Pimenta: Política desumana de Bolsonaro leva trabalhadores brasileiros à escravidão do século 19
Tempo de leitura: 4 min1º de Maio: um dia de lutas, um dia de lutadores
por Paulo Pimenta*, exclusivo para o Viomundo
“Que se liberte o fogo onde o fogo for necessário para que se ouça a voz dos que sacodem, ainda inocentes de sua força, as estruturas dessa edificação em véspera de ruína…” (Pedro Tierra).
Somos herdeiros de séculos de lutas contra a exploração econômica e a opressão política do capital.
Neste 1º de Maio de 2020, em meio à pandemia de coronavírus, abrimos as janelas físicas e virtuais e nossos corações para dar testemunho das lutas das trabalhadoras e dos trabalhadores.
Em defesa da democracia, das liberdades, dos direitos conquistados e, fundamentalmente, em defesa da vida, contra a barbárie neoliberal e a morte que assolam o mundo.
Os movimentos sindicais e populares se manifestam – ainda que sob a máscara que nos protege contra a pandemia – contra o assalto aos direitos dos assalariados promovido pelo governo neofascista.
Escravidão
Governo fruto do golpe e da fraude, num processo que atropelou a soberania popular, depôs uma presidenta eleita com 54 milhões de votos e encarcerou em Curitiba, por 580 dias, a maior liderança popular da história do Brasil.
Um golpe para impor aos trabalhadores as reformas trabalhista e previdenciária, ao lado de um conjunto de outros profundos retrocessos.
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O que assistimos neste 1º de Maio são os efeitos mais duros de uma política desumana que levou os trabalhadores brasileiros a condições semelhantes àquelas da escravidão vigente no final do século XIX, além de colocar suas vidas em jogo.
É uma data que será marcada em todo o planeta, e no Brasil não será diferente, pela resistência e a defesa da vida acima do lucro.
Plutocracia
Passados três anos desde o 17 de abril de 2016, quando os esbirros da plutocracia abriram caminho para o golpe de Estado que prometia ao País “uma ponte para o futuro”, com o afastamento da presidenta legítima Dilma Rousseff, foi restaurado no Brasil o mais feroz sistema de exploração do trabalho desde que o primeiro negro foi levado a leilão no Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, em 1758.
Desemprego, precarização, abolição de direitos, fim do descanso semanal remunerado, trabalho intermitente, fim do 13º salário. Essa é a face real do futuro prometido pelos patrões à classe trabalhadora brasileira.
Neste 1º de Maio de 2020, eis-nos frente à frente com aquele futuro que não é senão um passado que se recicla para restaurar relações sociais que o tempo havia sepultado.
Uma espécie de passado contínuo que atormenta a história do Brasil e utiliza-se, hoje, da mais avançada tecnologia digital para submeter uma jovem classe trabalhadora pulverizada, mantida na ignorância sobre os meios e métodos contemporâneos de exploração do seu trabalho, filha da transição entre a sociedade das grandes plantas industriais e a consolidação da economia de serviços.
Máquina de extorsão
Uma jovem classe trabalhadora devolvida ao estágio mais primitivo da luta individual pela sobrevivência.
Desprovida de instrumentos adequados para se defender contra a máquina impessoal de extorsão quotidiana de sua força de trabalho.
Um método de exploração que, ao mesmo tempo, lhe subtrai os meios eficazes para qualquer ação coletiva e limita seu horizonte para nada além da marmita requentada de amanhã.
Abrimos essa terceira década do século XXI no Brasil sob uma ofensiva maciça do capital contra a classe trabalhadora.
Aqui, diferentemente de outros países onde a classe trabalhadora alcançou níveis mais elevados de educação, mobilização e organização, o desenvolvimento tecnológico não resultou em condições dignas de trabalho, não ampliou o tempo de ócio para a esmagadora maioria da população, nem melhorou sua qualidade de vida.
Exploração como no século XIX
Antes, agravou o padrão de exploração. Hoje, as novas tecnologias aboliram a jornada de trabalho de oito horas diárias, a bandeira que mobilizou o movimento operário por 150 anos. Estamos de volta aos desafios vividos pelos operários dos Estados Unidos no século XIX.
Em 1886, em Chicago, nos conflitos de rua durante a greve pela conquista da jornada de 8 horas diárias de trabalho, foram presos pela polícia e levados a julgamento os líderes do movimento: August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb. Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel.
Lá, como aqui, 132 anos depois, na condenação de Lula, o julgamento não obedeceu nem prazos, nem ritos.
Provas e testemunhas foram inventadas. Parsons, Engel, Fischer, Lingg e Spies foram condenados à morte, Fieldem e Schwab à prisão perpétua e Neeb a quinze anos.
A eles devemos a conquista da jornada de 8 horas.
Hoje, no Brasil, o capital que promoveu o golpe, sustentou o governo Temer e hoje mantém o governo de liquidação nacional de Jair Bolsonaro, destruiu essa conquista por meio da terceirização, precarização dos contratos de trabalho e demissões que já elevaram o número de desempregados a mais de 12 milhões de pais e mães de família.
Exploração do capital financeiro
Frente à pandemia de coronavírus, aos atos de pirataria do império e ao egoísmo do capital financeiro, a sociedade mundial passou a refletir sobre a verdadeira natureza do sistema neoliberal, fundado na desigualdade e exploração extremas, sem compromisso com as vidas humanas.
Do mesmo modo, no Brasil, a sociedade começa a se dar conta sobre a importância dos direitos trabalhistas, da seguridade social, da garantia de renda mínima, de trabalho e salário dignos, da proteção ao trabalhador, da pesquisa e da saúde públicas, em suma, de um Estado forte e a serviço da população.
Os trabalhadores do Brasil, por meio de suas organizações sindicais, populares, seus partidos e as frentes Brasil Popular, Povo sem Medo e Frente Ampla pela Democracia se unificam neste dia de luta, levantando a voz contra as políticas neoliberais, a ofensiva neofascista e autoritária, a necropolítica, e se somam às inúmeras manifestações e laços de solidariedade e em defesa da vida do povo brasileiro.
1º de Maio Unificado! Nenhum Direito a menos!
Vidas Importam! Fora,Bolsonaro!
*Paulo Pimenta é deputado federal (PT/RS)
Comentários
Zé Maria
“E agora eu digo a todos:
Não Vacilem!
Exponham as Desigualdades do Capitalismo!
Protestem contra a Tirania do Governo!
Denunciem a Ganância, a Crueldade,
as Abominações da Classe Privilegiada
que se deleita com o Trabalho
de seus Escravos Assalariados!
Adeus!”
Albert Richard Parsons (20/06/1848 – 11/11/1887)
No Trecho Final da Carta aos Trabalhadores,
escrita no Corredor da Morte, publicada no
Semanário “The Alarm” *, em Novembro/1887,
uma semana antes do seu Enforcamento.
* “To Our Readers”, The Alarm, vol. 1, nº 1
(5 de novembro de 1887), pág. 2)
https://www.loc.gov/item/sn94095384/
https://en.wikipedia.org/wiki/Albert_Parsons
https://en.wikipedia.org/wiki/Lucy_Parsons
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