Dr. Rosinha chora a perda de Aldir Blanc: Dói demais

Tempo de leitura: 3 min
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Por Dr. Rosinha

Aldir Blanc

por Dr. Rosinha*

Para quem não sabe escrever sobre sentimentos, há uma alternativa: escrever de impulso, de supetão.

É sentir no coração e, se sentir vontade de chorar, chore.

Chore, firme a mão para não tremer e deixe as letras formarem palavras e, assim, ir construindo frases.

As frases podem ser resultado de sentimentos, mas tenha certeza: jamais refletirá todo o sentimento.

O sentimento é e será sempre maior do que a capacidade de escrever.

A dor pela perda de Aldir Blanc, somado ao horror do momento que passamos/vivemos, me torna incapaz de passar o que sinto.

Difícil escrever, fácil de chorar.

Desejo homenagear Aldir Blanc e, ao mesmo tempo, condenar o descaso dos nossos governantes.

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Não é só a morte de Aldir Blanc que nos aflige.

É a morte de milhares de pessoas.

É a morte que ronda todas as casas, principalmente a dos pobres e miseráveis.

É a morte do humanismo e da solidariedade.

É esse descaso que quero condenar. E, foi, também este descaso que condenou o querido Aldir Blanc.

Conheci O Bêbado e a Equilibrista, no final da década da década 1970, em Olinda, na barraca “O Bêbado e o Equilibrista”.

Lá se juntavam os comunistas, a esquerda da época e os progressistas para brincar o carnaval.

Diziam que a barraca era uma iniciativa do PCB e ficava instalada na Praça da Preguiça.

Foi nessa barraca, se não me falha a memória –  aliás, me deixa muito na mão — , que vi pela primeira vez Jarbas Vasconcelos.

Na ocasião,  soube  que a barraca era também frequentada por Roberto Freire e Marcus Freire.

Jarbas Vasconcelos e Roberto Freire que, diga-se de passagem, mais recentemente traíram a própria história.

Os dois deram o golpe contra Dilma e a democracia e ajudaram a construir com outros o monstro responsável pelos horrores que estamos vivendo.

Na construção do golpe, Roberto Freire declarou em 22 de setembro de 2015: “Se votarmos o impeachment, o governo que vier é responsabilidade nossa” .

Bolsonaro, portanto, é responsabilidade sua, Roberto Freire.

Será que hoje Jarbas e Freire choram a morte de Aldir?

Quando ouvi O Bêbado e a Equilibrista, já conhecia a dupla João Bosco-Aldir Blanc.

Não lembro –se na rádio ou na casa de alguém –onde e nem o ano que ouvi a dupla pela primeira vez.

Entraram em mim e comigo ficaram.

Na ocasião que os conheci, década de 1970, era um estudante sem dinheiro, e o pouco, que às vezes tinha, gastava-o comprando Long Plays (LPs).

Comprei muito pouco –o dinheiro era pouco –mas entre eles o “João Bosco”:

O tempo corre / e o suor escorre / vem alguém de porre / há um corre-corre / e o mocinho chegando / dando.

Não é novidade, mas é bom lembrar que O Bêbado e a Equilibrista, interpretada por Elis Regina em 1979, tornou-se na década de 1980 o nosso hino.

O hino na luta pela anistia aos perseguidos pela ditadura militar.

Gosto de tudo do Aldir Blanc.

Não tenho preferências, mas há um que me chama a atenção: Vida Noturna. É um CD que mostra outro Aldir, o Aldir cantando.

Na apresentação do CD, Heloisa Seixas escreve:

“Você, que está com este disco nas mãos, preste atenção. Procure manuseá-lo com cuidado, pois está tocando, neste exato instante, em algo cada vez mais raro hoje em dia: um espaço de delicadeza”.

Delicadeza que Aldir sempre construiu.

Delicadeza que ao tocar –rodar na vitrola, como se diria dos LPs –te toca:

Velhas ruas, / se essas pedras falassem / talvez até confirmassem / o que eu tenho pra dizer / … De dor algumas pedras estão mudas, algumas choram, outras gritam.

No momento que os símbolos –bandeira e hino –nacionais foram apoderados pelos fascistas, como o foram durante a ditadura militar, é importante lembrar que Aldir usou um verso do Hino Nacional de maneira irônica para denunciar que brasileiros e brasileiras eram assassinados pela ditadura e que havia exilados e exiladas:

Mas sei que uma dor assim pungente / Não há de ser inutilmente / A esperança / Dança na corda bamba de sombrinha / E em cada passo dessa linha / Pode se machucar…

Aldir que começa com desalento O Bêbado e a Equilibrista, termina-a com uma mensagem de esperança:

Azar! / A esperança equilibrista / Sabe que o show de todo artista / Tem que continuar.

Adeus Aldir.

Aldir, enquanto chorava sua morte, sou informado que Flávio Migliacio também partiu. Vamos chorar juntos.

Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017).  De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.

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Dr. Rosinha

Médico pediatra e militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.


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Comentários

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Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1257432482041004036

“Deixem o Ator em Paz!
O Ator não oferece Perigo.
O Ator é um Sonhador …
Ele não oferece perigo nenhum
Ele quer sonhar, só,
Quer conhecer outros mundos …
Então, deixem ele em paz, por favor”…

Flávio Migliaccio (1934-2020)
Brasileiro, Ator, Diretor, Roteirista
Troféu APCA/TV 2019 (Órfãos da Terra),
interpretando Mamede Al Aud,
Imigrante Palestino.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A1vio_Migliaccio#Teatro

a.ali

sim, difícil de escrever, fácil de chorar!

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