Decisão do CFM sobre hidroxicloroquina deixa dúvida: paciente isolado vai monitorar o próprio coração?

Tempo de leitura: 4 min
Reprodução

Não existe nenhuma evidência científica forte que sustente o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid. É uma droga utilizada para outras doenças já há 70 anos, mas em relação ao tratamento da Covid não existe nenhum ensaio clínico prospectivo e randomizado, feito por grupos de pesquisadores de respeito, publicado em revistas de ponta, que aponte qualquer tipo de benefício do uso da hidroxicloroquina no tratamento. Mauro Luiz Britto Ribeiro, presidente do Conselho Federal de Medicina.

Da Redação

Apesar da declaração acima, o Conselho Federal de Medicina liberou a receita da hidroxicloroquina inclusive para casos leves da covid-19, depois de reunião com o presidente Jair Bolsonaro.

“Quando o paciente tem sintomas leves, parecidos com o da gripe comum. Nesse caso, o médico pode usar a hidroxicloroquinha, descartando a possibilidade de que o paciente tenha: influenza A ou B, dengue, ou H1N1. Também nesse caso, a decisão deve ser compartilhada com o paciente”, decidiu o CFM.

O Brasil não tem testes suficientes para aplicar em pacientes com “sintomas leves” e, portanto, o médico não terá como confirmar a doença.

Assim, tudo indica que a receita vai depender da capacidade de convencimento do médico ou do paciente.

Resumindo grosseiramente: vai ser no chute.

Além do mais, como um paciente em isolamento social vai monitorar o próprio coração, já que ele e seu médico presumem que está contaminado?

Nos Estados Unidos, o Centers for Disease Control, mesmo sob pressão do presidente Donald Trump, disse que não há evidências de que a hidroxicloroquina seja vantajosa.

Um médico que trabalhou contra a recomendação do CDC foi afastado de seu cargo e denunciou ao New York Times que houve compadrio político para tentar investir dinheiro público em tratamentos não comprovados.

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O maior estudo realizado até agora em pacientes com sintomas avançados, nos Estados Unidos, demonstrou que aqueles que tomaram a hidroxicloroquina não foram beneficiados.

Ainda assim, por envolver apenas 386 pacientes e se basear no histórico hospitalar, o estudo dos EUA não é considerado definitivo.

Outros testes, mais amplos e rigorosos, estão sendo realizados com a hidroxicloroquina em todo o mundo.

Os riscos são evidentes.

O caso mais recente no Brasil envolveu a morte do jornalista Renan Antunes de Oliveira, em Florianópolis.

Ele acreditava sofrer da covid-19 e tomou um coquetel de hidroxicloroquina com azitromicina.

A combinação foi fortemente recomendada pelo presidente Donald Trump em aparições televisivas nos Estados Unidos, apesar dele não ser médico.

O presidente Jair Bolsonaro também promove o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina. Ele também não é médico.

O coração de Renan não resistiu

O caso do jornalista Renan Antunes de Oliveira foi narrado no site Pragmatismo Político:

Coquetel à base de cloroquina matou o jornalista Renan Antunes

Jornalista apresentou sintomas de coronavírus e realizou bateria de exames em hospital de Florianópolis. Médicos o receitaram coquetel à base de cloroquina e o mandaram de volta para casa. Na véspera de seu falecimento, veio o resultado negativo para Covid-19. Era tarde demais

Faleceu no último domingo (19) o jornalista Renan Antunes de Oliveira, de 70 anos. Ele foi vencedor de prêmios importantes do jornalismo brasileiro, como o Esso de Reportagem Nacional, com “A Tragédia de Felipe Klein”, publicada em 2004 no Jornal Já, um pequeno veículo de Porto Alegre.

“Ele tinha amor pela verdade, pelo jornalismo de raiz. Ia até o fim pela pauta. Extremamente inteligente, humor afiado, carinhoso e parceiro. Queria combater as injustiças sociais e usou a ferramenta do jornalismo para fazer isso até o fim da vida. Que o seu legado fique para os jovens jornalistas que estão chegando, principalmente o olhar mais atento para o social”, afirma a sobrinha, a jornalista Edith Auler, 41.

Renan teve passagens pelas revistas Veja e IstoÉ, e pelos jornais Diário Catarinense, Gazeta do Povo e O Estado de S. Paulo. Atualmente, ele fazia reportagens para o site Diário do Centro do Mundo (DCM).

Kiko Nogueira, editor do DCM, revelou que o amigo estava tomando um coquetel à base de hidroxicloroquina e azitromicina e teve uma parada cardíaca.

“Na semana passada, Renan baixou no Imperial Hospital de Caridade, em Florianópolis, com suspeita de coronavírus. Fez uma tomografia dos pulmões e tinha os sintomas da covid-19. Os médicos receitaram-lhe, então, as drogas. Nem ele e nem a mulher, Blanca, assinaram termo de responsabilidade. Foram mandados para casa. Na véspera de seu falecimento, cinco dias após o início desse tratamento, veio o resultado negativo para coronavírus”, contou Nogueira.

Renan fez um transplante de rim no mês passado e estava tomando imunossupressores como prednisona, sirolimo e tacrolimo, que baixam a imunidade. A esposa diz que essas informações foram passadas à equipe médica. A maioria desses medicamentos, combinados com a hidroxicloroquina, causa, entre outras coisas, arritmia cardíaca.

“Essa interação medicamentosa matou Renan. Só deveria ser realizada em ambiente hospitalar. É uma barbaridade o que fizeram”, diz Marcos Caseiro, médico infectologista e professor universitário, ele mesmo curado da Covid-19. A combinação é também desaconselhada pelo site Drug Interaction Checker.

O colega e jornalista Moisés Mendes conta que conversou com Renan há três semanas. “Ele estava faceiro com a vida nova [pós-transplante]. Perguntei como ele se cuidava, me disse que tomava remédios para a rejeição e fez uma declaração que é o que me revolta agora: ‘Não tenho medo da rejeição, porque os medicamentos são de última geração. Tenho medo dessa merda desse vírus’”.

Renan Antunes deixa a mulher, Bianca, e seis filhos: Floriano, Leonel, Jerônimo, Catarina e Bruno, mais a caçula Angelina, de 11. O site DCM realiza um crowdfunding para ajudar a família do jornalista. Caso você possa fazer uma doação, o endereço está aqui.

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Comentários

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Zé Maria

” ‘Se não der certo, a gente recua’.
Essa frase do ministro da Saúde
sobre a flexibilização do isolamento
dá a medida do desprezo do
governo Bolsonaro pela Vida”

Deputado Federal Marcelo Freixo (PSoL=RJ)
https://twitter.com/MarceloFreixo/status/1253079806578765826

Zé Maria

A Eugenia tá Acelerando. O “Programa Solução Final” é um Sucesso.

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