Petroleiros em greve lançam desafio a Bolsonaro para enfrentar disparada no preço dos combustíveis

Tempo de leitura: 3 min
Foto Luciana Fonseca/Sindipetro

Do site da AEPET

Senhor presidente,

Você recebeu nos últimos dias um desafio advindo de governadores de 22 estados a respeito do preço dos combustíveis.

Eles cobram do governo a redução do imposto federal sobre os combustíveis.

O senhor respondeu dizendo que se eles zerarem o ICMS estadual, a União zera também o imposto federal.

Nós petroleiros que estamos todos os dias fazendo esse país andar com a produção de combustíveis da maior empresa do Brasil, resolvemos entrar nesse debate.

Lançamos, então, um desafio ao presidente Jair Bolsonaro.

Em uma briga de responsabilidades entre os poderes, quem sai perdendo é sempre o povo que amarga um crescimento descomunal nos preços da gasolina, gás de cozinha e diesel nos últimos anos.

Se o senhor está realmente comprometido com a baixa dos preços dos combustíveis “na bomba do posto” ou no preço do botijão – que afeta ainda o preço de diversos produtos como os alimentos – deveria mudar a política da paridade de preços da Petrobras.

Desde 2016 a Petrobras segue o preço internacional do Petróleo para determinar o preço de venda dos combustíveis o que fez o preço do diesel, por exemplo, crescer de R$ 2,618 em 2016 para R$ 3,371 em 2019.

Acontece, que isso privilegia suas concorrentes estrangeiras em detrimento da Petrobrás.

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Por ter um custo de produção baixo, a Petrobrás pode garantir um preço abaixo do mercado internacional e ainda ter um enorme lucro.

Mas, ao contrário do que diz, o senhor e seu indicado para a presidência da Petrobrás, Roberto Castello Branco, têm praticado uma política anti-nacional.

As refinarias brasileiras diminuíram sua produção de derivados do petróleo, que hoje estão em torno de 70% de sua capacidade, enquanto a importação de derivados do petróleo cresceu de 147 para 197 milhões de barris (bep) ao ano de 2015 a 2019 (Fonte: ANP).

Gráfico do G1 a partir de dados da ANP

Cada vez mais, vendemos o petróleo bruto para o exterior para depois importar mais caro os derivados do petróleo, quando poderíamos produzi-los aqui no Brasil a um preço bem mais barato.

Ficaremos, assim, cada vez mais dependentes das variações do mercado internacional.

O coronavírus, por exemplo, está derrubando a demanda de petróleo na China, segundo maior consumidor de commoditie no mundo.

Com isso, a Petrobras pode amargar uma redução das suas margens, uma vez que o país asiático responde por mais de 30% das exportações de petróleo do Brasil – no caso da petroleira estatal, esse mix gira em torno de 70%.

Com o abandono de outros setores, além da E&P, a estatal se arrisca a fechar, pois com qualquer grande abalo no preço do petróleo, a empresa não terá margem de manobra para dividir suas receitas em outros setores (como nas refinarias, distribuição e revenda).

Ao contrário de defender a soberania nacional e estimular a produção nacional de combustível, vocês estão propondo vender metade das refinarias brasileiras para os estrangeiros e fechar a Fábrica de Fertilizantes do Paraná, acabando com postos de trabalho no Brasil para criar empregos fora do país.

Ao invés de se ocupar com os interesses de empresas estrangeiras, os senhores deveriam se preocupar – como dizem defender – com as milhares de famílias brasileiras que ficarão sem emprego com o fechamento da FAFEN-PR e das refinarias.

É verdade que os impostos brasileiros são grande parte do preço do petróleo, mas são uma forma da renda petroleira ir para o Estado para garantir direitos básicos à população.

Entretanto a verdadeira causa do aumento do preço dos combustíveis não está aí, já que a carga tributária em essência continuou a mesma nos últimos anos e está dentro da média mundial.

O que mudou, portanto, foi a política de paridade de preços da Petrobrás que segue hoje a referência de um preço que nada tem a ver com os custos da Petrobrás, mas que facilita a concorrência de empresas estrangeiras no mercado brasileiro, encarecendo o combustível para os que mais precisam.

O desafio, então, está lançado. Se o senhor, Bolsonaro, está realmente preocupado com o preço dos combustíveis para os brasileiros, mude a política de preços da Petrobrás, pare as privatizações das refinarias e fábricas de fertilizantes e aumente a produção nacional de derivados do petróleo.

Só assim o senhor estará sendo, de fato, e não só em palavras, nacionalista.

Federação Nacional dos Petroleiros – FNP

Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 2020.

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Comentários

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Nelson

O caso do aumento nos preços dos combustíveis é apenas mais um a escancarar a monumental podridão dos nossos órgãos da mídia hegemônica e seus comentaristas, supostos especialistas em tudo.

Eles sabem de tudo o que está a acontecer. Fazendo uma concessão de que não sabem ou na sabiam, eles ainda têm condições e a também a obrigação de procurar as respostas. Mas, essa mídia prefere se acoitar nas benesses do poder e mentir insistente e deslavadamente para o povo brasileiro.

A desculpa ora usada para justificar os altos preços dos combustíveis é a mesma que vem sendo largamente utilizada para justificar os preços e tarifas escorchantes cobrados pela energia elétrica, telefone e outros setores privatizados. Sempre procuram esconder os enormes prejuízos que as privatizações nos trouxeram e ainda nos trarão.

A propaganda pró-privatizações nos prometia produtos e serviços de melhor qualidade a preços e tarifas mais baixos, mais empregos. Enfim, as privatizações os levariam a um quase-paraíso.

Como afirmei, propaganda, apenas. Na real, a privatização foi idealizada como um meio de abrir mais espaços para que o grande capital privado pudesse ampliar ainda mais seus lucros.

Como o objetivo é este, não há como eles entregarem o que prometeram e seguem prometendo com avassaladora propaganda. Em resumo, se colocarmos todas as variáveis na balança e fizermos uma análise sensata, não chegaremos a outra conclusão. `

À conclusão de que não há milagre que faça com que uma empresa privada consiga oferecer à população um produto ou serviço público a custos mais baixos e com qualidade superior às que a mesma população recebia quando era o Estado a fornecer esse produto ou serviço.

Zé Maria

A manipulação oficial da informação, com endosso das empresas de comunicação,
desta vez, tentando confundir a população sobre o aumento de preços dos combustíveis,
atribuindo a causa ao aumento de impostos e não à alta do dólar, é notória.

Com isso, além de Bolsonaro/Guedes/Moro se eximirem de responsabilidades,
dão mais um passo na desvalorização da Petrobras – e das estatais como um todo -, para entregá-la a estrangeiros, quando, aí sim, fora do controle da União,
não haverá mais como mudar a forma dos reajustes de preços dos produtos.

Pelo mesmo caminho estão indo a Eletrobras, os Correios, as empresas públicas de processamento de dados (DATAPREV, SERPRO) e de tratamento de água e esgoto (estaduais e municipais), dentre outras.

Quando privatizaram a Telebras também disseram que a telefonia ficaria mais barata.
Hoje as empresas de telecomunicações no Brasil são todas privadas e estrangeiras,
e formam um Cartel de Multinacionais Estelionatárias [Telefónica de España (Vivo),
America Movil (Claro/Net/Embratel/Nextel), Altice/Portugal Telecom (Oi) e Vivendi/Telecom Italia (TIM)].

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