Efetivo reduzido e falta de manutenção preventiva causam vazamento na refinaria da Petrobrás, em Cubatão; vídeo
Tempo de leitura: 4 minAS CAUSAS DO VAZAMENTO NA RPBC: CORTE DE EMPREGADOS E DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA
Sindipetro — LP (Litoral Paulista)
Na última quarta-feira (15), por volta das 10 horas, a emissão de uma imensa fumaça amarela pela chaminé da UFCC (Unidade de Craqueamento Catalítico Fluido), na Refinaria de Cubatão (RPBC), assustou trabalhadores e moradores dos bairros vizinhos.
Felizmente, não houve nenhum ferido e a situação foi controlada.
Superado o susto, até agora a gerência da unidade não forneceu à força de trabalho, população e imprensa mais informações sobre o que ocorreu.
Como resposta, preferiu ressaltar que a unidade voltou a operar – revelando qual sua real preocupação: a produção e o lucro.
Em visita à unidade afetada, que é responsável por armazenar gasóleo, diretores do Sindipetro-LP conseguiram algumas informações preliminares.
Rica em hidrocarbonetos, a fumaça era composta por enxofre e outros contaminantes e foi emitida a partir de um catalisador rico em metais pesados.
Ou seja, trata-se de um produto tóxico. Não por acaso, apesar de não existir nenhum registro de ferido, recebemos relatos de irritação nas vias aéreas e nos olhos de alguns trabalhadores.
De acordo com o que já foi apurado, a emergência iniciou com a falha de um indicador de nível, que indicou nível baixo enquanto estava na verdade alto.
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Com isso, acabou acionando a bomba reserva e, em seguida, o sistema de parada da unidade – em virtude do baixo vácuo gerado.
A parada automática dos equipamentos demorou mais que o esperado, permitindo a passagem de mais gasóleo do que o recomendável, o que gerou a queima do hidrocarboneto de forma indevida e, por consequência, a formação da fumaça amarelada.
Sem manutenção preventiva e efetivo reduzido, Petrobrás usa a sorte
Uma explicação mais detalhada está nas mãos da comissão responsável por analisar o incidente.
O trabalho será coordenado pela direção da refinaria e acompanhado de perto por representantes do Sindipetro-LP e da CIPA.
Entretanto, independentemente do resultado da comissão, sabemos que as causas estruturais são a queda no número de manutenções preventivas e a redução drástica do efetivo de trabalhadores – próprios e terceirizados.
Já se sabe, por exemplo, que parte dos equipamentos envolvidos no incidente apresentava obstrução e falta de manutenção.
Além disso, parte do sistema de travamento da unidade depende da atuação dos operadores da unidade, cujo efetivo (já reduzido) a empresa quer enxugar ainda mais.
Estão destacados para operar hoje a UFCC quatro operadores (dois na CCI, dois na área). No entanto, havia no dia do incidente 5 trabalhadores, sendo três na área. Com este número, a atuação já foi difícil por envolver uma série de procedimentos. Se o número de petroleiros à disposição fosse o quadro estipulado pela empresa certamente as dificuldades e riscos seriam ainda maiores.
A redução de efetivo, longe de ser um problema local, é fruto da orientação de tornar a empresa mais atrativa aos investidores estrangeiros, facilitando assim a venda dos seus ativos e privatização aos pedaços da companhia.
Dos mais de 80 mil trabalhadores próprios que a empresa empregava até 2015, com a implantação de seguidos programas de demissão voluntária, restam cerca de 57 mil.
O reflexo dos PDVs na insegurança das unidades é evidente. Cresce o número de horas extras por falta de mão de obra para suprir a demanda e, em contrapartida, aumentam os afastamentos por problemas físicos e psicológicos, além dos riscos de acidente pelo efetivo reduzido.
Cabe ainda lembrar que a luta por um efetivo seguro não é nova. Em 2017, por exemplo, antes mesmo do incidente que gerou queda de energia na refinaria e de outro vazamento, também na UFCC, sindicato e categoria se mobilizaram pela manutenção de um quadro seguro na operação.
Aliás, naquele período, cinco vazamentos em menos de um mês. Fruto dessa luta, com diversas paralisações e luta jurídica, conseguiram pressionar a Câmara de Vereadores de Cubatão a criar uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) sobre o tema.
Infelizmente, nas mãos dos vereadores, a discussão não se transformou em ações concretas, mas o alerta vem sendo feito às autoridades municipais e sociedade civil há alguns anos.
Além de não ser nova, não se restringe à refinaria. Vivemos atualmente, no Terminal Alemoa, uma briga contra a extinção de postos de trabalho.
Lucrativa para os grandes acionistas da empresa, a política de redução de custos imposta nos últimos anos tem custado caro às unidades da companhia e à sua força de trabalho. Com mão de obra insuficiente para reparar os estragos feitos pelo corte de investimentos em segurança, há cada vez menos manutenção preventiva e mais manutenção corretiva.
Um dos sintomas deste quadro é a dificuldade da força de trabalho em dar o encaminhamento adequado aos relatórios das equipes de turno com os mais variados pedidos de manutenção.
Não há trabalhadores suficientes para transformar esses pedidos em notas de manutenção e, mesmo se houvesse, não haveria na sequência petroleiros suficientes para executar os serviços. Com isso, a capacidade para responder às demandas é crítica, facilitando a ocorrência de acidentes.
O preço da precarização dos terceirizados
As sucessivas denúncias do Sindicato sobre a presença de empreiteiras aventureiras, que assumem contratos na refinaria sem condições técnicas e financeiras, também é um aspecto importante.
Com baixos salários, condições precárias de trabalho e sucessivos calotes, há uma crônica e crítica rotatividade da mão de obra que, em virtude da desvalorização salarial, também possui muitas vezes menos qualificação e experiência. Tudo isso contribui negativamente.
Resposta errática à emergência
É necessário abordar a resposta errática da gestão da empresa ao incidente.
Se por um lado é verdade que o vazamento foi controlado com relativa agilidade, afastando qualquer possibilidade de explosão e evacuação dos empregados que não estavam expostos à fumaça, por outro é preciso ressaltar a deficiência em fornecer uma mensagem centralizada aos trabalhadores que estavam na área operacional, suscetíveis aos efeitos dos produtos tóxicos lançados no ar.
No lugar de um aviso centralizado o que se assistiu foi cada chefe de equipe reagindo da sua forma e conforme o seu entendimento à emergência.
Neste caso, entendemos que a medida mais correta seria, a partir da gestão da empresa, uma mensagem rápida e direta determinando a evacuação da área externa da refinaria. Seria a medida mais prudente.
Diante do corte sistemático de investimentos em segurança, da política de redução em massa do quadro de empregados, a empresa na prática vem assumindo o risco de contar com a sorte para não sofrer uma tragédia.
Neste caso, tivemos um incidente rapidamente controlado e sem danos maiores à unidade e força de trabalho. Mas até quando contaremos com a sorte?
Neste sentido, lembramos que a atual política de privatização do governo Bolsonaro não é nociva apenas para a soberania nacional e geração de empregos, motivos mais do que suficientes para nos opormos à venda do patrimônio público nacional.
A venda do que é nosso para as multinacionais, cuja orientação se reduz ao lucro a qualquer custo, também tem consequências sobre a segurança das unidades, a vida dos trabalhadores e da população.
Mariana e Brumadinho, tragédias que o país inteiro se comoveu, não parecem ter servido de lição para alguns.
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