Trump e Obama from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.
Da Redação
Jair Bolsonaro é o tiozão tosco do whatsapp, que se elegeu sem participar de um só debate.
Donald Trump é o con man dono de cassinos, escorregadio, experimentado apresentador do The Apprentice. Um showman.
O assessor intelectual de Bolsonaro é especialista em cú: o “filósofo” Olavo de Carvalho, que faz vaquinha para pagar tratamento médico nos Estados Unidos.
O mentor eleitoral de Trump foi Steve Bannon, o esperto vendedor de enciclopédia que se juntou a biliardários para fundar uma Internacional do Fascismo.
Ambos, Trump e Bolsonaro, não levaram a pandemia de coronavírus a sério, como é possível constatar nos vídeos acima.
Ambos se elegeram tirando proveito da era do sound bite e da lacração nas redes sociais.
Sound bite é, como a tradução literal explica, o som que morde, a frase de efeito.
A lacração nas redes sociais soma o senso comum com o impulsionamento dos robôs e faz de uma meia verdade ou de uma mentira descarada um meme absoluto.
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Em seu primeiro discurso sobre o coronavírus em rede nacional de TV, Jair Bolsonaro afirmou que não fazia sentido fechar as escolas, já que os grupos de risco são de pessoas de mais de 60 anos.
Senso comum.
Subjacente à afirmação está a verdade de que as crianças ou adolescentes podem funcionar como hospedeiros do coronavírus e fazer a transmissão assintomática para os mais velhos ou vulneráveis quando voltarem para casa.
Num quadro de falta de respiradores ou de UTIs, ter as crianças como vetores de infecção ameaça colapsar o sistema de saúde — que é justamente o que se tenta evitar em todo o mundo.
O colapso de hospitais não só aumenta o número de mortes: aumenta o risco de contágio de médicos e enfermeiros e transforma os próprios hospitais em centros de disseminação da doença, como se viu na Itália.
Mas o bolsonarista ligeiro abraçou a causa do capitão, em ao menos um caso com consequências trágicas: a própria morte.
Foi este caso: Kalbrenner Feitosa morreu… de coronavírus.
O presidente Donald Trump, depois de dizer que talvez “por milagre” o vírus sumiria dos Estados Unidos, quando os casos eram poucos, abraçou a recomendação de seus assessores de saúde, especialmente do dr. Anthony Fauci, chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas.
Porém, ao fazer isso, Trump contrariou parte significativa de sua base política terraplanista, xenofóbica e negacionista.
O dr. Fauci foi vítima de ataques nas redes sociais e de ameaças que o obrigaram a dispor de seguranças armados.
Tudo por causa de um e-mail elogioso que, no passado, escreveu à senadora Hillary Clinton.
Em mais de uma oportunidade, educadamente, Fauci discordou de Trump nas entrevistas coletivas oficiais — por exemplo, sobre o uso de cloroquina e a pretensão de Trump de abrir a economia “com as igrejas cheias” no domingo de Páscoa.
Trump parece ter se conformado com o fato de que suas aparições para falar sobre o coronavírus bateram recordes de audiência e deram a ele, inclusive, o que os americanos chamam de “bump”, salto, de popularidade.
Ele se vestiu de “presidente de guerra”, war president, algo que garantiu a popularidade de Franklin Delano Roosevelt e George Bush filho.
Agora, no entanto, caiu a ficha nos Estados Unidos, depois que 30 mil concidadãos perderam a vida.
Joe Biden tornou-se o candidato do Partido Democrata à Casa Branca e, numa manobra acelerada nos bastidores pelo ex-presidente Barack Obama, obteve o apoio público dos rivais Bernie Sanders e Elizabeth Warren, senadores que ocupam a faixa esquerda do partido.
Na média das pesquisas eleitorais, Biden tem 5,5% de vantagem sobre Trump.
Assustado, Trump decidiu abraçar de vez sua base, sem a qual não se reelege: atacou a China e a Organização Mundial de Saúde como bodes espiatórios, para explicar seus próprios fracassos em frear a doença; aposta em drogas não testadas como solução para a pandemia — como a cloroquina — e pressiona pela reabertura da economia para atender a seus financiadores de campanha.
Como no Brasil, apoiadores de Trump já foram às ruas contestar o isolamento social, no estado decisivo de Michigan.
Trump pretende reabrir a economia dos Estados Unidos a partir de primeiro de maio, mas neste caso enfrenta o desafio do governador de Nova York, Andrew Cuomo, que estendeu o isolamento social até o dia 15 do mesmo mês.
Será uma queda de braço, inclusive sobre o poder constitucional de presidente e governadores — exatamente como acontece no Brasil.
Cuomo, que se tornou imensamente popular pela forma como enfrentou a matança no estado de Nova York — com um misto de Ciência e apelos emocionais — tem autoridade moral para enfrentar Trump, assim como os governadores do Brasil enfrentam Bolsonaro.
Lá, o embate terá consequências imediatas na campanha.
Se as manobras políticas de Trump não conseguirem atribuir a terceiros as falhas grosseiras no enfrentamento da pandemia e a culpa pelo grande número de mortos, o mentor de Jair Bolsonaro corre sério risco de não se reeleger.
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