Leilão do pré-sal vai adiante com óleo nas praias do Nordeste, com o Supremo, com tudo — promete o governo Bolsonaro
Tempo de leitura: 3 minDa Redação
Roberto Castello Branco, o presidente da Petrobrás, fez seu pós-doutorado na Universidade de Chicago.
Um legítimo Chicago boy, assim como o ministro da Economia Paulo Guedes — ambos não poderiam andar na rua nos dias de hoje em Santiago do Chile.
Em junho de 2018, depois da greve dos caminhoneiros, ele ganhou notoriedade por escrever um artigo na Folha de S. Paulo dizendo que “é urgente a necessidade de se privatizar não só a Petrobras, mas outras estatais”.
O argumento de Castello Branco era de que a competição entre várias empresas privadas derrubaria os preços de combustíveis no Brasil.
Ele notou, no artigo, que o preço do óleo diesel no país estava abaixo da média do preço internacional.
Hoje, com Castello Branco instalado na presidência da estatal, o diesel na bomba custa 0,93 centavos de dólar o litro no Brasil, mas 0,79 nos Estados Unidos, de acordo com a mesma fonte citada por ele no artigo publicado na Folha.
Porém, no artigo o agora presidente da Petrobrás não observou que o salário mínimo nos Estados Unidos equivale a R$ 4.640,00 mensais, contra R$ 998,00 do brasileiro (em valores de hoje).
Não se justifica, em nenhuma circunstância, deixar os preços do combustível flutuarem no Brasil — um grande produtor de petróleo — de acordo com o mercado internacional, o que prejudica os brasileiros mais pobres e favorece os amigos de Castello Branco e os acionistas privados da Petrobrás (os investidores não-brasileiros representam 38,5% do capital da empresa).
Castello Branco e seu parceiro, o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, estão preocupados com o megaleilão do excedente da cessão onerosa, previsto para o próximo dia 6 de novembro.
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Hoje, o ministro disse a O Globo que não teme pelo leilão, por conta da emergência ambiental nas praias do Nordeste:
— Como sabemos, o óleo não é de origem brasileira. Então não tem nada a ver com a atividade no Brasil e com os leilões, que vão continuar a ser realizados normalmente dentro do planejamento.
O ministro continua insistindo que o óleo que avança sobre as praias brasileiras é de origem venezuelana.
Se de fato for assim, tem de ter vazado de algum megapetroleiro ainda não identificado.
Já são 60 dias de mistério, 94 municípios de 9 estados afetados em 2.200 quilômetros de costa (não de forma contínua).
A declaração dada pelo ministro Albuquerque hoje a O Globo vai ao encontro do teste de hipóteses do Viomundo: a origem do vazamento de óleo, se um dia for descoberta, será DEPOIS de 6 de novembro.
Se a descoberta acontecer antes, implicará em penalizar gravemente uma empresa brasileira ou multinacional responsável pelo vazamento, possivelmente na operação de algum poço na plataforma continental brasileira.
Shell? Chevron? Petrobrás?
Diante da desconfiança internacional de que existe algo de muito errado acontecendo na costa brasileira, assim como algo de muito errado acontecia na Amazônia durante a temporada de fogo, Castello Branco veio em socorro do leilão.
Ele prometeu que a Petrobrás vai botar dinheiro na disputa, uma forma de estimular os concorrentes:
— A cessão onerosa é um mostrengo que foi criado como outras coisas estranhas feitas anos atrás no Brasil. Mas a Petrobras está otimista com o resultado do leilão. O capital é escasso. Só são aprovados projetos meritórios do ponto de vista de retorno. Em função disso, manifestamos interesse em dois campos, como Búzios, que é a maior jazida, e Itapu. Vamos com entusiamo. Vamos para ganhar.
É uma forma de dizer à Shell e à Chevron e aos chineses: venham, que a gente garante. Com poluição no Nordeste, com Supremo, com tudo.
Porém, como demonstra a Associação de Engenheiros da Petrobrás (AEPET) no vídeo acima, o leilão é fruto do desespero econômico, inclusive de governadores de Estado e prefeitos de partidos de oposição a Bolsonaro.
Pouquíssimas vozes — como a do deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) — se levantaram contra a entrega do pré-sal no Congresso.
Se o governo contratasse a própria Petrobrás para explorar as jazidas, o Tesouro poderia ter um lucro a maior de R$ 344 bilhões, com ganho muito superior para Estados e municípios — calcula a AEPET.
Antes, no tempo do Lula, o pré-sal era economicamente inviável, argumentavam lobistas disfarçados de colunistas.
Agora, é preciso tirar rapidamente todo o pré-sal do fundo do mar, pois o tempo do petróleo já acabou, dizem os lobistas disfarçados de colunistas — agora convertidos a defensores do meio ambiente.
Curiosamente, este novo argumento beneficia os grandes consumidores mundiais de petróleo: Estados Unidos e China.
Quanto mais rápido tirarem o petróleo do pré-sal, mais cai o preço do barril e maior o lucro da Chevron, da Shell e da Sinopec, a estatal chinesa.
A China, particularmente, vai ganhar dinheiro no pré-sal enquanto produz alguns dos painéis solares mais sofisticados do mundo, que vai exportar para o Brasil.
É o que o próprio Brasil poderia fazer com o dinheiro do pré-sal, mas em vez disso nosso grande produto de exportação é a soja que alimenta os porcos chineses.
Soja produzida com veneno e semente transgênica, que geram grande lucro para empresas transnacionais e deixam grande passivo ambiental em solo brasileiro — quando chegar a conta, o pré-sal terá se esgotado e os chineses serão vegetarianos.
Como escrevia o saudoso Paulo Henrique Amorim, viva o Brazil!
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