Coronavírus: Paraisópolis faz campanha por alimentos e produtos de higiene para moradores da favela

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Solidariedade e cidadania: a Ypê já doou três caminhões lotados de sabão em barra para os moradores de Paraisópolis poderem lavar as mãos. Fotos: CUFA, Guga e DW

por Lúcia Rodrigues*

Moradores da favela de Paraisópolis, vizinha de um dos bairros mais ricos de São Paulo, o Morumbi, está fazendo uma campanha para receber doações de cestas básicas e produtos de higiene.

O objetivo é manter o maior número de pessoas em casa para enfrentar a pandemia do coronavírus em segurança.

A comunidade, onde vivem mais de 100 mil pessoas, está se organizando por conta própria.

De acordo com líderes comunitários, a ajuda da Prefeitura e dos governos ainda não chegou por lá.

O grupo de whatsaap Tamo Junto Paraisópolis, que reúne moradores da favela, está impulsionando uma campanha para recrutar pessoas que ajudem na distribuição dos produtos que chegarem.

Para aderir, os moradores voluntários postam a foto e dão a localização de onde vivem na favela.

A ideia é conseguir pessoas nos principais pontos da comunidade, para que sirvam como ponte para quem não puder ir retirar os alimentos e produtos de higiene nos pontos de entrega.

O produtor de eventos de rap, Valdemir José Trindade, o Guga Brown, nascido e criado em Paraisópolis, lidera essa campanha.

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Guga, que também é conselheiro da saúde, defende que as Unidades Básicas de Saúde (existem três UBS em Paraisópolis) sejam transformadas em pontos de arrecadação.

Ele conta que nos próximos dias deve chegar uma doação de sabonetes, detergente e água sanitária. E que os voluntários também vão ajudar a montar os kits para as famílias.

Segundo ele, a Cufa (Central Única de Favelas) teria intermediado essa doação.

Ainda de acordo com Guga, a Ypê já doou três caminhões lotados de sabão em barra para os moradores poderem lavar as mãos.

“Na segunda-feira, 30, a Igreja São José (que fica na favela), do padre Luciano, também vai distribuir 100 cestas básicas”, comemora.

Questionado se não é pouco. Guga agradece e responde: “Sim, mas já é alguma coisa. Vai ajudar as famílias mais necessitadas”.

Ele conta que uma senhora doou 30 galões de água para Paraisópolis. “É muito mais do que a Prefeitura e o Governo fizeram. Doria falou tanto e ainda não mandou nada pra cá.”

E denuncia: “Tá faltando água em Paraisópolis todos os dias entre 20h e 22h”.

Apesar da preocupação com o bem-estar dos vizinhos, ele tem um drama particular dentro da própria casa.

O pai com 74 anos vive com ele em um quartinho próximo a um córrego que transborda quando chove.

O local é insalubre. “Minha casa é mofada, não tem condições.Tem ratos andando até em cima do fogão.”

A situação do pai de Guga inspira cuidados.

“Está acamado. Tem problemas respiratórios. Usa bombinha. Antes usava oxigênio, mas como ficou um tempo sem precisar usar, cortaram. Já pedi pra trazerem de novo, mas ainda não trouxeram.”

A renda de pai e filho é menos de um salário mínimo. “O dinheiro não dá pra nada. Tenho de comprar comida e os remédios do meu pai. Só consigo as fraldas de graça.”

Guga gostaria de ver uma das UBS transformada em um pequeno hospital para atender os moradores da favela.

“Paraisópolis não tem nenhuma ambulância. A única ambulância que existe na região, serve Campo Limpo, Capão Redondo, Vila das Belezas e a gente.

A favela foi atingida pelo corte dos médicos cubanos, segundo ele.

“Os médicos de Cuba vinham em casa. Me ensinavam tudinho o que fazer com o meu pai. Ajudava bastante. Mas o Bolsonaro cortou.”

Além desse tipo de ataque, Guga e os demais moradores também estão enfrentando a sanha de comerciantes oportunistas, que subiram os preços dos produtos dentro da comunidade.

A cartela dos ovos saltou para R$ 16, o quilo do feijão subiu para R$ 14. O pacote de arroz antes encontrado, segundo ele, por R$ 9 foi para R$ 16. A caixa de leite agora é vendida por R$ 5. Um frasco de álcool em gel pequeno custa até R$ 30. E o botijão de gás chega a custar R$ 120.

“Aumentou tudo. Infelizmente está assim.”

Guga explica que a maioria desses comerciantes tem pontos de venda dentro da favela, mas não mora no local.

*Lúcia Rodrigues é jornalista e formada em Ciências Sociais pela USP.

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