Enio Verri: Até Trump foi obrigado a mudar em relação ao coronavírus, mas seu subalterno Bolsonaro não vê

Tempo de leitura: 3 min
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara

Coronavírus: O que é bom para os EUA é bom para o Brasil, mas Bolsonaro não sabe

por Enio Verri*

O presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, com sua monumental estupidez, conseguiu a proeza de conquistar um inoportuno isolamento interno e externo diante da gravíssima pandemia de coronavírus.

O pronunciamento de Bolsonaro na noite de terça-feira (24) atestou seu nível de insensatez, ao convocar a população a romper o confinamento social, desqualificar a gravidade da pandemia e atacar a todos, de aliados a opositores.

Confrontou governadores, prefeitos, cientistas, entidades ligadas à saúde e, numa manifestação clara de terraplanismo, negou a própria ciência, levando-o a um completo isolamento no cenário interno.

Se sua ignorância e insensibilidade em relação ao perigo do coronavírus tinha aliados fora do Brasil, isso acabou.

O último aliado externo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cedeu à realidade, reconheceu a gravidade do momento e acertou a liberação de recursos da ordem de US$ 2 trilhões (9,5 % do PIB do país) para socorrer trabalhadores e empresas.

Outro aliado neoliberal, o primeiro ministro inglês Boris Johnson, já havia tomado decisão semelhante na segunda-feira, 23.

Neoliberalismo

Mesmo assim, apesar da escalada do coronavírus, Bolsonaro insiste em seguir a cartilha neoliberal que o próprio Trump já abandonou. É tão subalterno à cartilha neoliberal e à teoria do Estado mínimo que não percebe a mudança de rumo.

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Quando não interessa, se alinha aos interesses dos EUA – como nos ataques à China, o maior parceiro comercial do Brasil – e viola a soberania nacional ao colocar nosso país à mercê dos interesses geopolíticos e econômicos de Washington. No entanto, na presente pandemia, vira os olhos ao que os EUA praticam.

Pela ótica de alinhamento automático com os interesses dos EUA, contrariando os interesses nacionais brasileiros, Bolsonaro perfila-se com a célebre frase de Juraci Magalhães, nomeado pelo primeiro governo militar pós-golpe de 1964 como embaixador em Washington. Juraci é o autor da célebre frase: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.

Escola de Chicago

Mas agora, com Trump colocando o Estado para atuar em defesa da economia e do povo americano, Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, fingem que a iniciativa do chefe do Norte nada tem a ver com eles.

Ambos reféns da camisa de força neoliberal da quase insepulta Escola de Chicago.

Trump e o Congresso americano acertaram um pacote inédito de 2 trilhões de dólares para o combate à doença e seus efeitos econômicos.

O total representa 9,5% do PIB americano e inclui uma massiva transferência de renda para todas as famílias vulneráveis, no valor de U$$ 1.200 por mês (cerca de 6.000 reais).

Os recursos para os hospitais chegam a U$$ 130 bilhões (cerca de 650 bilhões de reais). Hoje os EUA têm mais de 60.000 infectados e registra 827 mortes, um número bem maior que o Brasil com 57 mortos e 2433 infectados.

O fato é que o presidente americano reconheceu a gravidade da crise e entrou em campo. Aqui, Bolsonaro continua com sua conhecida estultice e insiste que a pandemia não passa de uma “gripezinha’.

O capitão-presidente segue ainda a opinião – agora modificada pela realidade – do primeiro ministro conservador da Inglaterra, Boris Johnson, que até há pouco jogava no mesmo time de Trump e Bolsonaro, e rejeitava qualquer medida mais drástica.

Isolamento

Boris falava só em proteção da economia e não se importava com a morte das pessoas, até que relatório do Imperial College de Londres recebido pelo governo britânico, estimava que sem a quarentena e isolamento total, horizontal, o Reino Unido enfrentaria o possível número de 260.000 mortos, não somente pelo coronavírus, e sim por outras doenças que o Serviço Nacional de Saúde não teria capacidade de tratar.

Esses dados, e a trágica evolução observada em países como a Itália e a Espanha, levaram à mudança de postura de Johnson.

No mesmo dia em que recebeu o relatório, em 20 de março o Reino Unido anunciou socorro de 350 bilhões de libras a empresas, incluindo o pagamento de até 80% do salário dos empregados.

O valor equivale a R$ 2,12 trilhões ou a 15% do PIB anual da Inglaterra. Agora, Boris Johnson promete combater o vírus como “em tempo de guerra” e “fazer tudo o que pudermos para apoiar a nossa economia”.

E, finalmente, após o país registrar 335 mortes pelo coronavírus, decretou que o país entrasse em quarentena oficial, medida que Bolsonaro insiste em boicotar.

As iniciativas tomadas pelos EUA e Inglaterra mostram que para salvar a economia não é necessário matar milhares de pessoas por coronavírus.

É possível conciliar recomendações dos profissionais de saúde, e, simultaneamente, adotar medidas para proteger empresas, empregos e a vida das pessoas.

União nacional

O momento é extremamente grave e precisamos de união nacional – Congresso, Supremo Tribunal Federal, governadores, prefeitos, empresas e entidades da sociedade civil e dos movimentos sociais e populares – para fazer frente a um presidente irresponsável e que vive numa espécie de bolha das redes sociais e de seguidores fanáticos.

Bolsonaro é um grave risco para o Brasil, tão perigoso como o coronavírus.

*Enio Verri é deputado federal (PT-PR) e líder do PT na Câmara

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Zé Maria

Quarentenas podem beneficiar a Economia no longo prazo

Estudo de Economistas do Fed e do MIT
faz uma análise da atividade econômica
em cidades americanas antes, durante e depois
da gripe espanhola de 1918, última pandemia
comparável com a do novo coronavírus.

Por Pedro Menezes*, no InfoMoney [Só em época de Pandemia…]

Sim, caro leitor, você não leu errado: impedir que as pessoas trabalhem
no curto prazo pode favorecer a atividade econômica a longo prazo.

Isso não significa que 2020 será um bom ano na economia. Você, eu e nossas famílias vamos empobrecer nos próximos meses. Rendas diminuirão, o desemprego vai subir. Vamos sofrer. Mas um número cada vez maior de economistas tem se convencido de que estes não são os efeitos da quarentena, mas da pandemia.

Quando se escreve que a quarentena pode beneficiar a economia, a comparação não é com um cenário de normalidade. Fechar empresas e escolas dificulta a produção de riqueza. Por outro lado, o parâmetro ideal para avaliar esta questão é aquilo que a economia produziria caso a atividade econômica siga transcorrendo normalmente, com o vírus circulando por aí.

Este argumento já circulava até mesmo entre economistas liberais, como Luigi Zingales e Carlos Góes. Para defender a tese, ambos utilizam pesquisas recentes para estimar a perda de capacidade produtiva decorrente de cada morte.

Ontem, 26 de março, um estudo arrebatador fez crescer a percepção de que quarentenas podem salvar vidas. Neste caso, trata-se de uma análise da atividade econômica em cidades americanas antes, durante e depois da gripe espanhola de 1918, última pandemia comparável com a do novo coronavírus.

Na pandemia da gripe espanhola, cidades que agiram mais cedo e com mais força tiveram desempenho econômico melhor

Economistas do Fed (Banco Central americano) e MIT divulgaram ontem um estudo que convenceu muitos economistas sobre a importância da quarentena. O título já dá um bom aviso sobre o conteúdo:

“Pandemias deprimem a economia,
intervenções de saúde pública não:
Evidências da gripe de 1918”.

Os autores analisaram dados econômicos de diversas cidades americanas, assim como as respostas de cada uma à pandemia. E os resultados encontrados chamaram a atenção de muita gente ao redor do mundo.

Primeiramente, os autores concluem o óbvio: pandemias deprimem a economia. Tanto a oferta de bens e serviços quanto a demanda por eles diminui, o que gera uma recessão com impactos ambíguos na inflação. Conforme a capacidade produtiva diminui, há uma pressão para aumento de preços. Por outro lado, o desemprego também aumenta, o que tende a segurar a inflação.

Apesar do fato ter ocorrido há 100 anos, as intervenções de saúde pública foram bastante semelhantes: distanciamento social, quarentena, campanhas de informação para incentivar o cidadão a lavar as mãos, dentre outras.

Como os EUA seguem um regime político federalista, com grande autonomia dos estados e municípios, as intervenções de saúde pública tiveram duração muito distinta nas 43 cidades analisadas no estudo. A distribuição foi a seguinte:

– cerca de 10% das cidades analisadas executaram medidas de intervenção não-farmacêutica por menos de 42 dias

– 40% impuseram medidas com duração entre 42 e 88 dias

– outras 40% passaram entre 88 e 156 dias sob intervenção

– e 10% das cidades, o grupo mais rígido no combate à pandemia,
tiveram medidas de intervenção não-farmacêutica por mais de 156 dias

Essa diferença permitiu que os autores analisassem o impacto econômico
das medidas, com resultados surpreendentes.

As cidades que combateram duramente a pandemia, com medidas mais duradouras, tiveram maior sucesso no controle de letalidade da gripe espanhola – o que, convenhamos, já era esperado. Menos gente morreu.

Os resultados mais impressionantes aparecem na análise da atividade econômica em cada cidade. Indicadores de emprego, produção e crédito entraram na análise. A conclusão da pesquisa indica que as cidades mais rígidas tiveram desempenho econômico similar durante a pandemia e melhor depois.

Ou seja, nestes locais, a quarentena beneficiou a economia a longo prazo.

Esta é a conclusão do estudo, nas palavras dos próprios autores, em tradução livre:

“A pandemia causou uma queda brusca e persistente na atividade econômica. Encontramos efeitos negativos na produção industrial, no estoque de bens duráveis e ativos bancários, sugerindo que a pandemia deprimiu a economia tanto pelo lado da demanda quanto pelo lado da oferta.

Cidades que que implementaram medidas mais rápidas e agressivas não demonstraram um desempenho econômico pior durante a pandemia. Por outro lado, as evidências referentes a ativos bancários e produção industrial indicam que, após a pandemia, cidades que implementaram medidas mais agressivas apresentaram melhor performance econômica.

De modo geral, nossas evidências mostram que pandemias são altamente disruptivas para a atividade econômica. Porém, medidas oportunas visando mitigar a severidade da pandemia também foram capazes de reduzir a severidade da crise econômica. Ou seja, intervenções não-farmacêuticas (como quarentenas) podem reduzir a mortalidade ao mesmo tempo em que são economicamente vantajosas.”

Será que esses dados de 100 anos atrás podem ser úteis?

Eu diria que certamente são úteis. Não são perfeitos – afinal, o mundo mudou -, mas se trata da última pandemia de vírus respiratório (caracterizados pela facilidade de contágio) comparável à do novo Coronavírus. Seria tolo, para dizer o mínimo, ignorar as lições desta experiência histórica.

No artigo, os próprios autores reconhecem as profundas mudanças que ocorreram de 1918 a 2020. Porém, não está claro se essas mudanças melhoram ou pioram o impacto econômico da quarentena. Por um lado, a medicina avançou bastante desde então. Por outro, a tecnologia facilita o trabalho à distância – ou home office, para usar a expressão da moda.

Outros estudos mais recentes também indicam que quarentenas podem beneficiar a economia

Não se trata apenas de um artigo acadêmico referente a 1918. Outras evidências tem convencido economistas sobre a importância da quarentena para evitar uma crise maior na atividade econômica.

Num outro estudo recém divulgado – The Macroeconomics of Epidemics, ou “Macroeconomia das Epidemias” -, os autores construíram modelos que englobam diversos fatores para avaliar qual deve ser a melhor resposta para a pandemia do novo Coronavírus.

Os autores encontram três resultados interessantes:

1) Se cada cidadão agir conforme os próprios interesses, o resultado tende a ser prejudicial para toda a sociedade. Afinal, aqueles que não integram o grupo de risco teriam incentivos para ignorar a pandemia, aumentando a letalidade do vírus.

2) No modelo estimado, a resposta ótima causaria uma recessão para salvar cerca de 600 mil vidas nos Estados Unidos.

3) Quando o modelo considera a possibilidade de novos testes, tratamentos e aumento da capacidade de atendimento dos hospitais, a resposta ótima envolve uma recessão ainda maior no curto prazo, com recuperação mais rápida posteriormente.

Mortes também prejudicam o crescimento de longo prazo
Por fim, vale ressaltar o argumento que tem sido endossado por dois economistas liberais, aqui e alhures: Luigi Zingales, pesquisador italiano ligada à Universidade de Chicago, e Carlos Góes, brasileiro e meu colega no Instituto Mercado Popular.

Apesar do valor de uma vida ser inestimável, dado o componente intangível e afetivo envolvido na questão, alguns componentes econômico podem ser medidos, como a perda de capacidade produtiva da economia.

Para os Estados Unidos, Zingales cita os dados de uma agência governamental que estima uma perda média de 10 milhões de dólares para cada trabalhador morto durante a pandemia.
Já Carlos Góes toma dados brasileiros como referência, retirados de uma pesquisa da qual ele participou durante o governo Temer – R$ 630 mil
foi o limite inferior da estimativa, provavelmente subestimado.

Ambos os cálculos indicam que, se os epidemiologistas estiverem corretos quando indicam um cenário catastrófico caso não seja possível achatar a curva de infectados, a perda econômica decorrente das mortes por Covid-19 supera
– e muito – os ganhos por não parar a economia.

Caso 2 milhões de americanos morram, uma estimativa bem abaixo do esperado caso a curva não seja achatada, o custo dessas mortes a longo prazo representaria 20 trilhões de dólares, 10% do que o governo estadunidense pretende gastar para manter os cidadãos em casa.

No caso de um milhão de mortes desnecessárias no Brasil, o custo resultante – cerca de R$ 630 bilhões, no limite inferior – também supera largamente quanto o governo pretende gastar na recuperação da crise.

Vale lembrar que, caso a curva de infectados não seja achatada (algo que, felizmente, parece improvável após a dura resposta dos governos pelo mundo), as mortes desnecessárias não seria apenas por Covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, os leitos de UTI do SUS já possuem ocupação média próxima a 80% em tempos normais. No caso de explosão da pandemia, aqueles que sofrerem acidentes de trânsito, infartos e derrames não terão acesso à UTI, aumentando a mortalidade até mesmo entre os jovens.

Talvez o leitor se pergunte por que usei o verbo “pode” no título do texto, se estou tão convencido de que as quarentenas podem valer a pena do ponto de vista econômico. O motivo é simples: com exceção da pandemia de 1918, não temos outro fenômeno semelhante que sirva como referência para analisar o impacto econômico do novo Coronavírus. Sendo assim, discorrer sobre possibilidades é melhor do que cravar certezas.

A incerteza, porém, só reforça a necessidade de combater o novo Coronavírus com bastante veemência. O princípio da prudência, uma das bases do pensamento conservador, precisa guiar o governo neste momento tão delicado.

*Pedro Menezes é fundador e editor do Instituto Mercado Popular,
um grupo de pesquisadores focado em políticas públicas
e desigualdade social.

Zé Maria

Imagina se o Prefeito da Cidade de New York,
ou o Governador do Estado de Nova Iorque,
ou mesmo o Presidente dos Estados Unidos
da América deixasse sem restrições o trânsito
de pessoas liberando as operações de transportes
terrestres e aéreos nacionais e internacionais
permitindo as aglomerações em Manhattan.
A Pandemia não teria fim não só no País, mas
no Planeta inteiro. De igual forma no Brasil,
fosse o Prefeito da cidade de São Paulo ou o
Governo do Estado Paulista. Aqui, do Presidente
nem se fala, porque o que o Jair Bolsonaro quer
mesmo é o Caos, pois só assim, dessa maneira
caótica, obterá apoio das Olavetes Esquizofrênicas
e, quiçá, uma chance de ainda se manter no Cargo.
O Nazi-Fascismo de Mercado sobrevive DA Crise.

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