Daniel Valença: Por que tantas mortes nos Estados Unidos?

Tempo de leitura: 3 min
Em Wuham, na China, um hospital foi construído em 10 dias. Em Nova York, nos EUA, mortos pelo covid-19, estão sendo enterrados em valas. Fotos: BBC e reprodução de vídeo

Capitalismo ou segurança sanitária: que modelo econômico para vencer a pandemia e satisfazer as necessidades humanas?

por Daniel Valença, especial para o Viomundo

A narrativa bolsonarista, com o passar dos dias, se desmancha no ar.

Chamam o coronavírus de “vírus chinês”, mas a verdade é que o trabalhador médio chinês tem mais chance de sobreviver que o trabalhador médio americano.

A China, mesmo tendo sido pega de surpresa pelo vírus, tem 83.134 casos confirmados, dos quais 77.956 se recuperaram; 3.343 foram a óbito.

Enquanto isso, os Estados Unidos, atingidos mais tardiamente pela pandemia, já têm 530.830 pessoas infectadas, 33.314 curadas e 20.646 óbitos.

Peguemos a Argentina, país com características semelhantes às do Brasil.

Lá, o governo Fernando Fernandes/Cristina Kirchner garantiu estabilidade provisória nos empregos, com manutenção de salários e renda mínima a trabalhadores informais, assegurando um isolamento social real ao conjunto de sua população.

Com 2.142 casos confirmados e 90 óbitos, nosso país irmão revela um contraste tremendo com o Brasil, onde temos 21.042 casos confirmados e 1.144 óbitos.

A Venezuela, acusada recentemente de viver uma crise humanitária provocada pelo governo Maduro, determinou um forte isolamento social e assegurou estabilidade provisória aos seus trabalhadores, salários e um potente mecanismo de distribuição de alimentos. Carrega consigo 9 mortes e 175 pessoas infectadas.

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Agora, se nos debruçarmos sobre todos os países  com mais de 200 pessoas infectadas, veremos que o único sem vítimas até o momento é o socialista Vietnã, com 260 pessoas infectadas e 144 curadas.

O que faz então países como China, Venezuela ou Vietnã terem resultados positivos, enquanto EUA, maior economia do mundo, nem tanto?

O ponto distinto, além de um sistema de saúde voltado à população e não às empresas do setor, parece ser a possibilidade de ação coletiva, dirigida por um Estado que não coloca os lucros acima da vida.

Vejamos o caso do Vietnã.

Os analistas internacionais consideram-no modelo de combate ao coronavírus de mais baixo custo.

Isso porque, embora ainda seja um país emergente e em piores condições que o Brasil, a pandemia foi levada a sério desde o início pelo governo socialista.

No final de janeiro, o Primeiro Ministro  do Vietnã declarou que não esperaria a epidemia explodir para tomar medidas.

Assim, o isolamento social foi logo adotado e todos os infectados ou suspeitos de terem contraído a doença tiveram seus contatos prévios rastreados e monitorados.

Toda a população passou a usar máscaras e o país também começou a negar a entrada e os vistos de turismo a cidadãos europeus, por um período de 30 dias.

Os passageiros provenientes de China, Coréia do Sul e Reino Unido foram colocados em quarentena e testados para coronavírus.

Outro fator importante: o duro combate às fake news, tal como covid-19 é uma “gripezinha”.

Por último, o país do sudeste asiático — cujo PIB per capita é quase quatro vezes menor do que o do Brasil — pretende promover um pacote emergencial de 2,73 bilhões de dólares para todos os afetados pela pandemia nos próximos três meses.

Portanto, o planejamento econômico — tão demonizado pelos países liberais e do centro capitalista, como os EUA — tem sido o principal instrumento dos países citados para cuidar melhor do povo no combate aos efeitos do covid-19. É este o “vírus chinês” que tanto atormenta os bolsonaristas.

Mas a pandemia nos revela muito mais do que a necessidade de derrotar a extrema-direita e o neoliberalismo.

É hora, também, de recuperar o horizonte socialista, de uma sociedade voltada para as necessidades humanas, além do álcool gel. Ou seja, voltada à cultura, aos esportes, à educação, ao lazer e quantas mais necessidades surjam.

É preciso, finalmente, derrotar o vírus que já produziu milhões de vítimas: o capitalismo.

*Daniel Araújo Valença, professor do curso de Direito da UFERSA, vice-presidente do PT/RN.

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Comentários

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Nelson

Muito bom artigo. Coloca o dedo na ferida, onde dói, dói muito, nos capitalistas, privatistas, liberais, neoliberais e quetais. Falo aqui da questão do Estado.

Eles querem manter seus dogmas que pregam o Estado mínimo, porque é crucial para que o capitalismo se mantenha e se perpetue. O Estado que eles pregam é mínimo para o povão em geral, ou seja, para 98% ou mais da população. Para os ricos, para o capital, o Estado dessa turma é máximo. O Estado-babá, como afirma Noam Chomsky.

Então, a recomposição e reconstrução das instâncias públicas e estatais, cruciais para o bem-estar e a segurança sanitária da população, como a crise da covid-19 está a demonstrar, vai exigir que o Estado passe a, realmente, cumprir a sua função. A função de atender aos interesses e necessidades do conjunto da população. Este raciocínio vale para qualquer país, não só para o nosso Brasil.

É este o ponto. Com um Estado voltado ao todo, os ricos, o grande capital, se verão obrigados a “desmamarem”. Terão que aceitar que as imensas benesses que recebem, há décadas e décadas – isenção ou redução de impostos e empréstimos altamente subsidiados, etc, que turbinam seus lucros – deverão se reduzir bastante ou mesmo ser eliminadas.

Nessa condição, se verão testados e obrigados comprovar se seu sucesso é advindo de uma grande capacidade empreendedora ou da velha e sempre bem-vinda. muito bem aceita, muleta do Estado.

Por outro lado, espero, professor Valença, que o seu partido deixe de sonhar com liberalismos ou neoliberalismos como solução, como tem feito nos seus governos, e passe a aplicar uma agenda firme de reconstrução das instâncias públicas e estatais.

Espero que o PT se convença, de uma vez por todas, que um projeto de país, um projeto de nação, só pode ter êxito, só pode vicejar com um Estado forte e plenamento estruturado.

Espero que o PT se convença de que, com privatizações, PPPs, Oscips, aberturas de capital das empresas estatais e outras medidas que só abrem espaço para a acumulação de poder econômico, e, por consequência, político, nas mãos dos poucos ricaços, não servem ao país e nem a 98%, ou mais, de sua população

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