Tragédia de Mariana: 4 anos depois, nenhuma casa construída nos reassentamentos; vídeos

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Da Redação

No dia 5 de novembro o crime da Samarco/Vale/BHP Billiton, em Mariana (MG), completa quatro anos.

Eram aproximadamente 15h, quando a barragem do Fundão, se rompeu, despejando, direto no meio ambiente, 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração.

O maior crime socioambiental da história do Brasil e um dos maiores do mundo.

A lama tóxica, de forma avassaladora, foi destruindo tudo pelo caminho: vidas humanas, animais, casas, monumentos históricos do período colonial, ecossistema ao longo da bacia hidrográfica do rio Doce até sua foz, no litoral do Espírito Santo.

Dezenove pessoas morreram.

Trezentos sessenta e duas famílias tiveram suas moradias devastadas.

Milhares de moradores ficaram sem  água potável, pois o rio Doce abastece muitos municípios de Minas e Espírito Santo.

Centenas perderam trabalho e fonte de renda, saúde, laços afetivos e espirituais.

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Não bastasse tudo isso, Samarco, Vale e BHP Billiton, por meio da Fundação Renova, estão enrolando os atingidos. E o sofrimento e a insegurança perduram.

Criada pelas mineradoras e os governos de Minas e Espírito Santo, a Renova é a entidade responsável pela reparação de todos os danos provocados pelo rompimento da barragem do Fundão.

Só que, passados quatro anos, muitas pessoas afetadas pelo rompimento da barragem ainda não foram reconhecidas como atingidas também. 

Reformaram algumas dezenas de casas, mas, até agora NENHUMA nenhuma foi construída nos reassentamentos coletivos.

Diante dessa violação permanente de direitos das pessoas afetadas, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) decidiu  construir uma casa, em mutirão, para uma das famílias atingidas.

Numa decisão coletiva, a comunidade escolheu a família de dona Yolanda Gouveia (imagem abaixo,reprodução de vídeo), que tem três filhos.

Para viabilizar a construção, o MAB iniciou uma campanha de financiamento coletivo: catarse.me/opovoconstroi

O vídeo da campanha está no topo. Assista.

SOMOS MULHERES ATINGIDAS POR BARRAGENS E ESTAMOS EM LUTA

por Soniamara Maranho*

Já diria Simone de Beauvoir, “basta uma crise política, econômica ou religiosa para que o direito das mulheres seja questionado”.

A atual crise do sistema capitalista, com todas suas implicações, revela com maior transparência a condição de subordinação das mulheres trabalhadoras, que se tornam as principais vítimas desse sistema.

Com as mulheres atingidas por barragens essa realidade não é diferente.

Em toda a história do Movimento de Atingidos por Barragens – MAB, constatamos que as mulheres são as principais vítimas do modelo energético brasileiro e internacional. Os rompimentos das barragens de Fundão (2015), em Mariana, e do Córrego do Feijão (2018), em Brumadinho – ambas em Minas Gerais e de propriedade da mineradora Vale – são um forte exemplo do que estamos falando.

No caso de Mariana, o aumento da produção de minério foi uma das causas do que ficou conhecida como a maior tragédia socioambiental da história do Brasil – e que denunciamos como um crime; no caso de Brumadinho, a reincidência do crime, com perdas humanas sem precedentes, também teve sua origem na “necessidade” da empresa ampliar seus ganhos financeiros. Nos dois casos, a busca pelo lucro prevaleceu sobre a vida.

Os crimes revelam uma prática comum das empresas que constroem barragens no Brasil e em todo o mundo e que se traduz na violação dos direitos humanos, principalmente, das mulheres atingidas.

Começa com a destruição de seus territórios; depois com a negação do reconhecimento e participação das atingidas no processo de reparação; e finalmente, ficam as consequências dramáticas para o futuro de suas vidas: desestruturação familiar e violência.

Violência que gerou o assassinato de muitas de nossas companheiras de luta, como a hondurenha Berta Cárceres e a nossa querida Dilma Ferreira, no Pará.

Para além de se reconhecerem como sujeitas no processo de organização dos atingidos, as mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens passam a atuar também como defensoras dos Direitos Humanos.

Nesse contexto, nós, as mulheres do MAB, estamos determinadas a continuar o legado histórico dessas lutadoras, fortalecendo a auto-organização em defesa de um plano para a proteção da vida das mulheres em luta; queremos o reconhecimento da violação dos direitos sexuais e reprodutivos e o acesso a políticas públicas de apoio e reparação às mulheres atingidas por barragens.

Finalmente, será preciso extravasar nossas fronteiras e construir um bloco histórico de mulheres lutadoras ao redor do mundo, que esteja à frente da defesa da soberania dos nossos povos, da soberania dos nossos corpos, das democracias nos nossos países, e de um projeto popular no qual prevaleça a vida e não o lucro.

Neste contexto, mais de 300 mulheres atingidas por barragens se reúnem em Belo Horizonte entre os dias 25 e 26 de outubro para debater esses e outros temas relacionados às violações de direitos e, juntas, construírem um plano de ação e luta.

A atividade está inserida na programação de um calendário de eventos, iniciado em outubro e que segue até o mês de março de 2020. Denominada “A Vale destrói, o povo constrói”, a Jornada de Lutas dos Atingidos inclui a construção de uma casa para uma família atingida pelo rompimento da barragem de Fundão, no município de Barra Longa, como gesto de solidariedade e denúncia da ausência de reparação às famílias vítimas do crime que devastou toda a bacia do Rio Doce.

A família de Yolanda Gouveia, mãe de Júlia, Hellem e Marcelo, será beneficiada por uma casa construída em forma de mutirão pelos próprios atingidos, e será uma forma de devolver a essas pessoas a segurança e o conforto de seu lar, devastado pelo crime da Samaraco-Vale-BHP Billiton há quatro anos atrás.

A casa será viabilizada por meio de uma campanha de financiamento coletivo disponível em: catarse.me/opovoconstroi

Mulheres, água e energia não são mercadorias.

*Soniamara Maranho  é da Coordenação Nacional do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

A meta é atingir R$ 110 mil.

O sociólogo Simão Pedro, ex-deputado estadual (PT-SP), é um dos apoiadores.

 

 

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