Hospitais rejeitam pacientes, prefeitura adota enterro em trincheiras em Manaus e conselheiro da Saúde teme pandemia fora do radar no interior do Amazonas; vídeos
Tempo de leitura: 3 minDa Redação
O Amazonas corre o risco de viver uma pandemia “fora do radar” oficial das autoridades e da mídia brasileira, estima o presidente do Conselho Municipal da Saúde de Manaus, Jorge Carneiro.
Médico veterinário, ele é fiscal de saúde do Departamento de Vigilância Sanitária da Prefeitura de Manaus, representante dos trabalhadores no Conselho e atual presidente.
Os conselhos de saúde são órgãos “colegiados, deliberativos e permanentes” do Sistema Único de Saúde (SUS).
De sua posição, Jorge tem acesso a informações não só de Manaus, mas de colegas conselheiros que atuam no interior do Amazonas.
Oficialmente, o estado registrou, até o dia 20, 2.160 casos de coronavírus, com 185 mortes.
Mas há indícios de que o número é bem maior, por causa do aumento do número de enterros no cemitério Nossa Senhora Aparecida, no bairro do Tarumã, o maior de Manaus.
A Secretaria Municipal de Limpeza Urbana instalou duas câmaras frigoríficas no cemitério para poder liberar os carros funerários.
Ainda que o número de casos não tenha atingido o pico, Jorge Carneiro afirma que os hospitais de Manaus já estão rejeitando pacientes.
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A pandemia começou por bairros nobres da capital, que concentra todos os leitos de UTI do Amazonas.
A preocupação de Jorge é quando o vírus chegar com força aos bairros pobres e mais populosos de Manaus — a Cidade de Deus, uma das maiores favelas do Brasil, tem perto de 100 mil habitantes.
Vinte e nove pacientes morreram no interior do Amazonas, de acordo com os números oficiais: Manacapuru (13), Iranduba (3), Parintins (3), Maués (2), Itacoatiara (1), Presidente Figueiredo (1), Tabatinga (1), Careiro Castanho (1), Tefé (1), Novo Airão (1), Carauari (1) e Manicoré (1).
Tabatinga, por exemplo, fica a mais de mil quilômetros em linha reta de Manaus — o que indica que o vírus viajou longe.
Jorge demonstra preocupação com os profissionais de saúde das unidades básicas de saúde do interior, praticamente desprovidos de equipamento de proteção.
O conselheiro tem conhecimento de pacientes que já foram rejeitados em hospitais da capital e mandados de volta para casa.
Por isso, teme que a pandemia terá um grande número de subnotificações no Amazonas e vai passar ao largo do radar tanto de autoridades de saúde quanto da mídia, especialmente no interior.
Na capital a situação é caótica.
Tanto que a Assembleia Legislativa aprovou pedido de intervenção federal na Saúde por 13 votos a 1, com 1 abstenção e nove ausentes.
No documento encaminhado ao presidente Jair Bolsonaro, os deputados alegaram que “verifica-se que o planejamento e execução da gestão da saúde em nosso Estado ocorre de forma desordenada e ineficiente. Vale destacar que os principais prontos-socorros da cidade de Manaus estão funcionando para atender pacientes de Covid-19, mas atendem também pacientes de urgência e emergência com problemas vasculares e cardíacos, motivo pelo qual ocorre transmissão do novo coronavírus, agravando o quadro de muitos pacientes e levando-os à óbito”.
Há vários motivos para preocupação, alerta o conselheiro Jorge Carneiro.
Não existem testes para confirmar casos de coronavírus e, a seguir assim, é possível que muitos pacientes morram em casa, sem diagnóstico e correndo o risco de contaminar outras pessoas.
Jorge diz que a pandemia chegou ao Brasil com um Sistema Único Saúde fragilizado pelo histórico subfinanciamento, que se agravou com a emenda do teto de gastos aprovada no governo Temer.
Na avaliação dele, sistemas já extremamente fragilizados, como o do Amazonas, vão colapsar rapidamente se não houver forte isolamento social — o que não se vê em Manaus.
Das maiores cidades do Amazonas, só Coari ainda não tem um caso oficialmente confirmado.
Parintins, de cerca de 150 mil habitantes, sem ligação rodoviária com a capital, já registrou três mortes — a cidade não tem UTI e por ação do Ministério Público alguns pacientes em estado grave foram transferidos de avião para Manaus.
Para complicar ainda mais, o governo do Amazonas está às voltas com uma denúncia de que pagou R$ 104 mil reais por aparelhos BiPap da empresa Resmed, que na verdade custam R$ 25 mil.
Os aparelhos, instalados num hospital recém aberto, não seriam adequados para a ventilação mecânica exigida em casos mais graves da covid-19.
Em nota, o governo de Wilson Miranda Lima (PSC) disse que foi obrigado a pagar a um intermediário o preço de mercado:
A compra de insumos e equipamentos para enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) é uma dificuldade para o Amazonas e para outros estados do Brasil, uma vez que viabilizar essas aquisições é motivo de disputa no mundo inteiro. Além disso, é fato que fornecedores elevaram os preços dos produtos necessários para o enfrentamento da pandemia.
Vale a pena ver a entrevista completa do presidente do Conselho Municipal de Saúde de Manaus (vídeo no topo) para ter uma ideia da gravidade da situação.
Comentários
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/EULdUJdXgAIF1b-?format=jpg
Plano de Contingência do desgoverno Bolsonaro/Guedes/Moro/Teich
para as Regiões Centro-Oeste, Norte/Nordeste, Sul/Sudeste do Brasil.
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