Dino diz que esquerda pode ter de abrir mão de hegemonia em frente ampla contra Bolsonaro

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Foto: Eduardo Matysiak

Para Flávio Dino, país pode seguir o caminho do pacto institucional ou da ruptura

Por Vitor Nuzzi, da RBA

Para o governo do Maranhão, funcionamento das instituições impediu imposição do negacionismo. E frente ampla deve ter inspiração em Mandela e no Chile

São Paulo – Em uma via cada vez mais polarizada, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), visualiza dois caminhos possíveis para o país.

O primeiro levaria a um estado de anomia social, de ausência de leis, com saques, violência urbana, interrupção de serviços público, ruptura política.

O outro, obviamente desejável, envolveria um amplo pacto constitucional, que dificilmente envolveria o atual presidente da República, “pelas suas características pessoais e ideológicas”.

Para Dino – que participou na tarde desta quarta-feira (3) de debate organizado pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) –, Jair Bolsonaro é um “déspota” que busca o totalitarismo.

Impedi-lo exige reunir todas as forças possíveis. E, nesse sentido, o governador e ex-juiz federal afirma, sem recear a “heresia”, que nessa frente ampla a esquerda pode ter de abrir mão de hegemonia.

Ele cita dois exemplos históricos, do Chile pós-Pinochet e da África do Sul, pós-apartheid.

Na visão do governador, que tem buscado conversar inclusive com setores à direita, a resposta à instabilidade política tem que ser “uma coisa meio (Nelson) Mandela, meio concertación chilena, em que a esquerda pode ser convidada a abrir mão da hegemonia”.

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E acrescenta que isso tem um bom propósito, o de garantir a democracia.

Regras do jogo

“Para derrotar o Pinochet, a esquerda chilena abriu mão da hegemonia”, diz Dino, citando a liderança da democracia cristã no país vizinho. “E as concessões que o Mandela fez nem se fala. A conjuntura histórica que vivemos não é tão extrema, mas temos um forte candidato a isso”, afirma, em referência a Bolsonaro, que estaria interessado na ruptura para implementar um projeto autoritário.

Assim, o governador defende uma frente democrática quanto à forma: “Regras do jogo, eleições, instituições funcionando, Judiciário independente, liberdade de expressão”.

O governador avalia que a atitude “negacionista” de Bolsonaro durante a crise da pandemia teve duas consequências de certa forma positivas, em que pese a gravidade da situação: reforçou o pacto federativo e valorizou o sistema público de saúde.

Não fosse o SUS, afirma, o país teria centenas e não dezenas de milhares de óbitos, avalia Dino, para acrescentar que foi a área pública que ampliou a oferta.

Ele cita o exemplo do Maranhão, informando que a rede estadual elevou de 232 para 1.680 o número de leitos exclusivos para tratamento do coronavírus.

Mas a atitude de presidente, pelo conflito e pela imprudência, levou, segundo ele, a uma perda de eficácia no enfrentamento da pandemia – que apresenta certa contenção em alguns estados.

“Em outras palavras, deixou de piorar”, afirmou, para em seguida ponderar sobre uma situação que é diferente conforme o estado.

Dino acredita em estabilização nas próximas semanas, ainda que em números elevados.

A chegada do inverno é outro ponto de interrogação, principalmente nas regiões Sul e Sudeste.

Crise social e investimento público

Apesar de relativo otimismo, o governador espera um “quadro de crise social bastante agudo” no segundo semestre.

Lembra que a economia já vinha ruim e que a queda do Produto Interno Bruto ocorreu sobre uma base depreciada, o que levará a uma elevação significativa do desemprego e a queda na renda.

Por isso, o investimento público deverá ser decisivo.

Mais uma vez, ele lamenta a posição do presidente, “anti federação”, ao negar recursos, como ocorreu hoje, quando Bolsonaro vetou um repasse que poderia chegar a R$ 8,6 bilhões para o combate à pandemia.

É uma questão institucional, insiste Dino, e não há nenhum “sindicato dos governadores” atuando contra o poder central.

Durante as quase duas horas de live, o governador maranhense respondeu questões de internautas e de professores da casa, como André Biancarelli, diretor do instituto, Ricardo Carneiro, Francisco Lopreato, Marcio Pochamnn e José Dari Krein.

Com muitas inquietações sobre a relação Estado-mercado, ambiente político e frente ampla. Disse que assinou todos os manifestos que circularam recentemente, porque é momento de agregar.

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Comentários

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Silvana

Lula tem todo o direito de posicionar -se com base em tudo que vem enfrentando. Cobrar dele essa assinatura é não respeitar seus sentimentos. Ele defente o impedimento de Bolsonaro, a via mais democrática. O esforço deve concentrar-se nisso. Que venham todos, declaradamente, lutar por isso. Parem de cobrar dele. Todo apoio, pois não é obrigado a se misturar com o cafajeste do Fernando Henrique. Eu assinei o manifesto sim, mas compreendo bem o lado dele. E estou percebendo que tem gente querendo se aproveitar disso pra tentar isolá- lo ou ganhar dividendos eleitorais. Não vão conseguir porque ele tem a fortaleza do nordestino e nós o admiramos, lhe somos agradecidas! Respeitem-no!

MARCELO NUNES DE OLIVEIRA

Fazer frente como? Não confio nessa corja.

Zé Maria

Concertación no Brasil?
Com o PSDB? O DEM?
O MDB? Ou o Centrão?
Quem seria o Cabeça?

    Zé Maria

    Mais Coragem, menos ingenuidade.
    Para ‘abrir mão da hegemonia’,
    a Esquerda tem de recuperá-la.
    E, recuperando, não abrir mão.
    E não deve mesmo abrir mão.
    É momento de Recuperação
    Com o Movimento de Rua.
    O Povão clama por Rebelião.
    Não podemos deixá-lo na mão.
    Uma vez, ao menos, Coragem!

Willian

PT afunda qualquer frente ampla. PT acima de tudo, Lula acima de todos. O sonho de consumo de Bolsonaro é disputar a reeleição com o PT.

Marcos Fernandes

O Sr. Dino não combina estar num partido comunista e ainda esse partido denominar-se comunista. Crença que somos ignorantes ou canalhice?

marys

Se esse movimento atacar apenas os fascistas do bolsonarismo e lavajatismo, os propulsores da extrema direita e não inibir a extrema esquerda que não enxerga um palmo adiante do nariz e detona qualquer forma de pacto nacional, e, principalmente, não detonar o o CENTRÃO que é sempre um parasita de verbas de todo e qualquer governo o slogam será sempre:
Brasil acima de tudo. Centrão acima de todos!

Darcy Brasil Rodrigues da Silva

Qualquer Frente Ampla pressupõe a existência de um objetivo mínimo, sendo essa a sua contradição interna, pois, somente objetivos restritos, pontuais, podem unificar forças sociais com objetivos gerais muito amplos e conflitantes. Por isso, no seio de uma Frente Ampla se abrigam interesses de classes distintos, até mesmo antagônicos no longo prazo, que se conjugam por conta da percepção de uma ameaça comum, no caso, um golpe fascista-miliciano em curso, golpe para o qual alertei, aqui, nesse sítio democrático, já em janeiro de 2019. Não tem o menor sentido um partido, uma liderança ou um cidadão comum, condicionar a sua participação em uma Frente Ampla a aceitação de alguns dos pontos programáticos que extrapolam o objetivo restrito. Assim, a única condição de participação em uma Frente Ampla Antifascista é estar disposto a lutar contra o golpe fascista, afastando Bolsonaro da presidência e assegurando a integridade dos direitos democráticos. Fico cada vez mais pasmo com a inconseqüência política de muitos petistas, incluindo Lula, com a incapacidade destes de reconhecer uma tarefa histórica premente, para além dos seus objetivos exclusivistas. Dino está certo. Vale acrescentar apenas, para que não se confunda a intenção de suas palavras, que ninguém persegue a hegemonia ao frequentar uma Frente Ampla. Todos reconhecem que, isolados, não possuem força para derrotar um adversário fatal. Se juntam e trabalham da forma mais harmoniosamente possível para derrotar o inimigo comum, após o que, se separam, e dão prosseguimento a disputa democrática entre as distintas visões que representam.

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