou.
Para ele, a estatal “era a joia da coroa desse projeto sinistro, fantasmagórico, primitivo e anticivilizatório contra o trabalhador brasileiro”.
“A morte da Petrobras coroa o projeto destruidor do Brasil. A Lava Jato foi fundamental pra que isso se realizasse”, afirmou.
Também participante do evento #DiaDilma, o geógrafo Brian Mier disse que “os únicos brasileiros beneficiados com o projeto foram os entreguistas e oportunistas que venderam o país para outros interesses”.
“Os condutores da Lava Jato estavam nos Estados Unidos toda hora”, destacou.
Para ele, a parceria entre Brasil e órgãos de inteligência dos EUA contou com exercícios de capacitação, em solo norte-americano, dos quais participaram pessoas do Judiciário e da Polícia Federal brasileira.
Mier citou um evento em solo americano no qual foi proposta uma parceria entre Brasil e EUA contra a corrupção.
Um dos palestrantes foi o ex-juiz Sergio Moro.
Segundo o geógrafo, a investigação começaria em Curitiba ou Cuiabá.
“E seria o ponto zero dessa investigação conjunta de longo prazo da Lava Jato.”
Comentários
Dorotea Bordin Brando
Realmente, nunca se viu algo parecido no Brasil.
Zé Maria
“Não foi impeachment, foi golpe mesmo.
As pedaladas fiscais nada mais eram do que
a administração corriqueira do caixa da União.”
Observe-se que, à falta de tipificação de um
crime de responsabilidade, os especialistas
em manipulação do Consórcio GAFE* de
Mídia Venal inventaram o termo ‘pedaladas’,
para facilitar a assimilação pela população,
e o acréscimo do qualificativo ‘fiscais’ foi
apenas para maquiar a expressão, dando
ares de juridicidade, porque simplesmente,
como disse o Ciro**, “não existe o crime de
responsabilidade fiscal” na legislação brasileira.
*GAFE = Globo, Abril, Folha, Estadão
**Ciro Gomes e o impeachment de Dilma Roussef
Na Plataforma ‘todoscomciro’
Impeachment de Dilma Rousseff: golpe ou não?
O processo de impeachment de Dilma Rousseff foi baseado em uma denúncia de cometimento de “crime de responsabilidade fiscal”, alegando-se responsabilidade da presidente/presidenta na prática de “pedaladas fiscais”.
No entanto, o termo “pedaladas fiscais” (criado à época do processo) foi utilizado em referência a operações de execução orçamentária do governo federal, feitas por meio do tesouro nacional, dos bancos públicos e do corpo técnico responsável nessas instituições.
No momento do processo de impeachment, houve grande divergência no campo jurídico a respeito da acusação de “crime de responsabilidade fiscal” poder constar no escopo dos “crimes de responsabilidade”.
Além disso, o fato das operações orçamentárias “pedaladas fiscais” serem executadas também com o trabalho dos corpos técnicos das outras instituições causou divergência, pois seria preciso provar o dolo presidencial (intenção de lesar) nessa acusação, o que se torna difícil, tendo em vista os pareceres de técnicos que aprovaram as operações do governo federal.
Estranhezas políticas do processo e motivações
Além das atipias detectadas expostas no parágrafo anterior, entender o papel que teria o “sucessor presidencial” é de suma importância para a análise deste evento da história brasileira.
O papel do vice-presidente [Michel Temer], assume-se, pelo menos em período não-eleitoral, não é o de fazer campanha política em caso de impeachment.
Uma das maiores estranhezas do processo contra a ex-presidente(a) Dilma Rousseff gira em torno do papel de Michel Temer como articulador político de sua deposição.
Além disso, o Presidente da Câmara [Eduardo Cunha]
que aprovou a abertura do processo, atualmente preso
por crimes de corrupção, prepara delação premiada na qual elenca deputados que tiveram seus votos comprados
para votar pela aprovação do processo.
Ao fim e ao cabo, o caráter “político” do processo prevaleceu grandemente sobre o caráter “jurídico”.
Para a concretização do impeachment de Dilma Rousseff, uniram-se os derrotados nas eleições de 2014, um “sindicato dos políticos” que queria o fim da Operação Lava-Jato e os brasileiros de legítima insatisfação com o governo Dilma.
A união dessas três frentes permitiu a criação de uma atmosfera na qual o governo Dilma passou a parecer insustentável, por mais que isso não seja, em nenhum ponto da Constituição, motivo para a deposição de um presidente.
A invenção de um crime de responsabilidade pelo qual incriminar a presidente(a) fez parte de tal construção,
e a fragilidade da peça acusatória não deveria permitir
avançar semelhante procedimento.
“Golpe” é a palavra certa?
Com a aprovação do impeachment, os congressistas utilizaram um dispositivo constitucional que de fato conferia a eles (políticos) um julgamento.
Não havendo o dever de um julgamento puramente técnico para o impeachment, posteriormente, as mesmas pedaladas fiscais que, no governo Dilma, foram julgadas indevidas pelos congressistas, em 2016 foram aceitas pelo senado federal, quando a casa flexibilizou a prática desse tipo de operação fiscal feita também pelo presidente Michel Temer.
Portanto, houve a combinação entre uma peça acusatória fraca e uma articulação política forte, feita por congressistas e membros do governo, para a aprovação do
impeachment.
Soma-se ainda a isso, por exemplo, o trabalho diuturno
da grande mídia em favor da deposição do então governo.
Esse contexto faz com que o termo “GOLPE” de fato
possa ser aplicado ao impeachment da presidente(a)
Dilma Rousseff, pois as maiores forças de atuação do
processo não foram de natureza legal ou jurídica (como
manda a Constituição de 88 e nosso sistema presidencialista),
mas sim de natureza política.
Zé Maria
Detalhe:
“O maior Escândalo é não se escandalizar com o Escândalo”
“O Capitalismo e a Moral Burguesa nasceram juntos,
e, desde então, tentam se ajustar, trocando hipocrisias.”
Luis Fernando Veríssimo
http://paxprofundis.org/livros/cclfverissimo/lfverissimo.htm
.
.
“Com Supremo Com Tudo”
O Diálogo Conspiratório*, ocorrido antes do Golpe, entre o
Fazendeiro Sergio Machado e o Minerador Romero Jucá,
então Senadores do PMDB – cujo Processo relacionado foi
Arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)** – relata
os interesses do PSDB de Aécio, do PMDB de Temer e dos
políticos partidários do Centrão, liderados por Eduardo Cunha,
para derrubar a Presidente da República Dilma Rousseff
e ao mesmo tempo “delimitar” o objeto das investigações
com o intuito de “estancar a sangria”, ainda que – sabe-se hoje –
a Força-Tarefa de Patifes da Lava-Jato do Paraná, sob o
comando do DD e do juiz Moro em Curitiba, também vinha tramando, de forma ilegal, retirar o PT do Governo Federal.
Excertos:
MACHADO [PMDB] – É aquilo que você diz, o Aécio
não ganha porra nenhuma…
[Profeta] JUCÁ [PMDB] – Não, esquece. Nenhum político,
desse tradicional, ganha eleição, não.
MACHADO – O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição,
a gente sabe disso. Quem que não sabe?
Quem não conhece o esquema do Aécio?
Eu, que participei de campanha do PSDB…
JUCÁ – É, a gente viveu tudo.
[Ambos já haviam sido filiados ao PSDB]
[…]
JUCÁ – … Tem que resolver essa porra … Tem que mudar
o governo pra poder estancar essa sangria.
[…]
MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
JUCÁ – Só o Renan que está contra essa porra.
‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’ …
MACHADO – É um acordo, botar o Michel,
num grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.
JUCÁ – Conversei ontem com alguns ministros do Supremo.
Os caras dizem ‘ó, só tem condições de … sem ela’ [Dilma].
Enquanto ela [a Presidente Eleita] estiver ali, a imprensa,
os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu?
Então… Estou conversando com os generais, comandantes
militares.
Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir.
Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
*(https://www.cut.org.br/system/uploads/ck/files/juca.pdf)
**(http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=358621)
https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2017/07/para-pf-conversa-sobre-grande-acordo-nacional-e-estancar-a-sangria-nao-e-crime/
Deixe seu comentário