Juliana Cardoso, sobre a morte de nove jovens em baile funk de Paraisópolis: PM de Doria não foi só despreparada; foi criminosa

Tempo de leitura: 4 min
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Por Juliana Cardoso

Adolescente levou golpe de cassetete durante ação da polícia em baile funk e ficou ferida na cabeça. Fotos: arquivo pessoal

O ESTADO AUTORITÁRIO SEGUE MATANDO

por Juliana Cardoso*

A polícia de SP transformou em tragédia o que deveria ser um final de semana de diversão na vida da comunidade de Paraisópolis.

A ação da Polícia Militar do Doria não foi só despreparada, desastrosa, irresponsável e truculenta, FOI CRIMINOSA.

A polícia pode e deve agir , mas não pode provocar violência e mortes com tanto despreparo. Isto não é segurança pública.

Mais sangue nas mãos do governo, mais 9 mortes.

*Juliana Cardoso é vereadora (PT) na cidade de São Paulo

Nove pessoas morrem pisoteadas em tumulto após ação da Polícia Militar durante baile funk em Paraisópolis, em SP

Outras sete pessoas ficaram feridas na comunidade que tem 100 mil habitantes e é a 2ª maior da cidade. Houve confusão e correria com a chegada da PM ao local; evento tinha cerca de 5 mil pessoas, segundo a polícia.

Por Robinson Cerântula, César Tralli e Bárbara Muniz Vieira, TV Globo e G1 SP

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Nove pessoas, sendo uma mulher e oito homens, morreram pisoteadas durante um baile funk na comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, na madrugada deste domingo (1º), depois de uma perseguição policial seguida de tiros, segundo a Polícia Civil. Outras sete pessoas ficaram feridas.

Ainda de acordo com a polícia, agentes do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) realizavam uma Operação Pancadão na comunidade – a segunda maior da cidade, com 100 mil habitantes – quando foram alvo de tiros disparados por dois homens em uma motocicleta. A dupla teria fugido em direção ao baile funk ainda atirando, o que provocou tumulto entre os frequentadores do evento, que tinha cerca de 5 mil pessoas.

No entanto, a mãe de uma adolescente de 17 anos que estava no local e que foi agredida com uma garrafa disse que os policiais fizeram uma emboscada para as pessoas que estavam no baile.

A jovem ferida durante a confusão descreveu o momento em que foi atingida.

“Eu não sei o que aconteceu, só vi correria, e várias viaturas fecharam a gente. Minha amiga caiu, e eu abaixei pra ajudá-la”, afirmou.

“Quando me levantei, um policial me deu uma garrafada na cabeça. Os policiais falaram que era para colocar a mão na cabeça.”

Segundo a polícia, equipes da Força Tática, ao chegarem para apoiar a ação em Paraisópolis, levaram pedradas e garrafadas.

Os policiais, então, teriam respondido com munições químicas para dispersão. Ainda de acordo com informações da polícia, alguém no meio da multidão disparou um tiro, e houve correria.

Durante a confusão, pessoas foram pisoteadas. Elas foram levadas em estado grave ao Pronto Socorro do Campo Limpo.

Duas viaturas da PM foram depredadas. O delegado Emiliano da Silva Neto, do 89º DP, afirmou que todas as vítimas morreram pisoteadas e que ninguém foi vítima de disparos (leia mais abaixo).

O governador João Doria (PSDB) lamentou as mortes e pediu “apuração rigorosa” do episódio.

O Ouvidor das Polícias, Benedito Mariano, afirmou que “a PM precisa mudar protocolo”.

A diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, afirmou em entrevista à Globo News que a polícia tem de prestar contas do que ocorreu “sem medo de assumir um erro caso tenha havido”.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a Operação Pancadão tem sido periodicamente realizada em toda a capital “para garantir o direito de ir e vir do cidadão e impedir a perturbação do sossego, fiscalizando a emissão ruídos proveniente de veículos”.

Adolescente foi agredida por policiais, diz mãe

A mãe da adolescente de 17 anos ferida no baile funk diz que a filha foi agredida por policiais.

“[Minha filha] levou uma garrafada na cabeça [que partiu] de um policial. Deram [com] um cassetete nas costas dela. Ela está lúcida e aguardando a tomografia”, disse afirmou. “Quando eu a vi, não a reconheci. Ela estava com o rosto deformado e perdeu muito sangue. Estava em choque.”

A mãe continuou: “É uma rua com duas ou três saídas. Eles [policiais] fecharam e coagiram. Atiraram com arma de fogo – não só com bala de borracha. Bateram com cassetete, fora [o uso de] spray de pimenta. Eles [os frequentadores do baile funk] estavam só curtindo”.

“Os policiais fecharam a rua. Teve corre-corre, pisoteamento de adolescente. Gás de pimenta, bala de borracha, e ainda estavam agredindo pessoas. Foi um policial que tacou garrafa de vidro na minha filha.”

‘Muito tiro’

Um jovem de 18 anos que não é morador de Paraisópolis, mas que costuma frequentar os bailes, disse que viu muitos adolescentes passando mal e desmaiando por causa das bombas de gás atiradas pela polícia durante o baile funk da madrugada deste domingo.

“Chegaram atirando em todo mundo. A gente estava no baile e primeiro veio a bomba. Começaram a cair as pessoas, passando mal, e a desmaiar, sendo pisoteadas. Ficamos encurralados. Não tinha para aonde correr, para aonde ir. Muita gente caindo já morta, a polícia atirou. Muitas pessoas tentavam salvar a própria vida. Vi muito sangue e escutei bastante barulho de tiro”, disse o jovem.

A mãe dele afirmou: “Foi meio tenso, a polícia queria saber se meu filho estava no baile funk. É uma guerra ao pobre. Se fosse nos Jardins [bairro de classe alta de SP], a coisa seria nem diferente. Até a forma da polícia abordar é diferente. O problema não é o funk, é a cultura da periferia, é o lazer”.

Delegado disse que ninguém foi vítima de disparos

O delegado Emiliano da Silva Neto, do 89º DP, afirmou que nenhuma das mortes ocorridas no baile funk foi causada por tiro.

“Policiais militares pararam duas pessoas em uma moto. Eles entraram onde estava ocorrendo a festa e continuaram atirando nos policiais. Em decorrência desse tiroteio, houve um efeito manada, teve uma viela com escadaria, e as pessoas pisotearam umas nas outras”, disse.

“Nove morreram. Todas elas estão com graves lesões de pisoteio, não tem nada de perfuração ou alguém atingido por projétil de arma de fogo.”

Governador pediu apuração ‘rigorosa’

O governador João Doria pediu “apuração rigorosa” do episódio.

“Lamento profundamente as mortes ocorridas no baile funk em Paraisópolis nesta noite. Determinei ao Secretário de Segurança Pública, General Campos, apuração rigorosa dos fatos para esclarecer quais foram as circunstâncias e responsabilidades deste triste episódio”, escreveu Doria, no Twitter.

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Juliana Cardoso

Deputada Federal (PT) eleita para o mandato 2023/2026.


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Comentários

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a.ali

realmente, se fosse nos jardins a abordagem, caso acontecesse, seria muuuuiiittttooooo diferente. a polícia, com raríssimas exceções, é assassina e mais: dória quem vc. pensa que engana ???

Zé Maria

“Acabei de ver o vídeo das pessoas encurraladas
por uma ação policial em Paraisópolis.
Essas pessoas foram ASSASSINADAS.
ASSASSINADAS.”

Rosana Pinheiro-Machado
Asst Professor in International Development,
University of Bath, UK [formerly Oxford]

“A polícia brasileira não é despreparada.
O objetivo é esse mesmo: matar pobre.”

Jornalista e Escritora Nina Lemos, de Berlim
https://twitter.com/ninalemos/status/1201213929227214852
https://twitter.com/ninalemos/status/1201193242081054720

“Indignação.
A PM liberada por Dória matou 513 paulistas em 2019.
O corregedor-geral da polícia disse que 80% foi excesso,
ou seja, poderiam ser evitadas.
Hoje foram mais 9 jovens em Paraisópolis.
A vida de pobres e negros vale pouco.
A Casa-Grande não se importa. Até quando?”

João Pedro Stédile, pensador escritor.
Graduado em Economia pela PUC/RS.
É Membro da Direção Nacional do MST.

https://twitter.com/stedile_mst/status/1201284622857965573

Zé Maria

Paraisópolis: Uma Imagem que diz o que é Exclusão pela Desigualdade Social
https://pbs.twimg.com/media/EKu4EwvX0AYr_Nt.jpg

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1201279845587673090
PARAISÓPOLIS FAZ PROTESTO NAS RUAS DE SÃO PAULO
contra os Assassinatos praticados no Baile pela Polícia Militar

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