Por Dr. Rosinha
Aldir Blanc
por Dr. Rosinha*
Para quem não sabe escrever sobre sentimentos, há uma alternativa: escrever de impulso, de supetão.
É sentir no coração e, se sentir vontade de chorar, chore.
Chore, firme a mão para não tremer e deixe as letras formarem palavras e, assim, ir construindo frases.
As frases podem ser resultado de sentimentos, mas tenha certeza: jamais refletirá todo o sentimento.
O sentimento é e será sempre maior do que a capacidade de escrever.
A dor pela perda de Aldir Blanc, somado ao horror do momento que passamos/vivemos, me torna incapaz de passar o que sinto.
Difícil escrever, fácil de chorar.
Desejo homenagear Aldir Blanc e, ao mesmo tempo, condenar o descaso dos nossos governantes.
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Não é só a morte de Aldir Blanc que nos aflige.
É a morte de milhares de pessoas.
É a morte que ronda todas as casas, principalmente a dos pobres e miseráveis.
É a morte do humanismo e da solidariedade.
É esse descaso que quero condenar. E, foi, também este descaso que condenou o querido Aldir Blanc.
Conheci O Bêbado e a Equilibrista, no final da década da década 1970, em Olinda, na barraca “O Bêbado e o Equilibrista”.
Lá se juntavam os comunistas, a esquerda da época e os progressistas para brincar o carnaval.
Diziam que a barraca era uma iniciativa do PCB e ficava instalada na Praça da Preguiça.
Foi nessa barraca, se não me falha a memória – aliás, me deixa muito na mão — , que vi pela primeira vez Jarbas Vasconcelos.
Na ocasião, soube que a barraca era também frequentada por Roberto Freire e Marcus Freire.
Jarbas Vasconcelos e Roberto Freire que, diga-se de passagem, mais recentemente traíram a própria história.
Os dois deram o golpe contra Dilma e a democracia e ajudaram a construir com outros o monstro responsável pelos horrores que estamos vivendo.
Na construção do golpe, Roberto Freire declarou em 22 de setembro de 2015: “Se votarmos o impeachment, o governo que vier é responsabilidade nossa” .
Bolsonaro, portanto, é responsabilidade sua, Roberto Freire.
Será que hoje Jarbas e Freire choram a morte de Aldir?
Quando ouvi O Bêbado e a Equilibrista, já conhecia a dupla João Bosco-Aldir Blanc.
Não lembro –se na rádio ou na casa de alguém –onde e nem o ano que ouvi a dupla pela primeira vez.
Entraram em mim e comigo ficaram.
Na ocasião que os conheci, década de 1970, era um estudante sem dinheiro, e o pouco, que às vezes tinha, gastava-o comprando Long Plays (LPs).
Comprei muito pouco –o dinheiro era pouco –mas entre eles o “João Bosco”:
O tempo corre / e o suor escorre / vem alguém de porre / há um corre-corre / e o mocinho chegando / dando.
Não é novidade, mas é bom lembrar que O Bêbado e a Equilibrista, interpretada por Elis Regina em 1979, tornou-se na década de 1980 o nosso hino.
O hino na luta pela anistia aos perseguidos pela ditadura militar.
Gosto de tudo do Aldir Blanc.
Não tenho preferências, mas há um que me chama a atenção: Vida Noturna. É um CD que mostra outro Aldir, o Aldir cantando.
Na apresentação do CD, Heloisa Seixas escreve:
“Você, que está com este disco nas mãos, preste atenção. Procure manuseá-lo com cuidado, pois está tocando, neste exato instante, em algo cada vez mais raro hoje em dia: um espaço de delicadeza”.
Delicadeza que Aldir sempre construiu.
Delicadeza que ao tocar –rodar na vitrola, como se diria dos LPs –te toca:
Velhas ruas, / se essas pedras falassem / talvez até confirmassem / o que eu tenho pra dizer / … De dor algumas pedras estão mudas, algumas choram, outras gritam.
No momento que os símbolos –bandeira e hino –nacionais foram apoderados pelos fascistas, como o foram durante a ditadura militar, é importante lembrar que Aldir usou um verso do Hino Nacional de maneira irônica para denunciar que brasileiros e brasileiras eram assassinados pela ditadura e que havia exilados e exiladas:
Mas sei que uma dor assim pungente / Não há de ser inutilmente / A esperança / Dança na corda bamba de sombrinha / E em cada passo dessa linha / Pode se machucar…
Aldir que começa com desalento O Bêbado e a Equilibrista, termina-a com uma mensagem de esperança:
Azar! / A esperança equilibrista / Sabe que o show de todo artista / Tem que continuar.
Adeus Aldir.
Aldir, enquanto chorava sua morte, sou informado que Flávio Migliacio também partiu. Vamos chorar juntos.
Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.
Dr. Rosinha
Médico pediatra e militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.
Comentários
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1257432482041004036
“Deixem o Ator em Paz!
O Ator não oferece Perigo.
O Ator é um Sonhador …
Ele não oferece perigo nenhum
Ele quer sonhar, só,
Quer conhecer outros mundos …
Então, deixem ele em paz, por favor”…
Flávio Migliaccio (1934-2020)
Brasileiro, Ator, Diretor, Roteirista
Troféu APCA/TV 2019 (Órfãos da Terra),
interpretando Mamede Al Aud,
Imigrante Palestino.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A1vio_Migliaccio#Teatro
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1258016512201363456
Mensagem a Flávio Migliaccio
do Nonagenário Ator Lima Duarte.
https://twitter.com/HenriqueFontana/status/1258016512201363456
Zé Maria
http://globotv.globo.com/rede-globo/memoria-globo/v/shazan-xerife-os-dois-as-voltas-com-a-camicleta/2762333/
http://globotv.globo.com/rede-globo/memoria-globo/v/webdoc-humor-shazan-xerife-cia-1972/2105703/
a.ali
sim, difícil de escrever, fácil de chorar!
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