Exclusivo: Carta da mãe do filho de Battisti a Lula, após ex-presidente dizer que foi erro dar-lhe asilo político no Brasil; vídeo

Tempo de leitura: 3 min
Fotos: Reprodução de rede social e Ricardo Stuckert

Da Redação

Em entrevista coletiva a jornalistas na manhã desta quinta-feira, 20/08, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre Cesare Battisti, a quem concedeu asilo político no último dia do seu segundo mandato.

Foi ao responder as perguntas de Gina Marques, jornalista brasileira radicada na Itália:

— Por que o senhor autorizou o refúgio de Cesare Battisti e só foi comunicar no último dia do seu segundo mandato?

— Diante das declarações de Battisti, qual o seu sentimento em relação a elas? O senhor sente que também poderia pedir desculpas aos familiares das vítimas que ele causou. 

Lula diz que:

— Não foi uma decisão fácil.

— O Tarso Genro (então ministro da Justiça) acreditava que Battisti fosse inocente.

— Toda esquerda brasileira queria que Battisti que ficasse aqui. 

— Eu nunca estive com o Battisti, ele nunca me procurou.

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— Eu o mantive aqui por que o meu ministro entendia que ele era inocente, que não tinha provas da culpabilidade.

— Quando ele foi preso e confessa, foi uma frustração, porque ele comprometeu um governo que tinha uma relação extraordinária com toda a esquerda italiana, com toda a esquerda europeia. Ele não poderia ter mentido pelo menos para quem estava querendo acreditar nele. 

Em 2018, atendendo a novo pedido das autoridades italianas, o governo Michel Temer (MDB) revogou o asilo político de Battisti, embora ele tivesse um filho brasileiro e não pudesse ser deportado.

Em 13 de dezembro de 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou a prisão dele para que fosse extraditado.

Em janeiro de 2019, foi preso na Bolívia, onde se encontrava e que o extraditou para a Itália, seu país de origem.

Battisti está encarcerado na Sardenha, onde cumpre pena de prisão perpétua.

CARTA DA MÃE DO FILHO DE BATTISTI A LULA

No Brasil, Battisti teve um relacionamento com Priscila Luana Pereira.

Os dois tiveram um filho, hoje com 6 anos de idade.

Priscila assistiu à entrevista de Lula e decidiu escrever-lhe para

 ”exprimir o pesar que senti ao te ouvir falar sobre Cesare Battisti. Não pelo que disseram sobre o caso Battisti – porque este já foi julgado à revelia e continuará sendo, pela lei e por todas as bocas. É sobre Cesare”.

Segue a íntegra da carta que já foi entregue ao ex-presidente Lula:

Caro Lula,

Te saúdo com respeito, gratidão e com toda a reverência que merece o maior líder da história de uma nação.

Graças às suas políticas inclusivas foi possível que eu e outros milhões de brasileiros conquistássemos o ensino superior, a carteira assinada, a compra do mês, a primeira passagem de avião.

Tamanha dignidade hoje nos parece uma fábula. E também é graças à sua diplomacia que hoje tenho um filho que me dá algum sentido à vida e me permite ter uma rasa esperança no futuro, quase impossível de se manter nesses tempos sombrios.

Escrevo para exprimir o pesar que senti ao te ouvir falar sobre Cesare Battisti. Não pelo que disseram sobre o caso Battisti – porque este já foi julgado à revelia e continuará sendo, pela lei e por todas as bocas. É sobre Cesare.

Estamos falando de um homem que é pai, filho, irmão e avô. Sobre o Cesare de hoje que não pode mais abraçar o filho nem trocar a fralda do neto ou fazer mudas de roseira para a dona Maria, e sobre o Cesare que foi, há quarenta anos, do qual ele mesmo fugiu e se resignou de ser. Eu nunca fui enganada por Cesare.

Não permitirei que falem em meu nome ou em nome dos que continuam lutando pela sua liberdade, porque isso nos parece justo. Assim como para ele parecia justo se alinhar aos PAC nos anos de chumbo na Itália.

Particularmente, jamais defenderei a luta armada, mas não julgarei àqueles que a fizerem em razão da liberdade política de seu país. É sobre democracia, sobre direitos.

O Estado brasileiro assim como o Estado italiano, suprimiram todos os direitos deste homem ao revogar o asilo político a ele concedido e extraditá-lo, ignorando a garantia constitucional que não permite a extradição para aqueles que tem filho no país.

É sobre o dever do Estado democrático de salvaguardar o desenvolvimento saudável de uma criança que tem o direito de crescer ao lado do pai.

Estamos adaptados com os crimes e a negligência do Estado. Por isso é aceitável permitir que o réu seja massacrado, que apodreça, que não mereça senão o desprezo das pessoas e das instituições. O senhor mesmo sofreu com o peso desse aparato, que injustamente o condenou em um processo sem prova alguma.

Não espero um coro de defesa para Cesare Battisti. Mas também não espero que o campo progressista se alinhe àqueles que o exibiram como um troféu.

Como podemos ter qualquer esperança na humanidade se não acreditamos em nossa própria regeneração?

A confissão de culpa (e nem vou entrar no mérito das condições em que ela foi feita) não muda o fato de que ele viveu as últimas décadas – no Brasil, França e México – como um homem comum, que trabalhou, fez amigos e constituiu família.

Eu conheço o homem por trás da história, e ele não é menos digno que nenhum outro.

Atenciosamente,

Priscila Luana Pereira            20/08/2020

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Comentários

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Comentários partidarizado,e seletivos.

Sebastião Vitorino Nunes

O Brasileiro tem que parar com esses cinismo…O Brasil concedeu asilo político a Alfredo Stroessner,talvez a Josef Mengele, Os políticos quando roubam,corrompe, eles estão matando milhares na fila do hospital,e ninguem fica perpeplexo…O caso Battisti virou um teatro macabro,ninguem sabe da vida pregressa de Cesare Battisti, a justiça brasileira é tão detetiorada ,quanto a italiana.

zéninguém

ah, agora esse velho decrépito vem falar q foi erro?? Lula é outro que deveria estar em prisão perpétua!!

Nelson

Bem, creio que o Luís Castro aborda muito bem a questão. O que temos nós de subsídios para expressarmos uma opinião mais consistente acerca do caso?

Lembro de ter lido um artigo de um historiador, Mário Maestri, sobre o caso Battisti. Maestri defendeu Battisti e, se minha memória não me trai, afirmou que o italiano foi acusado de assassinatos que aconteceram ao mesmo tempo em locais que distam 200 km um do outro.

Battisti realmente confessou a autoria dos crimes? Se o fez, o fez em que condições? O que o levou a confessar agora o que sempre sustentou não ser verdade? É possível confiarmos no sistema Judiciário italiano?

E podemos perguntar também: é possível confiarmos no Judiciário brasileiro, principalmente depois do que vivemos nestes últimos quatro anos? Enfim, quem confia 100% nos judiciários pelo mundo afora?

Po routro lado, no ano passado eu soube que o embaixador estadunidense na Itália, na época da operação Mãos Limpas, teria, antes de morrer de câncer em 2012, “aberto o jogo” e afirmado que por detrás dessa operação estava a CIA. Como podemos ver, a interferência dos EUA na Lava Jato tem precedentes.

Mostra de que o Judiciário italiano é, no mínimo, suspeito.

marcio gaúcho

Battisti passou a conversa nos graduados do PT. Isso é inegável, pois é réu confesso na Itália, após a extradição. Seus crimes não foram de cunho político, mas particulares. Battisti falseou e se escudou atrás do movimento político. Assassinar pessoas por motivos pessoais ou políticos merece todo o menosprezo da raça humana. Lula, Tarso Genro e o PT pagam até hoje o erro cometido.

Zé Maria

Essa Carta deveria ser enviada ao Fucks no STF,
ao Conspirador/Traidor Temer e ao Bolsonaro.
Foram esses sem-vergonhas que tramaram
a cassação da Liberdade do Cesare Battisti,
cujo refúgio havia sido concedido por Lula.

https://www.conjur.com.br/2018-dez-13/fux-manda-prender-battisti-extradicao-cabe-presidente
https://www.conjur.com.br/2018-dez-14/depois-fux-mandar-prender-temer-assina-extradicao-battisti

    luis castro

    o ruim prá poder opinar é que ninguém tem os subsídios prá analisar de verdade o que ocorreu… não se pode confiar em nada, informações truncadas, amontoado de interesses escusos por trás de tudo… quem garante que ele é inocente? quem garante que ele é culpado? se existem provas contra ou a fovor da prisão ou da liberdade… são provas de verdade? ou são provas forjadas? a quem interessa e qual a razão de interessar?.. esse é o problema.. prá gente que tem no cenário nacional um JUDICIÁRIO APODRECIDO, cheio de BANDIDOS DE TOGA… como confiar que tá certo ou tá errado, se, quem julga é possível que seja um corrupto/bandido/interesseiro… só Jesus na causa, meu::

    Zé Maria

    Na verdade, o que se pode afirmar, porque é fato histórico inegável,
    é que revolucionários humanistas, guerrilheiros ou não, que lutam
    contra Regimes Ditatoriais Totalitários, são tratados como bandidos
    nas Matrizes Coloniais ou nos próprios Países em que combatem
    enquanto a Revolução não é vitoriosa.

    Foi assim com Mahatma Gandhi pela Independência da Índia; com
    Nelson Mandella contra o Apartheid Racista na África do Sul; com
    Carlos Lamarca e Carlos Marighella contra a Ditadura Militar no Brasil;
    com o Tupamaro José Pepe Mujica durante a Ditadura Uruguaia; e com
    Che Guevara e Fidel Castro pela Libertação de Cuba do Jugo da Ditadura
    do General Fulgencio Batista, só pra citar alguns exemplos conhecidos
    de Homens que lutaram contra a Opressão e contra a Pobreza dos Povos.

Tânia Mandarino

O mais importante: Battisti é inocente. O episódio da sua condenação, na Itália, é um escândalo comparável à farsa judicial armada por Sergio Moro contra o ex-presidente Lula. O italiano foi preso, no final dos anos 1970, por sua participação num grupo de extrema-esquerda, e condenado a uma pena de treze anos por vários delitos políticos, como subversão. Fugiu da cadeia poucos meses depois e reapareceu na França, onde obteve asilo político. Só então, as autoridades judiciais italianas, como uma espécie de vendetta, decidiram acusá-lo pelo assassinato de quatro homens (três deles, fascistas envolvidos em diversos tipos de violência). Sem qualquer prova, somente com base em delações premiadas de ex-companheiros que dessa forma conseguiram aliviar suas penas, Battisti foi condenado à prisão perpétua. Para saber mais sobre o assunto, recomendo o excelente livro de Carlos Lugarzo, “Os Cenários Ocultos do Caso Battisti” (Geração Editorial, 2012). (do Igor Fuser no BdF)

Francisco

O que Lula lamentou (e
eu também lamento…) é que ele não tenha falado a verdade para quem estava se queimando, para defende-lo. Colocar o “dengo” com UM militante isolado, acima de 210 milhões de vidas… É pesado. O caso Batistti foi um prego a mais nesse pesado caixão que hoje carregamos. Futuros militantes italianos e brasileiros pagarão um preço tremendo: ele mentir queima por antecedência militantes futuros e cria discurso futuro para a direita.
Battisti poderia ter agido melhor.

Rogério

À esquerda, precisamos coragem para encontrar a nossa sombra e destituí-la. Não haverá estratégia válida que elimine a luta de classes enquanto não procedermos com honestidade. Enquanto se joga sob os termos da obscuridade política o fracasso sempre nos acompanha.

Carla

Ainda com esse equivoco. Nos anos de chumbo eu vivia na Itália, onde havia uma democracia parlamentar. A senhora Priscila talvez nem tinha nascido ainda. São chamados anos de chumbo porque muito chumbo (bala) corria para desestabilizar a democracia e evitar que os comunistas (PCI) entrassem num eventual governo. Já está comprovada a “colaboração” da CIA para que a esquerda fosse desqualificada (em 1976 o Partido Comunista obteve 33% dos votos). Então, vamos parar de tachar gente como o Battisti de “combatente para a liberdade”, por favor. Foi aí que a esquerda começou a morrer, infelizmente.

    GILBERTO BRIZOLLA SANTOS

    Sou Historiador, mas sou ignorante sobre esse tema e esses personagens. Você colocou uma pulguinha atrás da minha orelha. Vou parar de falar sobre o não sei, ou sei muito pouco e estudar. Muito Obrigado.

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