Francisco Prandi: Milicianos tiveram papel chave no golpe da Bolívia
Tempo de leitura: 2 minUma coisinha sobre Poulantzas e a fascistização do Brasil
por Francisco Prandi*
Nicos Poulantzas talvez seja o marxista que mais tenha me influenciado até hoje.
Seu livro “Fascismo e Ditadura” (esgotado; reprodução, abaixo na íntegra) deveria estar sendo lido por todo militante não digo nem socialista, mas democrático mesmo.
É preciso pontuar que a visão historicista de que o fascismo foi um fenômeno particular e irrepetível não tem o menor lugar no esquema teórico de Poulantzas, como assinala várias vezes ao longo do livro.
O fascismo, para ele, está ligado a crises de hegemonia no bloco no poder que dirige o Estado capitalista, uma crise política específica, e a mudanças no capitalismo.
No ano passado quando li esse livro pela primeira vez, uma das ideias que mais me chamaram a atenção é a de que, além da crise dos partidos burgueses e uma derrota do movimento operário e popular, o processo de fascistização também comporta uma dissociação entre o poder formal e o poder real.
Isso não começou do dia pra noite. Todos devem se lembrar de como o Judiciário tem atuado de 2015 para cá.
Eu tinha a convicção de que o Judiciário seria o maior vetor de fascistização no Brasil. Aparentemente, isso vem mudando.
As milícias, que pareciam limitadas ao Rio de Janeiro, estão se espalhando pelo Brasil e podem provocar consequências terríveis para o processo democrático.
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O Ceará, nos últimos dias, parece ser um caso bastante elucidativo de como a politização da polícia pode ser o embrião de um novo poder, assim como as milícias o são no Rio de Janeiro.
A ação de Cid Gomes, embora tenha sido irresponsável, é compreensível o desespero, o voluntarismo dele para impedir que esse vetor de fascistização nos leve ao que Poulantzas chama de “ponto de irreversibildiade”.
Aqueles que relativizaram o golpe na Bolívia, em 2019, afirmando que se tratavam de “manifestações democráticas”, talvez nunca enxergarão que ali se tratou de um laboratório para a América Latina.
O papel de milicianos e policiais foi muito mais determinante do que a intervenção do Exército.
Governadores, prefeitos, vereadores, senadores e deputados ligados ao MAS tiveram familiares sequestrados, casas queimadas e saqueadas, foram humilhados publicamente. Tudo isso com policiais encapuzados ou não, mas participando ativamente do ritual nefasto.
O fascismo não é invencível.
Mas não serão iniciativas voluntaristas, desorganizadas e caudilhistas que permitirão enterrar esse movimento político no Brasil.
É necessário fazer a luta ideológica, não renunciando ao debate público e à demarcação com o governo. É preciso reconectar-se com as massas e seus temas cotidianos.
A nenhum militante deve ser permitido a descrença em seu próprio povo!
VENCEREMOS!
*Francisco Prandi é músico e mestrando em Sociologia na USP
Nicos Poulantzas. Fascismo e Ditadura – A III Internacional Face Ao Fascismo – Volume I by Conceição Lemes on Scribd
Nicos Poulantzas. Fascismo e Ditadura – A III Internacional Face Ao Fascismo – Volume II by Conceição Lemes on Scribd
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