Jabuticaba brasileira é pandemia sem testagem, que deixa gente na fila da UTI e morrendo em casa
Tempo de leitura: 4 minDa Redação
Num fracasso completo de autoridades de Saúde, capitaneadas por um presidente negacionista, o Brasil está no processo de construir mais uma de suas jabuticabas: uma pandemia que “numericamente” não parece assim tão grave, mas deixa gente esperando nas filas da UTI e morrendo em casa.
Como o Viomundo alertou desde a chegada do coronavírus, em nossa conta no twitter, o Brasil não quis, não teve organização, dinheiro ou simplesmente optou por não testar.
Envolvido nas fofocas entre o presidente da República, seus assessores malucos e oposicionistas — uma estratégia que faz sentido comercial, pois turbina a rentável caça de cliques –, o jornalismo investigativo brasileiro jamais explicou o motivo disso ter acontecido, além de constatar o óbvio.
O Brasil não testou. Não testou e, assim, não isolou os assintomáticos — desde os primórdios da pandemia já se sabia que pessoas poderiam transmitir o coronavírus mesmo sem os sintomas da doença.
O Brasil fez 296 testes por milhão de habitantes. Basicamente, testou profissionais de saúde e pessoas com sintomas mais graves. Por comparação, os Estados Unidos fizeram mais de 7 mil testes por milhão. O Irã, fez mais de 2.700 testes por milhão de habitantes.
Assim, a pandemia avançou de maneira descontrolada pelo Brasil.
Matou médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, contaminados por não terem acesso a equipamento de proteção adequado.
Pacientes foram dispensados de internação por falta de vagas e filas se formaram para ter acesso a UTI, acarretando mortes em domicílio e falta de acesso a respiradores.
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Medidas tomadas por governadores foram tardias, especialmente os de estados mais pobres, com o surgimento de “hospitais” fantasmas, inaugurados sem respiradores ou profissionais de saúde.
Faltam médicos para atender no Amapá, por exemplo: a oferta é de contratos de três meses, com pagamento bruto total de 6 mil reais.
A presidir a esculhambação, um presidente da República que chamou o coronavírus de “gripezinha”, denunciou a “histeria” da mídia mundial, disse que a Itália era uma grande Copabacana — daí tantos mortos, por causa da idade — e assumiu para si, apesar de não ser médico, o receituário das drogas hidroxicloroquina e cloroquina, suspeitas de terem provocado mortes em cardíacos.
O presidente não só estimulou carreatas de apoiadores pela reabertura do comércio — em Manaus, apareceu em uma live do Facebook com participantes — como afastou o ministro da Saúde que seguia as orientações da Organização Mundial da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, um deputado obscuro que se converteu de forma oportunista em defensor do SUS.
Ainda assim a realidade tem uma forma terrível de alcançar a fantasia da jabuticaba brasileira e foi desfazendo uma a uma as teses bolsonaristas:
— que o coronavírus não se propagaria no calor, o que é desmentido pelos números de Manaus e Belém;
— que só mataria os mais velhos (o gráfico no topo mostra que, dos óbitos reconhecidos no Brasil, quase 30% são de pessoas de menos de 60 anos de idade);
— que hidroxicloroquina e cloroquina se mostrariam drogas “milagrosas”, uma besteira disseminada nos Estados Unidos pelo presidente Donald Trump e repetida aqui mimeticamente por Bolsonaro.
Há outras peculiaridades da jabuticaba brasileira, no entanto: por causa de um hiato entre a aplicação dos testes (quando eles existem) e a divulgação dos resultados, o reconhecimento tardio de casos afeta as projeções.
Curvas irregulares podem sugerir ao público que o pior já passou, até que os casos voltam a disparar.
Com dados ruins, os administradores da crise são tentados a chutar ou a atender pressões políticas.
O descontrole a que nos referimos está expresso em breve fala do doutor em microbiologia Atila Iamarino, da Universidade de São Paulo, que aparece abaixo.
Depois de ter tido a impressão de que controlara a curva, o Brasil tem hoje índice de 2 a 3 contaminados por pessoa — altíssimo — e, de acordo com o Imperial College de Londres, pode ter mais de 1 milhão de infectados, muitos dos quais assintomáticos, andando por aí e espalhando o vírus.
Comentários
marcio gaúcho
Atendemos, aqui em casa, ligação robótica do Ministério da Saúde, perguntando se alguém da casa estava com sintomas do Covid-19. Esse é o teste que está sendo aplicado pelo governo no controle da pandemia. Coisa de louco…
Ibsen
No Brasil, mais do que no n restante do mundo os dados virão por aproximação entre a média anual de mortos nós últimos anos e as mortes desse ano porque aí se incluirá também as mortes por outras doenças em que faltou o atendimento básico emergencial em virtude da sobrecarga do SUS.
Dizem que o vírus é democrático, mas sabemos que não é. Ele circula mais onde não se pode parar para sobreviver, dado a falta de respaldo mínimo dos governos federal, estaduais e municipais. Dele mata mais por falta de assistência em Saúde e colapso do sistema público de saúde preterido pelos governantes desde sempre.
Mas a negligência foi bem maior e fez com que, mesmo seguindo um mínimo de orientações da OMS, não conseguíssemos oferecer EPIs e proteção adequada aos profissionais que lidam diretamente e frequentemente com os doentes, daí o maior número de mortes entre os profissionais de saúde quando comparados com o resto do mundo. Muito provavelmente teremos também um percentual maior de mortes entre os contaminados que adquirem a forma mais grave da firma já que também não conseguimos adquirir equipamentos e medicamentos básicos para o suporte da vida. O Brasil, como sempre, trata seus pobres, idosos e indígenas com o desprezo de sempre.
Há uma propaganda odiosa circulando na tv aberta conclamando os jovens a fazer o Enem quando ele deveria ser adiado. Quem se beneficiará disso serão os filhos da elite que frequentam escolas privadas om uma estrutura muito melhor para suportar um ensino à distância de qualidade. Esses possuem em casa todas as condições para que seus filhos permaneçam em casa e estudando.
Ninguém, nem mesmo a mídia alternativa, ou quase toda ela, não disse palavra sobre esse descalabro.
Zé Maria
Zemavírus crava estupendos
91.618 Casos Suspeitos*
Sintomáticos de COVID-19
em Minas Gerais.
*Suspeitos = Com Sintomas mas Sem Teste,
portanto, Sem Confirmação.
Edgar Rocha
Hoje perdi uma pessoa querida. Minha irmã recebeu de manhã um zap avisando que minha vizinha – Dona Efigênia – teve sintomas cardíacos em casa, foi levada às pressas ao hospital e faleceu, sem direito a funeral ou um último olhar do e esposo, filhos e netos, sendo cremada às pressas. Não há diagnóstico de coronavírus, pelo que disse a filha. Foi tudo tão rápido e alucinado que estamos todos em choque. A simples desconfiança de que poderia ter sido o Covid-19 a causa da morte justificou atitudes atabalhoadas e insensíveis. A família se conforma diante dos riscos iminentes. Só é difícil controlar a dor. Ficamos sem sorriso da mineira típica que trabalhou a vida toda fazendo seus bolos e quitandas. Um beijo pra ela e pra toda a família.
Eu duvido que este caso vá se somar às outras mortes por Covid. Não há prova alguma. Quantos estão morrendo e sendo cremados nestas mesmas circunstâncias?
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